Um blog do Ministério Fiel
Você foi feito para se divertir
Cinco razões por que Deus nos criou para a recreação
Crianças riem e brincam com cachorros e hamsters. Meninos e meninas rodopiam dançam na chuva, brincam na lama, nadam em piscinas públicas durante o verão e rolam na neve no inverno. Brincam de pega-pega e esconde-esconde, correndo de um lado para o outro.
Muitas vezes, para se divertir é preciso mais que um jogo de futebol, beisebol ou basquete. Nossas crianças jogam esportes organizados. E, por diversão, comparecemos e assistimos a jogos, de atletas amadores e profissionais, em grandes estádios e também na televisão.
A diversão não é uma fase limitada às crianças. Os adultos têm seus próprios métodos: piscinas, lagos, praias e ligas amadoras de boliche. Por alguma razão, caça e pesca são considerados esportes. Além disso, maridos e esposas saudáveis com frequência “se divertem juntos” (Gênesis 26.8, A21).
A diversão não é um produto de uma cultura particular. Deus programou a diversão como algo presente em todas as sociedades e culturas, como o impulso natural de correr, rodopiar e rir que aprendemos a expressar antes mesmo de aprender a falar ou ler. Essa expressão de corridas, rodopios e risos naturalmente expressa o padrão criativo de Deus em suas criaturas.
Animais, crianças e adultos: todos fomos feitos para brincar e se divertir. Animais selvagens brincam na floresta (Jó 40.20). O Leviatã se diverte nas águas (Salmos 104.26). Davi, durante a adoração, se diverte de formas que você jamais veria em nossos cultos menos expressivos de domingo (2 Samuel 6.14). E as praças de Sião “se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão”, e quando se cansarem, brincarão nos campos caçando cobras (Zacarias 8.5, Isaías 11.8).
No princípio
Suspeito que a aparente futilidade da recreação assusta aqueles que pensam seriamente sobre o assunto; isso é lamentável, porque, quando falamos de recreação, falamos de algo profundamente enraizado na criação de Deus.
Quando fixava ao mar o seu limite,
para que as águas não traspassassem os seus limites;
quando compunha os fundamentos da terra;
então, eu estava com ele e era seu arquiteto,
dia após dia, eu era as suas delícias,
folgando perante ele em todo o tempo;
regozijando-me no seu mundo habitável
e achando as minhas delícias com os filhos dos homens. (Provérbios 8:29-31)
Esse interlúdio poético nos leva de volta ao drama triúno da criação na alegria da recreação, que é melhor interpretada como um rodopio.
Aqui somos apresentados a dois personagens: “ele”, uma figura paterna (o SENHOR) e criadora, e “eu”, uma criança aos pés dele; talvez um co-artesão, com certeza um alvo do prazer do pai. Há duas maneiras de enxergar a criança que rodopia.
Cristo pré-encarnado ou metáfora da Sabedoria?
O personagem Sabedoria aqui apresentado é um vislumbre de Cristo? Considere quatro aspectos que apontam nessa direção.
Primeiro, alguns comentaristas como Roland Murphy ressaltam o par “eu estava” e “eu era” no versículo 30, que sugere essa figura infantil é divina. Segundo, comentaristas apontam o prazer de Deus no personagem Sabedoria, que ecoa o prazer do Pai no Filho (e vice-versa) observado nos evangelhos. Terceiro, muitos comentaristas sugerem que Provérbios 8.22-31 é o pano de fundo para a cristologia de Paulo em Colossenses 1.15-17. Quarto, comentaristas também conectam a Sabedoria aqui personificada ao Logos em João 1.1-5, que é Cristo.
Em seu ato de criação em Provérbios, essa figura pré-encarnada e semelhante a Cristo está na presença de seu Pai enquanto, juntos, desdobram a criação em uma mistura de artesanato, arte e recreação. Se esse for o caso, se o Cristo pré-encarnado está na gênese do cosmos, ele participa da história, não apenas como um observador, mas como mestre construtor, trabalhando enquanto canta e dança com alegria, como uma criança que rodopia, emocionado com o desdobramento das maravilhas da criação, algo que o faz deleitar-se nas pessoas criadas.
