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4 razões pelas quais você deve pregar através de Rute
Aproximadamente 0% dos pastores convidados a falar em uma conferência masculina escolheriam o livro de Rute. Se eu tivesse que adivinhar, é porque Rute é visto como um livro de mulheres. Afinal, tem o nome de uma mulher, é focado principalmente em mulheres e, portanto, ganha a reputação de ser um livro de romance santificado, adequado apenas para o estudo bíblico de mulheres.
É uma pena, porque isso resulta em negligenciar um livro que, de outra forma, seria uma tremenda bênção para toda a congregação. Afinal, poderia facilmente chamar o livro de Boaz e torná-lo um livro para homens. Ele é uma das figuras centrais da história, e sem ele, a genealogia registrada no final do livro, não estaria lá, fechando a linha que trouxe Davi e, finalmente, o Senhor Jesus Cristo. Além disso, Boaz é um dos melhores exemplos de confiança e tranquilidade da Bíblia. Ele é um dos únicos heróis de quem não se tem nenhuma informação ruim – ele não decepciona. Ele não se atrapalha nem uma vez enquanto está nas páginas das Escrituras.
Existem dezenas de razões para pregar através do livro de Rute, mas vou limitá-las a quatro.
1. Ele nos ensina a obedecer a Palavra de Deus
O primeiro capítulo de Rute é sombrio. A eventual história de redenção e alegria se passa em um cenário, sempre crescente, de dor e sofrimento. Durante o período de autodeterminação irrestrita, em que “cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25), um homem optou por tornar sua família peregrina em uma terra pagã.
Em vez de ficar com seu próprio povo e suportar a fome, Elimeleque tornou-se um refugiado na terra de Moabe, uma nação fundada pelos filhos do incesto entre Ló e sua filha mais velha. Nessa terra de peregrinação voluntária, seus filhos se casaram com mulheres pagãs, e sua lealdade a Deus parece ter vacilado.
Por fim, isso ilumina a libertação final de Deus. Também descreve as consequências de deixar o lugar que Deus tem para você em busca de melhores oportunidades. Deus ordenou essa mudança, mas foi nessa terra que toda a família quase foi extinta. Pregando em Rute, você tem oportunidade de lembrar os crentes a respeito de sua responsabilidade de obedecer a Deus na maneira como criamos nossa família, e que os pais devem ser um exemplo de fidelidade bíblica. Haverá testes e provações, mas os fiéis perseveram.
Isso também vai levar você a pregar a providência de Deus e sua maneira de usar o pecado e o mal para bons propósitos (cf. Gn 50.20). Se a família de Elimeleque não tivesse deixado Israel, não haveria casamento com Rute, e não haveria razão para ela seguir Naomi de volta e eventualmente se casar com Boaz. Manifestações doces da graça diante das fraquezas são tecidas maravilhosamente entre cenas de pecado e julgamento. Portanto, há uma tremenda esperança, em Rute, tanto para famílias fortes como para as feridas.
Precisamos pregar Rute, porque isso nos mostra que a desobediência tem consequências, mas essas consequências têm propósitos que levam à esperança no Último Dia.
2. Ele nos ensina sobre a soberania divina e a responsabilidade humana
Rute estava em uma situação muito difícil, tanto em casa quanto em Israel. As mulheres solteiras desesperadas, que vivem em um período sem leis, têm poucas opções quando se trata de trabalho. Naquela idade das trevas, elas não recebiam educação, não se envolviam no comércio e eram frequentemente relegadas à servidão ou prostituição. Uma das principais lições que aprendemos como igreja é que a providência é muitas vezes dolorosa. Mas Deus não deve ser julgado de acordo com nossos padrões. Ele deve ser pregado como o rei soberano, e nós somos seus súditos. Ele fará o que bem entender, e nós nos alegraremos porque isso lhe traz glória.
O livro de Rute lembra à igreja (e especialmente aos homens piedosos) da oportunidade de mudar a vida das pessoas em risco de serem exploradas. Isso é uma responsabilidade maravilhosa para qualquer crente saudável. Rute optou por deixar a cidade, onde grande parte da indústria imoral continuava, e trabalhar duro no campo aberto. No entanto, não fosse por homens como Boaz que a notou, protegeu e cuidou dela, toda a situação teria permanecido impossivelmente difícil.
