Um blog do Ministério Fiel
Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação (Hb 3.12–15).
8.1 Você perseverará na fé?
Eventos de revolta e tumulto em todo o mundo devem servir como um aviso para nós de que chegará o dia, mais cedo ou mais tarde, quando a hostilidade do homem não poderá ser contida pela força humana. Ela romperá a represa da contenção e inundará sua própria porta. E a pergunta mais urgente para todos os seguidores de Jesus Cristo será: “A nossa fé em Jesus resistirá? Ou vamos dar lugar ao medo, à incredulidade, à raiva e à vingança?
O profeta Daniel descreve uma época em que um dos governantes dos últimos dias “proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo” (Dn 7.25). E no livro do Apocalipse, o apóstolo João descreve esse tempo assim: “Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai. Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos” (Ap 13.10).
A questão crucial para você nestes dias — e naqueles dias — é “você perseverará?”. Sua fé irá suportar os ataques que estão por vir? Ou você estará “desanimado” e desistirá da fé e se unirá à ilusão incrédula de segurança? Esta é a questão da perseverança. A questão da segurança eterna, o tema deste sermão.
A doutrina de que falamos hoje tem nomes diferentes e tem uma aplicação urgente e prática em nossa vida enquanto comunidade. Alguns a chamam de doutrina da segurança eterna. Alguns chamam de doutrina da perseverança. E a aplicação prática é que, seja como você chame isso, o processo é um projeto comunitário. Ou seja, você e eu somos essenciais para ajudar uns aos outros a perseverar até o fim na fé e não arruinar nossas almas.
8.2 Uma visão teológica sobre a perseverança
O texto da Escritura a que voltamos muitas vezes nestas décadas é Hebreus 3.12-15. Por isso, acho que seria útil esboçar uma teologia da perseverança em três pontos com base nesses quatro versículos e suas implicações para sua vida. E então, mostrarei a base mais ampla para isso nas Escrituras e sua relação com a cruz de nosso Senhor Jesus, e concluirei com algumas aplicações práticas para sua vida em famílias e pequenos grupos.
1. O chamado para perseverar é real.
Hebreus 3.12: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo”. Este é um claro apelo a todos os crentes (“irmãos”) para que perseverem na fé. Não que n]ao deem lugar à incredulidade. Não “desanime”. É uma chamada para perseverar. Para ser firme. Para manter a fé até o fim. “Não deixe que seu coração se tornar perverso e incrédulo. Não se afaste do Deus vivo”. Este é um perigo real dito à igreja. Aqueles que o descartam porque sua doutrina de segurança eterna não admite tal perigo, estão em maior perigo.
2. Cada um de nós é um meio para a perseverança do outro.
Hebreus 3.13: “Pelo contrário [ao contrário de dar lufar a um perverso coração de incredulidade], exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. Então no versículo 15 ele faz o que nos diz para fazer. Ele nos exorta com as palavras do Salmo 95.7-8: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração”.
Assim, o segundo ponto é que um dos meios essenciais de não se tornar endurecido — a proteção contra um perverso coração de incredulidade — são os outros crentes ao seu redor falando palavras de apoio à fé em sua vida. Sua família, seus amigos, seu pequeno grupo. “Exortai-vos mutuamente cada dia”, ou seja, falem palavras de verdade que sustentem a fé na vida do outro. Paulo disse em Efésios 4:29: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”.
Assim, o segundo ponto dessa teologia da perseverança é que Deus projetou sua igreja para que seus membros perseverem até o fim na fé por meio de falar e ouvir palavras de apoio na fé uns dos outros. Você e eu somos os instrumentos pelos quais Deus preserva a fé de seus filhos. Perseverança é um projeto comunitário. Assim como Deus não vai evangelizar o mundo sem vozes humanas que despertam a fé, assim também ele não vai preservar sua igreja sem vozes que sustentam a fé humana. E claramente as palavras, “exortai-vos mutuamente” (versículo 13), significa todos nós, não apenas pregadores. Dependemos uns dos outros para perseverar na fé até o fim.
