A importância de terminar bem

Texto-base: 2 Timóteo 4.6-8

Deus é quem sustenta seus eleitos para perseverarem na fé. Isso não significa dizer que servos fiéis não possam tropeçar e, por vezes, cair em grandes erros antes do fim da vida. Infelizmente, há um grande número de pastores que não terminaram bem seu ministério. Alguns abraçaram doutrinas estranhas, outros caem em escândalos morais e/ou sexuais, outros abandonam o ministério frustrados após anos de serviço.

É importante que os pastores terminem o ministério bem. Isso não significa sucesso numérico ou financeiro, mas em termos de fidelidade a Deus no ministério; é terminar reconhecido como alguém que serviu a Deus fielmente. Primeiro, como uma espécie de validação de tudo o que fizeram e ensinaram; segundo, para servir de exemplo para as próximas gerações; terceiro, para encorajar pastores que estão tentados a desistir ante às dificuldades. Terminar bem é mais importante que começar bem, pois o fim coroa toda a obra.

Paulo estava preso, já era velho, sabia que seu fim era próximo, e escrevia a fim de encorajar o seu filho na fé Timóteo. Por meio da carta, Paulo adianta o que ele queria lhe dizer: que ele se mantivesse fiel, que permanecesse pregando a Palavra em todo tempo e que fizesse a obra evangelística, cumprindo o ministério em sua totalidade (2Tm 4.5), assim como o apóstolo Paulo estava prestes a terminar o seu. Vejamos como Paulo enxerga o fim de seu ministério.

Primeiro, Paulo fala de sua vida como oferta de libação completamente derramada (v. 6). Libação era uma bebida forte derramada durante o sacrifício de animais no templo; fazia parte das cerimônias e rituais judaicos. Paulo vê sua vida como um sacrifício oferecido a Deus, derramada diante do altar de Cristo, e sua morte selaria o sacrifício de todo o ministério. Com sua morte, as amarras deste mundo seriam desfeitas, e ele poderia velejar livre rumo à Cidade Celestial. Paulo sabia que essa hora estava próxima, e ele ansiava pela partida, pois sabia que terminara bem. Quando terminamos bem, a morte ganha uma perspectiva especial, e tornamo-nos prontos para ir em direção a Cristo.

Em segundo lugar, Paulo crê que se manteve fiel nos anos em que serviu ao Senhor (v. 7). Paulo não teve sucesso como este é definido por muitos. Ali estava ele, considerado criminoso, abandonado inclusive pelos seus, porém firme até o fim naquilo que lhe foi dado por Deus. Ele fornece três metáforas para seu ministério: primeiro, como um difícil combate que chegara ao fim, algo que resume suas lutas na plantação de igrejas, na defesa contra falsos ensinamentos, na luta para manter a pureza do Evangelho; segundo, um corredor que completara sua corrida em meio a perseguição, fome, nudez, perigos, difamações, etc.; terceiro, um guarda que cumpriu sua missão de guardar algo — no caso de Paulo, a fé, a doutrina, o Evangelho de Cristo, como intérprete da pessoa e da obra de Cristo.

Por fim, Paulo fala de seu prêmio que o aguarda (v. 8). Ele havia terminado seu ministério, sabe que sua recompensa está guardada e, então, aguarda por ela. Como Reto Juiz, Cristo, no dia de sua vinda, reconhecerá que Paulo foi fiel em toda a sua obra, de modo que será coroado no último dia. Aqui vemos a soberania de Deus lado a lado com a responsabilidade humana. Apesar de Paulo ter realizado e concluído sua obra inteiramente pela graça de Deus, ele também havia desempenhado suas tarefas com zelo e temor, e o próprio Deus promete recompensar com justiça todos aqueles que foram fiéis até o fim.

Não creio que seja errado que pastores tenham essa expectativa no coração. Por vezes, é a única esperança de recompensa que resta — e a maior delas. A maior motivação deve ser escatológica, quanto ao dia em que Deus julgará a todos e recompensará os que lhe foram fiéis. Da mesma forma que os vencedores dos esportes recebiam uma coroa de louros do imperador, ele receberia uma coroa incorruptível das mãos do Juiz de toda a terra.

O que significa receber a coroa da justiça? Em minha compreensão, trata-se de uma recompensa concedida com justiça pelo reto juiz, reservada não apenas para Paulo, mas para todos aqueles que amam a sua vinda, para todos os ministros e crentes fiéis que fielmente aguardam o Grandioso e Glorioso Dia.

Para terminar bem como Paulo, é preciso começar bem agora. As declarações do apóstolo refletem uma vida inteira de dedicação. A libação era lentamente derramada em sacrifício; a corrida vence-se pouco a pouco. Jovens pastores deveriam ter essa meta para suas vidas; não somente querer ver sua igreja crescer, mas ser fiel até o fim. Além disso, falta pouco para terminarmos a jornada. A vida é curta, e, para os que já estão mais velhos, o final é a parte mais difícil. Conforme a idade avança, já não se prega mais como antes, já não se tem mais o mesmo vigor; as doenças batem à porta, a fraqueza física e mental fica cada vez maior; além disso, muitos começam a querer descartar os mais velhos.

Contudo, podemos lembrar que Jesus, da mesma forma que nos guardou na juventude e nos exerceu sua misericórdia, também permanece conosco até o fim da vida. Apesar disso, há muitos que caem no fim da jornada. O avanço da idade não é garantia de que as tentações ficaram mais brandas. Cuidado com as provações sexuais; cuidado com a depressão e a ansiedade, que se acentuam na fase final da vida; cuidado com a frouxidão e o amolecimento da fibra moral com casos que exigem firmeza para enfrentar o pecado; cuidado com o relaxamento das disciplinas espirituais; por fim, cuidado com a dificuldade em passar adiante o bastão. Como é bom transferir o ministério e os cuidados pastorais de forma pacífica para alguém que Deus levantou e capacitou para dar continuidade ao trabalho!

Lembre-se do que Deus requer de nós: “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Que Deus te conduza em segurança até o fim.