Um blog do Ministério Fiel
Transcrição do vídeo:
Vamos orar juntos. Pai, o desejo do meu coração agora é que Tua Palavra seja honrada, Teu nome seja engrandecido e Cristo seja exaltado, através da pregação da tua Palavra, não só nesse momento, mas no modo que eu falo sobre pregação, que Tu faças a pregação mais fiel à Tua Palavra, mais glorificadora a Jesus, mais purificadora para Tua igreja, e mais poderosa no mundo. Senhor, são dias de uma necessidade tremenda em meio ao coronavírus, e a pregação é crucial, e sempre foi crucial. E eu anseio fazer o que posso para ser parte em fazer da pregação em nossos púlpitos agora e por quanto tempo permitires, tão poderosa quanto pode ser, para a glória de Jesus. Eu peço isso no nome dele, amém.
Então, o título que me foi dado para esta mensagem foi: “Pregando o Evangelho ao expor a Bíblia inteira”. Não foi o meu título, foi dado a mim, eu fiquei feliz em pegá-lo, então permita-me explicar o que penso que ele significa. Ele assume, penso eu, que deveríamos, na nossa pregação como pastores, explicar a Bíblia inteira. Essa é uma boa suposição, pois Paulo diz que toda Escritura é útil. Tudo nela, em qualquer lugar da Bíblia, qualquer coisa genuína que você tirar dela, é benéfica para o povo de Deus (2 Timóteo 3.16). Então, quatro versos depois, em 2 Timóteo 4.2, “Prega a palavra”. E eu sigo o fluxo de pensamento para me referir à palavra da qual foi falada, a saber, toda Escritura inspirada por Deus. Prega a palavra!
Então, a primeira parte da minha tarefa está no título. Expor a Bíblia inteira. Tarefa grandiosa. Isso não significa, eu assumo, pregar todo versículo da Bíblia. Abrir todos os textos da Bíblia. Você não pode fazer isso em uma vida. Não se você levar a exposição a sério. Eu vou, de fato, mostrar o que este versículo diz. Isso não pode ser feito. Então, o que significa? O que pregar toda a Bíblia significa? Creio que significa que, nos 40 ou 50 anos em que você ministrará no púlpito, você passe por toda a Bíblia, pegando textos de todos os lugares, como o Espírito mandar, como os tempos pedirem, e as pessoas precisarem. Pois ela é toda inspirada, é toda útil. A exposição de toda a Bíblia para o benefício de seus ouvintes é 100 vezes mais significante do que qualquer ideia com que você venha fazer seus comentários particulares sobre religião, política ou cultura. Então, esquadrinhe toda a Bíblia, e pregue a palavra de Deus de qualquer parte da Bíblia. Essa é a primeira metade do meu título. Ou a segunda metade. E a outra metade?
A primeira metade do título, que diz “Pregando o Evangelho”. E as duas metades estão conectadas por “ao”. Pregando o Evangelho ao expor toda a Bíblia. Eu assumo que significa que, ao expor cada texto que está na Bíblia, de qualquer lugar, você deveria pregar o Evangelho. Eu acho que é sobre isso que querem que eu fale. Como, ao expor cada texto, você poderia pregar o Evangelho? Eu tenho um problema com essa tarefa. E essa mensagem é construída em volta de tentar resolver o problema. Eu não penso dessa forma sobre a pregação! Semana após semana, quando estou neste púlpito, e este é no que estou há 22 anos, porque esse prédio foi construído em 1991, e eu vim para cá em 1980. Então, por 22 anos neste púlpito e 11 anos no outro, esse não é o modo que preparo meus sermões, não é a forma que penso sobre pregar. Minha mentalidade, conforme vou ao texto ou venho ao púlpito, não é “Como eu posso pregar o Evangelho nesse texto?” Eu não penso dessa forma, agora, sobre a pregação. Meu pensamento controlador foi: o que as palavras, as frases, as expressões, os conectivos, a lógica do texto, o fluxo de pensamento, o que eles significam neste texto? Ou para ser mais preciso, meu pensamento controlador foi: Qual realidade esse escritor inspirado pretendia comunicar aos seus leitores através das palavras, através das frases, das expressões, do fluxo lógico dos pensamentos, qual realidade ele queria que eu visse? O que queria que eu pensasse? O que queria que eu sentisse? Ou que eu fizesse em resposta à realidade que ele revelou através das palavras que ele escolheu escrever?
