Um blog do Ministério Fiel
Por que essa criança nasceu cega?
Transcrição do vídeo
Uma das razões pelas quais eu amo a Bíblia e acredito nela é porque a Bíblia trata de forma muito direta e sem rodeios sobre as coisas mais difíceis no mundo. Na Bíblia, nada é varrido para debaixo do tapete. Nem as coisas chocantes, nem as desconcertantes, muito menos as controversas. De fato, me parece, especialmente no evangelho de João, que Jesus muitas vezes cria a controvérsia, como fazer algo no sábado quando podia fazer na segunda. Penso que ele faz isso porque coisas difíceis e controversas são momentos em que é revelado mais dele, bem como mais do pecado. E nessa revelação dupla dele mesmo e da escuridão, ele pode nos alertar da escuridão e nos atrair para sua glória. Ele sabe o que faz. A Bíblia é a palavra de Deus. Ela sabe o que faz quando não deixa passar assuntos difíceis. Ela os enfrenta e trata sobre eles. Eu amo a Bíblia por muitas razões. Essa é uma delas.
Uma das coisas mais difíceis na vida é o sofrimento infantil e o sofrimento dos pais que as veem sofrer, principalmente quando esse sofrimento prematuro se prolonga por toda a vida em uma perda que se deve suportar. Poucas coisas me dão mais satisfação nesses meus 31 anos aqui do que o surgimento de um ministério que lida com deficiências, com grande foco em crianças. Nem sempre foi assim. Mas veio a existir sem que eu tivesse que pegar no braço de ninguém, e tem sido profundamente gratificante para mim. Eu agradeço a Deus pela coordenadora do ministério de deficiências, Brenda Fisher. E eu agradeço a Deus pelos pais, dezenas de pais, talvez até centenas, que têm tido coração, mente, lábios e mãos para conceber e levar adiante essa visão quanto a como entender e como ministrar sobre deficiências, especialmente crianças que nasceram com deficiências.
A Supremacia de Deus sobre a Deficiência
Lerei para vocês alguns parágrafos da Declaração de Visão, que está em nosso website hopeingod.org. Na seção de Deficiência, você poderá ler completamente. Ela foi escrita por… Bob Horning e John Knight. O motivo por que escreveram ficará óbvio conforme eu leio esse trecho. Esse é o tipo de coisa que, quando leio, tudo em mim, como líder dessa igreja, diz “obrigado”.
Nossa visão é que a Bethlehem mostre a supremacia de Deus na deficiência e no sofrimento. Desejamos que nossas vidas reflitam uma alegria inabalável no Senhor que nos permite ter uma vida de sofrimento em meio à deficiência por seu propósito e sua glória. Desejamos gritar que a vida com uma deficiência e com Jesus é infinitamente melhor do que um corpo saudável porém sem ele. Afirmamos com Paulo que essa “leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação”. Desejamos que isso seja verdade, tanto como indivíduos quanto como igreja, como um corpo.
A deficiência é difícil? Como pais de crianças com condições raras de deficiência, podemos atestar as lutas que, os homens em particular, enfrentam quando seus filhos têm uma deficiência. Deficiência é algo dispendioso, seja a nível financeiro, emocional ou relacional. Não parece leve nem momentânea. O mito masculino de autodeterminação, controle e independência explode diante da necessidade de recorrer a profissionais de saúde, assistentes sociais e educadores em questões que nunca sonhamos enfrentar. A isso respondemos: Obrigado, Deus, por não nos permitir viver a mentira de que há algo bom ou valioso longe de ti. Obrigado por nos mostrar o quanto precisamos de ti! As lutas que nossas esposas suportam talvez sejam ainda maiores.
A Bíblia Não Fica em Silêncio quanto às Deficiências
A questão pode ser autismo, síndrome de Down, síndrome do alcoolismo fetal, espinha bífida, cegueira ou qualquer outra condição rara e impronunciável, cada uma com sua dor específica, cada qual com sua forma de transformar décadas em algo que você nunca sonhou ou planejou. A vida de casado nunca mais será a mesma novamente. Tudo muda definitivamente sem que peçam sua permissão para isso. Não é o que você esperava ao casar ou ao ter um bebê.
