Um blog do Ministério Fiel
Haveria coisa alguma difícil ao Senhor?
O grande plano redentivo de Deus – seu plano de adquirir um povo para seu nome de todas as nações, tribos e línguas, um povo que confia nele e o ama e o segue – este plano chega a um ponto decisivo com o chamado de Abraão e a grande promessa em Gênesis 12.3, “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
Como isso aconteceria? Gênesis 17 nos dá parte da resposta. Deus fez uma aliança com Abraão e prometeu ser Deus – um Deus salvador e abençoador – para ele e seus descendentes. Verso 7 diz: “E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações”. Mas como as nações serão incluídas nessa aliança de bênção? O verso 4 diz: “Eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações”. Eu entendo que isso significa que a maneira como as nações serão abençoadas em Abraão (como Gênesis 12.3 afirma que elas serão) é tornando-se descendência de Abraão por tê-lo como seu pai. De alguma forma, as bênçãos da aliança alcançarão todas as nações e, ainda assim, as bênçãos virão somente sobre a semente ou descendência de Abraão. De alguma forma, Abraão tornar-se-á o pai de pessoas de todas as nações.
Como isso pode acontecer? A primeira resposta é negativa: não acontecerá pelos poderes da carne – isto é, pelos poderes que nós, seres humanos, temos por natureza. Isso se torna claríssimo no caso de Agar. Abraão vê que não tem descendência, mas a promessa de Deus (Gn 15.5) é que seus descendentes serão como as estrelas no céu. Então, Abraão resolve tratar disso com suas próprias mãos e dorme com Agar, a serva de sua esposa.
Agora ele tem um filho, Ismael, e Deus pode continuar com seu programa redentivo! Um filho da carne – uma criança produzida pelos poderes naturais de Abraão. E, em Gênesis 17.19, Deus diz Não! “Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua descendência depois dele”.
Por quê? Por que Deus esperou tanto para dar o filho prometido? Gênesis 18.11 dá a resposta:” E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres”.
De acordo com Gênesis 11.30, Sara sempre foi estéril, mesmo durante seus anos férteis. Agora, ela está além deles. Portanto agora, e somente agora, é a hora do filho da aliança nascer. Quando os recursos humanos foram exauridos, então Abraão e Sara estão reduzidos às risadas da incredulidade completa – agora Deus dá a promessa, diferente de todas as promessas humanas – uma promessa que carrega o poder de cumprimento dele (18.14): “Ao tempo determinado tornarei a ti por este tempo da vida, e Sara terá um filho”.
Deus espera até ser humanamente impossível que o filho da aliança nasça a fim de mostrar que não é por esforço humano que o povo da aliança será criado. É obra da graça divina e soberana. A formação de um povo de Deus de todas as famílias da terra por amor de seu nome não é uma criação humana. É por isso que Ismael não qualifica como o filho da promessa. Simbolicamente, ele nasceu por obra da carne, o produto da presunção e da descrença de Abraão.
Portanto, a pergunta “Haveria coisa alguma difícil ao Senhor?” (Gn 18.14) é uma pergunta sobre a capacidade de Deus de criar para si mesmo um povo da aliança contra todas as chances humanas. É a grande questão missionária. E a resposta dessa história é que Sim, ele pode, e Ele fará. Ele glorifica sua liberdade e poder ao chamar à existência coisas que não são, como se elas existissem (Romanos 4.17; 1 Coríntios 1.28).
A impossibilidade de uma semente prometida
Mas como, perguntamos, podem todas as famílias da terra tornarem-se parte da bênção prometida a Abraão e sua semente? O Novo Testamento responde que Jesus é a semente de Abraão e que, se você está em Cristo pela fé, então você é descendência de Abraão, herdeiro segundo a promessa (Gálatas 3.16,26-29).
Isso é fruto do que fazemos? Nós, gentios, nos tornamos descendência de Abraão por nosso próprio poder? Não vem de nós, e o Novo Testamento deixa isso claro ao pregar a verdade de Gênesis 18.14 – nada é muito difícil para Deus – ao aplicá-lo ao nascimento de Jesus, o grande filho da promessa, e ao novo nascimento de seus discípulos.
Em Lucas 1.31, Gabriel diz à virgem Maria (assim como Deus disse à estéril Sara), “Eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho”. Maria pergunta: “Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?”. O anjo responde no verso 37: “Porque para Deus nada é impossível”.
E novamente Deus escolheu um momento e uma pessoa em que é humanamente impossível gerar um filho da promessa. Por quê? Para mostrar que a criação de um povo da aliança não reside no poder do homem. É obra de Deus, e nada é impossível para Deus.
