Meu tempo está em tuas mãos

Aprendendo a confiar na velocidade de Deus

Você sabia que sua cabeça envelhece mais rápido que seus pés? Os cientistas têm confirmado isso, provando novamente que Albert Einstein estava certo em sua teoria da relatividade: a velocidade do tempo é relativa a um determinado referencial. Para nós, seres terrestres, esse referencial é a força gravitacional da terra. Quanto mais distante da terra algo está, mais fraca é a atração gravitacional e mais rápido o tempo se move.

Uma implicação disso é que frequentemente colocamos nossa confiança em um referencial de tempo diferente daquele que experimentamos. Por exemplo, o Sistema de Posicionamento Global (GPS – sigla em inglês) em que confiamos para nos guiar com precisão e segurança enquanto pilotamos carros, navios, aviões e espaçonaves, só funciona porque é programado e baseado na teoria da relatividade de Einstein, a fim de compensar a distância entre terra e espaço. Sem essas fórmulas, nossos computadores e celulares logo ficariam desastrosamente fora de sincronia com os satélites GPS, que orbitam em um tempo diferente.

Fique comigo; vamos chegar em algum lugar. A forma como sentimos o tempo depende do nosso referencial. E nosso referencial particular nem sempre é aquele em que devemos confiar. Na verdade, às vezes é extremamente importante confiarmos em outro referencial mais do que no nosso.

Um dia com o Senhor

Para os cristãos, esse conceito não é nada novo. Mais de três milênios atrás, Moisés escreveu:

“Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite” (Sl 90.4).

E cerca de dois milênios atrás, Pedro escreveu:

“Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia.” (2Pe 3.8).

Em outras palavras, o tempo, aos olhos de Deus, se move em velocidades diferentes do tempo aos nossos olhos. E na vida de fé, é criticamente importante que aprendamos a confiar no tempo de Deus mais do que no nosso para aprendermos a confiar na velocidade de Deus.

Até quando, ó Senhor?

Aprender a confiar no tempo de Deus não é fácil, para dizer o mínimo. Isso se deve, em parte, ao nosso pecado e à nossa incredulidade. Mas é, também, porque confiar em um quadro de referência diferente do nosso é, por definição, contraintuitivo. Uma vez que não conseguimos calcular o tempo de Deus, o tempo dele geralmente não faz sentido para nós.

É por isso que, após Pedro descrever que um dia de Deus é como mil anos para nós, ele continuou dizendo: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada” (2Pe 3.9). Os “alguns” a que ele se referiu eram “zombadores” que zombavam da esperança dos cristãos na volta de Cristo (2Pe 3.3-4). Mas a verdade é que todos nós nos encaixamos na categoria “alguns” às vezes. Não me refiro como escarnecedores, mas como filhos de Deus dolorosamente perplexos pela aparente lentidão de nosso pai celestial.

Nós clamamos: “Até quando, Senhor?” (Sl 13.1), imaginando quando ele finalmente cumprirá alguma promessa à qual estamos nos apegando. E então, Pedro nos exorta, os “amados” de Deus, a não “ignorarmos” o fato de que o tempo de Deus não é o tempo do homem; portanto, Deus “não é lento” como o homem enxerga a lentidão (2Pe 3.8-9), como eu às vezes enxergo a lentidão. Na verdade, ele não é.

Deus não é lento

Alguém que criou algo como a velocidade da luz, e que sabe o que está acontecendo em cada parte de um universo que abrange cerca de 93 bilhões de anos-luz de diâmetro, claramente não é lento.

Também está claro, contudo, que um ser como Deus opera em uma linha do tempo muito diferente da nossa — se é que linha do tempo é a palavra certa. Deus não é limitado pelo tempo. Ele é o Pai do tempo (Gn 1.1; Cl 1.16). Ele é “o ancião de dias” (Dn 7.9), existindo “de eternidade a eternidade” (Sl 90.2). Deus não está no tempo; o tempo está em Deus (At 17.28; Cl 1.17). Os “mil anos” do Salmo 90.4 e de 2 Pedro 3.8 é apenas uma metáfora, usando um período de tempo que podemos compreender um pouco para comunicar uma realidade que não podemos.

Então, quando a velocidade de Deus parecer lenta para nós, ou quando seu tempo não fizer sentido, devemos “não ignorar este fato”: o tempo de Deus é diferente do tempo do homem. O tempo de Deus é relativo aos seus propósitos, que é o referencial dele. E Deus, de acordo com seus sábios propósitos, faz tudo belo em seu tempo, o tempo que ele propositadamente escolhe para isso.