O que eu faria como pastor se tivesse que enfrentar esse assunto, lidar com tais crianças e pais, se a Bíblia não dissesse nada sobre isso? O que eu faria? E se eu caísse de paraquedas em relacionamentos nos quais eu apenas tivesse que dar ideias, opiniões, pensamentos que talvez, em uma chance remota, trouxessem algum encorajamento ou conforto? Seria apenas eu, quem se importaria? Sou muito grato porque essa não é a condição em que me encontro. Este livro é permeado por sofrimento. Está repleto de dor. E nele Deus falou centenas e centenas de coisas sobre isso, bem como sua relação com a dor, suas origens, natureza e propósito. Eu não estou abandonado, nem você está. Deus falou algo sobre este mundo quebrado no qual vivemos. Que privilégio é conhecer isso!
A Luz Brilha na Escuridão
Descobriremos que a afirmação do verso 5, “Eu sou a luz do mundo”, não é uma mera declaração sem sentido nesse contexto em particular de um cego de nascença. Não estamos na escuridão quanto ao significado da escuridão. “Eu sou a luz. Eu brilho na escuridão e eu eventualmente a destruirei completamente. Mas, por enquanto, eu a domino com a luz.” Portanto, “Eu sou a luz do mundo” não é uma frase descartável. Ele não nos deixou sozinhos em meio ao desespero da falta de sentido. Não vemos os terrores do mundo e dizemos que não há sentido neles. Tampouco ele nos deixou para criarmos significado. “Eu darei sentido a isso.” Ele falou o significado. Ele interpretou a escuridão com a sua luz. Vejamos João 9.1-4.
A Difícil Vida de Alguém com Deficiência
Esse texto, João 9, começa com Jesus vendo um cego de nascença. “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença.” O homem já é adulto agora. Ele foi cego por toda a vida. Não foi nada fácil para ele. Sabemos disso. Conheceremos seus pais no verso 18. Não sei bem o que dizer deles, ainda estou pensando. Nada de “interpretar demais”. Mas sabemos que ele era mendigo, então os pais não podiam cuidar dele. Vemos isso no verso 8: “Os vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntavam: Não é este o que pedia esmolas?” Tudo o que podia fazer era sentar na beira da estrada com uma vasilha e pedir. “Por favor, por favor ajude o cego.” Era o possível. E ele devia ter o suficiente para comer pelo menos.
Ao passar, Jesus o viu e os discípulos viram que ele o notou. Então perguntaram: “E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Essa pergunta é crucial. Mas, primeiro, antes de irmos rápido demais, primeiro perceba que a história não se inicia com essa pergunta. Poderia, mas não. A história começa com Jesus vendo um cego, é isso que se diz. Eles viram que Jesus o notou, eles viram que Jesus o observara com um olhar, ou algo do tipo, e eles perguntaram. É assim que começa. Começa com Jesus vendo. Então, notando o que Jesus fez, perguntam qual o significado dessa cegueira.
Atencioso, Misericordioso e Compassivo para com a Deficiência
Aqui farei uma pausa por um momento para lhe implorar algo. Crianças, adolescentes (principalmente) e adultos: vejam a deficiência. Vejam-na. Não como o levita e o sacerdote que viram que viram o judeu machucado na beira da estrada e apenas passaram de largo. Isso está dentro de nós, não é? Não queremos assumir. Nós vemos e atravessamos a rua. Vemos e desviamos o olhar. Você não está vendo como Jesus viu quando isso aconteceu. Então, eu imploro a vocês para que confiem que Deus lhes dará o que precisarem nesses momentos. Não dê as costas. Veja. Enxergue. Aproxime-se, não se afaste. É natural se afastar. Não somos naturais! Somos cristãos! Temos o Espírito de Cristo em nós, é o que significa ser cristão. Somos contrários ao natural, resistimos ao rumo natural. Estou pregando para mim. Aproxime-se e veja. Vá em frente. Erre, se for o caso. Veremos o que acontece.
