Na parábola das dez virgens, Jesus incentivou a poligamia?

Transcrição do Áudio

Jesus celebrou a poligamia? Essa é uma pergunta interessante de uma ouvinte chamada Amy. “Olá, pastor John! Sei que em episódios anteriores o senhor falou contra a poligamia, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha: se Jesus era contra a poligamia, por que ele usa a parábola das dez virgens em Mateus 26.1–13? Por que Jesus usa essa parábola, se ter várias esposas é algo imoral?”

Dez virgens e suas lâmpadas

Vamos ler a parábola:

Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo. Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas. E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram.

Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o.

E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora. (Mateus 25.1-13)

Essa última frase é a aplicação de Jesus para a parábola.

Damas de honra, não noivas

A pergunta da Amy foi a seguinte: “Se Jesus era contra a poligamia, por que ele usa a parábola das dez virgens?”. Vou supor que Amy fez essa pergunta porque pensa que as dez virgens estão esperando o noivo para se casar com ele quando ele vier. Talvez ela tenha sido levada a essa interpretação porque nenhuma outra noiva é mencionada na parábola. A noiva nunca é mencionada. Mas a suposição da Amy não é necessária, nem é provável, como ela mesma parece acreditar.

Primeiro, Jesus é claro com relação ao que ele pensa sobre o casamento, algo enraizado no padrão de Deus para Adão e Eva em Gênesis 2. Em Mateus 19.4, referindo-se à passagem de Gênesis 2.24, ele diz: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (Mateus 19.4–5).

É muito mais provável que devamos enxergar essas dez virgens como o que chamamos hoje de damas de honra. Não sabemos os detalhes de como eram os casamentos entre os judeus naqueles dias, mas é fácil imaginar que a noiva está na casa, aguardando a festa em privado, ainda sem ser vista. E a primeira tarefa das damas de honra é ir até o noivo e em grande festa conduzi-lo até onde a noiva está esperando.

Nesse ponto, destaco um bom princípio a se aprender sobre as parábolas. Cuidado ao deixar que detalhes imaginários das parábolas assumam um significado que contradiz o claro ensinamento de Jesus em outra ocasião. Parábolas não são esse tipo de ensino. Elas são ilustrações verbais a fim de chegar a uma lição. Mas nem todo detalhe da ilustração deve produzir uma lição separada. Permita-me ilustrar, a partir dessa mesma parábola, esse princípio que creio ser muito valioso.

Atenção à vinda dele

Essa parábola termina com uma afirmação de aplicação muito clara. Jesus diz: “Portanto” — eu acabei de contar a história, então aqui está a conclusão — “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mateus 25.13). Ele compara a vinda de Jesus pela segunda vez com a vinda do noivo à noite. Elas não sabiam em que horário ele viria. Ele diz: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora”.

A lição que devemos tirar das cinco virgens néscias que ficaram sem azeite e das cinco virgens prudentes que prepararam azeite extra é a seguinte: vigie para que a segunda vinda do Senhor não pegue você com a guarda baixa. Mas o que significa vigiar?

Todas as dez estavam dormindo; todas elas. As virgens prudentes estavam dormindo e não foram criticadas por isso. Todas as dez estavam dormindo. Se você acha que “vigiar” significa ir até a janela e olhar para o céu para ver se Jesus está próximo de vir, você não entendeu o que “vigiar” significa aqui, nem essas cinco virgens prudentes que estão dormindo. Elas estão vigiando com prudência.

O que significa “vigiar”? Elas são prudentes. Elas vigiam da forma que podem. Não significa que deviam ficar acordadas a noite toda. Não, mas significa que deviam estar alertas ao chamado. Esteja alerta ao seu chamado. Esteja alerta à vigilância que você deve ter na sua vida espiritual. “Vigiar” não significa que você não deve dormir. Você não deve deixar de se avaliar com relação a todos os recursos espirituais de que precisará para perseverar em seu chamado e em seu dever até a volta de Jesus. O objetivo é que ele encontre você cumprindo seu dever, ou seja, estar pronto para encontrá-lo quando ele vier, com o dever cumprido.

Sempre prontos

Nessa parábola, o dever era honrar o noivo por meio de um grande acolhimento e conduzi-lo à celebração na qual poderia jantar com sua esposa. Não importa se você dormiu, desde que tenha todos os recursos de que precisará quando acordar e que faça o que tem de fazer. No final, quando ele diz para vigiar, vigilância é vida espiritual, vitalidade, prontidão e cuidado.

A parábola não se refere à poligamia ou monogamia. Tampouco se refere ao casamento. Ela se refere ao significado de viver à luz da segunda vinda com vitalidade e vigilância espiritual, sempre prontos para sermos encontrados cumprindo nosso dever quando ele vier.

Por: John Piper. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Did Jesus Endorse Polygamy in the Parable of the Ten Virgins?

Original: Na parábola das dez virgens, Jesus incentivou a poligamia? © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Renan A. Monteiro. Revisão: Filipe Castelo Branco. Ministério Fiel. Narração: Filipe Castelo Branco e Thiago Guerra.