Então, meu primeiro pensamento, o qual me controla à medida que vou a um texto neste livro, ou quando eu vou ao púlpito, não é “Como eu posso pregar o Evangelho a partir desse texto?” Ao invés disso, sou conduzido pela pergunta: Como eu posso ver o que esse autor vê? Qual vislumbre das realidades divina e humana ele tem para mim? Eu devo me prolongar, e olhar, e olhar, e olhar para o texto, com oração sincera que Deus me ajude a enxergar o que de fato está ali, e com renúncia sincera de todo pecado que há em mim, que pode distorcer o que está no texto, ou mudá-lo ou usá-lo incorretamente. E então, eu vou às pessoas. E semana após semana, ao pregar, eu tento mostrá-las as coisas fantásticas que eu vi ao olhar para palavras, frases, expressões, fluxo lógico e conectivos; que realidades e que coisas gloriosas eu vi no texto. Eu quero mostrá-las isso, e quero mostrar como eu vi tudo isso! Pois eu penso que a autoridade das Escrituras está em as pessoas verem como você viu o que viu. Caso contrário, você é a autoridade e não a Bíblia. Penso que isso é muito importante para o propósito de honrar a Palavra de Deus. Mostrar a realidade que você viu e como você viu nas palavras da Escritura. “Pastor, de onde você tira suas ideias? Eu ouço suas ideias, me mostre como você tirou essas ideias dessas palavras! Eu olho para cima e para baixo, e elas não batem. Eu gosto das suas ideias, só não as vejo. De onde você as tira?”
Há um tipo de pregação que flutua sobre o texto. Logo acima do texto, e nunca pousa nas palavras do texto para as pessoas verem de onde vêm as ideias do pregador. Então, eu não acredito que a questão controladora “Como eu posso pregar o Evangelho a partir desse texto?” produziu, nos últimos 40 anos ou mais, o tipo de pregação que enche igrejas que são estáveis, contraculturais, maduras, ricas em doutrina e impregnadas com a Bíblia, com uma paixão pela obediência radical à Palavra de Deus. Eu não creio que isso nos serviu bem. Então, eu vou oferecer uma alternativa para aqueles que pensam que pregar a Cristo ou que pregar o Evangelho a partir de todo texto significa distribuir alguns comentários gerais sobre o que o texto diz, cobrindo apenas a superfície do texto, raramente explicando as palavras e as frases, e então seguir adiante para a preocupação principal de fazer a entrada pomposa do Evangelho, com Cristo e sua reconciliação no perdão dos pecados. Então todos podem ir embora aliviados. Eu penso que esse tipo de pregação faz com que as pessoas frustrem suas expectativas de poder, de fato, ver coisas novas, bonitas, difíceis, profundas, aterrorizantes ou maravilhosas no texto. Acho que isto tende a tratar as frases, palavras e lógica do texto inspirado como tendo menor significância ao dar a impressão de que não precisam ser tratadas com cuidado ou rigor particular; são apenas preparações para a coisa principal que está vindo. Eu acho que isso tende a acostumar as pessoas em maus hábitos de como ler suas Bíblias, ao diminuir o rigor e a seriedade de meditar na palavra de Deus dia e noite. Eu acho que isso tende a enfraquecer a seriedade dos imperativos práticos e bíblicos sobre como viver a vida cristã em toda santidade, pureza e amor, ao inserir a expiação substitutiva em momentos críticos nos quais a ênfase deveria recair sobre a urgência em obedecer, pois esta é a urgência do texto!