3. Perseverar na fé é uma evidência de que estamos em Cristo.
Versículo 14: Exortem-se e ajudem-se mutuamente a manter sua confiança: “Porque [porque] chegamos a compartilhar em Cristo, se realmente mantivermos nossa confiança original firme até o fim”. Este é um dos versículos mais importantes no livro de Hebreus, porque estabelece que se uma pessoa veio para compartilhar em Cristo, essa pessoa certamente perseverará até o fim na fé. Olhe atentamente a lógica e os tempos verbais. Tudo depende disso.
Versículo 14: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos”. Observe, ele não diz, “se mantivermos nossa confiança até o fim”, o que significa que perseverar até o fim não lhe dá uma participação em Cristo. Perseverar até o fim apenas prova que você já teve uma participação em Cristo. A perseverança é a evidência do novo nascimento em Cristo, e não o meio para isso.
Ou para colocar o mesmo ponto de forma negativa: se você não tiver confiança em Cristo até o fim, o que isso mostraria? Isso mostraria que você não “se tornou participante de Cristo”. Assim, o negativo do versículo 14 seria: “Não nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, não guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos”.
Então você vê o que isso implica sobre a segurança eterna? Ele diz: se você se tornou participante de Cristo — isto é, se você nasceu de novo, se você é verdadeiramente convertido, se você é justificado e perdoado através da fé salvífica — você não pode deixar de perseverar. Você vai manter sua confiança em Cristo até o fim.
A lógica é idêntica a 1 João 2:19. “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1 João 2.19). “se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco”, é o mesmo que “Se você realmente é um participante de Cristo, você vai manter sua confiança até o fim”.
Então, aqui está o resumo da nossa teologia da perseverança em três pontos.
- Não deixe seu coração tornar-se perverso e incrédulo, porque se o fizer, você se afastará do Deus vivo e perecerá para sempre.
- Como um meio de proteger uns aos outros de um coração tão perverso e incrédulo, fale palavras que sustentam a fé e que apoiam a fé na vida de cada um a cada dia.
- Esta advertência e exortação não é porque uma pessoa que realmente pertence a Cristo pode se perder, mas porque a perseverança é a evidência de que você realmente pertence a Cristo. Se você cair, isso demonstra que nunca foi um verdadeiro participante de Cristo. E Deus nunca permitirá que isso aconteça com aqueles que se tornaram participantes de Cristo.
8.3 Fidelidade inquebrável de Deus
“E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). O que significa: entre a eternidade passada na predestinação de Deus e a eternidade futura na glorificação de Deus, ninguém se perderá. Ninguém que é predestinado para ser filho de Deus falha neste chamado. E ninguém que é chamado falha em ser justificado. E ninguém que é justificado falha em ser glorificado. Esta é uma cadeia de aço inquebrantável da fidelidade pactual de Deus.
E assim Paulo diz: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). “O qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.8-9). Estas são as promessas de nosso Deus que não pode mentir. Aqueles que nascem de novo são tão seguros quanto Deus é fiel.
8.4 Como nossa perseverança está conectada à cruz de Cristo?
Qual é a conexão entre esta segurança — esta perseverança prometida — e a cruz de nosso Senhor Jesus? Pouco antes de Jesus derramar seu sangue pelos pecadores, ele levantou o cálice na última ceia e disse em Lucas 22:20: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. O que isto significa é que a nova aliança, prometido mais explicitamente em Jeremias 31 e 32, foi garantida e selada pelo sangue de Jesus. A nova aliança se torna realidade porque Jesus morreu para estabelecê-la.
E o que a nova aliança assegura para todos os que pertencem a Cristo? Perseverança na fé até o fim. Ouça Jeremias 32:40: “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”. O pacto eterno — a nova aliança — inclui a promessa inquebrantável: “porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”. Eles não podem. Eles não vão. Cristo selou esta aliança com o seu sangue. Ele comprou sua perseverança. Se você está perseverando na fé hoje, você deve isso ao sangue de Jesus. O Espírito Santo, que está operando em você para preservar sua fé, honra a compra de Jesus. Deus, o Espírito, opera em nós o que Deus, o Filho, obteve para nós. O Pai planejou. Jesus comprou. O Espírito aplica — todos eles — infalivelmente. Deus está totalmente comprometido com a segurança eterna de seus filhos comprados pelo sangue.