A impossibilidade da salvação pessoal
Mas não é pelo que fazemos que somos unidos a Cristo e nos tornamos herdeiros da promessa? Deus realmente cria um povo da aliança em todos os momentos? Somos todos como Sara, férteis e idosos? Somos todos virgens Marias? Não reside em nós o poder, sem a obra sobrenatural de Deus, de abandonar o amor por essse mundo, nos unirmos a Cristo, nos tornar parte do povo da aliança e ser salvos?
Bem, somos ordenados a crer, a abandonar o pecado, a amar a Cristo. Mas, novamente a verdade de Gênesis 18.14 é aplicada para responder essa questão, dessa vez pelo próprio Jesus (Marcos 10.27). Depois do jovem rico deixar Jesus, indisposto a abandonar seu amor pelo mundo, Jesus diz: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”. Os discípulos se impressionaram com isso e disseram: “Quem poderá, pois, salvar-se?”. Ao que Jesus dá resposta de Gênesis 18.14: “Para os homens (para Abraãos e Saras) é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis” (v.27).
Todas as coisas são possíveis para Deus
O que diremos então? O propósito de Deus na história da redenção é salvar um povo para seu nome, abençoar todas as famílias da terra, juntar um povo da aliança de todas as nações, tribos e línguas, e glorificar sua onipotência e liberdade ao fazê-lo onde é humanamente impossível.
Um muçulmano pode ser levado a reconhecer e glorificar a glória de Cristo, o Deus-homem, crucificado pelos pecadores e ressuscitado como Senhor dos senhores e Rei dos reis? Podem os miseráveis ser transformados e lixos humanos tornarem-se filhos de Deus?
Deus trouxe à existência o filho da aliança da fértil Agar ou da estéril Sara? Deus trouxe Jesus da casada Isabel ou da virgem Maria? Ele te salvou da descrença pelo teu poder ou pelo poder dele? Há algo difícil para Deus?
O poder de Deus para Henry Martyn
Esta é a grande pergunta missionária porque, em cada ponto da Escritura, o tema é: Deus pretende criar um povo da aliança para si mesmo contra todas as chances humanas. Portanto, não é surpreendente que essa verdade serviu ao grande missionário Henry Martyn. Ela serviu a ele de três formas: em sua busca pela santidade, em seu ministério junto aos corações endurecidos e em sua morte.
Dez dias depois de chegar à Índia, ele escreveu:
Por que eu não posso ser como Fletcher e Brainerd e aqueles grandes homens dos tempos atuais? Haverá coisa alguma difícil ao Senhor? É impossível que meu estúpido coração de pedra venha a se inflamar com amor e zelo? (p.333)
Em outras palavras, Martyn lutou a luta pela santidade com a verdade de que nada era difícil para Deus, mesmo sua própria santificação. Era sua única esperança.
Segundo, como Martyn lutou pela conversão dos corações duros? No navio em que navegou para Índia, ele lideraria cultos para os passageiros e a tripulação. Havia apenas um homem em particular, chamado B., que se opôs a ele constantemente. Martyn escreveu:
Ouvi que B. geralmente começava a xingar após o culto. Dificilmente vi alguém tão determinado contra a santidade. Mas, mesmo esse homem pode ser o primeiro a derreter, quando Deus estende sua mão. (p.218)
Essa era a esperança de Martyn diante de corações de pedra.
Então, no fim de sua vida, novamente em um navio, dessa vez indo para a Pérsia, ele disse:
Quanto aos asiáticos, eles têm língua, costume e religião tão diferente de nós, como se fossem habitantes de outro planeta. Eu falo um pouco de arábico às vezes para os marinheiros; mas sua rejeição ao Evangelho, e seu apego à sua própria superstição, fazem sua conversão parecer impossível. Quão estupendo este poder, que pode fazer desse povo seguidores do Cordeiro, quando eles quase se assemelham a Satanás em orgulho e maldade! (p. 435)
Em outras palavras, Martyn tirou sua esperança, coragem e força perseverante da verdade de Gênesis 18.14. Nada é muito difícil para Deus! “Quão estupendo este poder, que pode fazer desse povo seguidores do Cordeiro!”. Ele pode levantar filhos de Abraão das pedras (Mateus 3.9).
Finalmente, em sua última doença, enquanto lutava para completar sua tradução, ele escreveu:
Se eu viver para completar o Novo Testamento Persa, minha vida após isso será de menor importância. Mas quer a vida ou a morte, possa Deus ser magnificado em mim! Se ele tem trabalho para mim, eu não morrerei.
Em outras palavras, porque nada é difícil para Deus, você é imortal até que a obra que ele tem para você seja feita.
Haverá coisa alguma difícil para Deus? Não! Nenhum ministério urbano. Nenhuma missão entre os muçulmanos. Portanto, vamos levar nosso chamado e dizer como o apóstolo Paulo: “Em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4.12-13)