A revolução que escraviza

Qual é a revolução mais significativa que já experimentamos nos Estados Unidos? Imagino que a maioria dos americanos diria que foi a Revolução Americana, que marcou o início de nossa existência como país. Alguns podem argumentar que foi a Revolução Industrial, que transformou nossa nação em uma potência mundial. No entanto, ambas as respostas, eu acho, estão erradas.

A revolução de maior alcance e época da história americana começou há cerca de cinquenta anos, e agora está alcançando seu apogeu. Nenhuma guerra foi travada em termos de conflito militar, mas esta revolução matou milhões de nascituros. Aproximadamente três mil vidas, de fato, serão perdidas por esta revolução antes da meia-noite desta noite. E este número não inclui as outras baixas da revolução. Corpos serão mutilados em nome da “mudança” de gênero. As doenças sexualmente transmissíveis esterilizam, deixam cicatrizes físicas e emocionais duradouras e até pronunciam sentenças de morte para homens e mulheres. Mulheres jovens engravidam e são abandonadas, deixadas para criar os filhos em lares sem pai. A pornografia vai distorcer a visão das pessoas sobre sexo e relacionamentos.

Estou falando sobre a revolução sexual, que produziu muito mais mudanças no comportamento cultural da América do que a Guerra da Independência travada contra a Inglaterra no século XVIII. Esta revolução sexual é uma guerra que não foi travada contra qualquer rei terreno, mas contra o Rei do cosmos, o próprio Senhor. É uma guerra com raízes que remontam aos anos 60 – ao Éden, quando Adão e Eva se juntaram à revolta cósmica de Satanás.

Enquanto inauguramos um novo mandato presidencial neste mês[1], a revolução continua, envolta na bandeira da liberdade de expressão, sexo livre e libertação da opressão. No entanto, a liberdade buscada não é a liberdade das leis civis injustas, mas da lei natural e da lei moral eterna de Deus. A liberdade abraçada é a ímpia “liberdade” da autonomia moral, de tentarmos ser a lei para nós mesmos, de erguermos os punhos ao céu e declarar que Deus não será o nosso Senhor.

A revolução sexual tem as mesmas raízes filosóficas, que alimentaram o objetivo de Friedrich Nietzsche, de rejeitar o que ele via como a fraqueza da moralidade judaico-cristã. Aos olhos de Nietzsche, a moralidade enraizada nas Escrituras mantinha o indivíduo autêntico acorrentado. Em nome da autenticidade, de abraçar o impulso humano mais básico da “vontade de poder”, Nietzsche procurou que a humanidade se libertasse das restrições morais externas. Nietzsche acabou sendo levado à insanidade, mas a insanidade moral que ele defendia ganhou ascendência em nossos dias. Em certo sentido, o Ocidente realizou o que Nietzsche desejava – uma “libertação” de Deus, e a evidência disso é a anarquia sexual de nossa cultura. No entanto, essa liberação não pode ser, em última instância, realizada. Ainda somos responsáveis ​​perante o Senhor e enfrentaremos o julgamento. Além disso, a liberdade encontrada está se provando não ser liberdade alguma, mas sim escravidão às demandas implacáveis ​​dos falsos deuses do erotismo e libido desenfreados.

A revolução sexual é uma guerra travada em muitas frentes. Inclui o abuso da “liberdade de expressão” para legalizar as formas mais vis e explícitas de pornografia. Inclui atacar todas as noções das normas tradicionais de gênero e rotular como “fanáticos odiosos” aqueles que querem banheiros separados por diferenças biológicas de sexo. Envolve o aborto sob demanda e a eliminação de todas as restrições a esse procedimento. Inclui fazer da promiscuidade a norma e da castidade a aberração. Inclui elevar a homossexualidade como um bem positivo. O impulso sexual humano está agora liberado de todas as formas de opressão que nos negariam nosso direito inalienável ao prazer, e o prazer sexual – qualquer que seja nossa definição – é visto como necessário para a felicidade e realização humana.

O fruto e o combustível da revolução sexual é o relativismo moral generalizado. Nossa sociedade rejeitou por completo a própria noção de vício – com uma exceção. O único vício que nossa cultura reconhece agora é a recusa em se juntar aos revolucionários em sua busca pela “libertação” sexual. Fique do lado de Deus, e a revolução exigirá que você pague um alto preço, tanto econômica quanto socialmente.

O mais triste de tudo é que muitas igrejas se entregam, a si mesmas, ao acolhimento das mudanças operadas pela revolução sexual. Denominações inteiras estão correndo para acompanhar a cultura. Se há algum pecado do qual devemos nos arrepender, é o pecado de afirmar o que Deus sempre disse sobre a moralidade sexual. Mas se seguirmos essa tendência, não teremos boas novas para pregar, pois não teremos nenhum pecado do qual precisamos que o Evangelho nos resgate. Sabemos que Deus ainda julgará o pecado, mas se a igreja não chamar o pecado de pecado, ela não pode chamar ninguém a se arrepender e escapar da condenação divina voltando-se para Cristo. A imoralidade sexual e o reino de Deus são incompatíveis. Nenhuma pessoa que viole impenitentemente a ética sexual de Deus tem qualquer parte em seu reino. Se não proclamarmos isso às pessoas perdidas, elas permanecerão perdidas.

O Evangelho do Novo Testamento é sobre perdão – perdão para todos os tipos de pecado. O perdão não é necessário se o pecado não existe (1Jo 1.8-10). Mas Jesus – assim como Paulo, Moisés e os outros profetas e apóstolos – reconheceu o adultério, a homossexualidade e outras formas de imoralidade sexual como pecado (Lv 18.5; Mt 5.27-30; Jo 7.53- 8.11; 1Co 6.9-11). A boa nova do Evangelho é que todo pecado sexual é perdoável; tudo o que é necessário é arrependimento e fé somente em Cristo. Mas uma coisa é perdoar o pecado; outra bem diferente é sancioná-lo. Dar licença ao pecado não é libertar as pessoas, mas escravizá-las.


[1] Artigo publicado originalmente no ano de 2017.

Por: R.C. Sproul. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: The Revolution That Enslaves.

Original: A revolução que escraviza. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.