Não precisamos de autoestima, precisamos de temor

Porque Deus nos ama nos tornamos preciosas

Não precisamos de autoestima, precisamos de temor

“Conferência empoderadas”, “devocional das preciosas do reino”, “encontro das pérolas de Jesus”, “a sua autoestima é importante para Deus”, “Deus te ama porque você é especial”. Esses são alguns dos temas ou lemas de conferências de mulheres que tenho visto por aí. 

Veja bem, ser amada de Deus, ser preciosa do Abba, não é uma inverdade, mas é uma verdade incompleta, parcial e muito rasa. Deus é muito mais do que o Abba. Não se trata de supervalorizarmos a nossa identidade de filhas, ou de estarmos satisfeitas com o que somos, ou reconhecermos o nosso valor. O problema da autoestima não é o diagnóstico final, mas apenas um sintoma da doença.

Florear o Evangelho é algo muito comum no meio cristão feminino. A supervalorização da autoestima como se fosse a solução dos problemas, acaba por a distorcer a verdade de Deus sobre a nossa real identidade em Cristo. Isso acaba levando as mulheres a tirarem o holofote de Deus e virarem para si mesmas. Essa visão distorcida, nos leva a perdermos o temor.

Temor é uma palavrinha um pouco confusa para muitos crentes. Ela pode dar uma ideia de temer é apenas sentir medo de Deus. Temor tem sim a ver com medo, mas é um medo misturado com admiração, com reverência e respeito. Temer a Deus é ter consciência de quem somos diante dele e isso nos faz ter medo de quem ele é, da sua pureza, santidade, poder e glória, mas ao mesmo tempo nos traz uma admiração e confiança tamanhas que caímos de joelhos em adoração e louvor.

Se você já visitou as Cataratas do Niágara, uma das 7 maravilhas naturais do mundo, sabe do que eu estou falando. Ao se posicionar diante daquela gigantesca beleza, da imensidão e força daquelas águas, você não consegue dizer: “legal ver essa aguinha… mas eu sou incrível!”. Não!! Ao olhar para aquela perfeita criação de Deus, você se deslumbra com a riqueza da sabedoria do Senhor, você percebe o quão pequenininha você é e o quanto aquela maravilha na sua frente é tremenda, só te restando ficar de boca aberta!

Isaías teve essa experiência com o Senhor. Ele teve uma maravilhosa visão do trono de Deus, em que anjos diziam uns para os outros (Is 6.3): 

“Santo, santo, santo

é o SENHOR dos Exércitos;

toda a terra está cheia

da sua glória.”

Naquele momento, Isaías não olhou para Deus e disse: “Ei Abba, papai! Venha aqui e me dê um abração!”. Não! Isaías, diante de toda aquela glória, disse (v.5):Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!”

Com Pedro aconteceu o mesmo. Se lembra de quando Pedro se encontra com Jesus no barco, após passar a noite tentando pescar e sem conseguir um só peixe?

Jesus entra no barco e diz a Pedro: “jogue as redes que vocês irão pescar”. Pedro reclama um pouquinho, mas diz que iria jogar porque era Jesus quem estava pedindo. Quando as redes se enchem de peixes, Pedro não vira para Jesus e diz: “Toca aqui ‘mano’, você brilhou mestrão, fazemos uma boa dupla, hein?!”. Não! “Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: — Senhor, afaste-se de mim, porque sou pecador. (Lc 5.8)”

Nem Isaías nem Pedro se gloriaram de quem eles eram ou do que eram capazes de fazer. Ao contrário, eles se deram conta de quem eram diante do Senhor: pecadores. 

É esse tipo de temor que nos falta. Quanto mais falarmos sobre nós, pregarmos sobre nós, cantarmos sobre nós, mais perderemos a consciência de quem Deus é e de quem nós somos.

Quanto mais o foco for a nossa autoestima, mais alimentaremos o nosso ego e mais cantaremos que “a nossa vitória tem sabor doce”. Quanto mais cheias de nós, mais vazias estaremos de Cristo. Quanto mais o tema for “eu”, menos entenderemos que é sobre ele. 

Se lembra de Moisés, no capítulo 3 de Êxodo, quando ele se encontra com o arbusto em chamas e o arbusto começa a falar com ele? Se lembra de que aquele arbusto era uma teofania, isto é, uma manifestação de Deus? Pois então, naquele momento, Deus estava chamando Moisés para uma missão em nome dele (Êxodo 3.10-11): 

“Agora venha, e eu o enviarei a Faraó, para que você tire do Egito o meu povo, os filhos de Israel.

