Os puros verão a Deus

*Este artigo é um resumo da palestra de Sillas Campos proferida na Conferência Fiel Jovens Interativa 2020.

Deus nos criou à sua imagem e semelhança para vivermos para sua glória e nos alegrarmos nele para sempre. Fomos criados para viver na presença de Deus. Contudo, o pecado entrou no mundo e fez-se barreira. Perdemos nossa alegria, mas não perdemos nosso anseio pela alegria. Por essa razão percebemos que somos criaturas insatisfeitas. Nossa frase favorita é “ah, se eu pudesse!”. Mesmo sem saber falar, uma criancinha deseja um balão, por exemplo. Estamos sempre desejando algo que frequentemente vemos que o outro possui enxergando naquilo a felicidade. Sempre haverá uma coisa a mais que estaremos desejando, à medida que o tempo passa. E, até o fim da vida, cultivamos desejos que até se realizam, mas somos insaciáveis. Quanto mais temos, mais desejamos.

De certa forma, esse desejo é algo saudável. Podemos aprender com a insatisfação. Ela é um lembrete de que você não foi criado para esse mundo e que ele não é sua morada eterna; sua alma sente profunda carência, necessidade e saudade do Criador, de Deus Pai. A sociedade até convida para experimentá-la e tentar achar prazer nela, e até embarcamos nessa ideia, mas o vazio volta e somos acordados para a realidade. É como um peixe que foi retirado da água e colocado na areia da praia: ele está completamente fora do lugar onde deveria estar. A ajuda do mundo é como dar dinheiro ou uma cadeira de praia a esse peixe. Ele precisa disso para ser realizado? Não, ele precisa voltar para a água, para seu habitat natural. Assim somos nós, só estaremos satisfeitos quando estivermos juntos a Deus, pois foi para isso que fomos criados. E só verão a Deus os puros de coração.

Mas quem são os puros de coração? São os pobres de espírito, os que entenderam o problema do pecado em sua vida e reconheceram sua total depravação total e se desiludiram de sua justiça própria, mas pediram misericórdia da parte de Deus; são os que choram, não um choro qualquer, mas o choro do arrependimento, não da autopiedade ou da autocomiseração, mas por ter vivido em um estado de desobediência e por voltar a pecar contra Deus; os puros de coração não são os que nunca pecam, mas os justificados em Cristo que estão sendo santificados pelo Espírito (Hb 10.14). Em Jesus somos justificados em um ato judicial de Deus; em Jesus um dia seremos glorificados e plenamente santificados; e somos santificados progressivamente em nossa vida pela graça de Jesus.

Uma pergunta muito importante: o que deveria nos motivar na luta contra o pecado? Ora, muitas vezes lutamos por motivos secundários: para proteger a saúde, o casamento futuro, a carreira futura, ou porque o pecado abrirá precedente para traições futuras, ou apenas para evitar as consequências do pecado nas nossas próprias vidas; ou porque a impureza sexual é a mãe de todos os vícios e de tudo de ruim para nossa vida. Mas Jesus, nesse texto, nos dá um motivo muito melhor que todos esses! Bem-aventurados os puros de coração pois verão a Deus! Jesus deixa implícito que Deus é muito melhor do que todos os prazeres da impureza sexual. Jesus sabia que a melhor forma de se livrar de uma paixão pecaminosa é conhecendo um verdadeiro amor infinitamente melhor.

Suponha uma pessoa que é viciada em fast food e não consegue pensar em comer outra coisa. De repente, essa pessoa conhece uma churrascaria 5 estrelas e esquece o fast food. Esse é um exemplo bem distante de expressar a realidade do nosso caso, mas ilustra, ainda que um pouco, a vasta imensidão da superioridade de Deus e do prazer que será estar com Ele. Os puros continuamente verão a Deus por toda a eternidade por si próprios!

Bem, se isso não te motiva, talvez você ainda seja um incrédulo. Quão desejável é Deus! O problema de muitos de nós é um conceito pobre acerca de quem é Deus. No Sl 16.11, o salmista sabe que na presença de Deus há delícias perpetuamente. Esse é o nosso Deus. O céu não será chato pois Deus não é chato! Não se engane porque muitos pregadores passam uma ideia do céu sem qualquer entusiasmo ou alegria.

Quem é esse Deus que muitos desprezam? Foi Ele quem colocou em nós o desejo por prazer e alegria. Ele que nos deu a inteligência, o desejo sexual, um sistema nervoso capaz de transmitir e captar sensações. Foi Deus quem nos deu o senso de humor e a capacidade de apreciar o belo, de fazer e apreciar arte. Tudo o que admiramos em outros seres humanos vem da mãos de Deus. Foi Deus quem concedeu todas as habilidades de todos aqueles que admiramos nos esportes. Foi Deus quem criou a inocência das crianças, a beleza dos adolescentes, a força dos jovens e a sabedoria dos idosos. Foi Deus quem criou todos os animais, cada um com sua particularidade. Foi Deus quem criou o pôr-do-sol e todas as belezas da natureza que nos encantam. Esse Deus é extravagantemente generoso. Deus criou mais mares do que podemos velejar, mais campos do que podemos percorrer, mais ares do que temos condição de respirar, mais comidas do que podemos degustar, mais espaço do que podemos explorar e, em Cristo, Ele fornece mais amor do que podemos compreender ou explicar. Como podemos dizer que Deus é chato? Desprezar Deus é arrogância. Jamais enjoaremos da presença de Deus.

Tudo o que admiramos e curtimos, sendo legítimo e bom, é uma placa que avisa do Deus com quem você passará a eternidade; elas apontam para aquele que é infinitamente bom, admirável e digno de todo louvor e aplauso. Peça a Deus para que Ele abra seus olhos para enxergar a glória dele, para colocar a promessa de estar com Ele para todo sempre, e isso te motivará para rejeitar o pecado.

Ver a Deus significa três coisas: 1. ser admitido em sua presença; 2. ser fortemente impactado por sua glória, assim como Jó foi e passou a ver o Senhor de fato; 3. ser confortado e fortalecido pela sua graça. A face favorável de Deus consola, fortalece e alegra (Nm 6.24). Aquele que possui essas três coisas tem tudo, é a pessoa mais feliz do universo.

E para nós que somos imediatistas, uma boa notícia: a benção por buscar a Deus começa aqui e agora. Apesar de que veremos a Deus de forma plena apenas na eternidade, essa promessa é parcialmente cumprida ainda na existência terrena. Podemos ver a Deus em sentidos que os incrédulos não conseguem já aqui na terra. O crente vê Deus na natureza, nos acontecimentos históricos, na sua jornada, no seu dia a dia. Muitos de nós reconhecemos que “vimos a mão de Deus em nossa vida”. Muito melhor que qualquer experiência é poder estar diante de Deus, buscando e alcançando Sua aprovação aqui e agora, e assim caminhar para estar diante dEle o contemplando por toda a eternidade.