8.5 A necessidade da comunidade na certeza da segurança
Isso nos leva agora a esse ponto de aplicação. Deus uniu a certeza da segurança com a necessidade da comunidade. Hebreus 3:13: “Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. A segurança eterna é um projeto comunitário. Ou agora podemos dizer que a segurança eterna adquirida pelo sangue é um projeto comunitário comprado pelo sangue.
Isso pode soar como se fosse frágil, já que nossa vida comunitária é sempre imperfeita. Mas não é frágil. Não é mais frágil do que a capacidade soberana de Deus para trazer os outros para fazerem parte de sua vida e para enviá-lo para participar da vida deles. Deus soberanamente preservará todos os que pertencem a Cristo. E ele fará isso através do ministério de sustentação da fé de outros crentes.
Se você é casado, significa que Deus — e não o homem (“o que Deus uniu”) — já o colocou em lares designados para isso mesmo — o ministério cotidiano da palavra que sustenta a fé e derrota o pecado. Maridos e esposas. Pais e filhos.
Deixe-me dar alguns exemplos do que isso significa para maridos e esposas.
Para maridos:
- Ame a sua esposa sacrificialmente e cuide dela como um reflexo do amor de Cristo pela igreja (Ef 5.25, 29). Isso irá sustentar sua fé para ver isso.
- Esteja alerta e discirna as necessidades espirituais, emocionais, relacionais e físicas da sua esposa, e se esforce para satisfazer essas necessidades — direta ou indiretamente (Hb 3.12-13; 1Pe 3.7).
- Busque edificar sua esposa com conhecimento bíblico, através de suas próprias palavras e com seu encorajamento e ajuda para que ela se beneficie dos ministérios de ensino fornecidos pela igreja (Jo 8.32; Ef 4.25-30).
- Encoraje e ajude sua esposa a se dedicar ao ministério na igreja e no mundo (Pv 31.20; Ef 4.11-12; 1Tm 5.9-10).
Para esposas:
- Esteja alerta à condição espiritual de seu marido e ore sinceramente por ele (1Sm 25.1-35; Hb 3.12-13).
- Incentive seu marido afirmando evidências de graça em sua vida (Rm 15.2; Ef 4.29; Hb 10.24-25). Isso irá sustentar sua fé para ouvir isso.
- Apoie-o em todos os seus esforços de liderança e seja receptivo a todos os esforços que ele fizer para liderar espiritualmente (Ef 5.21-24; 1Pe 3.1-6).
- Compartilhe de sua vida e de sua meditação as coisas que Deus está lhe ensinando sobre Cristo e seus caminhos (Rm 15.13-14; 1Ts 4.18).
- Junte-se a ele em uma conversa sóbria com respeito e sabedoria (Pv 31.26; Rm 15.2; 1Ts 5.11).
- Sugira-lhe pessoas e recursos que possam ajudá-lo (Gn 2.18; Pv 31.12; At 20.32). Ninguém o conhece como você.
- Humilde e esperançosamente ajude-o a ter consciência dos hábitos não edificantes ou pecados que você pode ver em sua vida (Hb 3.12-13; Tiago 5.16). Busque praticar Hebreus 3.13 um para com o outro.
Eu sei que isso pressupõe que vocês são crentes e que ambos estão dispostos. E sei que isso não é verdade para todo casal. Mas é para isso que Deus nos chama a orar e a seguir em direção ao bem dos nossos cônjuges e à perseverança de nossos filhos na fé. A segurança eterna é um projeto familiar.
8.6 Não há substituto para a igreja
Aqui está uma palavra final para todos nós, para o solteiro e o casado. Deus não planejou o casamento para substituir a igreja. Ele não projetou famílias para substituir amizades. Todo homem casado precisa de homens crentes em sua vida. Toda mulher casada precisa de outras mulheres crentes em sua vida. Os jovens precisam de outros jovens. E as pessoas solteiras precisam de pessoas casadas e solteiras em suas vidas. As famílias não são substitutas de nenhum desses relacionamentos.
A igreja de Cristo, comprada por sangue, é a nova família sobrenatural. Pessoas solteiras, pessoas casadas, velhos e jovens, ricos e pobres, todas as etnias encontram irmãos e irmãs aqui. O casamento é temporário. A paternidade é temporária. Mas a igreja — a nova família — é eterna.