A glorificação do homem

Gosto muito de museus. Infelizmente não temos muitos museus no Brasil, mas, sempre que posso, em minhas andanças e viagens por aí à fora procuro visitar museus. Já tive a oportunidade de conhecer alguns dos mais importantes de nosso mundo ocidental, o museu britânico em Londres, o museu do Vaticano, o museu do Louvre, os museus de Washington, D.C, a Galleria degli Uffizzi, Museu Egípcio no Cairo, o Museu de Israel em Jerusalém, o Museu Arqueológico de Istambul, entre alguns outros. Há neles uma exuberância; uma riqueza histórica; uma memória coletiva.

Mas, você sabe o que significa a palavra “museu”? Esta palavra vem do grego “mouseion”. É uma palavra antiga que significa “um templo protegido pelas musas”. Na Grécia Antiga, o museu era um templo das musas, divindades que presidiam a poesia, a música, a oratória, a história, a tragédia, a comédia, a dança e a astronomia. Esses templos, bem como os de outras divindades, recebiam muitas oferendas em objetos preciosos ou exóticos, que podiam ser exibidos ao público mediante o pagamento de uma pequena taxa. Em Atenas se tornou afamada a coleção de pinturas que era exposta nas escadarias da Acrópole no século V a.C. Os romanos expunham coleções públicas nos fóruns, jardins públicos, templos, teatros e termas, muitas vezes reunidas como botins de guerra. No Oriente, onde o culto à personalidade de reis e heróis era forte, objetos históricos foram coletados com a função de preservação da memória e dos feitos gloriosos desses personagens. Dos museus da Antiguidade, o mais famoso foi o criado em Alexandria por Ptolomeu Sóter, em torno do século III a.C., que continha estátuas de filósofos, objetos astronômicos e cirúrgicos e um parque zoobotânico, embora a instituição fosse primariamente uma academia de filosofia, e mais tarde incorporasse uma enorme coleção de obras escritas, formando-se a célebre Biblioteca de Alexandria.

O museu é um templo da história, dos feitos e da sabedoria dos homens. É fascinante. É glorioso… mas é, literalmente, um cemitério.

Quando a gente olha para a história e vê os grandes feitos dos homens, desde Antiguidade, com as grandes construções dos mesopotâmios, dos egípcios – com suas pirâmides – que são cemitérios, a propósito -, dos babilônios – dizem que a glória dos tais jardins suspensos era inigualável, dos persas, dos gregos, com seus teatros, seus templos, seus fóruns para discussão e filosofia. E os romanos? Quanta glória?! Quanta conquista! Que império formidável!

Mas hoje isso tudo é peça de museu. É ruína. Ainda guarda a exuberância do brilho passado, mas é lugar onde chineses, brasileiros, americanos e turistas de todo canto se amontoam para tirar fotos com seus paus de selfie.

Mas os museus ajudam-nos a lembrar que o homem tem um peso de glória no seu coração.

O homem foi feito para grandes coisas.

Foi criado para compartilhar a glória do criador. Talvez o texto bíblico que traduza melhor esta noção seja o Salmo 8:

Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.

Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador.

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites?

Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.

Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:

ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo;

as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares.

Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!

Mas agora o homem perdeu sua glória e lida com um inimigo invencível, inexorável, inevitável: a decadência, a degradação, a corrupção e a morte.

Por que?

Afinal, o homem foi feita para a vida. Ele foi feito para a glória e aspira grandes coisas. Como vimos no Salmo 8, Deus deu glória ao homem, mas esta glória estava subordinada à glória de Deus. O salmo diz que o nome de Deus é magnifico, glorioso em toda a terra. A morte entrou neste mundo como resultado do pecado, da alienação de Deus por parte do homem.

Agora o homem ainda anseia por glória, ainda busca a glória, mas longe de Deus. Assim, a glória do homem está nessa vida, está presa e limitada ao breve tempo de sua existência na terra: A glória dos reinos e impérios; a glória dos reis e imperadores. Mas, ao fim, tudo quanto o homem faz, toda sua conquista, seus feitos, seus avanços, sua glória…Vai parar num museu, num cemitério.

O texto do apóstolo Paulo aos Romanos diz que o homem pecou, alienou-se de Deus e foi destituído da glória de Deus. A glória que o homem anela, o peso de glória que ele carrega no seu coração, é algo que vem de Deus e, sem Deus, ela nunca será plenamente alcançada.

Ainda assim, toda filosofia deste mundo parece pregar que o homem pode alcançar glória neste mundo: fama, sucesso, dinheiro, poder. O homem não aceita a sua finitude e vive numa tentativa fugaz de prolongar a vida…medicina, operações plásticas, até criogenia…

Sabe qual o grande problema do homem? Ele está cego. Ele se contenta com pouco. Ele se contenta com esta vida. Ele só tem esta vida e nada mais. Toda sua esperança está deste lado da existência, deste lado da eternidade. Como disse C. S. Lewis, o homem está numa busca frenética por felicidade e glória, atrás de suas ambições e despreza a infinita alegria e glória que lhe é ofertada em Deus, como uma criança ignorante que prefere brincar com bolinhos de barro na favela do que desfrutar de um grande banquete no palácio.

Mas Deus promete um fim para o império da morte. Ele promete o fim das dores, sofrimento e tristezas. Ele promete alegria indizível, imutável, crescente e eterna. Deus promete glória aos homens.

E isso significa tanta coisa! Isso é tão rico! Como são lindas as promessas de recompensa, galardão na Bíblia. Galardão na Escritura significa salário, recompensa, prêmio.

