Alegria genuína, conflito cultural e humildade cristã: reflexões sobre educação cristã

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Vamos orar mais uma vez. “Pai, nós mencionamos bastante a alegria genuína, então eu Te peço que Tu nos concedas o presente desse milagre, que Tu cries pessoas livres, que possam nadar como golfinhos ao invés de serem águas-vivas. E eu oro para que possamos ser humildes à medida que tomamos nossa posição inabalável pela verdade. Em nome de Jesus, amém.”

Meu título, o qual eu trouxe antes de ontem, é: “Alegria genuína, conflito cultural e humildade cristã: considerações sobre educação cristã.” É um título bem longo. Vamos começar pelo esboço, assim você poderá seguir. Começaremos com uma definição de “educação”. E eu não falarei sobre “escolaridade” aqui. E sim “educação”. O que faz a educação ser cristã. Por que essa definição conduz a um foco na alegria genuína? Como a alegria genuína se relaciona com o conflito com a cultura, e o que isso tem a ver com humildade cristã. Eis aqui o esboço que seguiremos.

O que é educação?

Então, comecemos por “o que é educação”. Vou apenas repetir. Educação e escolaridade não são sinônimos. A maior parte da educação acontece fora da escola. Fico feliz por haver escolas. Eu represento e amo o Colégio e Seminário Bethlehem. Eu pergunto: o que é a educação em geral? Pais fazem isso, bem como pastores, professores, pessoas mais velhas para com jovens… O que é isso? Aqui está minha definição de “educação”. E não estou falando de educação cristã ainda. Educação é a implantação de hábitos da mente e do coração, que inclinam e permitem que os estudantes, pelo resto de suas vidas, façam seis coisas:

  1. Observar o mundo. Tudo: livros, insetos, planetas, montanhas, política; observar o mundo atentamente.
  2. Entender claramente o que observaram. É possível ver algo e não fazer sentido algum. Eles verão o que aquilo realmente é, e então entenderão.
  3. Avaliar justamente o que foi visto e entendido.
  4. Sentir proporcionalmente a realidade avaliada. Uma pessoa bem-educada não deve ter sentimentos fortes por questões insignificantes. Ou sentimentos pequenos por questões magníficas. Uma vida emocional proporcional.
  5. Aplicar sabiamente todas as descobertas.
  6. Expressar ao mundo de forma clara, precisa, criativa e cativante com seu corpo, sua boca e sua escrita, para o bem do mundo; da maneira que você definir, pois não falamos de cristianismo ainda. Eu ficaria diante de milhares de educadores que não conhecem Jesus e defenderia esta definição para educação. Agora, direi novamente de forma breve. Educação é a implantação de hábitos da mente e do coração que inclinam e habilitam os estudantes, pelo resto de suas vidas, a observar, entender, avaliar, sentir, aplicar e expressar a realidade para o bem do mundo. Os pais deveriam estar fazendo isso. As escolas deveriam fazer isso. As universidades deveriam fazer isso. Igrejas e pastores deveriam fazer isso na escola dominical. Fóruns, sociedades, clubes, seminários e conferências deveriam fazer isso.

Agora, o que torna isso “cristão”? O que deve mudar? O que se deve acrescentar? O que deve ser retirado para tornar cristã essa definição de educação?

O que torna a educação em cristã?

A educação, da forma que defini, será cristã se possuir quatro elementos. E podem ser aplicados à paternidade, à pregação…

  1. Se ela for buscada em dependência consciente do poder gracioso do Espírito Santo. De manhã até à noite, a educação cristã é conduzida em dependência consciente do poder gracioso do Espírito Santo.
  2. A confiança em Jesus Cristo crucificado por pecadores e ressurreto é a base de tal poder. Isso não vem do nada. Ninguém o merece. Se você é capaz de depender do poder do Espírito e observar o mundo corretamente, Ele comprou isso para você como um presente gracioso; Cristo é a base disso, crucificado e ressurreto.
  3. Tudo isso é feito para a glória de Deus em Jesus Cristo. Confiar em Jesus, no poder do Espírito Santo, para a glória de Deus.
  4. É governada pela autoridade da Bíblia. Hoje e sempre.

