O fermento da vida

O famoso matemático e filósofo Alfred N. Whitehead[1] disse certa vez: “Cientistas motivados pelo propósito de provar que foram formados sem propósito constituem um assunto interessante de estudo”.

Um paradoxo importante recai, portanto, sobre a Ciência, pois, por um lado, ela tem alcançado grande sucesso em explicar “como” as coisas são, mas, por outro, ela constantemente falha ao explicar o “porquê” de as coisas serem como são. Assim, explicações científicas seguem muitas vezes um círculo fechado à la pônei-cavalo, ou seja, um pônei é um cavalo pequeno, e um cavalo é um pônei grande. Se você pergunta à Ciência como fazer uma bomba atômica, ela é ótima em explicar o “como” fazê-la, mas, se a pergunta é se deveríamos fazê-la, a Ciência se cala.

Grande tem sido o sucesso da Ciência no estudo sistemático de fenômenos repetitivos e observáveis, o que permitiu a descoberta de vários princípios consistentes. Entretanto, muitas vezes, a Ciência é inócua quanto à análise de fenômenos únicos não observáveis, que já cessaram ou que não podem ser repetidos, tais como a origem do Universo e da vida. Assim, quando a pergunta é sobre a causa e os propósitos desses fenômenos, a Ciência nunca terá a resposta definitiva. Ela poderá apenas observar a obra, obter evidências e, baseada nelas, “especular” ou conjecturar quanto à causa. Em uma definição mais educada, a Ciência consegue fazer uma inferência, que se traduz em um “palpite educado”.

Mesmo diante dessa limitação latente, porém, vemos cientistas, em nome da Ciência, proclamar em alto e bom som, e sem o menor pudor, que certas teorias científicas são “verdades absolutas”. Eles elevam meras especulações ou conjecturas ao status de leis científicas, como fazem com o “fato mais que fato” da evolução, considerado por eles mais lei que a lei da gravidade.

Um outro paradoxo é observado quando olhamos para trás e estudamos o histórico desse fenômeno absolutista. A crença nos poderes ilimitados da Ciência nasceu com o Iluminismo, no século XVIII, que apregoava o poder da razão e do livre pensar e discutir de ideias[2]. É paradoxal, então, perceber hoje que, como fruto do Iluminismo, tudo o que não temos é “luz”, e que de fato vivemos hoje nas “trevas da opressão” sobre o livre pensar e discutir a respeito de teses científicas que ousem colocar em risco o monopólio da razão exercido pela Ciência naturalista.

Stephen Hawking, famoso físico teórico inglês, apresentou certa vez, em um documentário televisivo, uma receita listando os três elementos do Universo: matéria , energia e espaço  Com eles, disse Hawking, se faz um Universo completo. No entanto, o “cozinheiro de Universos” esqueceu-se de incluir nessa receita um ingrediente fundamental: o “fermento”, pois matéria, energia e espaço são insuficientes para formar o Universo e a vida que conhecemos sem a informação de como fazê-los. Só quem assume o materialismo como dogma científico, ou que desconhece princípios básicos de química, física e matemática, concordaria com a tal receita de Hawking.

Para criar o Universo e a vida, seus átomos e seus planetas, todos nós sabemos que é indispensável estabelecer primeiro um conjunto de leis físicas exatas e precisas; leis bem parametrizadas, formuladas, e com suas constantes finamente ajustadas. Essas leis e forças ajustadas pelas suas constantes controlarão a energia e a localização 3D dos elétrons em seus orbitais atômicos, desde o emitir de radiação pelo Sol até o magnetismo da Terra a desviar o vento solar.

Precisamos ainda de dezenas de constantes ajustadas com uma exatidão absurda para calibrar a atuação de forças governadas por tais leis, para que tudo neste Universo – desde o movimento dos elétrons ao redor do núcleo dos átomos até o dos planetas ao redor do Sol – funcione como em um balé nanometricamente parametrizado. Necessitamos, portanto, de um ajuste hiperfino de tudo, ajuste esse que só se faz via equações matemáticas, muitas delas extremamente complexas, como as que aprendemos em física quântica.

O “fermento” do Universo e da vida não é matéria, nem energia, muito menos espaço, forças ou constantes universais finamente ajustadas. O “fermento-mor” que Hawking preferiu ignorar em sua receita é a informação, e de um tipo muito especial: a do tipo imaterial, semântica e arbitrária, coisa que só poderia ter emanado de uma mente inteligente.

Para os cristãos, essa mente inteligente é o Deus Triúno.

Artigo adaptado do livro Fomos Planejados: A maior descoberta científica de todos os tempos, Editora Mackenzie.


[1] WHITEHEAD, A.N. The Function of Reason. Beacon Books.

[2] Hankis, T.L. Ciência e Iluminismo. Porto: Porto Editora, 2004.