O temor do Senhor é o antídoto contra a preguiça

Se você sofre ou conhece alguém passa por isso, sabe que a preguiça não é uma virtude. Pelo contrário, a preguiça é uma forma de idolatria do eu, um parasita que consome o nosso propósito de glorificar a Deus através do nosso relacionamento com Ele, com o próximo e com a criação.

Para vencê-la é primordial estabelecer e manter um relacionamento ativo com Deus.

Como os provérbios de Salomão foram colecionados para conhecer a sabedoria, um assunto muito importante e atual que o sábio aborda é a preguiça. Em Provérbios 6:6 ele diz: “Vá ter com a formiga, ó preguiçoso! Observe os caminhos dela e seja sábio”.

Salomão usa o exemplo de um dos insetos mais “insignificantes” para repreender o preguiçoso. A formiga é um inseto que pode passar despercebido, mas veja que no versículo sete ele diz: “Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no verão prepara a sua comida, no tempo da colheita ajunta o seu mantimento”.

Olhando para a nossa geração vemos uma ganância desenfreada em busca de ganhar a vida de forma fácil para não ter que trabalhar mais. Muitos enxergam o trabalho como um mal necessário e não como algo que dignifica o homem. O trabalho é uma forma de adorar a Deus e seu propósito foi estabelecido desde a criação e Adão já trabalhava antes da queda.

Pode ser que neste período de pandemia você tenha se tornado alguém propenso ao pecado da preguiça. Pode ser que  o excesso de atividades e desequilíbrio na sua agenda tenha te levado a letargia e inércia. Pode ser que o desejo de ser servido tenha te deixado assim…

“São tantas coisas para fazer e no fim não consigo fazer nada…”

Observe a forma como o sábio usa as palavras para despertar o preguiçoso da sua condição: “Ó preguiçoso, até quando vai ficar deitado? Quando se levantará do seu sono? Um pouco de sono, um breve cochilo, braços cruzados para descansar, e a sua pobreza virá como um ladrão, a miséria atacará como um homem armado”. Provérbios 6:9-11.

Precisamos deixar que Deus sonde o nosso coração e nos mostre o que roubado o nosso vigor e nos levado a preguiça. A preguiça paralisa as pessoas e gera um coração desejoso, mas que nunca alcança nada. Provérbios 13:4 diz que “o preguiçoso deseja e nada tem, mas o desejo dos que se esforçam será atendido”.

Ao contrário do que podemos pensar, o antídoto para a preguiça não é a ganância desenfreada e o uso insano da sua vida levando um ritmo desequilibrado de produção. Os dois extremos são pecaminosos e, consequentemente ruins. Não adianta tentar vencer a preguiça com a ganância.

Veja o que diz Provérbios 23.4-5: Não se fatigue para ficar rico; não aplique nisso a sua inteligência. Você quer pôr os seus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente a riqueza criará asas, como a águia que voa pelos céus”.

Propósitos mal direcionados podem trazer grandes tormentos em nossa vida. Perceba que o problema aqui não é ser rico, não é ter muitos recursos. A questão aqui é quem busca a sabedoria para vencer a preguiça precisa buscar na fonte correta.

Em Provérbios 23.12 lemos: “aplique o seu coração ao ensino e os seus ouvidos às palavras do conhecimento”. Nos versículos 17 e 18 do capítulo 23 ele ainda diz: “não tenha inveja dos pecadores; pelo contrário, persevere no temor do Senhor todo tempo. Porque certamente haverá um futuro, e a sua esperança não será frustrada”.

Uma vez que nós encontramos nosso propósito no Senhor, nossa atitude diante da preguiça muda, pois deixamos a idolatria do nosso eu e buscamos viver uma vida que se assemelha a Cristo…

Paulo diz aos Filipenses: “não façam nada por interesse pessoal ou vaidade, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo, não tendo em vista somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros” (Fp 2:3-4).

Quando entendemos que a preguiça é uma forma de idolatria do eu e direcionamos os esforços para servir a Deus e ao próximo as coisas mudam e a nossa perspectiva se alinha em Deus…

De forma prática, podemos ver como isso acontece. Por exemplo, em Gênesis 1-3, vemos que nas primeiras páginas da narrativa bíblica, o grande modelo de diligência e equilíbrio nas atividades é o próprio Deus. Ele é o modelo perfeito:

  1. Deus trabalha com excelência e disposição;
  2. Deus se alegra com o fruto do seu trabalho;
  3. Deus desfruta do descanso após concluir a sua jornada.

Deus trabalha na criação, mas Ele continua trabalhando no desenvolvimento da história da humanidade, na minha e na sua vida. John Dyer no seu livro “From the Garden to the City[1] nos lembra que Deus começa o mundo em um jardim, mas continua trabalhando na construção de uma cidade, onde iremos viver com Ele.

Além disso Deus começa o seu relacionamento com o homem encontrando-o na viração do dia, mas a queda não é o fim. Por ter seu plano de resgate da humanidade traçado desde antes da fundação do mundo (1 Pe 1:19), Ele trabalha para que aqueles que creem na Obra do seu filho sejam habitados pelo Espírito Santo e habilitados para um relacionamento constante. Deus trabalha construindo e intervindo na história da humanidade.

Uma vez que entendemos essa diligência do nosso Senhor, temos ainda mais motivos para colocar isso em prática. Paulo diz aos Efésios: “sirvam de boa vontade, como se estivessem trabalhando para o Senhor e não para pessoas”. (Ef 6:7). O sábio diz em Eclesiastes 9:10: “tudo o que vier às suas mãos para fazer, faça-o conforme as suas forças, porque na sepultura, que é para onde você vai, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.

A vida cristã não é um estado de férias eterna. Não há espaço para preguiça. Devemos ser diligentes no desenvolvimento do relacionamento que temos com Deus, com o próximo e com a Sua criação.

Quando somos tomados pela preguiça e isso acaba gerando uma certa apatia e desleixo com a Palavra de Deus. Por isso é necessário manter uma disciplina, seja qual for o horário para nos dedicarmos ao nosso relacionamento com Deus, pois isso impactará todas as nossas atividades.

Tim Challies no livro Faça mais e Melhor diz que “como cristãos, nós temos uma missão. Nossa missão é fazer o bem às pessoas de um modo que glorifique a Deus”. Além disso ele diz que “uma pessoa que vive consciente da presença de Deus, que vive sob a autoridade de Deus e que deseja glorificar a Deus será muito motivada a fazer o bem — a fazer o máximo possível pelo bem das pessoas.”[2]

Quer vencer a preguiça? Não olhe para você e suas vontades, busque o Senhor, tema a Deus e deixe Ele destronar esse ídolo para que você tenha uma vida diligente diante do pai, desfrutando da presença ativa, da força e equilíbrio que somente Ele pode nos dar para vivermos de forma correta.


[1] Dyer, John. From the Garden to the City. (Locais do Kindle 2375-2378). Publicações Kregel. Edição do Kindle.

[2] Challies, Tim. Faça Mais e Melhor: Um guia prático para a produtividade (p. 38, 85). Editora Fiel. Edição do Kindle.