Um blog do Ministério Fiel
Complementarismo: um momento de acerto de contas (Parte 4/5)
Como avançamos? Uma melhor compreensão do abuso e do gênero
Parte 4: Como avançamos? Uma melhor compreensão do abuso e do gênero
Na medida em que a cultura fora da igreja procura apagar o gênero e redefinir a sexualidade, acredito que a necessidade mais urgente dessa geração seja crescer em nosso entendimento de autoridade e igualdade. Elas dizem respeito aos desafios que observamos do lado de fora.
Também, na medida em que os pecadores de todas as gerações tentam homens e mulheres a usar todas as vantagens que possuem para dominar os outros, precisamos de uma compreensão mais bíblica da opressão e abuso. Esse é o desafio mais universalmente crônico e pertence aos desafios que surgem dentro da igreja e dentro de nossos próprios corações.
Acredito que Al Mohler está correto: a presunção de superioridade masculina e a falha em corrigir os abusos são dois pontos cegos que os complementaristas precisam tratar melhor. (Dito isso, não está claro para mim que as igrejas igualitaristas tenham uma melhor compreensão do abuso.) Precisamos gastar mais tempo estudando as Escrituras e examinando todas as maneiras pelas quais ela lida com o abuso de autoridade.
Por exemplo, considere com que frequência e quão detalhadamente os Salmos descrevem homens opressivos ou violentos:
- Salmo 17.10-11: “Insensíveis, cerram o coração, falam com lábios insolentes; andam agora cercando os nossos passos e fixam em nós os olhos para nos deitar por terra”.
- Salmo 55.21: “A sua boca era mais macia que a manteiga, porém no coração havia guerra; as suas palavras eram mais brandas que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas”.
- Salmo 140.3: “Aguçam a língua como a serpente; sob os lábios têm veneno de áspide”.
Nós estudamos essas passagens? Já pesquisamos o que os Profetas dizem sobre opressão? Já pensamos em como imitamos os reis infiéis de Israel? Estudamos o quanto os fariseus eram espiritualmente abusivos? Já procuramos os padrões de justiça deles em nós mesmos?
Pense na esposa, de um marido emocionalmente abusivo, que apresenta suas preocupações a um pastor. Ela não consegue êxito em explicar sua situação, em parte porque perdeu a noção da normalidade e em parte porque ainda sente amor e lealdade ao marido. Ela não quer envergonhá-lo. O pastor considera o marido, que se apresenta na igreja como íntegro e piedoso. Ele calmamente se pergunta se ela tem uma atitude de não-submissão. Então ele admite que, sim, talvez o marido dela possa ser muito severo. Ele também precisa de santificação. No entanto, ele também pede que ela considere seu próprio pecado e seu papel nesse casamento conturbado. Sua doutrina da depravação diz a ele que sempre há falhas nos dois lados. Como ele é um pastor centrado no evangelho, ele fala sobre a necessidade de perdão e reconciliação. E ela, obedientemente, perdoa e adota uma postura de reconciliação.
No entanto, o que esse pastor perdeu? Ele não aprendeu a lição do Salmo 55.21, que a fala de um homem pode ser “macia como manteiga” e “mais brandas que o azeite”, mesmo enquanto há “guerra em seu coração” e suas palavras em casa são “espadas desembainhadas”. A esposa, é claro, sabe tudo isso muito bem.
O rápido recurso do pastor à “falha de ambos os lados” falha em reconhecer a assimetria criada pelo autoritarismo do marido – que qualquer pecado (digamos, uma palavra dura) por alguém com autoridade é pior e mais prejudicial do que o mesmo pecado cometido por um pessoa sob autoridade. Sua doutrina da depravação, ironicamente, é superficial, porque falha em se aprofundar na farsa que é o abuso de autoridade e como esse abuso mente profundamente sobre Deus. Ele tem um conceito sub-bíblico de opressão. E assim suas conversas sobre perdão e reconciliação ficam em curto-circuito. Ele não entende o câncer que está tratando e, portanto, falha em cavar fundo o suficiente com o bisturi.
A Bíblia é rica em recursos para entender abuso e opressão, para não falar do que podemos aprender com as fontes da graça comuns. Nós, que somos complementaristas, devemos estar entre os primeiros a explorar as Escrituras para esses propósitos, para que possamos discipular melhor os homens e mulheres em nossas igrejas.