Essas quatro coisas fazem a educação ser cristã. Então, de forma breve: A educação cristã é a implantação de hábitos da mente e do coração que inclinam e habilitam estudantes, pelo resto de suas vidas, a observar, entender, avaliar, sentir, aplicar e expressar a realidade na dependência da ajuda graciosa do Espírito de Deus, comprada pelo sangue do Cristo ressurreto, para a glória de Deus e o bem do mundo, tudo de acordo com a Palavra de Deus. É isso que torna a educação em educação cristã. Este é um resumo de muitos anos de reflexão sobre o que se deve fazer como instituição educacional, como o lar, a igreja ou a escola.

Por que a educação cristã torna a alegria genuína proeminente?

Eis minha terceira pergunta. A primeira, o que é educação. A segunda, o que a torna cristã. Terceira, o que tem a ver com alegria genuína? Por que fazer educação dessa forma? Por que observar o mundo e a Palavra dessa forma conduz uma pessoa a colocar “alegria genuína” na mensagem ou na vida? Escute estas frases tiradas do Novo Testamento. E eu assumo que, se você observa o Novo Testamento atentamente, e que o entende corretamente, e que o avalia justamente, você verá tudo isto aqui. Você pode parar e dizer “Wow! O que é isso?” Eu tenho 14 delas. É artilharia pesada. Vou apenas ler. 14 passagens.

“Também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens” (Hebreus 10.34);

“Tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações.” (Tiago 1.2);

“Quando vos injuriarem e vos perseguirem, regozijai-vos e exultai.” (Mateus 5.11-12);

“E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem.” (Mateus 13.44);

“Alegres por terem sido julgados dignos de sofrer por causa do Nome.” (Atos 5.41);

Nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.” (Romanos 5.3-4);

“No meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.” (2 Coríntios 8.2);

“Nos regozijamos quando nós estamos fracos e vós, fortes.” (2 Coríntios 13.9);

“Mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me!” (Filipenses 2.17);

“Me regozijo nos meus sofrimentos por vós.” (Colossenses 1.24);

“Tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo.” (1 Tessalonicenses 1.6);

“Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz.” (Hebreus 12.2);

“Nisso exultais, ainda que agora sejais afligidos.” (1 Pedro 1.6);

“Alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo.” (1 Pedro 4.13).

Do que você chamaria isso? Eu lhe darei um nome! Nós chamamos de alegria genuína! Ela não é sacudida! Tem sangue por todo lado, vergonha e rejeição por todo lado, e tem alegria por toda parte! Vou lhes falar: edifique igrejas assim e essa cidade ficará de ponta cabeça. Vamos resumir. Vamos resumir. Quando absorvemos, quando praticamos educação cristã em casa, na igreja, na escola; quando você observa, entende, avalia e sente em acordo com a realidade, há alegria na provação, alegria no luto, alegria na aflição, em ser oferecido como libação, alegria na fraqueza, na pobreza, na vergonha, alegria em vender os bens, alegria na perseguição, alegria no espólio dos bens, alegria na cruz, alegria em participar do sofrimento de Cristo. É de tirar o fôlego! Eu odeio o evangelho da prosperidade, porque ele não possui isso! Este é o centro da vida! Nós vivemos na Disneylândia aqui na América, e sim, está ficando pior. Mas vá até o Irã e observe. A igreja que mais cresce no mundo está no Irã neste momento. E eles pagam caro. Quem sabe o que Deus faz na Coreia do Norte? É assim que as coisas são. Alegria genuína! Quando o nosso olhar fixo, cuidadoso, pensativo e compreensivo trabalha na educação da Bíblia, essa é a alegria que nós vemos!

