Pecadora favorita

Nosso erro é um capítulo de nossas vidas que não lemos em voz alta.

A definição de pecado que eu mais gosto, não vem de um livro de teologia ou de um pastor conhecido. Vem de uma mãe do século XVII, Susanna Wesley, a mãe de John Wesley.

Ela descreveu o pecado para seus filhos da seguinte forma: “Tudo o que enfraquece sua razão, prejudica a ternura de sua consciência, obscurece seu senso de Deus, tira seu gosto pelas coisas espirituais, tudo o que aumenta a autoridade do corpo sobre a mente, isso é pecado para você, por mais inocente que possa parecer ele mesmo.”

Essa singela e brilhante definição abre os meus olhos para o pecado em mim e faz com que eu solte as minhas pedras de julgamento no chão.

Muitas vezes olhamos para o outro e queremos apontar os seus erros, talvez na tentativa de sermos vistas como melhores, mais justas ou até mais santas. Escolhemos aquelas cujo pecado relevaremos e aquelas em quem atiraremos pedras. Mas a consciência certa do pecado, segundo a Bíblia, não nos deixa ter esse olhar.

Quando os fariseus levam a mulher adúltera até Jesus, em João capítulo 8, ainda que a intenção deles fosse fazer uma armadilha para Jesus, eles escolheram levar alguém a público. E a escolha foi apontar aquela por quem não tinham nenhum apreço. A mulher naquela época tinha pouco ou nenhum valor, indigna de qualquer consideração, mas para eles, digna de uma sentença de morte. E passando por cima da lei (Lv 20.10), eles não levaram o homem envolvido.

Quantas vezes nós mesmas não temos essa atitude? Apontamos e miramos o dedo de acusação para uma pessoa que não gostamos, ou que não faça parte da nossa bolha de relacionamentos, e em contrapartida livramos dessa mira, alguém que tenha cometido o mesmo erro, mas que é “uma das nossas”, ou que consideremos ser “mais merecedora” de perdão – escolhemos a nossa pecadora favorita.

Não fazemos isso somente com o outro, mas com nós mesmas. Criticamos o pecado da irmã que caiu, mas muitas vezes cometemos o mesmo erro que ela; porém, o nosso erro é um capítulo de nossas vidas que não lemos em voz alta e então, ficamos seguras atrás de uma personagem perfeita. Perdemos a ternura de nossa consciência e também a nossa razão.

Deus odeia o pecado, não apenas porque fazemos coisas ruins, mas porque o pecado nos esvazia, nos quebra, e como disse Susanna, “obscurece seu senso de Deus.”

Em Jeremias 17.13 diz: […] todos aqueles que te deixam serão envergonhados; o nome dos que se apartam de mim será escrito no chão; porque abandonam o SENHOR, a fonte das águas vivas.

Quando perdemos a fonte de águas vivas, cresce em nós uma justiça própria, que aumenta a autoridade do corpo sobre a mente e nos faz esquecer de quem nós somos e de quem Deus é. O que nos resta é apenas sabedoria da carne, que segundo 1 Coríntios 13.9, é loucura para Deus.

Aqueles homens na cena da mulher usaram dessa sabedoria louca, a da carne. Jesus diz a eles que quem não tivesse pecados, jogasse a primeira pedra. Ele os trouxe de volta à consciência de pecado, e a Palavra diz que todos foram embora, começando pelos mais velhos, permanecendo apenas Jesus e a mulher.

O que o Senhor Jesus fez por ela, não foi dizer que o pecado dela era menor que o daqueles homens, ou que ela não precisasse responder por ele. O que ele fez, foi alumiar o senso de quem Deus é. Ele desviou a ira de cima daquela mulher e colocou sobre si, pois ele sabia que pagaria o preço por aquele pecado e por todos os demais, na cruz do calvário.

Não podemos nos esquecer disso hoje. Precisamos olhar para Cristo e entender que Aquele que não conheceu pecado, se fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitas justiça de Deus (2Co 5.21). Qualquer ato de justiça que não venha dele, é apenas trapo de imundícia. Ele é o justo juiz, nós não.

Sem a fonte de águas vivas jorrando do nosso interior, perderemos o discernimento de quem é criatura e quem é o Criador. Perderemos o gosto pelas coisas espirituais e o temor a Deus. Passaremos a querer brincar de soberanas e a mudar o significado do pecado para favorecer um em detrimento do outro.

Começaremos a apontar pecadores segundo o nosso coração. E os nossos corações são enganosos! Se lembre de que somos todas pecadoras, e precisamos desesperadamente do perdão e da misericórdia de Deus sobre nós. Irmã, a luta contra a carne é uma realidade que precisa ser encarada!

Peça hoje, que Deus sonde e molde o seu coração, que ele fortaleça a sua razão, e traga ternura à sua consciência, aumentando assim, o seu senso de quem ele é. Dessa forma as pedras do julgamento, com certeza, cairão ao chão.

© Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Edição: Renata Gandolfo