Precisamos manter o esforço em nossa compreensão bíblica sobre masculinidade e feminilidade
Se Deus projetou seres “à sua imagem” nas variedades masculina e feminina, parece que essas diferenças de design têm algum significado em todos os aspectos. A forma afeta a função. Além disso, parece que o discipulado cristão deveria, portanto, compreender nossa masculinidade ou feminilidade. Não, não devemos exagerar as diferenças, mas podemos lhes dar alguma substância além da anatomia e dos cromossomos?
Estas são perguntas simples: “O que é um homem?” “O que é uma mulher?” No entanto, as respostas não são fáceis.
John Piper definiu a masculinidade como “um senso de responsabilidade benevolente para liderar, prover e proteger as mulheres de maneiras apropriadas aos diferentemente relacionamentos de um homem”. Feminilidade que ele definiu como “uma libertadora disposição de afirmar, receber e nutrir força e liderança de homens dignos, através de maneiras apropriadas aos diferentes relacionamentos de uma mulher”.
Você não precisa procurar muito para encontrar críticas às suas definições, o que é uma coisa justa a se fazer. No entanto, quanto tempo esses críticos vão levar para oferecer melhores definições?
Minha antiga igreja, a Capitol Hill Baptist Church, tem uma classe adulta na Escola Dominical que ensina sobre masculinidade e feminilidade. Os professores gostaram dos elementos das definições de Piper, mas sentiram que elas se concentravam demais no elemento único de autoridade (veja também as preocupações de Bobby Jamieson.) Portanto, os professores ofereceram as seguintes adaptações: “A essência da masculinidade bíblica é um senso de responsabilidade benevolente para cuidar da criação de Deus, prover e proteger os outros e expressar liderança amorosa e sacrificial em contextos particulares prescritos pela Palavra de Deus.”
Enquanto isso: “A feminilidade bíblica é exibida em uma disposição graciosa para cultivar a vida; ajudar os outros a florescer; e afirmar, receber e nutrir força e liderança de homens dignos em contextos particulares prescritos pela Palavra de Deus.”
Essas definições foram influenciadas pelos escritos de Alastair Roberts, que oferece, neste artigo, (em breve em português), sua tentativa em distinguir homens e mulheres. A definição de feminilidade soa semelhante ao que Abigail Dodds mostra neste artigo, (em breve em português). Nosso 9Marks Journal sobre complementarismo, além de Roberts, oferece a tentativa de Kevin DeYoung neste artigo, (em breve em português).
Nenhuma dessas tentativas deve ser considerada final. Em vez disso, devemos entendê-las como o trabalho colaborativo de amigos, cada tentativa tentando empurrar a bola um pouco mais para a frente. Quantos séculos a igreja levou para definir a Trindade ou justificação? Definir acertadamente a masculinidade e a feminilidade também levará algum tempo, e será, inevitavelmente, um esforço internacional colaborativo, tirando ideias de uma infinidade de contextos nacionais e culturais.
O que é tolice e contraproducente, no entanto, é desistir da tentativa ou rapidamente reprimir todas as tentativas sucumbindo aos estereótipos culturais. Quando se trata de masculinidade e feminilidade, todos sabemos, instintivamente, (e biblicamente) que há algo lá. É assustador, em nosso ambiente cultural atual, dizer o que deve ser. Mas o povo de Deus não deve ter medo de tentar.
Mary Kassian escreve: “O design de Deus para o gênero não é apenas correto, mas também é bonito e bom. Conhecer Cristo nos dá a liberdade de entrar na plenitude e alegria de quem Deus nos criou para sermos. Ele nos criou homem e mulher. Não podemos conhecer a nós mesmos, experimentar a totalidade da personalidade ou realmente lhe trazer glória, fora deste contexto ordenado por Deus”. Se isso é verdade, por que não estamos todos trabalhando duro para entender melhor a masculinidade e a feminilidade? Estamos preocupados em ligar, de maneira errada, as consciências à cultura, e não à Bíblia? Essa é uma boa preocupação. Ou temos medo de tomar um tapa na mão ou sermos chamado para recuar? Essa não é uma boa preocupação.