Na igreja, temos frases que gostamos de usar. Nós as tiramos da Bíblia. A mais significativa está em 2 Coríntios 6.10, onde Paulo diz: “entristecidos, mas sempre alegres.” Note que isso significa que tristeza e alegria são simultâneas, e não sequenciais. Percebe? Entristecidos, mas sempre… Não é sempre entristecidos e às vezes alegres. E sim às vezes entristecidos mas sempre alegres! Significa que, às vezes, são simultâneos! E se você tem mais de 30 anos, e é cristão desde seus 16 anos, você pode recordar de algum ponto da sua vida em que você chorou muito, e seu coração quase sai pela boca, o que quer fazia você chorar, você pode se lembrar de como era! Alegria e tristeza sequenciadas também estão na Bíblia. “Ao anoitecer, pode vir o choro”, mas o que vem pela manhã? A alegria vem pela manhã! É óbvio que dois textos não se contradizem. Então há experiências reais sequenciadas, sequenciais; experiências reais de noite muito triste seguida de manhã muito feliz! Mas Paulo diz que aquela noite triste possuía alegria. Se você é cristão, naquela noite triste a pequena semente não morreu, ela não morreu quando seu marido morreu; ela não morreu quando sua mãe morreu; não morreu quando você perdeu o emprego. Não morreu! Por favor, não me diga que morreu. Não morreu! Entristecidos, mas sempre alegres.

Então nós acreditamos que algo central à vida, algo central à vida em Cristo, é a educação na alegria genuína. E sentimos que é necessário fazer essa varredura em duas passagens em que Paulo descreve seu objetivo apostólico na vida. Eu amo isso! Você recorda 2 Coríntios 1.24? Ele diz isso: “Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria.” Ok, Paulo, descreva qual é o seu chamado. O que você faz? Você vai de cidade em cidade, edifica igrejas, as alimenta, nomeia presbíteros, quer ir à Espanha, o que você faz? “Eu sou cooperador da alegria deles! Estou resgatando pessoas do inferno para alegria eterna! Estou edificando esta igreja para que a alegria deles sobreviva a tudo!” É isso que ele faz! Esse é seu chamado? Este é o meu! É ao que tenho me dedicado há 50 anos! Eu tento fazer as pessoas felizes enquanto elas morrem! Felizes enquanto passam pelas piores coisas do mundo, porque Deus é bom! Em todo momento! Esse é meu chamado. Ou Filipenses 1.25. Um rapaz hoje à tarde veio e me disse: “você quer ficar ou quer ir?” Viver ou morrer. Eu disse: Eu gostaria de ir, mas penso que devo ficar. É o que Paulo disse. Apenas citei Paulo, tentando alinhar meu coração. Ele diz que partir é incomparavelmente melhor, mas permanecer no corpo é melhor para eles, então eu provavelmente ficarei. O que ele quis dizer com “permanecerei com todos vós”? Eis o que ele disse: Filipenses 1.25. Falei do 20 ao 22, agora o 25. “Permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé.” Se tenho que ficar no planeta, tentarei fazer pessoas felizes em Deus. Por isso estou aqui. “Quero ir à Espanha, fazer pagãos felizes em Jesus.” Os missionários fazem isso, e você deve fazer em sua casa, colocando tanta firmeza por baixo da alegria que ela não pode ser abalada. Acreditamos que isso é o cerne da educação cristã. “Cooperadores de vossa alegria, para o vosso progresso e gozo da fé.”

Alegria genuína em conflito com a cultura

Agora, mais duas questões. Alegria genuína, conflito cultural, humildade cristã. Nós temos essas duas peças do quebra-cabeça. Aonde isto está nos guiando? Conflito cultural? Que história é essa? Como é que uma educação que mergulha na palavra de Deus surge com essa pesada realidade chamada “alegria genuína”? E agora devemos pensar sobre conflito cultural. Por quê? O que você quer dizer?

Uma alegria verdadeira, como vimos agora no Novo Testamento, liberta a alma da dependência da aprovação e da conformidade cultural. Ela te liberta. Em outras palavras, quando sua alegria vem de Deus, através de Cristo, e é absolutamente inabalável ao passar por luto, aflições, fraqueza, pobreza, vergonha, desonra, perseguição, perdas… A cultura perde o poder de controlar você. Você é alguém livre. Se você tomar uma posição que a cultura odeia, ou falar uma palavra que a cultura condena, e eles te envergonham, te perseguem, te defraudam, e te cancelam! Sua alegria permanece inabalada, e você é liberto. Você não é mais controlado. Livre! Quando a sua cidadania é do céu, e toda a sua herança está no céu, e toda a sua alegria vem de Cristo no céu, você é uma pessoa livre aqui na Terra, e muito subversivo! Muito contracultural, e ninguém pode te tocar. Eu quero pessoas livres.

