Escolha a boa parte

Uma das muitas necessidades deste mundo

Algumas delas podem ser a vida moderna, algumas podem ser apenas a vida humana repleta de confusãocomplexidade incerteza. Mais informações do que a mente pode processar. Mais opções que nossa capacidade de escolha. Mais acontecimentos do que podemos realmente processar ou aprender.

Nós somos humanos, e não Deus. E as complicações e preocupações do mundo e da nossa vida cotidiana fazem-nos lembrar disso continuamente. Contudo, mesmo no mar de incertezas e complexidades que nos humilham, e mesmo quando humilhados debaixo da mão de Deus perante elas (1 Pedro 5.6), Deus não quer com isto que permaneçamos sempre desorientados. Talvez haja benefício em alguma desorientação. Mas Deus também deseja que nos reorientemos. Viver nesta era atual é aprender ritmos cheios de confusão e clareza, complexidade e simplicidade, sendo desorientados e, depois, maravilhosa e preciosamente reorientados.

Em vidas sobrecarregadas de muitas coisas, Deus nos faz lembrar de uma só coisa. As Escrituras nos fortalecem com algo que merece nossa atenção e reorienta nossa alma quando ela começa a vagar. Talvez você possa usar esse lembrete agora mesmo. Eu mesmo preciso dele com frequência.

Então, qual é essa única coisa que está pronta para nos firmar? Podemos ouvi-la nos Salmos, nas cartas de Paulo e na voz de Cristo através dos Evangelhos; uma resposta essencialmente harmônica de três partes.

Davi fala sobre o Senhor

Primeiro, ouça o canto do grande rei Davi, o maior dos muitos reis do povo da primeira aliança de Deus. Ele canta no Salmo 27.4:

Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo”.

Então, essa “uma coisa” pedida por Davi é: “morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida”, o que pode parecer estranho a princípio. Essa seria a única coisa que ele procura? Isso merece um interesse tão especial? O que ele quer dizer com isso?Na frase seguinte, Davi nos diz por que ele quer “morar na Casa do Senhor”: ele deseja “contemplar a beleza do SENHOR”. Em outras palavras, este não é um desejo obscuro. Essa “uma coisa” é, de fato, um anseio digno de atenção. Ele quer ver Deus em toda a sua glória. A casa do Senhor é o lugar onde o Senhor está. Nesse caso, Davi não quer apenas visitar, mas morar lá. E não apenas por um breve momento, mas por todos os dias de sua vida.

Davi se importa pouco com tijolo e cimento; ele quer estar perto do próprio Deus. O desejo de Davi é conhecer Deus e se contentar em Deus para sempre. Ele anseia por um vislumbre do próprio Deus em seu esplendor e majestade; conhecer verdadeiramente o Deus que é, maravilhar-se com ele e conhecê-lo; ouvir Deus falar e poder responder num relacionamento com ele, permanecendo ali, com Deus

Assim, para Davi, a única coisa que importa não é “uma coisa”, mas um “quem”. É o próprio Deus. Em meio às ameaças de inimigos que conspiram contra ele, às complexidades do governo de uma nação e às preocupações com sua própria família e amigos, Davi se reorienta com uma coisa: ele quer ver, conhecer,desfrutar e adorar a Deus. Ele se reorienta em torno de Deus. A busca por Deus como a grande busca abrangente de sua vida dá ao rei clareza, estabilidade e sabedoria à medida que ele assume e cumpre seu chamado nas complexidades e incertezas cotidianas da vida.

Paulo fala de Cristo

Agora observe a carta do apóstolo Paulo, no primeiro século, dirigida à igreja em Filipos, e leia o que ele rabiscou no pergaminho. Aqui Paulo escreve, como Davi cantou, com uma singularidade maravilhosamente esclarecedora de propósito e chamado, mesmo em meio a tensões complicadas dentro e fora da igreja.

No início da carta, ele escreve sobre sua “ardente expectativa e esperança (…) [de que] com toda ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer pela morte” (Filipenses 1.20). Ele explica:“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21).Cristo será honrado pela morte de Paulo, nesse caso, quando Paulo compara todas as perdas que a morte traz com o ganho de estar na presença imediata de Cristo, e ele se volta para Cristo e diz: “Lucro!”. Assim, essa singularidade de desejo e concentração será vista quando Paulo permanecer por enquanto na carne, e significará “viver é Cristo”, algo que ele explica com mais detalhes no clímax de sua carta.