Redimindo Momentos Embaraçosos
Eles viram a atenção de Jesus para com o cego, e pediram-lhe uma explicação. Verso 2: “Mestre”, já que notou este homem, “quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Essa pergunta não demonstra muita compaixão nesse momento. Você também não dirá a coisa certa. Você não vai! Esta igreja é cheia de pais que exercerão misericórdia com você. Eles perdoarão os seus erros. Se você correr de toda oportunidade de cometer um erro, você será a pessoa mais isolada, segura, chata e indiferente que se pode imaginar. Somos cristãos. Acreditamos no perdão. Acreditamos em cometer muitos erros até nos tornarmos amáveis. Portanto, penso que eles erraram feio. Não acho que era o mais apropriado naquela hora. Há várias outras coisas que seriam mais apropriadas.
Mas Jesus era misericordioso para com eles. Ele não disse: “Fala sério, a pessoa está sofrendo e vocês me pedem para explicar o sofrimento na frente dele?” Ele não disse isso. Ele simplesmente responde. Eles pediram uma explicação e a receberão. Jesus mudará completamente suas maneiras de pensar. Ele responderá à pergunta, mas não naqueles termos. Jesus faz isso muitas vezes. Ele parte de onde estamos, de nossa pergunta, e diz: penso que podemos aprofundar essa pergunta. Aqui está como se deve perguntar e responder. Ele responde à pergunta em diferentes níveis. Qual é o nível deles? O nível da pergunta deles é: o que causou isso? Queremos uma explicação em termos de causas. Certo? Entendido? “Quem pecou, este homem ou seus pais?” Qual foi a causa, no passado, por que este bebê nasceu cego? Foi um castigo pelo pecado dos pais ou pelo bebê que, de algum modo, herdou o pecado e pecou no ventre (se é que é possível)? Qual dos dois causou essa cegueira? Queremos uma explicação em termos de causas possíveis. Jesus não vai por aí.
Não a Causa, mas o Propósito
A maneira com que ele responde esclarece muito. Há muito o que aprender aqui. Jesus responde à pergunta “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. De fato, ele responde que o sofrimento presente não está relacionado ao pecado passado. Na maioria das vezes. Direi com cuidado. Eis a resposta: “Nem ele pecou”, verso 3, “Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais”. Vamos parar por aqui e deixar que isso fale conosco. Você deu duas possibilidades, nenhuma está correta. Não posso responder a pergunta, pois nenhuma resposta serve. Isso significa que esse sofrimento, essa deficiência, não pode ser relacionado com o pecado dos pais ou da criança. É o que foi dito aqui. “Nem ele pecou, nem seus pais.”
O Sofrimento não se Deve a um Pecado Específico
Agora, pare e pense: sabemos, de outras passagens bíblicas, que o pecado é a causa do sofrimento. Mas pecados específicos na sua vida não se relacionam com sofrimentos específicos em sua vida. Se nunca houvesse existido pecado, nunca haveria nenhum sofrimento em todo o universo. Uma vez que o pecado entrou no mundo através de Adão, o sofrimento veio junto com ele. Sofrimento catastrófico em todos os níveis. E devemos aprender pela natureza e pelos horrores do sofrimento físico com respeito à natureza e aos horrores do mal moral.
Note que ele poderia gastar muito tempo explicando de onde a cegueira veio, mas ele não vai por aí. Isso não será útil aqui. Ele desconecta essa cegueira desse tipo de pecado. Certamente ele ficaria feliz em dizer que, se Adão não tivesse pecado, o bebê não seria cego. Ele diria isso. Mas não é a pergunta. A questão é: será que algum pecado específico, dos pais ou da criança, se relaciona com essa deficiência? E ele diz: não é por aí. Isso é importante. É muito importante ao ministrar uns aos outros. Você não pode chegar para alguém e dizer com certeza que, porque ele fez isso, então este é sofrimento dele. Claro, alguns são óbvios. Se você tentar roubar um banco, atiram no seu braço e tem que ser amputado. A falta do seu braço será devido a esse roubo, para toda a vida. Essas situações são bem claras. Há outras que são claras. A maioria não é, e Jesus diz para ter cuidado, para não ir por esse caminho. Essa não é a explicação decisiva.