Então, eu quero recomendar-lhe uma alternativa para nem sempre fazer de todo texto um caminho para o Evangelho, ou não ter a pergunta motivadora em sua preparação do sermão sendo “Como eu posso pregar o Evangelho a partir desse texto?” Eu quero balançar a bandeira amarela na frente de uma frase que é frequentemente atribuída a Spurgeon: “Pegue o texto e dele trace uma linha reta para a cruz”. Ninguém sabe se Spurgeon disse isso. Eu, pelo menos, não consigo achar especialistas em Spurgeon que podem mostrar que ele falou, mas não importa, o ponto é o seguinte: Ao invés de pegar seu texto e traçar uma reta para a cruz, eu penso que você deve pegar a cruz e traçar uma reta para o texto. Em vez de construir seu sermão em direção à cruz, construa seu sermão na cruz. Ao invés de pregar imperativos bíblicos como indicadores para a perfeição de Cristo e sua justiça imputada, penso que deveríamos pregar a justiça imputada como o poder para obedecer às ordens bíblicas. Ou, falando de outra forma, permanecendo no poder e nas promessas compradas para os eleitos de Deus pelo sangue de Jesus, lute com as palavras, com as frases e expressões, e com fluxo de pensamento no texto, enfrente-os, até que você veja a realidade que está ali naquelas palavras, e então mostre-as para as pessoas! E mostre como você as viu, e então ofereça a elas! Ofereça a elas como um presente comprado pelo sangue. Estimule-os com tudo que você puder, para que vejam, entendam, abracem, se alegrem e obedeçam. E compartilhe. Deixe que a realidade do texto seja o principal do sermão.
Bem, como eu cheguei a essa conclusão? Permita-me lhe mostrar, pelas Escrituras, como eu cheguei aqui. Comecemos daqui. Quando eu me dediquei totalmente a isso, alguns anos atrás, o Senhor me deu professores incríveis para me puxar pelo nariz até o texto. Graças a Deus! Quando eu coloquei toda minha atenção e esforço vigoroso para tentar ver a realidade que o autor bíblico gostaria que eu visse, através das palavras que ele escreveu e do modo que ele as escreveu, eu percebi que eu não poderia ver a realidade. O modo que ele queria que eu a visse e que eu a compartilhasse, eu não podia ver essa realidade a não ser que soubesse mais do que está na mente dele do que o que está no texto. Por exemplo, Paulo diz em Romanos 12.13, uma lista de ordens breves. “Pratiquem a hospitalidade.” Bem, eu tenho uma ideia do significado da palavra hospitalidade, eu posso ter uma ideia do que significa a palavra pratiquem, mas há uma dezena de formas com as quais eu poderia praticar hospitalidade, mas que são defeituosas e que Paulo nos desaprovaria! Certo? Eu poderia praticar por medo do que os outros pensarão se eu não fizer. Ou eu poderia praticar hospitalidade na esperança de ser retribuído! Eu poderia ser hospitaleiro porque sou tão legalista que eu preciso tentar ficar bem com Deus sendo hospitaleiro porque a Bíblia diz que eu devo. E Paulo balançaria a cabeça e diria: “Eu não disse isso”. Ele consideraria cada uma dessas como defeituosas. Mas você só pode saber o que ele pretendia e gostaria que acontecesse nessas duas palavras se você souber algo externo sobre Paulo, a respeito do que está na mente dele quando ele diz “pratiquem a hospitalidade”. Você deve saber algo sobre a cruz, sobre a graça, sobre o Espírito Santo, e sobre a fé, sobre o pecado e sobre a glória de Deus. A realidade que Paulo tem em mente que ele quer que saibamos, que abracemos e obedeçamos é que: “praticar a hospitalidade” é mais do que pode ser colocado nessas duas palavras.
