Liberdade e libertinagem

Texto base: Gálatas 5.16-26

Até os melhores e mais vitoriosos guerreiros podem vir a perder a batalha dos desejos. Da mesma forma, somos tentados a seguir estratégias que, por vezes, se mostram duvidosas. Podemos ser tentados a seguir o legalismo, por exemplo. No texto lido, o apóstolo Paulo menciona a palavra “carne” cinco vezes. Ele usa para descrever o conjunto pecaminoso, o desejo pelo pecado. O legalismo é uma maneira de refrear o corpo, mas que não evita o desejo. O outro extremo é a libertinagem, ou seja, o uso desmedido da liberdade. Os libertinos dependem do que sentem para ter prazer. Como viver, então? O apóstolo relata três coisas que precisamos.

Primeiro, o apóstolo Paulo dá uma ordem (5.16a). Devemos viver no Espírito. Por quê? Porque fomos chamados à liberdade, sem dar ocasião à carne, mas sendo servos uns dos outros (5.13). Este é um conceito que vai de encontro ao conceito tradicional de liberdade. O secularismo prega ser livre “de algo”, enquanto que o cristianismo prega ser livre “para algo”. Mas como viver no Espírito? Gálatas 3.5 diz: “Aquele que lhes concede o Espírito e que opera milagres entre vocês, será que ele o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?”. Viver no Espírito é viver com fé na Palavra, crendo e confiando nas deliciosas promessas do Evangelho.

E qual é a promessa? Que não seremos mais escravos dos desejos da carne (5.16b). Perceba que eles não deixaram de existir. Eles militam, lutam contra o Espírito. Contudo, o Espírito também deseja contra o pecado, contra a carne. O desejo do Espírito é glorificar a Cristo; o da carne, desviar seu olhar dele. 

Algumas aplicações: a liberdade que o Evangelho nos garante é caracterizada por conflito, não por conforto. Somos livres pelo Evangelho, mas a nossa vida agora é uma guerra contra o pecado. Segundo, a liberdade do Evangelho nos garante vitória contra os desejos da carne. Somos livres não para o que queremos, mas para vencer os desejos da carne. Terceiro, precisamos aprender como o Espírito vence a guerra, lembrando-nos de que não somos reis, mas que Cristo é o Rei dos reis. O desejo da carne faz falsas promessas; o desejo do Espírito promete satisfação eterna em Cristo.

Vejamos as evidências de cada um. Uma vez que há uma guerra entre eles, Paulo descreve como cada um opera. As obras da carne são vícios; o fruto do Espírito, virtudes. Diferente da ética grega vigente na época, que dizia “torna-te o que és”, o Evangelho diz “torna-te semelhante a Cristo pelo poder do Espírito que vem dele”. Perceba também que temos a diferença entre obra e fruto. Obras são algo que podemos fazer; o fruto nasce de uma semente sobrenatural, plantada e feita crescer pelo próprio Deus.

Paulo começa pelas obras da carne (5.19). Ele começa pela imoralidade sexual, um termo amplo para todo tipo de interação sexual fora ou dentro do casamento, mas que quebre a aliança dele. Ele cita a impureza e a libertinagem, a devassidão, isto é, a falta de limites e de respeito próprio. O segundo grupo de pecados descreve a idolatria, o ato de tornar algo bom em algo supremo. Ele dá exemplos: feitiçaria, a tentação de querer ter superpoderes. Por fim, ele termina com os pecados de excesso, bebedeiras e orgias e coisas semelhantes. Os que praticam tal prática não herdarão o reino de Deus.

A partir do versículo 22, começando com um “mas” que denota o máximo contraste, ele passa a denotar as virtudes, o fruto do Espírito. Ele começa pela máxima: o amor. Não o amor necessitado, mas sim o amor doador, o amor sacrificial, que se entrega por alguém. É o amor de Deus, que não precisava de nós, mas transborda e chega a nós. A segunda virtude é a alegria, o deleite em Deus por seu valor e beleza; a satisfação em Deus. Em seguida, paz, o descanso na soberania divina, com fé suficiente para dormir à noite sabendo que Deus trabalha. Segue-se a longanimidade, a capacidade de suportar pessoas difíceis, das quais somos as principais. Benignidade, gentileza no proceder e no falar. Fidelidade, ser íntegro e fiel a sua palavra. Mansidão, aplicar a força para servir, não para machucar ou ferir. Por fim, domínio próprio: você não é o seu desejo.

Qual é a nossa situação? Fomos genuinamente transformados pelo Espírito? Quem somos nós no uso da liberdade cristã? Os últimos versículos trazem que “os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com suas paixões e seus desejos”. É crucificar os desejos da carne em um nível motivacional, não apenas no nível físico. Lembre-se de que você está em Cristo Jesus, de que você não precisa de outro salvador. Sua nova identidade está em Cristo, logo, sua carne não mais o controla. Não sejamos orgulhosos (5.26), quer pela vanglória de supostamente cumprir toda a Lei, quer pela libertinagem de achar que não precisa da Lei. Vivamos a liberdade que vem do Evangelho, evidenciando o fruto do Espírito a cada dia.