Um blog do Ministério Fiel
Não despreze o Halloween
Está chegando o Halloween e com ele a angústia de muitos cristãos, principalmente pais que não sabem como lidar com os filhos que são convidados para participar de festas na escola, na vizinhança, etc. As preocupações são legítimas e muitas vezes, para não dizer na maioria das vezes, os pais querem blindar os seus filhos da cultura deste mundo. Entretanto, acredito que perdemos uma excelente oportunidade de fazer conexões significativas e aproximar nossos filhos e demais pessoas com a mensagem do evangelho.
Quando estudamos cosmovisão cristã, temos diante de nós alguns parâmetros que nos ajudam a fazer uma leitura mais sensível e honesta tanto da nossa cultura, quanto das interações que podemos ter com a cultura cristã. Olhar pelas lentes do cristianismo nos libertará de um cativeiro privado da fé e mais, nos mostrará que a nossa identidade cristã não é moldada pela cultura secular, mas pelo próprio Deus que nos deu vida juntamente em Cristo.
O próprio Jesus, aliás, foi quem disse em sua oração ao Pai que está registrada em João 17 que o Senhor não nos tirasse do mundo, mas nos livrasse do maligno. Ainda pediu ao Pai que nos santificasse na verdade, sendo a Sua Palavra a verdade. Pois bem, uma vez inseridos neste mundo, vivendo nesta era com todas as características de uma cultura que despreza o Senhor e sua Palavra, como podemos achar os pontos de conexões para pregar o evangelho?
Minha proposta é que avaliemos as nossas interações com as atividades seculares a partir daquilo que os autores que escrevem sobre cosmovisão sugerem: Rejeitar, Receber e Redimir. Uma vez que aplicamos este modelo avaliativo, conseguiremos interagir de forma intencional, uma interação que não se rende aos padrões do mundo, mas que exercer influencia e impacta a cultura secular através do evangelho.
Rejeitar: O que do Halloween eu, como cristão, preciso rejeitar? Primeiramente, precisamos falar sobre a origem do Halloween. A origem da festa é pagã e tinha como objetivo comemorar o fim do verão e o começo do novo ano Celta e suas colheitas. Por ser uma festa muito popular, houve uma aproximação por parte da Igreja Católica que, por sua vez mudou o calendário do Dia de Todos os Santos. Era 13 de Maio e foi para 1º de Novembro e assim as festas quase que se fundiram.
No dia 31 de Outubro as pessoas faziam alguns rituais para tentar conter a maldade dos mortos que, neste dia se encontravam entre o mundo espiritual e o mundo real, e destruíram tanto as pessoas quanto as colheitas. As pessoas faziam fogueiras, invocavam os mortos, acendiam velas e rezavam por famílias para que os espíritos não os perturbassem.
Pois bem, nós precisamos rejeitar este tipo de prática. Nós não temos motivos para invocar mortos, sermos aprisionados pelo medo ou fazer rituais para que os espíritos não venham a fazer algo de ruim a nós. Rejeitamos esta prática pois temos em nós a presença do Espírito Santo que nos guia na verdade, porque temos a certeza da Obra de Cristo na cruz como o único intermédio entre Deus e os homens e o único que venceu a morte e voltou à vida. Além disso, rejeitamos esta prática pois não precisamos invocar espíritos, visto que já temos livre acesso ao nosso Pai.
Receber: Além de sua origem e práticas pagãs, uma vez que o Halloween é uma data festejada em boa parte do mundo, naturalmente foram acrescentados novos elementos e formas de enxergar a festa. O próprio espírito “festivo” da comemoração é visto de outra forma nos dias de hoje. Pode ser que em alguns contextos não, mas provavelmente, quando você ou seu filho é convidado para essa festa, as pessoas não vão fazer fogueiras, invocar espíritos e fazer rituais desta natureza. Na maioria das vezes é mais um motivo para colocar as crianças para brincar e comer alguns doces. Acredito que, com muita sabedoria e de forma intencional, podemos sim interagir neste ambiente amistoso e criativo.
