Animais de estimação vão para o céu?

Transcrição do Áudio

Durante uma aparição pública em 2015, o Papa Francisco confortou um menino cujo cachorro havia acabado de morrer, dizendo: “Um dia, veremos nossos animais novamente na eternidade. O paraíso está aberto a todas as criaturas de Deus”. Em 1990, o Papa João Paulo II disse que os animais têm alma, mas o Papa Bento XVI deu um sermão em 2008 que parecia dizer o contrário. Então vamos esclarecer essa polêmica dos papas, Pastor John. O que você diz? Animais de estimação vão para o céu?

Palavras ambíguas 

Primeiro me permita dizer algo sobre as palavras dos papas – sim, os papas, no plural. Todos eles são parcialmente ambíguos. “O paraíso está aberto a todas as criaturas de Deus.” Ele quer dizer que todos estarão lá? Eu duvido, porque o diabo não vai estar lá. Ele é uma criatura. Então isso não está certo.

“Aberto a todas as criaturas de Deus.” O que isso significa? Ele parece esclarecer ao dizer: “Veremos nossos animais novamente na eternidade”. Não tenho certeza do que ele quer dizer com isso. Ele deixou certa ambiguidade.

Então o Papa João Paulo II disse que os animais têm alma. Isso me parece ambíguo, porque o papa conhece o hebraico. Nephesh, a palavra que geralmente é traduzida como “alma”, também é traduzida como “ser vivo”. Assim, qualquer ser com fôlego e sangue no Antigo Testamento se distingue das plantas. Ele tem vida. O Antigo Testamento nem pensava que plantas tinham vida porque elas não têm fôlego. As plantas não tinham sangue nesse sentido. Assim, os seres que respiram e têm sangue corrente tinham nephesh, que geralmente é traduzido como “alma”.

Não significa alma como estamos acostumados a falar do ser humano, que tem uma alma à imagem de Deus. Então, francamente, não tenho certeza do que os papas queriam dizer. As palavras deles me parecem incertas, e faremos melhor afirmando o que a Bíblia diz, então refletiremos sobre isso.

Unicamente Homem

Quando Deus criou o mundo, a criação do homem foi separada da criação dos animais como única no sexto dia. Ela é descrita como Deus nos criando à sua imagem (Gn 1.26-27). Assim, a alma do homem é diferente do sangue corrente e do fôlego de vida encontrados nos animais.

O homem é único e deve ter um destino único. Quando o Filho de Deus entra na história, vem como ser humano, não como animal. E ele salva pessoas. E ele conforma seres humanos à sua própria natureza como o Deus-homem, não o Deus-animal.

Pela criação e redenção – ou seja, pelas palavras de Gênesis no princípio, e pelas palavras da encarnação –, Deus confere ao homem o privilégio de ser criado à sua imagem, redimido para fazer parte da própria família de Deus, tornando Cristo o irmão mais velho desta única raça de seres chamados humanos.

Animais que perecem

Eu realmente quero enfatizar a total distinção entre humanos e animais como a Bíblia o faz. Os animais são diferentes de nós e são concebidos na Bíblia como não tendo capacidades únicas que lhes permitam ter um relacionamento pessoal com Deus. Eles não podem ter isso como nós temos.

Veja o que diz Salmos 32.9: “Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados”. Em outras palavras, quando o salmista quer ilustrar a perda da capacidade de pensamento que distingue o ser humano, ele usa os animais como ilustração.

Eles não têm isso. Os animais são diferentes do homem porque simplesmente perecem. Não há nenhum pensamento de que eles estejam no reino dos mortos – no Sheol, como os humanos – com um futuro. No Antigo Testamento, embora não houvesse a visão mais clara da vida eterna, a fé bíblica sempre considerou que o homem não apenas pereceria, mas teria um futuro além da vida aqui. Mas os animais simplesmente perecem (Salmo 49.12).

Alimento para o estômago

Os animais, todos eles, são vistos em relação ao homem como alimento. Isso é incrível. Acabei de ler isso em meu devocional. Por isso pensei nisso. Essa é uma evidência crucial do papel que os animais têm na criação de Deus.

Em Gênesis 9, veja o que Deus diz a Noé após o dilúvio: “Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora” (Gn 9.2-3).

“Todo ser vivo é alimento para você.” Será que tem como ser mais claro? Humanos e animais estão em duas categorias totalmente distintas. Um é imagem de Deus, e o outro alimenta aqueles que são imagem de Deus. E ele diz: “Como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora [como alimento]” (Gn 9.3). Na mente de Deus, existe o homem, e existe todos os outros seres vivos. Há homem, e há comida para o homem. É difícil ser sentimental sobre isso. É uma distinção absoluta e qualitativa entre homem e animal.

Então, se há alguma possibilidade de que os animais estarão nos novos céus e na nova terra, isso não se baseia em serem como nós, ou por terem uma alma, ou por serem fofos e amáveis, ou por estar na mesma categoria que nós. O homem é único. O homem é a imagem de Deus. O homem é o foco da salvação através do Deus-homem, Jesus Cristo.

Animais no céu

A probabilidade de existir animais na era vindoura – sim, acho que é uma probabilidade – se baseia em Isaías 11 e Isaías 65. Veja o que dizem, e vá anotando os animais:

“O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor , como as águas cobrem o mar.” (Is 11.6–9)

“O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” (Is 65.25)

Contei dez animais nessa descrição da era vindoura. Bom, você pode tomar tudo isso como imagens simbólicas de paz, mas me parece uma maneira muito estranha de falar se não for literal. Acho estranho dizer: “Nenhum animal estará lá, mas vamos usar animais para ilustrar a paz humana”. Me parece que eles realmente vão estar lá.

A razão de eu levar esses textos tão a sério é que, quando faço algumas perguntas, recebo uma certa resposta. A pergunta é a seguinte: Deus criou um grupo de seres apenas para destruí-los no final – um grupo inteiro, como os animais? “Vamos ter animais na história, mas nenhum na eternidade.” Eu duvido.

Será que Deus criou uma diversidade incrível no reino animal apenas para simplificar tudo, livrando-se dessa diversidade na era vindoura? Será que ele deseja que você fique impressionado e maravilhado pela diversidade de Deus na criação, mas que não adore assim na era por vir? Tudo isso se foi? Eu duvido disso.

Assim me parece, a partir desses dois textos e desses dois princípios, que haverá animais na era por vir.

Animais de estimação no céu

Agora, por último, no que diz respeito a animais de estimação específicos sendo ressuscitados dos mortos, acredito que seria pura especulação.

O único ponto bíblico que pode fazer você pensar assim é que Deus pretende que você seja totalmente feliz com esse animalzinho. Se a presença desse animal de estimação é essencial para você conhecer e amar a Deus dessa maneira, suspeito que ele estará lá. Isso é o que eu diria a uma criança de quatro anos.

Por outro lado, para uma mulher de 15 ou 35 anos, ou uma senhora de 85 anos que acabou de perder seu gato, eu diria que é espiritualmente perigoso cultivar um amor por um animal que tem um lugar tão proeminente em seu coração, a ponto de achar que precisa dele para a eternidade.

Por: John Piper. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Do Pets Go to Heaven?

Original: Animais de estimação vão para o céu? © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Raissa Havens. Revisão: Renan A. Monteiro. Ministério Fiel. Narração: Filipe Castelo Branco e Thiago Guerra.