Se a sua alegria vem do mundo, com seus benefícios, com seus confortos e louvores, você é como uma folha ao vento. Sua alegria não é genuína, mas uma alegria de segunda mão. Você não está livre. Você é sacudido pelo noticiário todos os dias. Por um telefonema, por um e-mail sério, pela palavra de alguém, suas emoções são sacudidas por todo lado, pois você é uma folha ao vento, sua alegria é apegada a pessoas, ou à aprovação delas, ao dinheiro, à casa, ao conforto, ao carro, às joias, à herança, à esposa, àquele filho de três meses… Ela está concentrada aqui, e tudo que acontece aqui é o fim para você. Você não é alguém livre. Esse não é o modo que o cristianismo é.

Uma alegria genuína liberta as pessoas, e as torna as pessoas mais seguras e subversivas com relação ao controle cultural. Sempre foi verdade, desde dois mil anos atrás, não há nada novo sobre isso. Uma alegria genuína em Cristo ao passar pela dor sempre foi radicalmente libertadora do controle cultural. Ao obter alegria do céu, os cristãos são libertos na terra. Sempre foi verdade. A novidade hoje é que as mídias sociais criaram uma intensificação das velhas táticas de controle cultural. As táticas não são novas; a dinâmica emocional de controle e vergonha não é nova. A mídia é nova, predominante e poderosa. Você pode ser odiado por 10 mil pessoas de um dia para o outro. Então, na nossa cultura, e vocês devem saber disso, eu suponho… é chamado de cultura da reclamação, ou cultura da indignação, cultura do cancelamento, cultura dos mimados…

Essa última frase é de um livro chamado “A superproteção da mente americana”, do Jonathan Haidt, e aqui está uma frase que achei muito esclarecedora. “Essa cultura de hoje ensina as pessoas a verem as palavras como violência, e a interpretar ideias e oradores, como seguros ou perigosos, ao invés de verdadeiros ou falsos.” Então, se você tomar sua posição, e falar sua verdade, talvez esteja sujeito a reclamações em massa, ou a indignações, ou a ser “cancelado”, ou acusado de que você não agradou as pessoas que precisam ser mimadas. Uma alegria genuína é um maravilhoso libertador dessa cultura, assim como foi com qualquer outra cultura. Permita-me dar uma ilustração do Novo Testamento. Poderia ser qualquer outra, mas esta trata de autoridade.

Uma ilustração da cultura da reclamação a partir do Novo Testamento, a cultura da indignação, a cultura do cancelamento, a cultura da vergonha… está bem ali em Atos capítulo 5. O sinédrio judeu está tentando os silenciar. SILENCIAR! Dizendo que esse Jesus é o Cristo? Queremos vocês calados! O que eles fizeram? Lerei para vocês. São os versos 40 e 41 de Atos 5. “Mandaram açoitá-los e ordenaram-lhes que não falassem em nome de Jesus, e os deixaram sair.”

Escute bem isto. Você está atento? “E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.” É uma grande alegria serem libertos, porque o que eles fariam no dia seguinte? Eu amo cristãos radicais! “Eles não deixaram de ensinar e pregar que Jesus é o Cristo”! Livres! Livres! Livres!! Como? Eles saíram de lá alegres por terem sido envergonhados. Vamos lá, não vamos fazer joguinhos, não vamos dizer: “Oh, eles me envergonharam, eu vou processá-los!” Vamos lá, cristãos, nós não vamos jogar esse jogo cultural. Nós somos livres! Não somos controlados pela vergonha, nem pelas reclamações, nem pelo cancelamento! Cancelem-me! Alegrem meu dia! Jesus tem uma porta aberta! Sem cancelamento, sem condenação! Vamos lá! Não vamos ser meros copiadores dessa cultura! Isso nos leva à última questão.

O que é a humildade cristã?

