Um blog do Ministério Fiel
Com a consolação que temos sido consolados por Deus
*Este artigo é um resumo da palestra de Gilson Santos proferida na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.
Texto base: 2 Co 1.3-11
Nós, seres humanos, estamos sujeitos a muitas fraquezas e limites. Nos cansamos, adoecemos, nos enfraquecemos e até nos esgotamos. Talvez esta seja a sua situação hoje. Mas Deus é forte, onipotente, Todo-Poderoso. Pode parecer que, por vezes, não damos conta das situações, pois somos marcados por insuficiência e finitude. Nesse texto se encontra a palavra paraklesis, traduzida por consolação, consolar, confortar, e que talvez melhor expresse a ideia de aconselhamento.
Nos versos 3 a 5, Paulo louva a Deus por ser um Pai que consola seus filhos. O Pai nos conforta em nossa tribulação e assim podemos consolar os que passam por angústias. Os sofrimentos de Cristo nos abençoaram e, por meio dEle, há abundante consolação. Dos versos 6 a 8, Paulo traz para o aspecto pessoal. Paulo relembra que seu sofrimento resultou em consolação para os coríntios; enquanto ele recebia duros golpes de sofrimento, ele abençoava a igreja de Corinto. A razão específica desse sofrimento era em prol da igreja e de sua edificação que, junto com a glória de Deus, é o que conduz a epístola. Dos versos 9 a 11, Paulo lembra que não se pode matar alguém que já está morto para o mundo. Mesmo falando de um sofrimento agudo e indescritível, a ponto até de se desesperar da própria vida, Paulo não entra em autocomiseração, mas lida com o sofrimento na perspectiva da graça, ressaltando sua confiança no Senhor, entregando-lhe sua vida e seu futuro, estando certo de que sua graça estará sobre ele, sendo parte dela as orações dos seus irmãos. Paulo sabe que na morte ou na vida, Deus será glorificado e exaltado.
Como cristãos, nós estamos sujeitos a atravessar momentos difíceis. Veja as fortes palavras: tribulação, angústia, sofrimento, desespero da própria vida, sentença de morte. essa foi a experiência do apóstolo Paulo, momentos como esse do texto. Isso não é algo novo: lembre-se de Jó e seu sofrimento. Lembre-se da figura central da cruz: não é possível seguir sendo cristão sem sofrimento e sem a dor da cruz. E, muitas vezes, é justamente pelo fato de sermos cristãos que passaremos por isso. Se a videira recebe os golpes, seus ramos também sofrem. Paulo mostra que mesmo que o sofrimento tenha sido acima de suas forças, ele não foi maior que a força do Senhor, da força que vem do nosso Bom Pastor.
A história da igreja está repleta de exemplos assim. Os caminhos das ovelhas de Cristo têm sido caminhos dolorosos, caminhos de angústia. Nós não estamos em um parque de diversões, mas em uma arena de combate. E sofremos inclusive por causa das nossas limitações. Mas eis uma verdade absolutamente confortadora: Deus nos consola! Aqui surge o sentido de paraklesis, chamado para colocar-se ao lado, caminhar ao lado, a fim de ajudar aquele que está mais enfraquecido. Nossas traduções não conseguem dar conta da riqueza do termo original. É estar junto, oferecer apoio e força, oferecer palavra de aconselhamento, de ajuda e também de repreensão quando necessário. Mas não uma ideia de aconselhamento moldada pela viagem no século 21, de forma simplista. É algo muito maior. Por isso Jesus diz que o Espírito seria outro parakleto. É o que o apóstolo João chama de um Advogado junto ao Pai, alguém que senta ao lado do réu, veste a camisa em nosso apoio e suplica diante do Pai por nós.
O conceito bíblico de paraklesis é caminhar ao lado, consolar, confortar, interceder por alguém, defender, ajudar, advogar a causa, encorajar. É a palavra mais comum para a ideia de aconselhar. Quando Paulo fala que Deus é “Pai de toda consolação”, entendemos que toda consolação, toda paraklesis, provém de Deus; ele é a fonte.
E o argumento de Paulo é que Deus nos usa como instrumentos para consolar outros. Atente para a linguagem! Há um fundamento importante: a pessoa que experimentou a consolação de Deus está em melhor condições de consolar o outro. É o que o autor aos Hebreus expressa ao dizer que Jesus precisava se tornar semelhante aos irmãos e, tendo sido tentado e vencido, é poderoso para dar forças ao que agora sofre. Jesus é o sumo sacerdote que se compadece de nossa fraqueza. Foi o que José, conhecido por Barnabé, fez ao consolar o jovem Saulo recém-convertido e ao vender sua propriedade em prol dos seus irmãos.
Essa tarefa não é só dos pastores ou dos teólogos, mas um trabalho de todo aquele que recebeu a consolação do Senhor. Deus usa justamente as coisas fracas, tolas e pobres, pois Deus exalta sua glória em meio a vasos de barro; Deus aperfeiçoa seu poder na fraqueza. Comece a fazer isso com aquilo que você recebeu do Senhor, na medida da graça de Deus em sua vida. Deus tem te dado muito, ainda que nos olhos de outros possa parecer pouco; portanto, não espere muito para consolar os outros. Vivemos em um mundo que espera atenção. Mas quem está disposto a dar atenção? Quem está disposto a não ficar em órbita em torno de si, mas dar sua vida por outros? Você pode começar pela sugestão de Paulo no verso 11: orando pelos seus irmãos; orando pelos seus líderes. Nossas igrejas estão carentes de filhos da consolação.
A consolação de Deus, usando vasos fracos, resulta em louvor e ação de graças (v. 3, 11). A lógica do apóstolo não é consolar para se sentir bem ao fazer o bem, e sim que o que foi feito por você, no fim das contas, glorifique a Deus e graças sejam dadas a Ele. O objetivo não é lustrar nossa personalidade, mas que Deus seja engrandecido.
É muito ruim estar sozinho. É hora de unirmos nossas fraquezas. É tempo de reconhecermos nossa insuficiência com humildade. É tempo de nos chegarmos humildemente ao Senhor pois é aos pobres em Espírito que pertence o reino de Deus. Nós devemos caminhar ao lado de pessoas. Foi o que Jesus fez ao andar quilômetros no domingo da Ressurreição na estrada de Emaús, a fim de consolar aqueles dois homens, encorajando, advertindo e aquecendo o coração deles, e abrindo-lhes os olhos. Que Deus recompense todos aqueles que têm sido parakletos, consoladores, conselheiros, encorajadores.