Salmo 32: A Misericórdia que nos assiste – (parte 12)

O significado da expressão "dolo"

A palavra hebraica (remiyah)2 é traduzida por mentira (Jó 13.7); engano (Jó 27.4; Sl 52.2; 78.57; 120.2-3; Os 7.16; Mq 6.12) e fraude (Sl 101.7), estando associada ao falar falsamente.[1]

A expressão é relacionada também com a frouxidão, direção ambígua, indicando a condição moral de Israel, em sua frouxidão e engano.[2] (Sl 78.57; Os 7.16).[3]

O coração e a língua dolosos se constituem em algo desestabilizador da sociedade. No salmo 101, vemos o rei não desejando conviver com pessoas assim, apresenta um ideal de reino: “Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude (remiyah); o que profere mentiras não permanecerá ante os meus olhos” (Sl 101.7).

O salmista pede a Deus que o livre dos lábios e da língua dolosa, enganadora: “SENHOR, livra-me dos lábios mentirosos, da língua enganadora (remiyah) (Sl 120.2).

Na riqueza imoral, conseguida com a exploração do pobre, prevalece o dolo e o engano. Por intermédio de Miquéias, Deus demonstra que essa injustiça prevalecente não passaria incólume (Mq 6.9-16), então diz: “Porque os ricos da cidade estão cheios de violência, e os seus habitantes falam mentiras, e a língua deles é enganosa (remiyah) na sua boca” (Mq 6.12/Sl 52.2).

Deus abomina o homem fraudulento, que age dolosamente: “Tu destróis os que proferem mentira; o SENHOR abomina ao sanguinário e ao fraudulento (mirmah) (Sl 5.6).

Davi reconhece que a origem do pecado está no coração doloso. Este nos leva a falar e a agir pecaminosamente. Notemos que todo o agir de Davi nesses episódios, partiu de seu desejo pecaminoso. Após isso, ele arquiteta todo o seu plano, falando palavras enganadoras a Urias:

7Vindo, pois, Urias a Davi, perguntou este como passava Joabe, como se achava o povo e como ia a guerra. 8 Depois, disse Davi a Urias: Desce a tua casa e lava os pés. Saindo Urias da casa real, logo se lhe seguiu um presente do rei. 9Porém Urias se deitou à porta da casa real, com todos os servos do seu senhor, e não desceu para sua casa. 10Fizeram-no saber a Davi, dizendo: Urias não desceu a sua casa. Então, disse Davi a Urias: Não vens tu de uma jornada? Por que não desceste a tua casa? 11 Respondeu Urias a Davi: A arca, Israel e Judá ficam em tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao ar livre; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber e para me deitar com minha mulher? Tão certo como tu vives e como vive a tua alma, não farei tal coisa. 12 Então, disse Davi a Urias: Demora-te aqui ainda hoje, e amanhã te despedirei. Urias, pois, ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. (2Sm 11.7-12).

No Salmo 25 Davi vai à raiz da questão. O seu problema não consistia num pequeno desvio de comportamento ou apenas em pecados cometidos na sua mocidade. O mal estava abrigado dentro dele; no seu coração. Esta é a realidade de Davi e é a de todos nós: somos essencialmente pecadores.

Ele pecou na mocidade e sabia que, ainda que de forma diferente, continuava pecador, daí suplicar o perdão para todas as suas iniquidades: Por causa do teu nome, SENHOR, perdoa a minha iniquidade (‘ãwõn), que é grande.(…) Considera as minhas aflições e o meu sofrimento e perdoa todos os meus pecados (hatã’â).(Sl 25.11,18).

 

[1] Ver: William White, Rãmâ: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1431.
[2] Cf. J.A. Thompson; Elmer A. Martens, Remiyya: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 1119.
[3]“Tornaram atrás e se portaram aleivosamente como seus pais; desviaram-se como um arco enganoso (remiyah) (Sl 78.57). “Eles voltam, mas não para o Altíssimo. Fizeram-se como um arco enganoso (remiyah); caem à espada os seus príncipes, por causa da insolência da sua língua; este será o seu escárnio na terra do Egito” (Os 7.16). O substantivo é também empregado para se referir a transações enganosas e fraudulentas: “Efraim, mercador, tem nas mãos balança enganosa (mirmah) e ama a opressão” (Os 12.7). “….Quando passará a Festa da Lua Nova, para vendermos os cereais? E o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras (mirmah)(Am 8.5). “Poderei eu inocentar balanças falsas e bolsas de pesos enganosos (mirmah)?” (Mq 6.11). Da mesma forma, vejam-se: “doloso” (Sl 34.13) e “enganoso” (Sl 50.19; Pv 11.1; 12.5).

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.