Se você tomar sua posição contra a cultura, se você expressar suas palavras em um blog, um sermão, ou numa conversa no trabalho, se você falar algo que a cultura considerada como “cancelado”, então você será acusado de arrogância. E outros nomes ruins. Mas fico mais preocupado com a arrogância, pois Deus a odeia. Deus odeia o orgulho. Ele odeia mais do que o adultério. E a questão é: a acusação de orgulho, seja amanhã ou segunda após o trabalho. Você apenas deu uma opinião e não gostaram.

– Você acredita nisso?!

– Sim, acredito.

– Por quê?

– Acredito que Deus ensinou assim em Sua palavra.

E se a próxima frase for: “Quem é você para falar por Deus? Essa é a frase mais arrogante que já ouvi de alguém!” E agora? E agora? Assim finalizaremos, tentando chegar a uma conclusão sobre isso. Não é novidade que o mundo sequestrou a palavra “arrogância” e a igualou a “convicção”. Não é novidade que o mundo sequestrou a palavra “humildade” e a igualou a “incerteza”. A razão pela qual não é novidade, é porque G. K. Chesterton escreveu o seguinte em 1908:

“O que sofremos hoje é a humildade no lugar errado. A modéstia saiu do órgão da ambição. A modéstia se estabeleceu no órgão da convicção, onde ela jamais deveria estar. O homem deveria duvidar de si e não duvidar da verdade; isto foi precisamente revertido. Atualmente, a parte do homem a qual ele afirma é precisamente a que ele não deveria afirmar: ele mesmo. A parte da qual ele duvida é precisamente a que não deveria duvidar, a Razão Divina (ou a Verdade). Nós estamos no caminho de produzir uma raça de homens mentalmente modesta demais até para acreditar na tabuada” (Chesterton, G. K. — Ortodoxia).

Então, se a humildade não é o abandono da convicção, e se a humildade não é abraçar a incerteza, o que ela é? No Novo Testamento, somos chamados a ter confiança. Uma confiança tão grande que, se você for espancado, ou açoitado com chicotes ou varas e então solto, você se alegra. Essa é a confiança. “Regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.” Irei apenas dizer cinco coisas que a humildade cristã é e então finalizamos.

1. A humildade cristã começa com um senso de subordinação a Deus em Cristo.

Mateus 10.24: “O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor.” Ele está abaixo. Subordinação. É onde começa a humildade. “Eu não sou Deus”. É uma ótima frase. Eu tenho tentado, há quase um ano, me ajoelhar uma vez por dia por 30 segundos e dizer: “Eu não sou Deus. Me ouviu, Deus? E está tudo bem assim. Tu és, eu não. E devo viver assim com minha esposa e os demais.”

1 Pedro 5: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus”. Nós precisamos sentir isso, e não apenas saber. Deus está acima e eu, abaixo. Eu não sou digno de lhe desatar as sandálias, a distância entre Deus e eu é infinita. Sua grandeza, poder, sabedoria, justiça, verdade, santidade, misericórdia e graça estão tão além de mim como os céus estão da terra. Eu não sou Deus. A humildade começa com um senso de sub, sub, subordinação. Eu desço. Que Ele cresça e eu diminua todos os dias; eu sou pequeno, Ele é grande. Se você não começar aí, você se gloriará na sua humildade.

2. A humildade não se sente no direito de ter melhor tratamento que Jesus.

Este talvez seja o mais difícil, radical e necessário nos nossos dias. A humildade não é se sentir bem, ou um merecimento de melhor tratamento que o que Jesus teve. Mateus 10.25: “Se chamaram Belzebu ao dono da casa…” (Satanás; chamaram Jesus e suas obras de Satanás) “…quanto mais aos seus domésticos?” Se eles não me chamaram de demônio ainda, tem algo errado! É mais ou menos isso. Se eles chamaram o dono da casa de Satanás, quanto mais aos seus domésticos? A humildade não produz uma vida baseada em perseguir direitos ou com senso de merecimento. Você passa pela vida dizendo “eu tenho meus direitos, eu mereço isso e aquilo”, isso não é uma mente humilde!

