O que fazer quando meu filho não compartilha a minha fé?

*Este artigo é um resumo do workshop de Valdeci dos Santos proferido na Conferência Fiel para Pastores e Líderes 2020 Online.

Quando pensamos em termos de um filho ou filha que não partilha da mesma fé, podemos lembrar da passagem de 3 Jo 4: “Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade”. Ainda que João fosse um pai espiritual, o inverso também é verdadeiro: não existe angústia maior para o pai do que notar que seu filho se distanciou de Deus. Em alguns casos, chega à beira do luto. Gostaria de lembrar a você duas verdades: por mais que os pais tenham um “bom desenvolvimento” cristão, isso não é garantia de que os filhos não se distanciarão do Evangelho. Foi o que aconteceu com Billy Graham e com John Piper. Mas, ainda assim, a falta de garantia não isenta os pais da responsabilidade de educarem corretamente os seus filhos. Uma criança não deve deixar de ser educada. Da mesma forma, os pais não devem delegar essa responsabilidade para outras pessoas — por vezes, até inimigos da fé cristã.

A tristeza dos pais com filhos incrédulos pode ser observada em passagens como Pv 10.1; 17.21-22, 25; 19.13, 26. A situação de um filho que se distancia do Evangelho gera enorme dor no coração de seus pais. A primeira sensação, quando não é de sublimação ou de negação (dizendo que é “apenas uma fase”), é de angústia e preocupação. Outros, passam a rejeitar seus filhos. Vejamos algumas perguntas fundamentais tanto para pais quanto para o conselheiro bíblico que oferecerá ajuda nessa situação.

Como lidar com filhos rebeldes ou incrédulos? Primeiro, lidando consigo mesmo: cuidado para não azedar seu coração. Deus concede filhos obedientes ou rebeldes para criar e trabalhar diferentes aspectos no seu coração, não apenas no do seu filho. É necessário saber identificar os erros que você cometeu, onde você deve colocar sua esperança, e aspectos semelhantes. Os problemas pelos quais passamos não visam apenas as pessoas ao nosso redor. Pense primeiro sobre como aquilo deve te ensinar algo. Em segundo lugar, compreenda que antes de rejeitar você, seu filho(a) rejeitou o Senhor. Antes do 5º Mandamento ser quebrado diante dos pais, ele foi quebrado diante de Deus. Logo, antes de querer reconciliar a pessoa com você, é preciso reconciliar a pessoa com Deus. Terceiro, reconheça a necessidade de contínua ajuda. Você, pai ou mãe, não sabe de tudo e, frequentemente, não conseguirá levar tudo sozinho. Quarto, tenha a convicção de que somente o Senhor pode converter os corações. Quinto, não se culpe além do que é devido. No meio evangélico é comum acreditar que a culpa sempre vai ser dos pais quando o filho se desviar. Nem sempre.

Como me relacionar com filhos rebeldes ou incrédulos? A princípio, da mesma maneira como se relaciona com um parente ou com um amigo não crente (1Co 7.12-15; 1Pe 3.1-2; Lc 10.27; 1Co 5.9-10). Apresente Cristo para eles de uma forma prática e palpável, com suas palavras e com seu viver, não necessariamente “pregando” em todos os momentos. Lembre-se de um aspecto importante: não permita que a tristeza advinda do desvio do seu filho ou filha seja maior que sua alegria em Jesus Cristo. Sua alegria não deve depender de seus filhos. Trate-o bem, com alegria, e assim você demonstrará o caráter de Cristo para com ele(a). Lembre-se que você deve ser exemplo para seu filho em todos os aspectos do Evangelho não apenas de forma verbal, mas também de forma prática.

Como estabelecer limites para um relacionamento aceitável? Dt 21.18-21 pode lançar alguma luz sobre o assunto: 1. A despeito dos pais, é possível que alguns filhos sejam contumazes, isto é, rebeldes (21.18); 2. Os pais possuem uma responsabilidade diante de Deus e da comunidade que ultrapassa a afeição pelos filhos (21.19,21); 3. Os filhos rebeldes são responsáveis por seus atos (21.18-19); 4. Além da preocupação com os filhos, os pais devem se preocupar com a influencia negativa dos mesmos (21.21); 5. Algumas situações exigem medidas drásticas (21.21).

Como os pais podem crescer na graça mesmo quando seus filhos se rebelam? Bem, essa é uma experiência bem mais comum do que se imagina. A Bíblia é repleta de pais que passaram pela mesma coisa. Alguns exemplos de filhos rebeldes: Caim, Canaã, Esaú, Judá, Hofni e Finéias, Absalão, etc. Por que existe tristeza e angústia nessas situações? Pois nenhum deles consagra seus filhos ao pecado (Pv 17.21). De forma semelhante, a rejeição do filho é aquilo que diz respeito à identidade dos pais, afinal, desde o nascimento dos filhos os pais se sacrificam por seus filhos e nem sempre são correspondidos. Surge confusão por não saber se relacionar, o que pode causar paralisia nos pais; há ansiedade com relação ao futuro. Essa dificuldade afeta as relações dos pais dentro e fora da igreja.

O Salmo 3, escrito por Davi quando enfrentava dificuldades com seu filho Absalão, mostra verdades de como crescer em períodos como esse: 1. O sentimento de sobrecarga (v. 1); 2. A pressão das opiniões dos outros (v. 2); 3. A ausência do amparo terreno (v. 4); 4. O sono sendo afetado (v. 5); 5. O sentimento de estar perdido (v. 7).

Qual o remédio dele nesse instante? Primeiro, Deus é seu confidente (v. 1-2). Deus sabe melhor do que ninguém o que você está passando, é Deus, pois a humanidade inteira se rebelou contra ele. Segundo, Deus é seu amigo presente (v. 3-6). Terceiro, Deus é sua esperança persistente (v. 7-8). Que você possa consolar pais aflitos quando os ouvidos dos filhos parecem se fechar para o Evangelho e o coração deles parece se agradar mais do mundo. A mensagem do Evangelho é que Deus ressuscita mortos, então creia que Deus pode fazer uma maravilhosa obra na vida do filho pródigo e trazê-lo de volta para a casa do Pai.

Escrito para pais que têm filhos de qualquer idade, “Pastoreando o Coração da Criança” fornece perspectivas e procedimentos para o pastoreio do coração da criança nos caminhos da vida.

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