A importância de começar certo

Texto-base: 1Tm 1.18-20

Na passagem lida, Timóteo estava iniciando seu ministério e precisava de instruções. Paulo havia lhe dado uma missão: permanecer em Éfeso com o objetivo de não deixar que as pessoas ensinassem falsas doutrinas (1.3-7). Tais falsos mestres ensinavam um uso errado da lei de Deus dada a Moisés. O legalismo provavelmente foi o primeiro grande desafio doutrinário da igreja cristã. Como confrontar os judeus, povo a que foram confiados os oráculos de Deus?

Alguns cristãos haviam adotado a ideia de que se devia guardar a lei para serem salvos por Deus. Além disso, o povo de Éfeso passou a se interessar por fábulas, mitos e livros apócrifos. A função de Timóteo era demonstrar o uso correto da lei: não para salvação, mas para enquadrar pecadores, mostrando-lhes seus pecados. A conversão de Paulo era a prova concreta de que é pela graça que alguém é salvo, visto seus atos terríveis antes de ser convertido (1.12-17).

Em seguida, no fim do primeiro capítulo, Paulo apresenta a missão de Timóteo e como ele poderia cumpri-la. Baseado nesse trecho, podemos observar como jovens pastores podem começar seus ministérios de forma correta.

1. O dever de Timóteo (1.18)

Paulo fornece uma admoestação com autoridade. Em essência, Paulo “passa o bastão” para Timóteo, incubindo-o de guardar a Palavra e a tradição cristã. Além disso, tendo em vista o profundo afeto que tinha por Timóteo, Paulo não estava extrapolando sua autoridade apostólica, exercendo-a de forma amorosa.

Apesar de a carta ser destinada a Timóteo, tal carta deveria ser lida diante da igreja de Éfeso, de modo que ficasse claro que Timóteo possuía autoridade concedida por Paulo para pastorear aquela igreja, a qual deveria colaborar para tal. Deus concedeu à igreja pastores e presbíteros para governá-la. Aqueles que tomam o lugar de Cristo procurando ter toda a autoridade cometem um erro, mas também erram aqueles que não querem se submeter a alguma autoridade.

O dever de Timóteo, portanto, era combater o bom combate da fé. De imediato o ministério pastoral é definido como um combate. Não devemos esquecer que este ofício é uma verdadeira luta que envolve dimensões espirituais e terrenas. No caso de Timóteo, era preciso enfrentar falsos mestres que disseminavam erros. Exceto algumas situações, o Novo Testamento mostra-se implacável contra falsos mestres. Paulo também se mostra ciente de que há uma dimensão maior por trás desses ensinos, demônios que querem seduzir e desviar o povo de Deus. O pastor deve ter ciência de que não está discutindo apenas com pessoas inteligentes. Mas apesar de o combate ser árduo, vale a pena combatê-lo, pois o objetivo era preservar a verdade do Evangelho, salvar os efésios de heresias condenatórias e utilizar armas espirituais. Timóteo estaria lutando como discípulo do Senhor Jesus, o qual combateria ao seu lado.

2. Como desempenhar a missão (1.18-19)

Primeiro, segundo as profecias a respeito do ministério (1.18). É provável que algumas pessoas o encorajaram a ser pastor em diversas ocasiões. Relata-se que muitos irmãos davam bom testemunho de Timóteo. Além disso, Timóteo foi ordenado e consagrado mediante imposição de mãos do presbitério, de modo que ele não faria o trabalho sozinho, mas agora tinha autoridade para ensinar e pastorear associado ao corpo de Cristo. Tudo isso deveria encorajar Timóteo a perseverar nesse combate.

Deve-se ressaltar que isso ocorreu em um momento de transição da autoridade, de sorte que, hoje, tendo em vista toda a revelação das Escrituras, não são mais necessárias “revelações especiais” e “profetas” que muitas vezes contradizem a palavra de Deus. Em vez disso, deve-se buscar o conselho de pastores e irmãos mais experientes a fim de discernir chamado de Deus para a sua vida, que não necessariamente deve ser o chamado pastoral.

Segundo, Timóteo deveria guardar a fé (1.19), tanto no que se refere à doutrina verdadeira quanto à própria fé pessoal. O liberalismo ou progressismo teológico sempre tentará mudar e distorcer a fé, e ainda zombará daqueles que buscam guardá-la. Contudo, é requerido que os despenseiros de Deus sejam fiéis no que receberam.

Terceiro, ele deveria manter a boa consciência (1.19). A consciência é a voz interior de Deus no espírito humano. Ela é guiada pela norma da lei gravada no coração. Ela pode ser mortificada e endurecida pelo pecado. Contudo, ela é colocada em sintonia com a vontade de Deus quando renovada por meio da fé.

3. A advertência final (1.19-20)

Rejeitar a fé e a boa consciência leva ao naufrágio da fé. Rejeitar significa repelir com violência; é ignorar os avisos de Deus e enveredar por caminhos mortalmente errados e doutrinariamente falsos. O fim de um ministério não acontece do dia para a noite. Quando ocorre, o pastor certamente deixou de ouvir a voz da consciência e sente-se livre para fazer o que quer. Em geral, ocorrem os naufrágios moral, espiritual e doutrinário.

Paulo cita como exemplo dois pastores, Himeneu e Alexandre, que vieram a se tornar inimigos da fé e passaram a ensinar doutrinas ofensivas a Deus, verdadeiras blasfêmias. Qual foi a resposta de Paulo? Entregou-os a Satanás, provavelmente no sentido de expulsá-los da igreja, de modo que agora eles estavam à disposição de Satanás para serem tentados e coagidos a serem inimigos de Deus. Contudo, Paulo, por meio da disciplina, visa que eles parem de blasfemar, seja pelo arrependimento ou pelo castigo de Deus.

Algumas aplicações

As igrejas devem reconhecer a autoridade dos pastores que Deus concedeu ao seu povo. Enquanto os pastores forem fiéis à palavra de Deus, devem receber o carinho, a atenção e a obediência da igreja. O trabalho pastoral é um combate árduo. Contudo, Deus nos oferece encorajamento por meio de irmãos fiéis. O foco do pastor deve ser manter a fé, ensinando a Palavra e deixando que ela opere nos corações.