Este é um assunto bem distorcido hoje em dia, mas a Bíblia realmente promete prêmios gloriosos ao homem: A Bíblia diz que nós, os que cremos em Deus, seremos alimentados, festejados, que teremos posição de destaque no universo, que governaremos sobre a terra, julgaremos anjos, que seremos colunas no templo de Deus (Isaías 40.10; 62.11; Mateus 5.12; 10.42; Lucas 6.35; Apocalipse 22.12-15).

À luz desses textos, podemos concluir também que uma das distorções mais nojentas e torpes que se pode ensinar sobre galardão é a tal “teologia da prosperidade”. Este ensino horroroso afirma que a recompensa prometida por Deus aos crentes virá aqui e agora e tem de ser reivindicada. Outro dia ouvi o pregador da IURD dizer que “Deus era obrigado a dar prosperidade a quem der ofertas, etc…”. A teologia da prosperidade chega a ser mais vil que a venda de indulgências dos dias de Martinho Lutero. Pelo menos esta última reconhecia que o penitente era devedor a Deus enquanto que na teologia da prosperidade, Deus é quem deve ao homem. Paulo desmonta esta noção em Romanos 4.1-3:

“Mas, em alguma medida, podemos dizer que Deus deve prosperidade ao homem. A questão é porque e como. Mas é em troca de algo que o homem lhe dê?”

De jeito nenhum, o galardão de Deus é fruto de sua graça, em Cristo Jesus, nosso Senhor. E quando ele dará o galardão? Na glorificação. No fim dos tempos. Na sua volta. No restabelecimento do reino, e isso para que fique bem claro quem é o REI, de quem é o REINO e de quem é a GLÓRIA.

Veja o que diz Paulo em Romanos 8.18-23:

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.”

1. A Glorificação é experimentar a Beleza da nova criação. Glorificação é a restauração da criação e de todas as coisas; é a redenção da criação; é a exuberância, a beleza, o brilho da criação restabelecido, numa relação de perfeita comunhão como Criador, cujo nome está acima de todas as coisas. Ter parte na glória de Deus traz a ideia de se “vestir com esplendor”, … Mas, como disse C. S. Lewis, será que isso significa que seremos como uma “lâmpada elétrica viva”? Como uma “estrela cintilante” ou, ainda, uma “árvore de natal celeste?”. Não é essa a ideia do texto. A ideia é como aquela do esplendor da manhã, do sol e das estrelas que nos causa tanta admiração. Quando formos glorificados, não mais apenas veremos a beleza das coisas criadas. Mas imergiremos nela. Faremos parte da paisagem. Sentiremos o belo.

Mas há mais ainda na nossa glorificação.

2. Paulo diz que seremos conhecidos por Deus. Em 1 Coríntios 8.3, Paulo diz que “se alguém ama a Deus, será conhecido por ele”. Seremos notados por ele. Essa sensação é aterradora: Ele está olhando para nós. O que ele vê? Nossa rebeldia? Nossos trapos de imundícia? Ou a justiça e beleza de seu Filho? Lembre-se, aquele que não é conhecido por Deus ouvirá do próprio Senhor Jesus: “Apartai-vos de mim, malditos, nunca vos conheci”. Mas o que está revestido da justiça de Cristo serão glorificados com ele.

3. Ainda mais, na glorificação nós não só seremos conhecidos por Deus mas conheceremos a Deus. Veja o que diz João, em 1 João 3.4:

“Somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que haveremos de ser, pois sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.”

Isso é chamado de visão beatífica “A visão de Deus”. Contemplaremos Deus na face de Cristo.

Agostinho, em sua “Cidade de Deus” diz que, neste tempo glorioso, da manifestação do Pai, “Deus nos será tão conhecido e tão visível, que com o espírito o veremos em nós, nos outros, nele mesmo, no novo céu e na nova terra e em todo ser então subsistente”.

Edwards diz que “ver a Deus é ter uma compreensão imediata, consciente e segura da gloriosa excelência e amor de Deus”.

R. C. Sproul oferece um lindo resumo da visão beatífica:

Na alegria da visão de Deus a alma finalmente alcança o fim de sua busca suprema. Finalmente adentramos esse refúgio, onde encontramos nossa paz e descanso. O fim da inquietação é alcançado; a guerra entra a carne e o espírito termina. A paz que transcende qualquer coisa deste mundo enche o coração. Alcançamos o apogeu da excelência e doçura somente sonhado nesta vida. Veremos a Deus como ele é. A visão direta e imediata de Deus inundará a alma a partir da fonte jorrando do alto. A alegria mais sublime, o prazer mais intenso, o deleite mais puro serão nossos sem mistura e sem fim.

Uma prova desta felicidade irá apagar todas as memórias dolorosas e curar cada ferida terrivelmente exposta neste vale de lágrimas. Nenhuma cicatriz restará. A jornada estará completada. O corpo da morte e o peso do pecado desaparecerão para sempre no momento em quem contemplarmos a face de Deus.

Mas há mais. Paulo diz em Romanos 8.29-30:

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.”

4. Seremos feitos segundo a imagem de Cristo. Glorificar tem também o sentido de “dar valor, dignidade, respeitabilidade”. Isso significa que ganharemos boa fama… diante de Deus. Ele olhará para nós e se alegrará. Teremos boa reputação diante dos olhos do SANTO. Ouviremos da parte dele: “Muito bom, servo bom e fiel”. Ser glorificado é ser tornado à imagem de Cristo “predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho”, como lemos em Romanos 8.29. Ele olhará para nós e verá a imagem de seu Filho, e se alegrará. E nós nos alegraremos na alegria de Deus.

Um dia Deus dirá àqueles a quem ele conhece e ama: “Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor”.

Esta é a grande glória com a qual o homem e a mulher de fé serão glorificados!