“Pois Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, pois quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente.” Isto é 1 Pedro 2:21-23.

A maior parte da ira de John Piper, e eu acho que este é o meu pecado mais comum e fácil de acontecer; meu casamento com Nöel, o qual celebramos bodas de ouro em dezembro, não foi ameaçado por adultério ou pornografia. Essa não tem sido minha frente de batalha. A ira sim. Eu sou alguém irado. Talvez você perceba na minha voz, eu falo alto rapidamente, me irrito com a cultura; eu estou programado para ficar bravo com a estupidez. E com a falsidade e com coisas que desonram Cristo. Provavelmente eu passo dos limites entre a ira justa e a ira injusta. Talvez eu passe dos limites todo dia. Graças a Deus pelo Evangelho! Esses textos significam muito para mim. E eles estão comigo. Estão comigo todas as horas. Cristo deixou-vos exemplo, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca. Quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente. Siga o exemplo. George Otis uma vez disse: “Jesus nunca prometeu uma luta justa a seus discípulos.” É exatamente isto! Mas quantos de vocês quando ficam irritados na luta, dizem: “Isso não foi justo! Eu não disse nada disso e você diz que eu disse!” Eles mentiam sobre Jesus toda hora, foi assim que o mataram. “Ele disse que derrubará o templo e levantará em 3 dias, matem-no.” Então, provavelmente você morrerá por difamação. Alguns de vocês, por calúnia! “Eles dirão muitas verdades sobre mim e eu morrerei de forma romântica no campo missionário.” Não, eles mentirão sobre você! E você morrerá pela falsidade dita sobre você, e não será glorioso, e sim como foi com Jesus. Então, eu lhe imploro. Se você deseja ser humilde como Jesus foi, que não julgou como usurpação o ser igual a Deus, mas se esvaziou, então você não pode passar a vida com um senso de merecimento e direitos, como se você devesse ser tratado melhor que Jesus. Quem você pensa que é?

3. A humildade afirma a verdade, não para inflar o ego com controle ou triunfo em debates, mas a humildade afirma a verdade como honra a Cristo e como amor aos outros.

Há diferença entre tentar vencer discussões e amar pessoas com a verdade. 1 Coríntios 13.6: O amor se regozija com a verdade. Se a verdade é um instrumento de salvação, e realmente é, de acordo com 2 Tessalonicenses 2.10, “perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos”; se a verdade é instrumento de salvação, então amamos as pessoas ao falar a verdade sobre a salvação. Se a verdade é instrumento de santificação, e é: “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade”, então falaremos esta verdade como expressão de amor que exalta a Cristo! Se a verdade é instrumento de libertação e alegria, e é: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, falaremos a verdade em serviço da liberdade e amor que exaltam Cristo! Não importa o que alguém diga! Nós vimos na Bíblia! É o que a verdade faz, ela liberta as pessoas! E se não querem te ouvir, você ainda os amará com ela. Então, falar a verdade que outros precisam ouvir, caso queiram ou não, é honrar Cristo e amá-los.

4. A humildade sabe e sente que depende da graça para tudo. Depende para conhecer, para crer, para agir e para respirar.

Mateus 16.17: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, carne e sangue não te revelaram isso, mas meu Pai, que está no céu.” O conhecimento básico de Pedro de que Jesus era o Cristo foi dom de Deus.

Efésios 2.8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” Se você é crente, sua fé foi um dom. Deus te deu.

Filipenses 2.12: “Realizai vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós o querer como o realizar, segundo sua boa vontade.” Todo nosso crescimento em graça, todo nosso pequeno sucesso na santidade, são dons que Deus trabalha em nós. E os planos mais simples, como chegar em casa às 10 horas; eu posso estar morto às 10h. Esta é uma citação da Bíblia. Tiago 4.15: “Devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”, como chegar a Hilton às 10h. Se o Senhor quiser, o Piper estará dormindo às 10, pronto para um voo amanhã cedo. E se Ele não quiser, você não chegará lá às 10! Deus é Deus! Humilhe-se sob a poderosa mão de Deus, sr. planejador da sua noite! E diga: se o Senhor quiser, eu chegarei ao Hilton às 10; sinta isso e ame isso! Eu não conduzo minha vida. Deus é Deus! Quem você pensa que somos para pensar que podemos ir e voltar, fazer isso ou aquilo e respirar?