Também vemos a doce providência de Deus ao longo do livro. Em Rute 2. 3, o autor nos diz que, enquanto rebuscava espigas no campo, ela “entrou na parte que pertencia a Boaz”, que era seu parente, solteiro e disposto a se casar com uma mulher que parecia ser mais velha, viúva, estéril, imigrante de outra região. Como o escritor do hino colocou:
Vós santos temerosos, renovem a coragem;
Se as nuvens vos amedrontam
São grandes as misericórdia que as desfarão
Em bênçãos sobre vossas cabeças.
Precisamos pregar Rute, porque isso nos mostra como entender melhor a providência de Deus e a maneira como ele nos usa para fazer sua vontade.
3. Ele nos ensina a considerar os pobres e vulneráveis
Vivemos em uma era, sem precedentes, de exploração de mulheres. No entanto, a situação pode ter sido tão ruim ou pior ainda na época de Rute. As mulheres eram propriedade e, se não pudessem gerar filhos homens, eram frequentemente descartadas ou, no mínimo, “complementadas” com outras mulheres que pudessem.
Rute era estéril. Para piorar as coisas, ela também era estrangeira e pobre. É importante lembrar que, no mundo antigo, a riqueza e a nacionalidade eram os principais contribuintes para a qualidade de vida.
Em outras palavras, Rute teria sido um alvo fácil para homens exploradores, mas, em vez disso, Deus mostrou sua misericórdia através de um judeu benevolente e rico chamado Boaz. Ele generosamente lhe deu ampla oportunidade de obter o que ela precisa, garantiu proteção e certificou-se de que suas necessidades fossem atendidas da mesma forma que as necessidades de seus próprios trabalhadores (Rt 2. 8-9).
Quando Boaz finalmente fala diretamente com Rute, ele não demonstra nenhuma indicação de superioridade social. Ele é muito gentil e respeitoso, chamando sua filha e reconhecendo seu sofrimento. Mesmo que Rute seja imigrante, ele prepara um caminho para que ela tenha sucesso na terra. Essa manifestação do amor e compaixão de Deus é um modelo para nós. Boaz não ajudou a todos, e ele não dividiu sua riqueza em um esforço para tornar as coisas justas. Em vez disso, ele tratou todos com justiça e respeito, concedendo uma medida especial de graça a quem mais precisava.
Precisamos pregar no livro de Rute porque ele nos mostra como proteger os fracos e vulneráveis que carregam a imagem de Deus.
4. Ele nos ensina sobre o nosso verdadeiro Redentor
Por volta da meia-noite, a temperatura baixa e faz Boaz tremer e se sentar. Ele estava dormindo junto à colheita como uma forma de protegê-la e estar pronto para começar a trabalhar mais cedo no dia seguinte. Estendendo a mão para cobrir os pés, encontra uma mulher e faz uma pergunta sensata: “Quem és tu”? (Rt 3. 9).
Esta é uma das grandes conversas da Bíblia. Quando pede para que ele a cubra com sua capa, Rute essencialmente está propondo um casamento que a resgataria (cf. Ez 16. 8; Dt 23. 1; Ml 2.16). É um apelo humilde, mas confiante a um redentor.
Essa conversa dá aos pregadores um cenário aberto para expor as glórias do evangelho na vida de duas pessoas comuns.
Boaz responde de uma forma que às suas próprias orações, pela proteção de Rute, são atendidas (cf. 2.12). Deus está trabalhando através das ações de um homem justo para realizar seus planos para uma viúva fiel. O livro de Rute mostra como a providência divina e a engenhosidade humana frequentemente trabalham juntas na história redentora. Haverá algumas reviravoltas dramáticas ao longo do caminho, mas no final ele toma Rute por esposa.
Durante essa carinhosa interação, Boaz chama Rute de filha e depois usa uma fórmula hebraica comum que pretende acalmar sua mente. Ele diz: “Não tenhas receio”. Ele sabe que Rute é uma mulher virtuosa e alguém a redimirá. Essa é uma linguagem deslumbrante, melhor do que Shakespeare ou Milton, e a cena termina com uma moabita descansando novamente sua cabeça aos pés daquele que é a personificação de sua esperança.
Precisamos pregar Rute, porque isso nos retrata a redenção e adoção que temos em Cristo.
Comentários recomendados em português
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• Série Introdução e comentário – Juízes e Rute – Artur E. Cundall & Leon Morris
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