Defraudação digital: Disfarces, expectativas, e as ovelhas que agem como lobo (Parte 2)

*Este artigo é um resumo da palestra de Emilio Garofalo Neto proferida na Conferência Fiel Jovens Interativa 2020.

Na primeira parte, vimos como a defraudação é pecado por causar expectativas no outro, as quais não queremos ou não podemos cumprir. Veremos agora como irmãos podem agir como lobos para atacar ovelhas. Analisaremos o conceito à luz de 1 Tm 5.1-2.

O conselho é para que Timóteo trate as outras mulheres como mães ou irmãs. Ainda que o contexto aqui seja mais voltado à disciplina, as interações que temos uns com os outros devem ser pensadas dessa forma. Aja e converse como se estivessem falando com alguém de sua família! Nesse caso da defraudação, como a irmãos ou irmãs.

É comum que a defraudação ocorra por uma ou pelas duas pessoas fazerem promessas implícitas, isto é, o que se dar a entender. Por vezes é má interpretação, mas muitas vezes é intencional. Isso se dá pelo fato de que as fronteiras das conversas digitais são diferentes das interações pessoais: elas nos dão acesso a conversas que talvez jamais aconteceriam ao vivo ou, se acontecessem, seriam mais cuidadosas. Os bate-papos dão um poder a mais às pessoas. Permitimos o acesso a nós ainda mais. Uma vez que as pessoas podem ver o que fazemos, o que usamos, quais são nossos gostos e interesses, é mais fácil deixar uma linha de acesso aberta para que as pessoas puxem assunto. Observe o risco associado à confusão uma vez que os critérios são bem mais flexíveis no meio digital. O acesso dado acaba sendo interpretado como um acesso ao coração, como interesse. Será que é benéfico oferecer tanta possibilidade e facilidade? Tudo isso porque temos dificuldades para estabelecer as fronteiras nesse mundo digital.

Assim chegamos ao ponto das falsas expectativas. Elas surgem da dificuldade de medir essa facilidade de acesso das pessoas a nós. E começar a entender e estar consciente disso já é útil para julgar situações, como aquela pessoa que fica respondendo a todos os seus stories, por exemplo. Vejamos como esse tipo de defraudação por falsas expectativas acontece.

Com relação aos homens, é possível identificar várias figuras e personagens criados com esse fim. O primeiro a destacar é a figura do “cuidador de corações da nação”. Ele cria falsas expectativas se mostrando como amigo visível para todas as horas, mas que só possui mero interesse, seja ele físico ou não. Eles criam expectativas usando atenção e cuidado como artifício. Parece uma pessoa que cuidará dos seus sentimentos. Mas, ao mesmo tempo que ele mostra atenção para você, ele faz o mesmo várias moças para “aumentar as chances”. Ele está ali sempre visível. Talvez pessoalmente isso não aconteceria, mas online, o acesso está bem ali.

O segundo personagem é o “galanteador de todas as horas”. Ele sempre está lá para levantar a bola, para dizer como a moça é linda ou que não acredita que a moça está solteira. É possível que a moça fique iludida achando que ele está querendo algo sério, mas o interesse dele é no flerte. Ele gosta de sentir que tem acesso a várias e várias meninas. Mas, ao ter o acesso cortado, ele se mostra como um verdadeiro ogro que dispara insultos

O terceiro personagem é o provocador. Ele parece ter achado a versão moderna do “puxar o cabelo da menina da frente no colegial”ele consegue a atenção da moça apelando à intimidação. Ao ser respondido, ele supostamente “reconhece o erro” e passa a tentar ludibriá-la. Jamais devemos dizer às moças que aqueles que as maltratam o fazem como demonstração de afeto ou carinho.

Com relação às mulheres, também identificamos alguns perfis recorrentes. Um exemplo é a “cultivadora de friendzones”. Ela adora o fato de ter um monte de rapazes que se engajarão com qualquer bobagem que ela fale, reforçando o que ela pensa. O valor dela não está em Cristo, mas em quantos rapazes a perseguem. Mas essa idolatria a si própria não se sustenta sozinha, e ela precisa da adoração dos seus seguidores. Talvez seja mais “fácil” ter uma suposta amizade com homens, e ela acaba criando expectativas neles, até para mantê-los por perto, mas em algum momento tem que dar a má notícia da friendzone.

Outra possível personagem é a “donzela em busca de resgate”. Ela posta que não se acham homens de confiança, como se estivesse em uma torre clamando por um cavaleiro para salvá-la. Para se sentir valorizada, ela busca os bons comentários, se nutre deles e pronto. Depois, o rapaz não serve para nada, pode ser dispensado.

E os cupidos? Muitos tratam a solteirice como o mal da igreja e tentam formar pares de todo jeito. Estes defraudam os outros criando neles falsas expectativas. Por vezes até inventam que um gosta do outro sem antes nunca terem se falado. E nisso, muitos danos são inferidos ao povo de Deus. Muitos sofrem por essas tentativas de forçar situações. 

O fato é que, com fronteiras mal delimitadas, geramos expectativas e também nos frustramos. Em um mundo como esse, não faça com outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. Tudo isso é bastante complicado pois o ser humano é complicado. As redes sociais impõem a relacionamentos saudáveis certas barreiras (como a defraudação) ao mesmo tempo que removem outras (os limites que antes poderiam nos privar de tais situações).

Só entenderemos como nos portar quando olharmos para Jesus Cristo. Jesus não cria uma falsa imagem de quem é para nos atrair para si. Cristo não faz promessas que não tem capacidade para cumprir. Ele não cria expectativas vazias nem camufla quem é para ser mais amado e querido. Portanto, seus seguidores devem ser marcados por serem parecidos com ele. Se Cristo está sendo formado em nós, nossas relações devem espelhar como Cristo age.

Pela graça de Cristo, pare de defraudar pessoas por quem Cristo morreu e honre as amizades agindo com toda pureza, tratando irmãos como irmãos e irmãs como irmãs, com toda pureza, para a glória de Cristo.