Misericórdia no meio das calamidades

No meio de todos os ruídos desta pandemia global, o certo é que estamos no meio de uma calamidade. São tempos mais que difíceis – são tempos estranhos. Desesperadamente as pessoas buscam uma solução escatológica em termos políticos, científicos e místicos. No meio disso tudo, há uma pandemia de medo, desorientação, cansaço, ansiedades e pânico.

Nas Escrituras encontramos muitos lamentos particulares, mas um, em especial, tem chamado minha atenção nesses dias. Como sugerem os estudiosos, Davi, quando fugia de seus inimigos, dirigiu a Deus um lamento nos seguintes termos:

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.” Salmos 57.1

Irmãos queridos, penso que apenas este verso, sem deixar de lado o salmo como um todo, pode ser um poderoso bálsamo para os nossos corações nesses dias estranhos. Veja, que em primeiro lugar, Davi levantou sua voz para Deus clamando por misericórdia. Confinado em uma caverna, temendo por sua vida e cercado por palavras afiadas note que ele ao buscar a graça de Deus transformou sua calamidade em uma conversa Altíssimo. Naquele contexto político conturbado, a oração, a súplica pela misericórdia foi sua atitude primeira. Da mesma forma, em nossa calamidade, muitas vezes confinados em nossos lares e sendo feridos por palavras de homens mais, nossa atitude deve ser a de depender da misericórdia de Deus que se renova a cada manhã e não fim (Sl 57.10; Lm 3.22-23).

Note ainda a maneira como Davi se referiu ao conforto que ele sentia em seu coração. Ele disse “em ti a minha alma se refugia”. Essa expressa do lamento de Davi revela que, embora escondido numa caverna por uma questão de estratégia, seu verdadeiro refúgio era o seu Deus. No Salmo 46 aprendemos que Deus é nosso refúgio e fortaleza (1). Ao mesmo tempo, no mesmo Salmo também confessamos que o Senhor dos exércitos está conosco e que o Deus de Jacó é o nosso refúgio (11). Tais palavras são poderosos meios de consolo no tempo que vivemos. Quem nos guarda é o Senhor! Davi foi prudente ao se esconder numa caverna, mas ele sabia que sua torre forte era o seu Deus. Da mesma forma, na calamidade que vivemos, mesmo que com duras medidas de restrição social, tenhamos em mente que nossa proteção vem Deus. Ele envia o seu exército de anjos para nos proteger e livrar (Sl 34.7), e no tempo que ele determinou, também enviará seus anjos para buscar os seus (Lc 16.22) e demonstrará que bendita é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos (Sl 116.5).

Outra lição que aprendemos neste lamento de Davi diz respeito ao tempo da calamidade. Estrategicamente ele estava confinado daquela caverna, mas em seu coração, ele sabia que Deus havia estendido suas asas para lhe dar abrigo até o fim da calamidade. O Senhor, como uma ave que cuida dos seus filhotes, envolve os seus filhos até que passem as calamidades. Notem bem: “até que passem as calamidades”. Mais uma vez, aqui, temos grande forte de conforto, pois ainda que vivamos uma pandemia global sabemos que ela vai passar e que Deus é nosso verdadeiro abrigo. Seja nesse mundo ou no porvir, este mundo irá passar e o mundo a haverá de ver a redenção do corpo (Rm 8.23).

Nesses dias tão incertos, temos no Senhor o lugar seguro, quer na vida, quer na morte. O Senhor Jesus, nosso salvador, morreu para nos reunir debaixo do cuidado de Deus (Lc 13.34). Volte-se para Cristo! Clame por sua misericórdia! Busquemos ainda mais o Senhor até que passe esse tempo de calamidade.