Uma Explicação que Envolve os Propósitos de Deus
Ele tem uma explicação. Sim, ele possui. Mas não é a que eles pensaram que seria a explicação. O que Jesus diz é: não darei uma explicação em termos de causas. Oferecerei uma explicação em termos de propósitos. As categorias vão mudar. Você perguntou a causa, eu lhes direi o propósito.
Veja o verso 3 novamente: “Nem ele pecou, nem seus pais”; e agora vem a resposta: “mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”. Então a explicação está não em causas passadas, mas em propósitos futuros.
Confrontando uma Possível Objeção
Permita-me levantar uma objeção aqui. Penso que nunca tentei respondê-la. Existem incontáveis pastores, mestres e leigos que não suportam o que esse texto parece dizer, a saber, que Deus quis que esse bebê nascesse cego tendo em vista demonstrar as obras de Deus através dessa criança décadas mais tarde. Para eles é abominação crer que Deus faria isso. E, para escapar da conclusão de que é isso que o texto diz, eles chamam a atenção para o fato de que Jesus talvez não esteja falando de um propósito, mas apenas de um resultado.
Quando ele diz: “Nem ele pecou, nem seus pais, mas…”, ao invés de ler a próxima frase como um propósito, eles a leem como um resultado. “Mas…” o resultado da cegueira será usado por Deus para mostrar sua obra. Deus não fez nada para provocar a cegueira para um propósito; Ele apenas achou a cegueira e manifestou sua obra; ele apenas usou a cegueira; ele não a gerou, apenas a usou ao encontrá-la. Eles dizem isso pois isso vai contra suas preferências de que um Deus bondoso e amoroso não ordenaria que um bebê nascesse cego. Eu tenho três respostas a essa objeção. Espero que nos aprofundemos no que Jesus está dizendo. Isso não vai funcionar. Essa é a minha resposta. Essa forma de interpretar o verso 3 não funcionará. Por três razões.
- Os discípulos pediram uma explicação sobre a cegueira. Eles pediram uma explicação com relação à cegueira. Mas se você disser que Deus não tinha nenhum propósito, nenhum desígnio, nenhum plano, no fato daquele bebê nascer cego, mas que apenas se deparou com isso e resolveu usar para sua glória, você ainda não respondeu à pergunta. Não é uma explicação. Isso é evitar a explicação, algo que esse texto não faz. O texto dá uma explicação. É minha primeira resposta.
- Deus conhece tudo o que está acontecendo na formação de um óvulo fertilizado. Ele conhece tudo. Ele conhece a formação genética dos cromossomos de cada espermatozoide e óvulo. Ele comanda quais óvulos são fecundados e quais não; ele comanda qual espermatozoide fecundará com sucesso o óvulo; ele pode ver tudo isso. E ele pode ver se há alguma falha nessa espiral de DNA que, se adentrar em tal óvulo, resultará na produção da cegueira. Ele sabe disso. Nós estamos falando sobre Deus aqui. Ele conhece a condição genética de espermatozoides e óvulos. E ele pode simplesmente dizer: “Não vá por aí. O bebê não será concebido dessa vez, pois ele nasceria cego.” Ele pode dizer isso. Se ele não diz isso, então podemos usar palavras como “permissão”. Ele permitiu que essa tristeza e deficiência naturais acontecessem. Mas considere um pouco a palavra “permissão”. Se Deus vê e sabe que a cegueira acontecerá, e ele diz que poderia detê-la, mas decide não fazer isso, ele está decidindo por uma razão? Ou não há razão alguma? Será que ele não sabe o que faz? Faz por fazer? É Deus! Este é Deus! Deus não joga cara ou coroa. Se Deus permite essa união, sabendo que ocorrerá cegueira, quer você use “permissão” ou “causa”, é algo com propósito. Há um propósito. “Eu permitirei que aconteça, pois tenho meus desígnios, eu tenho planos, propósitos para essa vida.” É a segunda resposta. Ele conhece. Sim, conhece. Você não pode torná-lo um “descobridor de cegueira”. Como se ele achasse um cego, não soubesse de onde veio, não há desígnio para ela. Não é possível. Não funcionará na Bíblia nem nesse texto.
