Fidelidade na pregação e aplicação da palavra

A aplicação é uma das partes mais difíceis de fazer quando um sermão é preparado. Não basta ensinar ao povo de Deus o significado da Palavra, é preciso aplicar a Palavra a suas vidas. E, para isso, é preciso ter certa experiência de vida piedosa, a fim de oferecer encorajamento útil ao povo de Deus. Se suas aplicações ainda não são as melhores, tenha paciência, pois, conforme você adquire vivência, saberá aplicar melhor a Palavra.

Contudo, a qualidade da aplicação também está fortemente relacionada ao modo como você estuda a Bíblia. A aplicação que você faz para você mesmo refletirá a aplicação que você levará para a igreja. Por isso, a pregação expositiva é um maravilhoso meio, pois, enquanto o pregador estuda e é moldado pela Palavra, assim ele poderá levar os ensinamentos à igreja. O pregador não está acima da palavra de Deus, mas debaixo dela. Ele é o primeiro a ser abençoado pelo estudo da Palavra, de modo que compartilha com a igreja o significado e a alegria da verdade bíblica.

Você já pensou por que a pregação é tão importante? Por que fazer isso todo domingo? Uma das respostas é dada por Paulo em 2 Timóteo 3.14-17: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Ou seja, estamos preocupados com o que Deus falou. Deus cria um povo para si a partir de sua Palavra.

Além disso, a palavra de Deus deve ser pregada todo domingo por quem Deus é. Deus é Espírito, e os que o adoram devem adorá-lo no Espírito e em verdade. Mas como fazer isso? Ora, conforme o próprio Deus ordena. E ele faz isso mediante sua Palavra. Uma das coisas que o ministro faz aos domingos é comunicar ao povo quem é Deus Espírito e como eles podem conhecê-lo e adorá-lo. É por isso que o pregador não pode falar suas próprias ideias, mas apenas as palavras proferidas por Deus, da mesma maneira que os profetas e apóstolos fizeram.

Então, pensemos um pouco sobre o que é um sermão. J.I. Packer disse: “Um sermão é uma declaração aplicatória na qual a palavra de Deus entrega, por meio do pregador, uma mensagem sobre Deus e a piedade, a partir de algum trecho bíblico, à congregação, para a glória de Deus”.

O sermão não pode ser apenas informativo, mas deve dizer o que fazer com a verdade ensinada. O sermão não é uma mera palestra sobre algum assunto religioso, mas uma declaração de alguma verdade com vista à aplicação. Além disso, vemos que não é o pregador que entrega a mensagem de Deus; é a palavra de Deus quem faz isso mediante o pregador. A palavra de Deus é viva, inspirada e soprada pelo próprio Deus. O que a Escritura diz, Deus diz. O pregador é o instrumento pelo qual a palavra de Deus é entregue; quem intermedia o encontro entre a palavra e o povo de Deus. A comunhão com Deus não pode ocorrer à parte de sua palavra; e, se o pregador não prega a palavra, não há comunhão. Deus nos torna crentes por sua palavra. O pregador não usa a palavra de Deus para entregar sua própria mensagem; a palavra de Deus usa o pregador para entregar a mensagem de Deus ao povo.

Essa mensagem consiste em quem Deus é e como podemos viver com ele. Devemos querer que a palavra de Deus alcance as pessoas. O pregador deve apenas proclamar a palavra, saindo do caminho e deixando as pessoas terem comunhão com Deus e sua palavra. Pastores, não somos mediadores entre Deus e seu povo, mas é a palavra de Deus quem faz isso. O melhor sermão é aquele em que as pessoas esquecem que estamos ali, pois estão extasiadas na glória do que Deus apresenta de si mesmo por meio do Livro Sagrado e de como os salva por meio de Cristo, de modo que as pessoas possam viver e morrer com ele. Os holofotes devem estar voltados para Deus, para Cristo e seu evangelho. Deus é o alvo de tudo.

Bem, se essa é a definição de pregação, como podemos aplicar a palavra de Deus ao seu povo? Permita-me fornecer cinco sugestões contidas em “Um Diretório para o Culto Público a Deus”, escrito pelos teólogos de Westminster em 1643. 

O pregador não deve se contentar em proferir doutrinas, mas deve aplicar para a vida das pessoas em sua vida cotidiana. Eis aqui cinco usos e ferramentas para aplicar qualquer passagem bíblica.

  1. O uso da instrução. No uso da informação, no conhecimento de alguma verdade, o pregador deve confirmar essa verdade a partir de argumentos do próprio texto ou de outros lugares da Escritura. As palavras da Escritura vêm da boca do próprio Deus, e por elas devemos viver (2Tm 3.16-17; Mt 4.4). Deve-se confirmar o sentido da palavra, de modo que creiam, com confiança, no que a palavra diz.
  2. O uso da refutação. Deve-se refutar falsas doutrinas. Na igreja primitiva, por exemplo, vemos diversas situações em que os apóstolos tiveram que refutar doutrinas erradas. Da mesma forma, haverá momentos em que o povo será tentado a crer em falsas doutrinas. Lembre-lhes, a partir da Escritura, de que devem rejeitar tais ensinos.
  3. O uso da exortação. Exorte as pessoas aos seus deveres. Não só isso, mas também deve-se mostrar como elas podem cumprir tais deveres. Os membros da igreja precisam da graça de Deus para viver a vida cristã, e a Escritura traz muito encorajamento para ajudá-los a obedecer.
  4. O uso da admoestação. Na admoestação, o pregador não deve descobrir a natureza e o tamanho do pecado, mas mostrar os perigos de cair em pecado, assim como o remédio para ele e como evitá-lo. Satanás os tentará a pecar e a não ter certeza da salvação, e eles precisam estar alerta.
  5. O uso da consolação. A palavra de Deus deve consolar seu povo, e eles precisam ser consolados a cada domingo. Em cada banco há um coração partido, e suas palavras, pregador, não podem restaurar um coração. Portanto, busque conforto para eles na palavra.

Que o Santo Deus ajude você a aplicar melhor sua Palavra.