Eu só durmo do meu lado esquerdo. Eu não sei por que não consigo dormir do lado direito. E eu não durmo em sacos de dormir. Eu deito do lado esquerdo, como um bebê, assim. E com frequência eu desço a mão e agarro meu pulso. Sabe por que faço isso? Eu realmente faço isso. É divertido. Pois quando sinto as pulsações, eu digo: qualquer uma dessas pode ser a última. Eu não tenho controle algum das pulsações. ZERO! Que belo pensamento para ir dormir! Você se deita, fala com Jesus, você diz para ele: “Jesus, eu não estou no controle, Tu estás. Eu não tenho ideia se essa é minha última noite. Francamente, eu adoraria morrer dormindo. Mas não quero lhe dizer o que fazer. O que eu quero fazer nesses dois minutos antes de dormir, é ter certeza que está tudo bem entre nós. Eu amo o Senhor. Eu confio no Senhor. Eu sou pecador e Tu és minha única esperança. Se meu coração parar e eu estiver dormindo, eu estarei contigo. Obrigado pelo Evangelho e pelo sangue.” É uma ótima forma de ir dormir. Você deveria fazer sempre. Não seja legalista com isso, mas…

O quarto traço da humildade é: a humildade sabe e sente que dependemos da graça para conhecer, crer, agir e respirar. Você passa pela vida sabendo que Ele é Deus e você não é Ele. Tudo que eu recebo é um dom.

5. A humildade sente e sabe que é falível, considera as críticas e aprende com elas.

Ela também sabe que Deus provê uma convicção humana inabalável, e que Ele nos chama a persuadir outros. É um tipo de paradoxo, certo?

1 Coríntios 13.12: “Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.” Essa é uma postura humilde: eu não sou infalível, eu não sei tudo. Há muito que preciso aprender. Se eu não sou infalível e você tem uma reclamação a fazer para mim, será sábio de minha parte ouvir você. Eu posso rejeitar tudo que você falar, mas talvez não pois você pode ver algo que eu não vejo. É bom estar casado, por sinal. É muito bom estar casado. Minha esposa me livrou de muitas imbecilidades. Coisas estúpidas que eu não deveria falar. Provérbios 12.15: “O sábio dá ouvidos aos conselhos.” Não somos Deus. Somos pecadores, finitos, condicionados culturalmente, portanto, falíveis e, portanto, Tiago diz, tropeçamos várias vezes no falar (Tiago 3). Tropeçamos muito. “Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo.” O que não é verdade para ninguém, exceto Jesus.

Então devemos querer aprender. Qual seria um bom versículo para “querer aprender”? Uma pessoa humilde é aquela que quer aprender. Se você vier apertar minha mão e disser: “Eu não creio que o modo com que tratou Tiago 4.15 seja correto”, minha resposta não deveria ser zangada como “eu sou o pregador!”. “Quem você pensa que é?” Isso seria algo insano, arrogante, estúpido e imbecil de dizer. Eu diria, assim espero, “No que eu errei?” Você abriria sua Bíblia e diria “que tal esta palavra?” E eu diria: “não pensei nisso”, o que acontece com frequência! Alguém pergunta e digo que nunca pensei naquilo. Aqui está um verso para irmos, Tiago 3.17: “Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura, pacífica, tratável…” A sabedoria do alto, pura, pacífica… Venha, vamos tratar dela juntos. Eu não sei tudo, você não sabe tudo. Diga-me onde acha que errei, eu direi porque não acho que errei e poderemos nos persuadir. À boa moda antiga, não com reclamações ou tuitando. Então, a humildade sabe que Deus provê convicção humana inabalável também.

2 Coríntios 5.11: “Conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens.” Você não pode hesitar se quiser persuadi-los. Ou Tito 2.15: “Exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze.” Você não pode tentar persuadir alguém humildemente se você não tem convicção. Você não pode falar humildemente com autoridade se você não tem convicções.