Então, e agora? Eu perguntei: quais aspectos do mundo mental de Paulo, quais aspectos do mundo mental de Paulo, e da sua realidade abrangente, quais aspectos dela eu devo enxergar de modo que eu não distorça o que ele diz nessas frases e expressões particulares? Suponha a pergunta: existem verdades ou realidades na perspectiva de mundo de um autor, e aqui Paulo em particular, existem realidades particulares que são tão penetrantes, tão abrangentes, e que são relevantes para tudo que ele diz? Existem verdades na visão de mundo dele que, caso as ignoremos, sempre causarão equívoco sobre o que tais expressões significam? Existem realidades tão extensas na mente de um autor que, caso as ignoremos, não seremos capazes de responder a um certo texto do jeito que ele quer que respondamos? E a minha resposta é: sim. Permita-me dizer três delas. Penso que essas são as três mais importantes, aquelas que devem guiar todas as pregações. Eu vou lidar apenas com uma delas, mas mencionarei as outras.
Quando Paulo diz em 1 Coríntios 10.31, “quer vocês comam, bebam ou façam outra coisa, façam tudo para a glória de Deus”, apoiada por dezenas de passagens que esclarecem que Deus faz tudo para sua própria glória. Quando você vê isso, então você percebe que todo texto que Paulo escreveu, e de fato, eu argumentaria que todos os autores bíblicos escreveram, foram escritos com o fim último de Deus ser visto e experimentado como glorioso. Evidenciado como glorioso. Essa é uma das verdades universais, quer vocês comam, bebam, escrevam um texto bíblico ou preguem um sermão, façam tudo para a glória de Deus! Se você não prestar atenção e fizer com que todo texto se conecte com essa verdade, os autores bíblicos diriam: “Você não percebeu minha intenção aqui”. Mas, para defender isso, seria preciso outra mensagem.
Aqui está a segunda verdade extensa e abrangente que eu penso que devemos saber para não nos equivocarmos com os textos de Paulo e com os demais textos. Romanos 14.23 diz, ”Tudo o que não provém de fé é pecado.” Hebreus 11.6 diz: “Sem fé é impossível agradar a Deus”. Então, eu infiro que essa verdade é uma daquelas universais, uma realidade abrangente para Paulo, para o autor de Hebreus, e poderíamos dizer que para todos os autores bíblicos. Isso significa que, se você vai manusear um texto bíblico de um modo que se harmoniza com a intenção geral do autor, a qual é, sem dúvidas, que Deus sempre seja agradado, e que nós não pequemos, então você tem que fazer com que todo texto, de alguma forma, se relacione com a fé. Sem fé, tudo é pecado. Sem fé, não se agrada a Deus. Todo sermão iria à ruína caso não mencionasse a fé. Esse levaria outro sermão para defender.
Mas aqui está o que eu quero falar porque é todo concentrado e relevante na minha tarefa. Será que Paulo nos diz que há algo sobre a cruz e algo sobre Cristo crucificado que é tão extenso, tão abrangente, que todo lucro em todo sermão oferecido ao povo de Deus, deve ser relacionado a isso? Nós deveríamos querer pregar o Evangelho a partir de todo texto? É uma das formas de fazer a pergunta. Eu não acho que seja o mais útil. Então eu quero perguntar: será que Paulo diz algo sobre a morte de Cristo, sobre a expiação dos pecados, em relação a tudo que ele prega? A resposta é: sim, em pelo menos dois lugares ele diz. 1 Coríntios 2.1: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.” “Porque decidi nada saber entre vós senão a Jesus Cristo e este crucificado.” Nada entre vós. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. Ou Gálatas 6.14, “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus”. Eu não vou me gloriar em nada, a não ser, na cruz do Senhor Jesus. Então, pegando seu valor intrínseco, essas duas palavras dizem que Paulo não prega nada, ele mesmo diz, não quero saber de nada, a não ser Jesus Cristo e este crucificado. E Paulo não se gloria em nada a não ser na cruz do Senhor Jesus. O que isso quer dizer? O que significa para nossa pregação? Alguém pode dizer: bem, não aplique isso além da conta, pois ele talvez esteja se referindo a uma situação particular dos coríntios, e uma situação particular dos gálatas, então você não pode generalizar algo sobre essa expressão. Eu não penso que isso seja correto. Por duas razões. Número um: Mesmo na situação dos