A formação do presbítero na igreja local

Texto-base: Atos 20.17-38

Cristo é o supremo pastor da igreja. Jesus, ao subir aos céus, não deixou a igreja aos meros cuidados de um grupo de pessoas. Ele continua pastoreando sua igreja através de presbíteros que ele mesmo constitui para si. Estes, por sua vez, não pastoreiam de acordo com sua própria visão, mas conforme a orientação dos apóstolos contidas nas Escrituras.

A princípio, o candidato a presbítero deve ter desejo pelo ofício, de modo que deve colocar esta intenção diante de Deus. Primeiro é preciso querer ser pastor. Segundo, outros pastores devem ver naquele que deseja todos os atributos e elementos básicos de um pastor. Pastores reconhecem aqueles que apresentam os requisitos do pastorado. Por fim, a igreja precisa reconhecer a vocação daquele que almeja o ofício pastoral.

Além disso, a igreja local deve ser comprometida com a formação de seus presbíteros. Ela não necessariamente deve prepará-los por meio do ensino, mas deve oferecer apoio à sua formação. E pastores devem ser responsáveis pela formação de seus presbíteros, de modo que essa missão não é exclusiva dos seminários e conferências.

Com base nisso, podemos retirar do texto lido alguns princípios para formação de presbíteros na igreja local. O trecho lido relata o fim da terceira viagem missionária de Paulo, que decidiu não parar em Éfeso, o que atrasaria a viagem até Jerusalém. Contudo, ele chama os presbíteros de Éfeso para irem até Mileto e ali ter uma última conversa com eles. Mas como surgiram os presbíteros daquela igreja? Ora, Paulo passou cerca de três anos formando presbíteros em Éfeso (20.31).

Ao chegarem, Paulo faz seu discurso. No início, ele ressalta seu testemunho (20.18-21). Ele dá ênfase ao fato de que os presbíteros tinham ciência do serviço de Paulo diante deles apesar de todas as dificuldades. Paulo não estava ali para servir a si mesmo ou a igreja; ele foi servir ao Senhor com humildade, de modo que todas as suas ações visam a glória de Deus. Ao servir à igreja, no fundo ele servia ao Senhor. A igreja está fadada ao fracasso se desejar um presbítero que a ame e esteja mais comprometido com ela do que com Cristo. Quanto mais o pastor amar a Deus, mais a igreja refletirá a experiência de imitar esse amor.

Apesar dessa humildade, Paulo também mostra que tudo isso ocorre em meio a lágrimas e tribulações. Um serviço a Deus sem segundas intenções não trará a famosa “felicidade ideal”. Os que se entregam aos cuidados do rebanho de Cristo sempre o farão em meio a lágrimas e provações. Contudo, observa-se no exemplo do apóstolo que ele estava comprometido a anunciar o Evangelho da maneira que fosse possível. Arrependimento e fé são frutos de uma pregação verdadeira.

Mesmo com todas as ciladas, ele não deixou de cumprir a obrigação de ensinar a palavra de Deus. Não podemos comparar Paulo a um empreendedor que procura desenvolver uma empresa, por exemplo. Ele sabe que o Evangelho exige um senso de urgência, e tudo faz compelido pelo Espírito de Deus. Mas, mesmo levado pelo Espírito, ele sabe que tribulações o aguardam. Paulo sabia que ter a direção do Espírito não era um escape das perseguições do diabo. Em tudo isso, ele demonstra a importância de não procurar seus próprios interesses, mas, sim, entregar a vida em serviço a Deus. Nós definimos nossas atividades com base no que julgamos precioso. Paulo prossegue ressaltando o foco de seu ministério: a graça de Cristo Jesus. Seu foco é testemunhar este Evangelho.

Não somente isso, aqui também vemos um dos aspectos mais relevantes do ministério pastoral: pastores são mortais e finitos (20.25). Paulo antecipa sua morte. A falta de consciência de finitude faz com que diversas sucessões pastorais sejam verdadeiras tragédias em igrejas. Mas como discernir se a missão foi cumprida se não a conhecemos?

Paulo expressa a consciência de dever cumprido. Ele fez o que lhe fora requerido. Ele deseja imprimir naqueles presbíteros uma consciência de que tribulações os acompanharão, a necessidade de lembrar que são finitos e que devem cumprir seu dever.

Após tudo isso, Paulo passa a exortá-los, algo típico entre amigos, pessoas próximas a ele. Ele os exorta ao cuidado e à vigilância. Eles deveriam cuidar não apenas deles mesmos, mas também do rebanho, lembrando que eles mesmos precisam ser cuidados por Jesus, que eles também dependem da graça de Deus assim como todos aqueles que estão ali na congregação. Os pastores devem ser alvo da própria pregação. A palavra que modela o povo é a mesma que molda o pregador. Eles também deveriam vigiar, pois a igreja sempre é ameaçada, tanto por ataques externos quanto internos. Um presbítero não pode tolerar o falso ensino na igreja, pois o falso Evangelho mata quem o recebe. É preciso lutar a cada dia para manter a igreja olhando para o Evangelho de Cristo.

Paulo finaliza com uma doação. Durante três anos, Paulo teve a responsabilidade de formá-los. Agora ele os entrega aos cuidados de Deus e à palavra de sua graça. Em todo o tempo, ele nada fez com cobiça, pois ela não permite que nos doemos. Falsos presbíteros são aqueles que tiram do povo o que lhes precisava ser dado. O presbítero é um espelho que reflete o princípio de que é perdendo que se ganha. Uma igreja só pode ser comprometida com a formação de seus presbíteros se ela for constituída de pastores doadores, principalmente de tempo.

Como a história termina? Com oração e com lágrimas de despedida. O modelo de Jesus e o ensino dos apóstolos fornece tudo o que é necessário para formar pastores. Técnicas de liderança e de relacionamentos pessoais não formam presbíteros. A igreja precisa desenvolver um amor pela formação de presbíteros, de modo que se alegrem quando um jovem candidato ao pastorado apresenta talvez seu primeiro sermão. Isso não acontece da noite para o dia, mas só ocorrerá se nosso coração reinar a imitação de Jesus. O que Paulo fez com aqueles presbíteros não foi diferente da obra de Jesus com seus discípulos. Jamais esqueçamos que a imitação faz parte da formação pastoral.