Tempo para tudo

Tudo belo em seu tempo. Eu peguei isso de Eclesiastes 3.11.

[Deus] fez tudo belo em seu tempo. Além disso, ele colocou a eternidade no coração do homem, ainda que ele não possa descobrir o que Deus fez do começo ao fim.

Esse versículo captura, como nenhum outro, tanto a natureza misteriosa de nossa experiência do tempo quanto os indicadores que Deus colocou em nosso referencial para nos ajudar a confiar na sabedoria de seu tempo.

Ao nos criar com a eternidade em nossos corações, o “Deus eterno” nos fez conhecê-lo (Dt 33.27). Mas, ao limitar o escopo de nossa perspectiva e compreensão, ele também nos fez confiar fundamentalmente nele e não em nós mesmos (Pv 3.5-6). É assim que ele quer que o conheçamos:

Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade. (Is 46.9-10)

Ele é “o Deus eterno” (Is 40.28), “que faz todas as coisas”, incluindo todos os tempos, “conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Uma maneira clara pela qual ele revela a sabedoria de seus propósitos é como ele criou, em nosso quadro de referência, um “tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3.1):

Há tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir;
tempo de prantear e tempo de saltar de alegria. (Ec 3.2-4)

Deus “fez tudo belo a seu tempo”. A palavra hebraica traduzida como “belo” significa apropriado, adequado, certo. Os “atributos invisíveis” de Deus podem ser “claramente percebidos” na ordem criada que observamos e experimentamos (Rm 1.20). Eles revelam a sabedoria de seus propósitos; uma sabedoria muito além da nossa. E Deus pretende que eles nos ensinem que seu tempo “bonito” pode ser confiável, mesmo quando não o entendemos.

Na plenitude do tempo

Deus não nos deixou simplesmente deduzir seu caráter e sua sabedoria da natureza. Pois, “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho” (Gl 4.4). Em Jesus, o criador de tudo entrou no tempo terrestre, em nosso quadro de referência (Jo 1.2). Em forma completamente humana, ele “habitou entre nós”, revelando diretamente os atributos divinos com uma “glória como do unigênito do Pai”, “cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).

Enquanto esteve aqui na terra, ele realizou muitos sinais e maravilhas e proclamou: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14-15). Ao fazê-lo, ele demonstrou a maravilhosa sabedoria do tempo de Deus, muitas vezes de maneiras que surpreenderam e confundiram seus seguidores (Jo 4.1-42; 11.1-44).

Então, quando sua hora chegou (Jo 12.23), Jesus obedeceu a seu pai até a morte de cruz, “tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados”. E então, ele ressuscitou dos mortos e “assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés” (Hb 10.12-14).

Como seus seguidores, nós também esperamos. Nós esperamos que o pai “envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3.20-21).

Confie na velocidade de Deus

Enquanto esperamos, dois mil anos depois (ou dois dias de Deus), nós ajudamos uns aos outros e lembrar:

Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. (2Pe 3.9)

Sim, nós devemos, frequentemente, ajudar uns aos outros a lembrar:

  • O tempo de Deus se move em uma velocidade diferente da nossa.
  • Deus trabalha em todas as coisas, em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as dimensões, segundo o conselho de sua vontade para cumprir todo seu propósito.
  • Deus tem um tempo determinado para tudo, e ele faz tudo belo a seu tempo.
  • Independente de como Deus escolher usar nosso tempo, é extremamente importante que aprendamos a confiar em seu tempo em relação à perspectiva terrena, relativa e não confiável, que molda nossas expectativas.

Nosso tempo, como todos os tempos, estão nas mãos de Deus (Sl 31.15). É isso que significa viver pela fé em relação ao tempo. Ao escolher confiarmos na velocidade de Deus, nos humilhamos sob sua poderosa mão que segura o tempo.

E, de acordo com 1 Pedro 5.6-7, a maravilhosa recompensa de escolher abraçar essa confiança alegre, pacífica e infantil em Deus, é que ele nos exaltará no momento certo.

Por: Jon Bloom. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: My Times Are in Your Hand: Learning to Trust the Speed of God.

Original: Meu tempo está em tuas mãos: aprendendo a confiar na velocidade de Deus. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Julia Maria S. Martins. Revisão: Renan A. Monteiro.