coríntios, o problema persiste, certo? Diz “eu não quero saber nada entre vós exceto Jesus Cristo e este crucificado”, e então ele continua falando sobre divisões na igreja, disciplina, imoralidade sexual, divórcios, casamento, comida dedicada a ídolos, véus, dons espirituais e mais. Você não tem que dizer “ah, claro, mas hoje temos que falar sobre o casamento”. Paulo falou sobre casamento logo após dizer que só falava de Cristo crucificado. Ou, se você for a Gálatas e disser “essa é uma situação especial, não vai funcionar”, porque não é uma situação especial. O modo que ele expressa isso não é. Ele diz no capítulo 6, verso 14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus.” Ele fala sobre uma convicção fundamental que ele tem sobre a realidade, e você pode ver isso pelo modo que ele fundamenta o verso 14 no verso 15! E é por isso que prestar atenção no texto é absolutamente crucial! Ele diz “Pois nem a circuncisão é alguma coisa, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura.” Esse é o fundamento para dizer “Eu só me glorio em Jesus”. Esse não é um fundamento limitado pela situação. Porém, Paulo usa a mesma palavra para “gloriar” quando ele diz isso: “E nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5.2) “nos gloriamos nas próprias tribulações” (Romanos 5.3) “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas” (2 Coríntios 12.9) Quem é a nossa glória, a não ser vocês, companheiros cristãos? E então ele diz “eu só me glorio na cruz”. E então ele se gloria na igreja, nas tribulações, na esperança… e em Deus.
Bem, eis o que temos. 1 Coríntios 2.2: Paulo diz que ele decidiu saber nada entre eles, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E então, ele fala em detalhes sobre outros oito problemas. E em Gálatas 6.14, ele diz: “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus”. E então, em outro lugar, ele se gloria na glória de Deus, em tribulações, nos crentes… Então, o que ele quer dizer? Paulo não é confuso. O que ele quer dizer quando ele diz “Eu só sei de Cristo crucificado”? “Eu apenas me glorio na cruz”. Penso que ele quer dizer isso: Em tudo que eu sei e prego, eu o sei e prego com base naquele que foi crucificado, no fundamento daquele que foi crucificado. Tudo mais em que me glorio, eu me glorio com base na cruz. No fundamento da cruz. E a aplicação para a nossa pregação seria: Todo tópico bíblico, todo texto que selecionamos, e, adorando a Deus, o expomos, e oferecemos ao nosso povo para o benefício deles, deve ser baseado na cruz, naquele que foi crucificado. Isso deve estar por baixo, segurando; nunca poderia ser verdadeiro sem isso. Qual é a base para afirmar isso? Romanos 8.32 é a base. “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” Penso que essa é quase a frase mais importante da Bíblia. Muito importante para a vida, muito importante para a pregação! Essa é a ligação gloriosa entre o sacrifício de Jesus feito pelo Pai e todas as coisas que chegam ao povo de Deus, agora e para sempre! Esta é a ligação! A lógica é mais ou menos assim: se Deus fez a coisa mais difícil, não poupando seu próprio Filho, mas antes, o entregou por nós, então ele não falhará em fazer a coisa mais fácil! A saber, nos dar todas as coisas, para sempre! Essa é a lógica. Então, o que “todas as coisas” inclui? Cristo morre, o Pai não poupa o seu próprio Filho, e o resultado? Nesse fundamento, todas as coisas chegam a nós. O que isso inclui? Isso não é pregação de prosperidade! E nós sabemos disso porque, quatro versículos depois, esse foi o verso 32 de Romanos 8, e quatro versos depois, Paulo vai listar todas as coisas. E elas incluem isso: “Nós somos entregues à morte o dia todo”. Mas não, nós não somos separados do amor dele pela morte! Nós somos mais que vencedores! Então “todas as coisas” compradas pelo sangue de Jesus e pelo Pai não poupar seu Filho é: a morte, e o triunfo sobre a morte! Com Cristo, para sempre, mais que vencedores sobre a morte! Então, o significado de Romanos 8.32 é este. Para os eleitos de Deus, os predestinados, os chamados, os justificados (Romanos 8.30), para os eleitos de Deus, cada coisa boa, e cada coisa má que Deus torna em bem, foi assegurada a nós pela cruz de Cristo. Cada suspiro pelo céu que um crente respira, foi comprado pelo sangue de Cristo.