Então Moisés perguntou a Deus:

— Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?”

Quero que você perceba, que Moisés estava colocando o foco em que ele era. 

“Quem sou EU…?”

E Deus, em sua longanimidade respondeu:

“— EU estarei com você. E este será o sinal de que EU o enviei: depois que você tiver tirado o povo do Egito, vocês adorarão A DEUS neste monte.”

Moisés insiste em falar de si: “— Eis que, quando EU for falar com os filhos de Israel (…) E então o que EU lhes direi?

E Deus mostra novamente a Moisés do que se tratava (v.14):

Deus disse a Moisés:

— EU SOU O QUE SOU.

Queridas, é o temor a Deus que quebra o nosso egoísmo, o nosso individualismo, a nossa vontade de sermos o EU SOU. O temor nos conduz ao auto esquecimento. Nos leva a percebermos que Deus é grande e nós pequenas. Nos leva a entender que Deus não precisa de nós, mas que nós precisamos – DESESPERADAMENTE – dele.

Quando lemos as Escrituras, procurando por quem nós somos ou nos colocando no centro de tudo, perdemos o “fio da meada”. Precisamos entender que a Bíblia é o nosso arbusto em chamas onde Deus nos diz o tempo todo: “Não é sobre você, é sobre mim!”. 

A Bíblia começa em Gênesis com “No princípio Deus” e termina em Apocalipse com a declaração do poder e da soberania de Deus. 

É muito precioso sermos filhas do Rei, mas precisamos nos lembrar de que é o Rei quem se assenta no trono e não nós. O evangelho não nos diz que Deus nos ama porque somos pérolas preciosas e incríveis. Mas o Evangelho nos diz que, porque Deus nos ama, e somente porque Deus nos ama, é que nos tornamos preciosas. 

Continue sim a dizer às pessoas o quanto você é uma princesa de Deus, o quanto é uma joia para o Senhor, continue o chamando de Abba. Mas não se esqueça jamais de que você é princesa, joia e filha por causa dele, pela bondade dele, pela graça dele, pelo amor dele. Deus é suficiente, nós não. Deus é a fonte de poder, nós não. Deus é o rei soberano, nós não. Nós somos falhas, ele é perfeito.

Portanto, não se trata de aumentar a autoestima das mulheres, dando a elas mais empoderamento, mais autoconfiança, mais sede por poder. Precisamos entender que, como eu disse antes, a falta de autoestima é apenas o sintoma e não a doença. A doença tem raízes profundas, e essas raízes estão no nosso coração enganoso e perverso. Para tratar a doença, não adianta dar “tapinhas nas costas”. O único tratamento que existe para essa doença é a Palavra de Deus.

Estou convencida de que a maior parte dos problemas que as mulheres enfrentam – seja nos relacionamentos, seja nos compromissos de trabalho ou de escola, seja no campo familiar ou em qualquer outra área da vida – vem de uma falta de conhecimento da Palavra de Deus, falta de doutrina sólida, falta de estudo bíblico. 

Se queremos bons relacionamentos horizontais, precisamos priorizar o relacionamento vertical com o nosso Criador, amando a Deus sobre todas (todas, todas) as coisas, de todo o nosso coração, alma força e entendimento, e, somente depois disso, amando ao próximo como a nós mesmas.

Dessa forma, ao nos relacionarmos com Deus, Pai, Rei, Abba, teremos a oportunidade maravilhosa de conhecê-lo. E é no conhecimento de quem Deus é, dos seus atributos, dos seus feitos, do seu amor e da sua majestade, é que poderemos ser moldadas, lapidadas e transformadas para a sua glória – e não para a nossa. Quando esse relacionamento vertical fluir, todas as demais coisas em nossas vidas fluirão.

Que as conferências, encontros e devocionais femininos possam trazer às mulheres, cada vez mais temor, cada vez mais consciência de que são criaturas e não criadoras, trazer um senso de dependência de Deus e, principalmente, o entendimento de que são pecadoras absolutamente necessitadas da graça do Senhor sobre elas. 

Dessa forma, agiremos como Isaías, como o apóstolo Pedro, o apóstolo Paulo e como homens e mulheres de Deus, que entenderam que o maior empoderamento que podemos ter, é o auto esquecimento. Entenderemos que não é uma questão de autoestima, mas de falta de temor. E só nos restará cairmos de joelhos, em adoração dizendo: “Ai de mim, porque sou pecadora.” 

Pai, nos ajude a temer o Senhor. 

Por: Fabiana Linhares. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e revisor: Renata Gandolfo.