Fogo no parquinho: benefícios e perigos do ministério de jovens

Não existiu ministério de jovens em grande parte da história da igreja. Havia um tipo de educação infantil especial. Contudo, o ministério voltado para jovens é uma estratégia relativamente nova, visando atrair jovens que sentiam uma lacuna geracional enorme entre adolescentes e seus pais. A questão é que não existe “ministério de jovens” em nenhum lugar da Bíblia. Contudo, mesmo assim é quase uma unanimidade cultural que a igreja seja obrigada a ter um suposto ministério de jovens. Transformamos particularidades em questões absolutas na igreja. Estamos tão acostumados a assumir que precisa ter, que não questionamos sua existência. Se não há uma boa justificativa para existir, precisamos do ministério de jovens?

Fato é que a Bíblia fala sobre os jovens e seus desafios particulares. Os jovens passam por diversas mudanças ao decorrer de sua juventude. Há desafios profissionais, relacionais, hormonais, etc. Então, mostra-se prudente investir nessa faixa etária. Essa é a grande distinção: prudência vs. norma. Há perigos no ministério de jovens, mas também há benefícios. Isto é prudência: analisar vantagens e desvantagens, não comprometer o essencial e evitar erros grotescos e sutis, sempre pensando no longo prazo. Quando trazemos algo que não está explícito na Bíblia, devemos cuidar para que o adicional não venha ferir o essencial. Consideremos quatro áreas do ministério de jovens e adolescentes: unidade, culto, discipulado e família.

1. Unidade (Ef 4.1-6)

A graça de Deus traz paz. O livro de Efésios mostra como Deus une dois povos que antes eram distintos, mas que agora são um só povo. Contudo, muitas vezes o ministério de jovens acaba reforçando a lacuna geracional pelo envolvimento exclusivo com jovens. É comum que rapazes e moças não se relacionem com os senhores e senhoras da igreja de forma genuína. Por isso, os jovens perdem a chance de obter a sabedoria que eles têm a oferecer. Envolva os pastores e líderes.

Também é preciso reforçar a própria unidade dentro do ministério de jovens. As “panelinhas” devem ser completamente evitadas. Não se deve formar grupos que tenham diferentes interesses ou renda. É dever de cada cristão integrar outros à família da fé.

2. Culto (1Co 10.16-17; 11.20)

Nesses capítulos, Paulo trata de vários assuntos, entre eles a Ceia. Essa cerimônia tem a função pedagógica de nos ensinar que temos um só corpo, sem divisões. Paulo une a unidade discutida anteriormente com a reunião dos santos, como igreja do Senhor, para adorar a Deus ouvindo, lendo, cantando e orando sua Palavra. Quando o corpo se reúne, o Espírito se faz presente na igreja. O culto dominical é o culto da igreja. A reunião dos jovens não pode substituir o essencial, o culto do povo de Deus reunido.

Infelizmente, se não for discutido, tais aspectos começam a transparecer quase que automaticamente, como se o sábado fosse o culto cool porque é animado, e o culto dominical fosse o culto dos mais velhos. É possível pensar em outras formas pedagógicas para o ensino dos jovens sem “repetir” o domingo no sábado. A prudência deve comandar. Também é preciso ter cuidado para que, em meio à busca por cativar jovens, não acabe caindo na ilusão de oferecer entretenimento. Cuidado para que a isca não vire alimento. Seu ministério de jovens entretém bodes ou alimenta ovelhas?

3. Discipulado (1Tm 4.7-12)

Em sua exortação a Timóteo, Paulo ordena-o que seja padrão dos fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. Apesar de que Paulo esteja falando em tom ministerial, o princípio é que o jovem deve ser ainda mais exemplo, uma vez que tem mais chance de ser subestimado por causa de sua idade.

O ministério de jovens oferece a oportunidade de suplementar as aplicações da pregação e do ensino pastoral. Além disso, ele oferece oportunidade de treinamento. Muitos pastores iniciaram seus ministérios ensinando a jovens. Se por um lado temos que baixar as expectativas, visto que podem estar iniciando, por outro temos que parar de tratá-los como crianças, pois o mundo lá fora não o trata dessa forma. Não tire o Evangelho do centro.

Pregue e ensine, sim, desdobramentos do Evangelho, mas não deixe que tais assuntos sejam primordiais. O que mantém o jovem na igreja é conversão, é novo nascimento. Se o amor por Cristo estiver no coração do jovem, este amor vai fazê-lo perseverar e buscar conhecer a Cristo cada vez mais. Não assuma que todos os jovens são convertidos, especialmente se a maioria tiver pais crentes. Esse é um grande erro da igreja atual. Assume-se que todos são crentes e parte-se para aplicações secundárias. Fale da santificação motivada pelo Evangelho, não por meras normas.

O grande desafio do ministério de jovens e adolescentes é a apatia emocional. Nossa geração é tímida e apática. Não resuma o ministério a eventos ou ao entretenimento, mas utilize-os sabiamente para promover comunhão e aprofundamento de relações.

4. Família (2Tm 3.14-15)

O fator mais decisivo para a fé e manutenção dela nos adolescentes e jovens é pais cristãos que vivem a vida cristã comum. Não apenas no domingo, mas todos os dias. Boa notícia para alguns, má notícia para os que delegam a fé para seus filhos ou para o ministério de jovens ou para a igreja. Não convém deixar os pais isolados. Por outro lado, temos uma geração de órfãos de pais vivos que deixam a desejar em muitos aspectos da criação dos filhos. O ministério de jovens pode preencher lacunas culturais.

Até que idade vai o ministério de jovens? No Brasil, é comum tratar como jovens aqueles que ainda não casaram. Isso acaba gerando a ideia de que podemos postergar a imaturidade até o casamento. Quem e com que propósito você quer alcançar com este ministério? Pense também: o que significa um ministério de jovens bem-sucedido? Se você não tem uma resposta imediata, talvez esteja apenas seguindo a multidão.