Um blog do Ministério Fiel
Pureza sexual vs. neopaganismo sexual
Mensagem de Filipe Fontes durante a Conferência Fiel Jovens 2020, que teve como tema “Com Toda Pureza”. Assista todas as palestras clicando aqui. Conheça a Conferência Fiel Jovens.
Resumo da mensagem
Nossa cultura possui um senso da sexualidade hoje muito diferente de anos atrás. Por exemplo, até pouco tempo reconhecia-se o casamento heterossexual e monogâmico como o normal e apropriado. Mas no fim do século 19 deu-se início a uma revolução sexual: uma transformação radical que atingiu seu ápice em meados do século 20 e ainda perdura até hoje; uma revolução lenta, silenciosa, mas que traz grandes implicações consigo.
Mas o que levou a essa revolução? Como devemos entender essa transformação radical dos últimos 60 anos? Bem, suas evidências estão no nosso dia a dia, frequentemente traduzidas em apelação à figura sexual no cinema e em propagandas. Em geral, este é o resultado de muito mais coisas do que costumamos pensar. É importante considerar bem essa questão para que possamos enfrentar os desafios que essa cultura contemporânea apresenta.
A revolução é um acontecimento complexo e que envolve diferentes causas. Em um aspecto material, pode-se destacar a urbanização, a qual propiciou o anonimato que leva à liberdade sexual; e o desenvolvimento da tecnologia contraceptiva, a qual alavanca a atividade sexual extraconjugal. Mas, talvez ainda mais importante de se notar: no âmbito imaterial, percebe-se uma mudança de mentalidade que nasceu do processo moderno de secularização, isto é, da ideia de que construir ciência, moralidade e sociedade longe de quaisquer pressupostos religiosos.
Este é um ponto de concordância e divergência entre analistas cristãos e não cristãos. A concordância está no fato de que esta “liberdade sexual” é resultado da ruptura com o teísmo cristão, pois este diz que o sexo deve ser encarado com moderação reverente, não sendo mera mecânica fisiológica, mas expressão da revelação de Deus; e por também afirmar que o casamento heterossexual e monogâmico deveria ser o único ambiente para as relações sexuais. Mas há uma divergência no juízo de valor: os analistas contrários afirmam que este é um momento de aperfeiçoamento e aprimoramento da sexualidade, embora, muitas vezes, percebam os efeitos devastadores da defesa de tal posição, os quais prenunciam a derrocada da sociedade.
Vale ressaltar também que a visão de sexualidade que a cultura propõe expressa outras ideias religiosas. Geralmente acredita-se que é possível construir sexualidade (ou cultura) longe de pressupostos religiosos. Contudo, um dos pressupostos básicos da antropologia cristã é que somos seres religiosos criados para crer e adorar, e tudo que fazemos, inclusive a maneira de se relacionar com a sexualidade, é reflexo do que adoramos.
Mas afinal, quais religiões estariam na base da moralidade sexual contemporânea? São duas, diferentes por fora, mas idênticas por dentro. Primeiro, o secularismo. Ele se apresenta como algo não religioso, mas é escancaradamente antropocêntrico e propõe que a soberania do homem e a felicidade e o bem estar temporal humano são prioridades. Perceba os termos religiosos: soberania e felicidade. O segundo, o neopaganismo, um conjunto de crenças que se estabelece na modernidade a partir da influência de certas religiões orientais. Este, diferente do primeiro, não é escancaradamente antropocêntrico, mas se preocupa com pessoas, com a natureza, etc. Antes de chegar no antropocentrismo, passa pela impessoalização de Deus. E eis aqui o maior problema: quando Deus se torna impessoal, as únicas pessoas que sobram para tomar decisões somos nós mesmos.
É comum que defensores dessa revolução, em algum momento, tenham sido adeptos de algum tipo de paganismo que defende tudo que é oposto à fé cristã: que existe uma divindade impessoal, que não se distingue das duas criaturas, um deus que se dilui no meio dos outros seres; logo, não há distinção nem hierarquia e, consequentemente, não há fronteiras. Nem sempre é algo consciente, mas o fato é: isso é mais que um conjunto de ideias ou comportamentos; há uma espiritualidade antropocêntrica que encontra justificativa em religiões pagãs. Na batalha contra a sexualidade contemporânea, não estamos enfrentando apenas outra ideia ou comportamento, e sim outra religião. Sob a aparência da liberdade e tolerância está o paganismo.
E agora? Isso tudo tem duas implicações práticas. A primeira, em âmbito mais individual: a saúde da nossa vida sexual está diretamente relacionada com nossa vida espiritual e na relação com Deus. A segunda, em âmbito mais coletivo: não podemos deixar de lado as armas espirituais que Deus fornece para esta batalha. Muitas vezes experimentamos um cristianismo muito introspectivo, voltado para o devocional, e não uma vida de serviço a Deus no mundo. Mas pode ser perigoso se não entendermos a natureza da batalha. Será que o que precisamos é só ocupar espaços? Será que a batalha é só intelectual? Se respondermos sim, já entraremos derrotados, pois a batalha é espiritual e, em batalhas espirituais, a única arma eficaz é a que Deus oferece.