John Flavel, o puritano britânico, 300 anos atrás chamou isso de “o doce conta-gotas” ao comentar Romanos 8.32 com suas belas palavras, e elas são muito corretas! Ele disse “Com toda certeza, se Deus não poupou seu único Filho de um golpe, de um nível, de um gemido, de um suspiro e de uma circunstância de miséria, jamais poderia se supor que, mesmo depois disso, ele deveria negar ou reter de seu povo, aqueles por quem tudo isso foi sofrido, qualquer misericórdia, ou conforto, ou privilégio, espiritual ou temporal, que fosse bom para nós!” Alguém ainda se pergunta porque amamos os puritanos? Ele está absolutamente certo. Aqui está a implicação para a pregação. Simplesmente não tem como haver benefícios oferecidos a nós como filhos queridos de Deus longe da cruz de Cristo. Não há. Mas todos os sermões oferecem algum benefício aos filhos de Deus, não? Todo sermão. Toda a Escritura é inspirada, útil e benéfica! Todo sermão é um presente, um benefício. É ganho para o povo de Deus! O único jeito pelo qual algum benefício ou ganho pode chegar a pecadores caídos que merecem o inferno, porém eleitos, é Cristo crucificado! Essa é a única esperança de que algo bom e útil pode chegar a pecadores como nós. Portanto, cada ganho, cada benefício, cada benção, cada presente, cada promessa na Bíblia, cada admoestação graciosa, cada ensinamento precioso, cada doutrina sólida, cada vislumbre transformador da glória de Deus em cada sermão, é comprado pelo sangue. Sem exceções.
Portanto, a cruz, Cristo crucificado, é o fundamento, é a base de todo sermão bíblico. Jesus morreu para comprar o milagre da obediência aos textos. Ele pagou com seu sangue para comprar a exposição fiel dos textos. Ele foi à cruz para transformar textos em bela santidade que exalta a Cristo. Qualquer coisa que minimiza a obediência, a exposição, e a santidade em nome de “pregar o Evangelho a partir de todo texto”, é contrária à vontade de Deus. Considere um exemplo.
1 Pedro 4.7-9: “O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam criteriosos e sóbrios; dediquem-se à oração. Sobretudo, amem-se sinceramente uns aos outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados. Sejam mutuamente hospitaleiros, sem reclamação.” Agora, qual deveria ser a pergunta motivadora ao ir a este texto? Você vai fazer só alguns comentários gerais sobre ser criterioso sobre ser sóbrio, sobre amar os outros e ser hospitaleiro sem reclamar? Será que você vai apenas pairar sobre o texto? De modo que nunca chegue ao fundo da questão “O que é ser criterioso?” “Eu achei que era para ser controlado pelo Espírito! Que história é essa de ‘sejam’?” “Ajude-me, pastor! Eu achei que sobriedade tinha a ver com uma coisa, mas agora tem a ver com oração!” “O que meu entretenimento sem fim na minha casa tem a ver com não ser sóbrio em minhas orações? Ajude-me, pastor!” “Venha cá e me ajude com essas questões intrigantes!” “Como exatamente meu amor cobre o pecado dela?” “E se cobre o pecado dela, ela deve ser reprovada? E se ela for reprovada, o que fazer com o pecado descoberto?” “Ajude-me, pastor, essas coisas ditas aí são muito complicadas!” E que tal: como me livrar do meu espírito murmurador? E então, tendo flutuado sobre todas essas perguntas, e nunca chegando ao trabalho de ajudar as pessoas com todas essas perguntas e particularidades do texto que são intrigantes, difíceis, práticas, belas, e que gastam tempo. Você então segue adiante? Você segue adiante para o grande finale? “Contemple