- Se você tentar negar o soberano, sábio e intencional controle de Deus sobre a concepção e o nascimento, você baterá de frente com Êxodo 4.11 e com Salmos 139.13. Eis os textos: “Respondeu-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?” Salmos 139.13: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe.” Eu jamais direi a essas crianças que Deus não as planejou. Você pode me matar, e eu não falo. Ele planejou cada um; ele ama cada um; ele tem um propósito para cada um.
Então, eis a objeção finalmente respondida. Não concordo com ela, penso que ela é inapropriada, errada, não ajuda em nada. Penso que esse texto, na hora certa, será sentido e recebido como doce, embora pareça difícil em certos estágios.
Essa não é a explicação completa do sofrimento e das deficiências. Há dezenas de passagens relevantes na Bíblia, e muitos outros pontos importantes, mas nessa passagem, no verso 3, essa palavra que demonstra propósito é muito importante.
Propósito: Manifestar as Obras de Deus
Quero dizer mais uma coisa principal. A verdade principal, na segunda metade do verso 3; a verdade principal dessas palavras: “a cegueira é para que se manifestem nele as obras de Deus”. A verdade principal desse verso é: o sofrimento só encontra seu significado final quando é relacionado a Deus. Isso significa que o sofrimento só encontra seu sentido final quando relacionado a Deus. Jesus diz: o propósito dessa cegueira é manifestar as obras de Deus.
O Sentido Final se Encontra em Deus
Bem, para que essa explicação funcione, você precisa valorizar Deus acima de tudo. É preciso valorizar Deus acima da sua saúde e de seus filhos, é preciso valorizar Deus acima da vida, pois você perderá seus filhos ou netos. Simplesmente que não funcionará. Esse argumento não tem peso algum para muitas pessoas, pois elas não têm Deus como seu tesouro supremo que compensa qualquer outra coisa. “Santificado seja o teu nome! Que tua glória encha a terra como as águas cobrem os mares!” é o ponto principal da minha vida nesse universo. É a coisa mais importante para mim neste mundo! Se você não se move nessa direção, esse argumento não faz sentido. Deus é tão paciente conosco!
Não há ninguém aqui que não tenha pontos cegos, pontos cegos teológicos. Esse pode ser um seu ou não. Eu tenho alguns. Se eu soubesse quais são, eu diria. Vocês devem me mostrar os meus. Deus não te detona, não te trata como insignificante; há tantas palavras ditas por pessoas que sofrem, as quais chamamos de “palavras ao vento”… É o que ocorre em Jó 6. Você diz coisas e… Você está no hospital, não precisa corrigir tais palavras. Elas estão erradas, não as corrija. Deixe-as ir. Mais tarde eles mudarão de ideia.
Para a Glória de Deus – Seja na Cura ou Não
Jesus quis dizer com “para que se manifestem nele as obras de Deus” que iria curá-lo. Cuidado aqui. Não creio que haja algo no verso 3 que obrigue Jesus a curá-lo. “Essa cegueira é para que se manifestem nele as obras de Deus.” Nesse texto, haverá cura. É sempre assim? Há outra situação bastante similar. Trata-se do espinho na carne de Paulo, como você conhece bem, em 2 Coríntios 12. Não sabemos do que se trata, e eu agradeço a Deus por não dizer o que é, é apenas um espinho na carne, então é doloroso, ele quer ficar livre dele, ele pede a Deus três vezes para que o cure; uma oração forte, repleta de fé. Eis a resposta dada em 2 Coríntios 12.9: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Este é exatamente o mesmo propósito de João 9.3, exceto pela cura. “Meu poder resplandecerá em você à medida que te sustento em meio a esse espinho!”.