Assim também foi com Davi muito antes. Paulo aponta para conhecer a Deus – agora expresso como conhecê-lo em seu Filho, Jesus Cristo – como a busca que supera todas as outras: “(Filipenses 3.8). Paulo anseia por “ganhar a Cristo e ser achado nele” (Filipenses 3.8–9). E novamente, no versículo 10, ele diz que quer “conhecê-lo” – e acrescenta “o poder da sua ressurreição” (Filipenses 3:10). Paulo anseia “por todos os meios possíveis” (…) “alcançar a ressurreição dos mortos” (Filipenses 3.11) para que ele, como Davi, possa habitar na casa do Senhor todos os dias de sua vida, e estar na presença imediata do próprio Deus em Cristo.

Paulo então esclarece: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Filipenses 3.12). Primeiro, Paulo foi tomado por Jesus; agora, Paulo, vivificado em Jesus, prossegue para ganhá-lo. Em seguida, vem sua “única coisa”, então ele diz:

“Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3.13-14).

Em um mundo onde as sirenes chamam de todos os lados, Paulo abafa todas elas para ouvir uma grande voz, e apenas uma, que está acima de todas: o chamado superior de Deus em Cristo Jesus. Este único chamado, este único foco, este único anseio é o que define sua direção na pessoa de Cristo, conhecer e desfrutar Deus em Cristo. Esta única coisa lhe dá clareza, estabilidade e uma medida de certeza para firmar sua alma e manter sua pés se movendo mesmo em conflitos e aflições que tentem lhe desestimular.

Jesus me diz

Finalmente, chegamos à longa e sinuosa estrada da Galileia a Jerusalém. Ouça a voz de Jesus. Davi canta sobre o próprio Deus. Paulo escreve sobre o próprio Deus em Cristo. Mas e o próprio Cristo? Qual seria sua “única coisa” para a qual ele nos direcionaria?

A caminho de Jerusalém para morrer, Jesus chegou à aldeia de Maria e Marta. Maria, é claro, “quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.” (Lucas 10.39), enquanto Marta estava “ocupada em muitos serviços” (Lucas 10.40). Marta pensou que ela fazia a coisa mais notável, nas tantas coisas que tentava equilibrar, mas estava deixando de lado o mais importante: o próprio Cristo. “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10.41-42).

Jesus corajosa, mas humildemente, identifica-se com “a boa parte” – e não apenas com Marta. Ao continuar sua jornada para Jerusalém, ele contaria a um rico e jovem governante, que parecia ter tudo, mas lhe faltava uma única coisa – a única coisa que era a mais importante de todas. Não importa se ele diz ter guardado os mandamentos de Deus: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me” (Lucas 18.22).

O que é essa “uma coisa” que me falta? Sou “Eu”. “Segue-me.” O que está impedindo o caminho da “única coisa” são as muitas coisas que você possui: sua confiança no cumprimento dos mandamentos e sua confiança em suas riquezas. Então, venda o que você tem, dê aos pobres venha e siga-me, disse Jesus.

O próprio Jesus é a única coisa que faltava a este jovem rico. E aqui está ele, bem diante dos olhos deste homem, oferecendo-se a ele, basta desapegar-se das muitas coisas que possui, abrir as mãos e abraçar Jesus.

Uma dentre tantas

Então, ouça Davi cantando. Leia as palavras escritas de Paulo. E ouça a voz direta, gentil e confiante do próprio Cristo dizendo “uma coisa”. Não se esqueça da única coisa. Não negligencie essa única coisa.

Em nossas vidas tão cheias, tão bombardeadas, tão distraídas com tantas coisas, lembre-se do foco singular de Davi, de Paulo e do próprio Jesus. Escolha “a boa parte”, e esta não lhe será tirada.

Por: David Mathis. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Choose the Good Portion: One Necessity in a World of Many.

Original: Escolha a boa parte: uma das muitas necessidades deste mundo. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Hugo J. P. Ribeiro. Revisão: Renan A. Monteiro.