O ministério de mulheres não é sobre mulheres

Tenho visto em muitos ministérios de mulheres, uma tendência crescente em dar ênfase a experiência pessoal em detrimento da Palavra de Deus. A teologia coach (se é que podemos chamar de teologia) tem permeado a igreja, colocando o foco nas experiências do pregador, tornando-o modelo a ser seguido, enchendo a mensagem de frases motivacionais e deixando os ensinos de Jesus em segundo (ou terceiro) plano.

Nas reuniões de mulheres esse “modo motivacional” tem permeado a liturgia dos encontros, levando mulheres e as suas necessidades a serem o centro dos ensinos. Essa foi a mesma tendência de Eva. Ela foi atraída pelo desejo de ser o padrão e de se tornar “como Deus”. O encanto do poder que o fruto poderia trazer a ela fez com que a direção de seu coração se desviasse de Deus, para si mesma.

Quando nos apoiamos em nossas experiências, sensações, desejos e auto percepção, estamos na verdade nos apoiando em nossa própria sabedoria humana. Somos convidadas pela Palavra de Deus a confiar no Senhor de todo o nosso coração e não nos apoiarmos em nosso próprio entendimento (Pv 3.5).

Ainda que sejamos encorajadas a testemunhar para as irmãs, a fim de que a fé delas seja aumentada, não podemos restringir um ensino a um testemunho pessoal. Cristo disse que quando o Espírito Santo desceria sobre nós, então seríamos testemunhas dele (At 1.8) e testemunhar dele, é falar da sua Palavra, do evangelho, das boas novas de Deus.

O foco de um ministério de mulheres não deve estar em atender às necessidades das mulheres, mas deve estar no ensino da Palavra de Deus, a Bíblia. Entenda que é através do conhecimento de quem Deus é, que seremos transformadas e moldadas de forma que os nossos desejos e necessidades serão supridos em Deus e por Deus.

Ouço muitas líderes dizendo: “­- só Bíblia fica cansativo e as mulheres deixarão de ir…”. Uma fala como essa é de partir o coração. Como pode, as palavras daquele que é a fonte de vida, de amor, de esperança e paz, serem cansativas? Palavras daquele que leva nosso fardo para que possamos nos levantar, daquele que tomou o nosso lugar na condenação para que tivéssemos vida, daquele que nos perdoa mesmo sem merecermos, como essas palavras podem ser cansativas?

Talvez o que falte a muitas pessoas seja confiança na Palavra. Confiança de que as palavras de Deus são mais desejáveis que ouro e mais doces que o mel (Sl 19.10), não havendo prazer maior do que poder ouvi-las. Confiança de que as palavras da Escritura são vivas, eficazes e mais cortantes que uma espada de dois gumes, capazes de dividirem alma e espírito, juntas e medula, e que somente elas são capazes de julgar os pensamentos e as intenções do coração (Hb 4.12).

Pode ser também que quando essas líderes pensem “só Bíblia”, isso as remeta a uma sala de seminário, com uma aula cheia de grego e hebraico e palavras da versão King James. Não é assim! O ensino pode acontecer de maneiras diferentes, indo desde estudos aprofundados até a leitura simples num banquinho de praça. Pode acontecer em pequenos grupos, em grupos de oração, num encontro periódico entre amigas que oram, servem, ministram, se alegram e choram juntas. Os líderes da igreja também podem ajudar para que isso aconteça de forma preciosa e eficaz. E quando este ensino cheio da Palavra se junta à comunidade, todo o corpo de Cristo é edificado.

Por tudo isso, é crucial que um ministério de mulheres seja construído sobre as Escrituras Sagradas, ajudando gerações de mulheres a conhecerem mais de Deus, a serem edificadas, fortalecidas e transformadas por ele. Uma feminilidade sadia é moldada pelo entendimento das Escrituras e assim, a nossa identidade passa a ser moldada biblicamente. Precisamos levantar mulheres cheias da Palavra, que “ensinem o que é bom”, transmitindo a outras mulheres não apenas princípios práticos, mas ajudando umas as outras a criarem raízes profundas na Palavra, a partir da qual esses princípios crescem, florescem e dão frutos.

Que alegria é perceber um coração e uma mente que foram cheios das Escrituras! Mulheres cheias da Palavra têm as vidas transformadas pelo Espírito, são conformadas à imagem de Cristo e suas palavras glorificam a Deus. E é através desse coração cheio do Espírito de Deus, que elas têm uma oportunidade incrível de abraçar outras mulheres que ainda não foram alcançadas, que estão perdidas e feridas, atraindo-as não pelo seu falar, mas através da sua forma de amar, autêntica e graciosa, revelando o coração de Cristo.

A minha oração é para que os ministérios de mulheres sejam uma oportunidade de abraçar o nosso chamado de sermos sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-14), cumprindo o ide de Cristo, ensinando as coisas do alto e fazendo discípulos para ele (Mt 28.19-20) e não para nós mesmas. Que possamos nos despir dos desejos do coração de Eva, e nos revestir do novo enchendo nossos corações de Cristo e renovando as nossas mentes para a glória de Deus.

Que o Senhor nos abençoe nessa jornada.