Um blog do Ministério Fiel
Aconselhando quem sofre
*Este artigo é um resumo do workshop de Gilson Santos proferido na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.
Quando pensamos no sofrimento, na dor, na tristeza, é uma expressão da graça divina e de saúde entristecer-se com o que de fato é triste. O nosso Deus, pessoal e trinitário, deleita-se com alegria mas também pode ter o Espírito entristecido e o faz em perfeita em santa medida. por vezes, tendemos a pensar no sofrimento como que de natureza física, ou emocional, mas o sofrimento carrega o ser humano por inteiro. Não há sofrimento que não seja sentido no corpo, e nenhuma dor é sentida sem envolver as dimensões psíquicas.
Como aconselhar quem sofre? Quem sofre geralmente está em condições limites. De início, devemos ter o propósito intencional de amar, mesmo que naquela condição a pessoa não se seja amável, ou que ela produza um fardo. Esse ato carece de esforço e dedicação. Crescer como Cristo é crescer no amor, no desejo de servir e ministrar aos outros. Deus nos convida para um amor local, a pessoas locais, em Jesus, até que ele venha. E parte dessas pessoas está passando por sofrimento.
A forma como uma pessoa lida com o sofrimento não é a mesma para todos. E aqui devemos ter cautela para não tratar o problema da mesma forma para todos. Precisamos fazer como Cristo: precisamos diminuir. Foi isso que Jesus fez na manjedoura, tornando-se homem e ainda, na cruz, ao passar pela morte. Além disso, nem sempre esse trabalho é reconhecido. Este é um trabalho geralmente feito no anonimato, e poucos de nós estão dispostos a fazer as “pequenas coisas” para o Senhor. Mas quando você entra em uma vida em crise, você deve se tornar pequeno. E tornar-se pequeno, ao adentrar no contexto em crise, é fazer como Cristo: esvaziar-se assumindo a forma de servo. É no reconhecimento de nossa fraqueza e vulnerabilidade que nos tornamos mais dependentes da graça de Deus e mais agradecidos por ela. Da mesma forma, nos tornamos solidários e empáticos com relação ao próximo. Para prestarmos real atenção no que a outra pessoa diz, devemos ensinar nosso ego faminto de atenção a parar de correr atrás dos holofotes e deixar que as luzes iluminem outra pessoa.
Terceiro: dedique tempo. Em geral, o progresso do trabalho de aconselhamento não é imediato. Mas esse é o único caminho. Como ajudar pessoas em um mundo onde o tempo é cada vez mais disputado? É aí que entra a importância de criar e desenvolver uma cultura de aconselhamento mútuo na igreja. É muito comum, no caso de sofrimento, sermos tentados a fazer a hermenêutica simplista de que a pessoa fez algo de errado em específico como motivo de tal sofrimento. Mas este é um pré-julgamento equivocado. Todo sofrimento representa o fato de que o Éden foi quebrado e o céu ainda não chegou. Mas para entender tudo isso é preciso investir tempo e desacelerar. Vivemos em tempos em que tememos o silêncio e a pausa, mas estes são importantes demais no papel do aconselhamento. Procuramos a velocidade, a multidão e o ruído e, em geral, quem está sofrendo precisa de um compasso mais lento, de relações mais pessoais e de um contexto mais calmo e sem tantos estímulos. Há pastores em nossa geração que possuem imensa dificuldade com processos lentos, que exigem dedicação e esforço e que não trazem resultados imediatos. Este é um dos maiores desafios dos jovens pastores: querer resultados rápidos. Mas o mundo não é assim. As coisas levam tempo e precisamos recuperar tais aspectos da temporalidade que nós perdemos. Alguns processos são, de fato, até desanimadores. Ao pensar nisso, lembre-se da enorme paciência que Deus possui para com você, o qual é longânimo e bondoso.
Além disso, a confiança é algo vital no aconselhamento, e ela leva tempo para ser criada e desenvolvida. Ela não pode ser exigida quando se aceita um chamado, nem pode ser esperada apenas com base em nossas credenciais. O que torna tão difícil ir mais devagar? Frequentemente é devido à tentativa de tomar o lugar de Deus, comumente evidenciado na nossa falta de oração, o que nos deixa sobrecarregados com um fardo que só Deus é capaz de carregar.
Quarto: ouça atentamente. Não se aprende a ouvir no seminário, mas nas oportunidades do dia a dia. Deus não é apenas o primeiro e maior falante. Ele é também o primeiro e maior ouvinte. Os silêncios, não apenas as sentenças, formam o trabalho pastoral. Os pastores sábios são pregadores que escutam. Pessoas que não sabem ouvir também não são aquelas em melhores condições de falar. Pessoas que não sabem ouvir sermões não deveriam pregar sermões.
Por fim, pergunte. “Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los” (Pv 20.5). Desde o Éden, quando faz perguntas ao homem, Deus realiza um ato didático de serviço, o qual expressa graça, misericórdia e longanimidade. É Deus se dispondo a ouvir. Que Deus te abençoe nessa tarefa tão grandiosa e preciosa que é ministrar ao coração de quem sofre.