Mas essa interpretação cristológica é inconclusiva. Outros comentaristas mais cuidadosos sugerem que o “ele” é Deus, mas o “eu” não deve ser visto como algo além de uma personagem feminina; uma forma jovem e infantil da Sabedoria personificada, e não mais que isso.
Cinco maneiras de se divertir
É possível debater tudo isso, mas menos discutível é a proximidade da recreação no relato da criação em Provérbios 8.29-31. Vemos isso de, pelo menos, cinco maneiras.
1. A recreação é criacional
A diversão encontra seu lugar no próprio ato de criação. A criação é o faz-de-conta que realmente faz; uma diversão que cria. A natureza holística da diversão talvez seja melhor expressada em um hino de Gregório de Nazianzo, que retoma a relação Sabedoria-Logos quando escreve: “O elevado Logos se alegra ao conduzir todo o cosmos como lhe apraz a formas de todos os tipos”.
Divertir-se não é mera futilidade; é algo que faz parte da criação.
2. A recreação é produtiva
Lembramos a repetição de “Viu Deus que isso era bom” em Gênesis 1 no exame da criação, e podemos imaginar, à luz de Provérbios 8, esse “Isso é bom” proferido em tom alegre e divertido. Não se trata de um funcionário de controle de qualidade, impassível no final de uma esteira rolante, procurando itens defeituosos. Eis aqui o Criador de todas as coisas olhando sua criação com prazer.
Sim, nossas obras agora estão sob a maldição do pecado, e a obra de Deus não estava. Mas nós, adultos, tendemos a divorciar o ofício da diversão; porém, no início da criação, os vemos intimamente ligados à atividade de Deus. Tal realidade pede que todos nós, adultos, consideremos se nossa responsabilidade de produzir perdeu seu poder porque não podemos mais nos divertir enquanto trabalhamos. Somos sérios demais para fazer como Deus fez?
3. A recreação é relacional
A interação entre o “ele” e o “eu” – seja qual for a interpretação quanto aos personagens – revela uma relação mediada na diversão. Esse é o contexto do relacionamento à medida que a criação se desenrola.
A diversão tem sido, desde o início, uma excelente forma de conexão entre as pessoas, mesmo no nível divino, seja na Trindade Santa ou em seu relacionamento com a Sabedoria personificada. E quando Deus se deleita em você, como você pode não se divertir e se alegrar diante dele?
4. A recreação é restritiva
A diversão é provocada pelos limites. Se livrar da infantilidade não é se livrar da diversão, e sim da tolice (1 Coríntios 13.11-12). Ser totalmente sábio – incorporar a Sabedoria – é ser capaz de se divertir de maneira apropriada.
Os limites éticos da sabedoria desencadeiam nossa diversão. Os esportes são mais agradáveis quando as regras e os limites são claramente demarcados e aplicados de forma justa. Assistir a um belo gol de falta que vence a barreira, ou uma cesta de três pontos, ou um home-run, é emocionante por causa da restrição imposta.
A diversão floresce dentro de limites claros. É por isso que, como G.K. Chesterton comenta, “as crianças sempre brincam no limite de qualquer coisa”. Tolos são hipócritas que fazem de conta fora dos limites. A alma honesta é sábia porque sabe que a melhor diversão está dentro dos parâmetros da vontade de Deus. Ninguém se diverte melhor do que a Sabedoria.
5. A recreação é imortal
Quando o tempo começou, a diversão já existia. Ela teve início na presença de Deus, talvez no próprio Deus triúno. A alegria da diversão antecede o tempo e a criação. Se há rodopios e risos em esportes, recreações e corridas na lama ou na chuva, não é porque o cenário fez a diversão, e sim porque os cenários da vida dão expressão ao desejo primordial de se divertir inerente a todos nós e ao nosso mundo; é algo concedido pelo próprio Deus.
A diversão pode se tornar fútil, mas não é fútil. Divertir-se e se alegrar é divino. Deus não apenas criou a diversão, mas podemos dizer que o ato de criação foi, em certo sentido, um ato de diversão em si. A diversão é criacional, produtiva, relacional, restritiva e imortal. O cosmos foi criado em um ato de alegria e diversão, e foi criado para se divertir, como um grande estádio para o nosso esporte. E, de fato, você foi feito para se divertir.