A nossa identidade em Cristo é o suficiente para entendermos que uma festa não vai mudar a minha vida. Hoje em dia, é mais fácil pessoas se perdendo em festas de casamento que, logo após uma cerimônia linda e abençoada, os noivos oferecem um verdadeiro altar para todo tipo de perversidade, do que participar de uma festa do Halloween com os amiguinhos da escola ou da vizinhança.
Eu sei que o argumento pode abrir precedentes para outro tipo de aproximação com a cultura secular, mas precisamos considerar as nossas interações. O apóstolo Paulo já disse que tudo é lícito, mas nem tudo convém. Desta forma, você precisa avaliar e ver se no seu contexto há pontos de conexões que vão gerar algum tipo de relacionamento que seja intencional. É uma boa oportunidade do cristão “sair da toca” e fazer amizades com outras pessoas a fim de testemunhar do amor de Deus para elas.
Redimir: Há um ponto de referência na fé cristã e este ponto é a criação de Deus. O Senhor nos criou com o propósito relacional, nos deu estrutura para vivermos estes relacionamentos e nos capacitou para desenvolvermos tudo que Ele colocou à nossa disposição para a Sua glória! O rumo que a história da humanidade tomou depois que Adão e Eva rejeitaram o Senhor, fez com que vivêssemos todos os efeitos da maldade na raça humana. Cristo é quem redime todas as coisas. A Obra de Cristo, planejada desde a eternidade e concretizada através da sua morte e ressurreição nos ajuda a olhar para este ponto de referência que é a criação, mas também a olhamos para frente, pois Ele nos dá nova vida e coloca o nosso olhar na eternidade.
Sendo assim, como posso redimir o Halloween? A festa em si, com suas tradições e origem pagã certamente não será redimida, mas ela gera conexões para falarmos do evangelho, para testemunharmos a nossa nova vida em Cristo e vivermos neste mundo quebrado, redimidos por Cristo e com esperança na eternidade.
Um amigo me contou que quando foi fazer o seu mestrado em teologia nos EUA a igreja em que ele servia tinha uma estratégia muito interessante nesta data. Ao invés de apenas rejeitar ou receber, eles olharam como uma oportunidade de redimir. Todo ano faziam uma festa do Halloween para toda comunidade e isso em si já gerava um impacto: “como assim, uma igreja fazendo uma festa dessa?”, “o cristão também pode participar?”. Nesta festa não tinha nada demais, não passava de uma festa com pessoas fantasiadas comendo e brincando.
Uma vez que quebraram este estereotipo, as pessoas que foram na festa voltavam no próximo domingo e quando chegavam lá, intencionalmente a igreja estava preparada para recebê-los e pregar o evangelho. Por uma simples intervenção como essa, muitas vidas foram transformadas por Cristo por meio da pregação da Sua Palavra.
Se o Halloween é culturalmente comemorado em quase todo o mundo, nós, como cristãos, precisamos lembrar e celebrar o dia 31 de Outubro como um marco na história da igreja e da sociedade. Precisamos celebrar, pois através de atos santos e corajosos de homens de Deus, hoje temos Bíblia em nossas mãos.
Em 31 de Outubro de 1517 Martinho Lutero afixou as 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha. Do ponto de vista teológico, a Reforma Protestante tratou de três questões fundamentais afirmando que Cristo e não o papa é a autoridade suprema da Igreja, que a Bíblia e não a tradição é a autoridade sobre o cristão e que a salvação não se compra, não há necessidade de indulgencias, mas somente a fé em Cristo.
O mundo foi impactado com os frutos da reforma em todas as áreas como literatura, música, arte e educação, sendo berço para que a sociedade desenvolvesse diversas competências ao longo dos anos.
Neste Halloween, use tudo que você tem a sua disposição para mostrar seja para os seus filhos ou para outros que Somente a Fé, somente as Escrituras, Somente a Graça, Somente Cristo e Somente a Glória de Deus que nos leva a festejar a vida do Santo Senhor que nos libertou e nos santifica.
Por fim, Não deixe que o grito de medo dessa festa abafe o grito santo e corajoso da Reforma. Não rejeite e receba acriticamente esta data, mas aproveite esta excelente oportunidade para se divertir, comer doces e claro, de forma intencional gerar conexões importantes para testemunhar e ensinar sobre a fé em Cristo.