Tudo ou nada

“Então eu não vou tomar banho!”

Esse é o Matias, 4 anos, após uma batalha com o shampoo.

Foi assim:

Eu deixo que os meninos se divirtam um pouco no banho. Reconheço que isso gasta mais água, e os ativistas ecológicos podem torcer o nariz, mas é um risco calculado. Eu tenho dois objetivos: que a experiência do banho seja agradável a eles, e que comecem a ter alguma autonomia ali.

Matias já se arrisca em “tomar banho sozinho” (sempre supervisionado). Ele pega e passa o sabonete, o shampoo e o condicionador. Ele sabe a ordem e, embora precise de algum esforço para abrir e fechar o chuveiro, em geral, dá conta do recado.

Mas alguns desses shampoos infantis são à prova de criança. Ou pelo menos dificultam que um pequeno saia usando indiscriminadamente. E Matias pegou um desse para tomar banho na casa do avô. Eu observava a cena e via a irritação crescente. Até que falei: “peça ajuda, filho”.

Matias está irritado. Tenta abrir o frasco, mas quanto mais irado, menos sucesso. Até que eu vou a ele e pego o material para abrir.

Ele poderia ficar grato, mas escolhe o pior caminho. E, percebendo que as coisas não sairão como ele esperava, solta um: “então eu não vou tomar banho!”

Matias quer tudo ou nada. Ou tudo conforme o planejado, ou nada feito. Ou suas expectativas são atendidas totalmente, ou é melhor que nada aconteça.

Matias é filho de Adão, e eu também. Em vários momentos a minha lógica é semelhante: ou tudo sai conforme o meu plano, ou eu não quero mais brincar. Ou a caminhada profissional sai do meu jeito, ou é melhor desistir. Ou o casamento fica como eu espero, ou afundo na amargura. Ou a minha saúde sai como eu tenho planejado, ou eu não ligarei mais pra nada do meu corpo.

Mesmo quando não conseguimos abrir o shampoo, o banho precisa ser tomado. Não do nosso jeito, mas do melhor jeito para nós. Nossas expectativas são erradas, nossa força é limitada, nossos planos são confusos e, por isso, é bom que as coisas não saiam do nosso jeito.

E não precisa ser tudo ou nada.

Por que não agradecer quando há outras mãos para nos ajudar em nossas limitações? Por que não sorrir olhando a nossa teimosia em lutar com uma tampa? Por que não aprender a caminhar aceitando um mundo que não se dobra diante de nós — ou melhor, um Deus que não se dobra diante de nós?

“Se você esperar tudo ou nada, vai acabar com nada”, dizia Francis Schaeffer. Você vai acabar com o quê?