Defraudação digital: Disfarces, expectativas, e as ovelhas que agem como lobo (Parte 1)

*Este artigo é um resumo da palestra de Emilio Garofalo Neto proferida na Conferência Fiel Jovens Interativa 2020.

Nessa primeira parte, serão abordados o que é defraudação e as primeiras formas de como isso acontece.

No texto lido, Paulo fala da ética sexual do povo de Deus e sobre como não somos iguais aos gentios. Defraudação digital é criar falsas expectativas que não podemos cumprir nos irmãos através dos meios digitais. Ela pode ocorrer de duas formas principais: por meio da projeção da identidade, isto é, de quem somos (ou afirmamos ser); e por meio da criação de expectativas, isto é, do que oferecemos (ou afirmamos oferecer).

As redes sociais dão uma ousadia extra para tais padrões de comportamento; é mais fácil ludibriar o irmão através desse meio e mais fácil de escapar sem ser pego ou até disciplinado. Apresentamos algo que não somos com a finalidade de conseguir algum benefício amoroso, atraindo as pessoas para o que querem e não para o que somos. Naturalmente somos pessoas que se apresentam de uma outra forma. Nós escolhemos como queremos ser percebidos. Mas o fato é que a apresentação pode ser projetada para enganar. Se o relacionamento é face a face, fica mais difícil camuflar quem você é. Os posts, os stories podem facilmente se tornar mais críveis.

Todos fabricamos uma imagem que pode ser ou mais ou menos enganosa. Vemos apenas o que as pessoas querem que vejamos, e acabamos construindo o restante com a nossa imaginação do que a outra pessoa é. Os perfis online são apenas uma imagem projetada. Bem, isso é um tanto inevitável. Duro é quando esquecemos desse detalhe nos nossos relacionamentos. Muitas vezes nossas imagens são cultivadas para iludir outro crente a um relacionamento até que seja tarde demais para voltar atrás.

A seletividade e avaliação dos perfis na rede não são necessariamente ruins, pois sempre avaliamos tudo ao nosso redor, mas isso pode levar a um tipo de defraudação. Não apenas com relação a dar golpes, mas também de formas mais “leves”, mostrando-se interessante para a pessoa que se interessa. Descobre-se os gostos da outra pessoa e começa-se a usar isso como uma “isca” para pescar a outra pessoa através da projeção de uma imagem feita. Mas esse gosto foi inventado.

Observe algumas formas que homens e mulheres criam falsas imagens. Vamos primeiro analisar os perfis masculinos mais comuns.

É comum que o rapaz se passe por alguém “piedoso/teólogo”. Ele mostra interesse em alguns assuntos bíblicos e em teologia. Mas ele não se dá conta que isso é algo realmente bom e desejável. Ele faz isso somente para que a moça note um esforço teológico além de um mero “eu acredito em Deus”, e criam imagens de alguém piedoso, afinal, as moças estão com tudo no estudo da teologia. Mas a teologia não vai além do perfil mesmo. Ele só quer o acesso à moça.

Outra imagem comum é a do “bem-sucedido fariseu”, embora ele esconda a parte do fariseu. Ele vive uma vida ímpia e, quando chega em um ponto que quer se casar, ele quer fazer isso com uma moça séria. Então passam a mostrar viver uma vida séria. Geralmente essa pessoa é bem sucedida no que faz e isso é muito agradável aos olhos do pastor, dos irmãos e das moças. Ele ganha acesso por criar uma bela imagem, mas que é falsa.

Outra forma é o rapaz “bem conectado”, que usa e abusa da rede de conhecidos para se aproximar da moça. Às vezes até se portam mal no chat mas, por serem amigos de fulano, a moça acaba adicionando e conversando. Os exemplos são inúmeros.

Mas a defraudação também acontece pelas moças. Muitas vezes elas criam imagens para atrair atenção. Uma delas é o ato de “agarrar pela beleza mas dentro de certos limites”, utilizando-se de uma sensualização quase erótica. Elas percebem que podem atrair seguidores ao expandir certos limites sem serem chamadas a atenção pelo pastor. A incoerência é quando elas querem um homem livre da pornografia mas usam o corpo e postura sensual para atraí-los. Mas não se engane: não há outra recompensa a não ser atrair homens que querem ver corpos bonitos e sensuais. E os crentes são hábeis demais de ficar no limite, dizendo que “a maldade está nos olhos de quem vê”. Por vezes as moças cristãs se sentem em segundo lugar, numa competição desleal com as moças do mundo, mas esquecem que estão se tornando com elas.

Outra forma é a imagem da tristeza e da melancolia, a “princesa sofridinha” que precisa de atenção e cuidado. Ela posta coisas tristes, lamenta que homem sérios não existem mais, ou que as pessoas são todas enganadoras. Rapidamente aparecerão os “cavalheiros” concordando, oferecendo ajuda. Em geral, ela só quer levantar a própria moral através de ver que o mar está cheio de peixes para quando se quiser pescar. Isso também é defraudação: leva-se os irmãos a correr em sua direção quando só se queria atenção. Há várias outras formas de defraudação para ambos os grupos.

Para finalizar esta primeira parte, há uma forma peculiar que ocorre através de um terceiro: o chamado “cupido”, aquele que quer juntar outros irmãos à força, como se a solteirice fosse um pecado grave, e às vezes até inventa para si um “ministério”, achando que aquele é seu chamado. Então, ele força que os irmãos criem imagens de si para terem o que dizer ao outro; então corre-se para o perfil social online, para poder avaliar o outro através de postagens seletivamente bem selecionadas, criando uma situação difícil de resistir. Sob uma intenção de “ajudar”, eles expõem os irmãos a projetarem uma falsa imagem de quem são para as outras pessoas.

Nessas eras digitais em que a tendência é conhecer os outros online, é muito mais fácil se camuflar e enganar os outros sobre quem somos.

Mas quem devemos ser diante de Cristo? Quem devemos ser como pessoas cuja identidade que não é o que postamos, mas aquela que está naquele que nos salvou? Quando você busca passar uma imagem diferente daquela que Cristo está formando em você, você acaba defraudando e se colocando em uma posição que também sairá ferido, pois em algum momento a verdade virá à tona.