Se alguém vem a você e diz: “O relativismo é a postura humilde. Você não pode saber o que é verdade; a sua e a minha podem estar certas e não podemos saber; sua verdade e a minha são iguais, basta seguirmos nosso caminho. Essa sim é uma postura humilde.” Não é! Sabe por que não é uma postura humilde? Pois, se não existem verdades objetivas que podemos conhecer, então você está livre para ser seu deus, o que é muito atrativo para seres humanos caídos, como eu. Eu teria gostado de ser Deus, exceto pelo fato que eu amo Deus. Mas se eu não conhecesse Deus, não teria coisa melhor para ser, tipo, dizer a vocês o que fazer, como me servir e me fazer feliz… Se não há verdades objetivas às quais devo me submeter como realidade externa, eu sou um deus! Faço o que quero! Seria juiz e júri em toda controvérsia! Parece uma postura humilde, mas não é. É orgulho disfarçado. “Eu faço o que eu quero, obrigado. E é melhor ficar longe, pois minha verdade é minha verdade e é tão boa quanto a sua.” Não é uma postura humilde. A humildade se submete a realidades objetivas. Isto é um púlpito. Não vou arrebentar minha mão nele pensando que é uma nuvem. É um púlpito, feito de madeira, eu acho. Madeira. Bem dura, isso machucaria. Eu me submeto à essa realidade; ela está lá, não posso mudá-la, eu não sou Deus e eu me submeto à realidade e à verdade. Essa é a postura humilde, e não “sou Deus, vou atravessá-lo”. A humildade sabe que o seu entendimento da realidade é falível por um lado, e que há tal coisa como uma verdade objetiva e que, pela graça de Deus, há uma maneira pela qual podemos ver a verdade, submeter-se a ela, proclamá-la e vivê-la.

Permaneça firme em alegria genuína

Na base desses cinco traços está esta convicção: a humildade sente que a humildade é um dom além do nosso alcance. Se a humildade é produto do nosso alcance, eu me gloriarei de que pude alcançá-la. A humildade é o dom que, ao nos negarmos, recebemos todas as coisas como dom. Ou, como Paulo disse, é um fruto do Espírito. Um fruto do Evangelho. Saber e sentir que sou um pecador desesperado e que Cristo é um grande Salvador. Um salvador imerecido. Ou alguém poderá dizer: A humildade cristã, nos maiores conflitos culturais, é o fruto da alegria genuína, da alegria nas riquezas imensuráveis, inabaláveis e imerecidas de Cristo.

Eis minha última exortação para todos nós.

  1. Submeta-se a Cristo, o Supremo.
  2. Não espere ser tratado melhor do que Jesus.
  3. Diga a verdade em amor pela causa de Cristo.
  4. Receba tudo na vida como graça.
  5. Queira aprender, mas não seja fraco.

Não se glorie nos homens, “porque tudo é vosso: e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (1Co 3.21,23). Então, permaneça firme na alegria genuína. Vamos orar.

“Pai que estás nos céus, eu oro para que tu pegues toda a verdade que falei e sele-a pelo Teu Espírito em toda mente e coração aqui neste lugar. Se eu falei algo errado, é aí que preciso ser cancelado. Tu podes me cancelar. Eu oro para que Tu nos unas em um tipo de alegria genuína que vem da educação cristã, que nos conduz à liberdade em nossas interações com a cultura ao invés de sermos controlados. E faz-nos humildes. Eu oro no nome de Jesus, amém.”

Neste livro, Solano Portela faz uma avaliação crítica do cenário atual da educação brasileira, tanto secular como religiosa, propondo o desenvolvimento de uma pedagogia para a educação escolar cristã, chamada de pedagogia redentiva, ao apontar para uma educação de excelência fundamentada em uma cosmovisão bíblica sobre a vida e o mundo.

Confira

 

 

Por: John Piper. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Serious Joy, Cultural Conflict, and Christian Humility.

Original: Alegria genuína, conflito cultural e humildade cristã: reflexões sobre educação cristã. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Renan Araújo. Revisão: Filipe Castelo Branco.