Não faça das pessoas um “projeto”

Embora eu seja intencional e deliberada quando passo o tempo com pessoas em minha comunidade, meus relacionamentos são reais. Em outras palavras, as pessoas não são meus “projetos” favoritos. Se eles nunca se tornarem cristãos, isso não mudará minha amizade com eles (minha vida de oração, talvez). Eu não vou simplesmente passar para a próxima pessoa.

Em outras palavras, a construção de relacionamentos deve ser natural e não artificial. Portanto, devemos ser honestos com as pessoas sobre quem somos desde o início, ao invés de meses ou anos depois, quando de repente estivermos lutando para incluir Deus em nossas conversas. Devemos sempre começar da forma como pretendemos continuar.

Conexão Natural

Em nossa comunidade, e para ser honesta, imagino que em muitas culturas, as dificuldades surgem quando não há uma conexão natural para interagir com as pessoas. Se não entendemos as nuances culturais, as diferenças de linguagem e valores, podemos dificultar ou prejudicar nossas oportunidades de testemunho. Se não houver conexão natural, então não há um gancho natural no qual pendurar o evangelho. Se for esse o caso, então a tentação pode ser “criar” um, ou entrar em conversas sem pensar. (Eu sou a primeira a levantar as mãos e dizer que cometi alguns erros na minha época).

É por isso que é tão importante que nossas obreiras vivam na área em que atuam. Isso permite que elas passem um tempo entendendo sua comunidade, encontrando essas conexões naturais e procurando essas pontes para ajudá-las a cruzar as lacunas culturais.

Nos primeiros dias na Igreja da Comunidade de Niddrie, tentei tudo que pude pensar para encontrar maneiras de me envolver com as mulheres. Organizei muitas aulas e atividades diferentes e tentei pequenas iniciativas. Todas elas fracassaram desastrosamente. Elas não fizeram nada para me ajudar a me envolver melhor e, na verdade, eles atrapalharam algumas das minhas relações com as pessoas. Tive que me ajustar rapidamente e começar a fazer algumas perguntas investigativas, tanto a mim mesma quanto às pessoas que estava tentando envolver. Aqui estão algumas boas perguntas a serem feitas:

1. Como é a cultura local?

Como uma insider cultural, eu entendo os Esquemas Habitacionais Carentes, mas ainda assim vim com ideias pré-concebidas sobre o que Niddrie precisava e o que funcionaria. Inicialmente, quase nenhuma delas funcionou. Porém, anos mais tarde, depois de estabelecer muitos contatos, algumas dessas ideias se transformaram em grandes oportunidades de ministério. Eu tive os instintos certos inicialmente. Tudo que eu precisava era um maior entendimento da cultura local para transformar minhas boas ideias em ideias culturalmente relevantes.

Uma comunidade realmente influente em Niddrie que impacta nossa cultura, e de fato nossa igreja, é a comunidade itinerante. Elas têm uma história longa e estabelecida na área, e eu tenho uma grande responsabilidade pelas mulheres. Eu quero vê-las salvas e discipuladas. Eu sei que, para uma “garota estranha” como eu (não viajante), seria extremamente imprudente, até mesmo perigoso, simplesmente entrar em seu território e presumir que sei exatamente o que elas precisam.

Em minhas interações com as poucas garotas que conheço da comunidade itinerante, tenho estado muito atenta às diferenças em nossa cultura e visão de mundo. Portanto, eu, propositadamente, gastei muito do meu tempo observando, procurando conexões culturais com o evangelho. Todos nós, principalmente as mulheres que vivem fora desses esquemas habitacionais carentes, precisamos reavaliar nossos pontos cegos culturais e visões de mundo. Isso é crucial quando começamos a nos envolver com mulheres que podem se parecer conosco e falar a mesma língua, mas que, na verdade, são completamente diferentes de nós em muitos aspectos.

2. Onde estão minhas conexões naturais?

Como cristãos, muitas vezes complicamos o evangelismo. Tudo o que é necessário é descobrir o que está acontecendo em nossa área e nos conectar com a intenção do evangelho.

3. Que tipo de relacionamento queremos com a comunidade?

O tipo de relacionamento que desejamos será um fator na forma como nos envolvemos. Isso é imenso por uma série de razões. Considere os seguintes tipos de relacionamento que tendem a existir em nossas comunidades:

Provedores de serviço. Estabelecer um ministério de misericórdia ou envolver-se em um ministério para-eclesiástico em uma área carente pode parecer um plano perfeito, superficialmente, para se envolver com pessoas com quem não nos conectamos naturalmente. O (s) problema (s) surgem quando começamos a pensar nas pessoas como “clientes” ou “usuários do serviço”. Começamos a pensar inadvertidamente no testemunho do evangelho como “trabalho” ou, mais comumente hoje, como algo “não profissional” devido à política e restrições de financiamento. Barreiras podem ser construídas para estabelecer nuances de divisão no (s) relacionamento (s) que temos com “essas pessoas” a quem servimos. Nunca é uma relação de iguais desde o início. Se iniciarmos nosso relacionamento com as pessoas como prestadores de serviço, então, não importa o quanto tentemos, será muito difícil mudar a dinâmica uma vez que ela tenha sido estabelecida.

Obreiro chave. No meu contexto, como obreira da igreja, é realmente fácil ser vista como apenas mais um obreiro-chave na vida daqueles que estamos tentando ajudar, alcançar e servir. O problema é que, nos esquemas habitacionais carentes, as pessoas têm muitos obreiros-chave; há um para quase todas as áreas de sua vida. Eles não precisam de mais um em uma longa fila. Precisamos construir relacionamentos com as pessoas com abordagens diferentes se isso for ajudar o evangelismo natural e o discipulado. Precisamos fazer uma pausa e pensar sobre as pequenas coisas que fazemos. Considere algo tão simples como ir a um café – quando eu vou a um café com meus amigos, geralmente brigamos para ver quem paga a conta. Mas se eu operar como uma espécie de ‘obreiro chave’, então sou sempre o comprador e a dinâmica do relacionamento não é igual. Se tudo está indo em uma direção em nossos relacionamentos, então acharemos difícil mudar de direção em pé de igualdade.

Amigos. Este relacionamento é o mais difícil porque a amizade verdadeira e recíproca não se encaixa em um intervalo de tempo alocado em nossa programação. E não deveria. Temos que nos colocar para fora, fazer um esforço e viver uma “vida real” com as pessoas. Não é clínica e não pode ser restringida por políticas ou prejudicada por falta de profissionalismo. Definitivamente vai ser bagunçada em algum ponto. Mas, o alicerce de uma boa amizade se presta a oportunidades naturais de pregar o evangelho. Se formos honestos, a maioria de nós prefere ações clínicas e controladas que se encaixem em nossos horários organizados. Nós não gostamos de bagunça.

Se estamos lutando para nos engajar evangelisticamente com as mulheres, precisamos nos perguntar qual é o problema. Que tipo de relacionamento buscamos atualmente com as pessoas, especialmente aquelas que não são como nós? Em que base esses relacionamentos são construídos? Profissionalismo? Provedores de serviço? Obreiros-chave? Ou amizades profundas e complicadas?

Portanto, temos que realmente proclamar o evangelho. Precisamos nos perguntar: Por que não estou contando às pessoas em minha vida sobre Cristo? Quero dizer, teste de realidade: elas não serão salvas por osmose. Devemos corajosamente proclamar a Cristo e orar para que ele salve.

Por: Sharon Dickens. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: Don’t Make People a ‘Project’.

Original: Não faça das pessoas um “projeto”. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.