Podemos desejar que as obras de Deus sejam sempre obras de cura. Muitas vezes são. Penso que você deve orar pela cura de todos os doentes. Peça que a graça de Deus seja derramada e que dons de cura sejam dados à igreja. Sim! Deus será engrandecido através das curas. Que haja mais delas! Mas jamais pensemos que as obras de Deus a serem manifestadas através da deficiência são apenas obras de cura. Existem obras mais majestosas. Sim, existem. Pelo menos do nosso ponto de vista, curas são algo maravilhoso, pois é Deus quem as opera. Mas se Deus não curar meu filho, então o milagre provoca algo profundo em mim, e isso é bem mais difícil do que uma cura.
Do Ministério de Cura à Morte e ao Sofrimento
Por que, no verso 4, Jesus disse: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, e ninguém pode trabalhar”? Por que ele disse isso? Eu enxergo duas razões. A primeira: “Eu farei as obras de Deus.” “É necessário que façamos as obras…” Foi dito que desejamos que suas obras sejam manifestadas, agora ele diz “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou”. Jesus diz: Eu farei o lodo, eu o aplicarei nos olhos dele, eu o mandarei se lavar no tanque, e quando perguntarem quem o curou, ele dirá que Jesus o curou, e ele estará certo. As obras de Deus são as obras de Jesus. É o primeiro significado de “É necessário que façamos”.
Eis a segunda: “Enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” Provavelmente isso possui camadas de significado. Aqui está a mais importante: Muito em breve eu encerrarei meu trabalho de cura, e farei meu trabalho de morte. Eu cessarei minha obra de resgate do sofrimento e entrarei na obra de suportar o sofrimento. Eu deixarei as obras que se fazem enquanto é dia, obras de libertação, e irei à obra que ocorre à noite, serei entregue ao meu Pai para realizar a fantástica obra de Deus, como a remoção da ira, a remoção da culpa, a remoção dos pecados, a destruição do inferno e da morte, a derrota de Satanás. Estou indo em direção à noite, na qual cessarei a cura de algumas pessoas, e eu curarei toda doença que vier a mim no devido tempo. É algo incrível. “A noite vem, quando ninguém pode trabalhar.”
Agora Jesus se afasta das triunfantes obras de cura para uma obra de morte e derrota aparentes, para ser dilacerado, receber uma coroa de espinhos, ser cuspido na face… E os discípulos: de quem é o pecado que levará Jesus a isso? A resposta não é “do próprio Jesus”, pois ele nunca pecou. Nós sim. Essa é a resposta. Não é uma má pergunta. Quem pecou para que Jesus sofresse dessa maneira? Ele não pecou; eu, sim. Então, ele faz sua obra por mim ao não fazer mais obras, ao apaziguar a ira, ao remover a culpa, ao prover minha justiça, ao vencer a morte, e, finalmente, ao remover todo o sofrimento dos que nele confiam.
Olhos para Ver
“E lhes enxugará dos olhos toda lágrima”, não algumas, “e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Apocalipse 21.4). Isso foi comprado no Calvário. Nós somos curados pelas suas pisaduras, mas não imediatamente todas as vezes. Toda dor, em sua totalidade, será removida, porque ele cessou seu trabalho e adentrou a noite do sofrimento.
E sobre todo sofrimento, deficiência e perda que têm sido abraçados com fé para a glória de Deus, esteja esta palavra: “A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” Que Deus te conceda olhos para ver a manifestação de suas obras no sofrimento do Filho dele, no seu sofrimento, ou no sofrimento do seu filho. Veja-os como uma expressão do seu amor.