Cristo, a perfeita encarnação do controle próprio no caminho para o Calvário!” “Contemple Cristo, sóbrio em oração no Getsêmani suando sangue!” “Contemple Cristo no Seu amor, pelo qual ele cobriu uma multidão de pecados!” “Contemple Cristo de braços abertos com uma hospitalidade cósmica ali na cruz!” “Nenhuma palavra de lamento no caminho para o Gólgota!” Isso não é exposição. Isso é imposição! Isso não é uma declaração da Palavra de Deus. É diminuir, e talvez até silenciar, a Palavra de Deus. Isso não é uma conduta fiel com a santidade belíssima desse texto. É uma distração da enorme beleza pela qual Jesus morreu para realizar. Sim, é possível usar Jesus inadvertidamente para obscurecer o que Ele morreu para obter. Cristo morreu para que pudéssemos traçar uma reta da cruz para o texto. Para que pudéssemos passar horas e horas lutando com as perguntas, perplexidades, sacrifícios e encantos de ser criteriosos, sóbrios em oração, e do amor que cobre pecados, e do doce encorajamento à hospitalidade, e do milagre de uma vida livre de murmuração. Ele morreu para que Ele e sua cruz pudessem vir como uma grande onda trazendo consigo para o mundo todos os encantos dessa obediência, para a glória do nome dEle! Ele morreu por isso! Ele morreu para que esse texto seja visto, conhecido, amado, obedecido e evidenciado ao mundo! Você traça uma reta da cruz para o texto e o grande finale é o encanto da santidade!
O que Pedro diz? O que Pedro disse? No capítulo 2, verso 24, ele diz: “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça”! Ele morreu pelo controle próprio, pela sobriedade, Ele morreu pela oração, para nosso amor cobrir os pecados dos nossos amigos e família! Ele morreu pela hospitalidade, e pela libertação da murmuração! Pedro diz que DEUS está traçando uma reta da cruz para o texto. Da cruz para a oração; da cruz para o amor; da cruz para o cobrir pecados; da cruz para a hospitalidade, da cruz para ser livre do lamento. Deus está traçando essa reta! Ele está partindo da cruz para a beleza da santidade, não o contrário. Não diga a seu povo que a beleza da flor da justiça vem da raiz cheia de sangue. Flores não são feitas para isso.
Então, para fecharmos, como ficamos com relação ao título dessa mensagem? “Pregando o Evangelho ao expor toda a Bíblia.” Ou a pergunta implícita “Como eu prego o Evangelho a partir de qualquer texto?” Ou a forma atraente “Como eu traço uma reta de qualquer texto para a cruz?” E a minha resposta é: não pense dessa forma. Não faça dela a sua pergunta motivadora à medida que você vai ao texto e prepara a mensagem. Ao invés disso, imobilize a intenção da sua alma a respeito das palavras, frases, expressões, citações e conectivos que estão no texto. Lute com elas. Brigue com elas. Aperte-as! Lutero disse “Bata sua cabeça contra elas se precisar, até que você tenha espremido toda a beleza que elas contêm.” E então mostre às pessoas o que você viu. Mostre a elas como você viu! E o quão precioso isso deve ser uma vez que Cristo morreu para fazer pessoas belas dessa forma. Vamos orar. Pai, queremos honrar a Tua Palavra; ela é toda soprada por Ti. Não deixe que usemos a Palavra de forma errada por obrigações homiléticas que não achem no texto o que Tu colocaste ali. Eu oro para que Jesus Cristo, crucificado e ressurreto, seja exaltado. Não como o grande final de todo sermão, mas como o fundamento de todo sermão, produzindo um tipo de igreja no mundo que faz Jesus parecer formoso. Eu te peço no nome dEle, amém.