O Deus que se revela fidedignamente

As Escrituras como revelação fidedigna de um Deus fidedigno

As Escrituras, a revelação divina, não se perde em especulações. Isso por dois motivos óbvios: Deus como Senhor de todo o conhecimento e verdade, de nada carece saber. Todo o saber lhe pertence; nada lhe é derivado.[1] O segundo motivo é que Ele não deseja que o seu povo se perca em especulações de assuntos não revelados, que são de sua exclusiva autoridade.

Guiar-se por especulações significa desejar ir além do que Deus revelou e, ao mesmo tempo, perder-se em hipóteses e teorias frívolas já que pretendem “decifrar” o que Deus sábia e soberanamente não nos quis dar a conhecer. “Nossas especulações não podem servir de medida para nosso Deus”, acentua Packer (1926-2020).[2]

A imaturidade, por vezes, se manifesta por via inversa, justamente por levantar “grandes” questões que presumem grande inteligência mas, que à luz da Bíblia são irrespondíveis e, certamente irrelevantes em nossa peregrinação. Maturidade cristã se revela em santificação do Espírito e obediência a Deus, conformando-se a Cristo dentro do revelado (1Pe 1.1-2,12-14,22/Rm 8.29/Hb 5.8).

Calvino (1509-1564) é instrutivo aqui:

 

Chamo serviço não somente o que consiste na obediência à Palavra de Deus, mas também aquele pelo qual o entendimento do homem, despojado dos seus próprios sentimentos, converte-se inteiramente e se sujeita ao Espírito de Deus. Essa transformação, que o apóstolo Paulo chama renovação da mente [Rm 12.2], tem sido ignorada por todos os filósofos, apesar de constituir o primeiro ponto de acesso à vida. Eles ensinam que somente a razão deve reger e dirigir o homem, e pensam que só a ela devemos ouvir e seguir; com isso, atribuem unicamente à razão o governo da vida. Por outro lado, a filosofia cristã pretende que a razão ceda e se afaste, para dar lugar ao Espírito Santo, e que por Ele seja subjugada e conduzida, de modo que já não seja o homem que viva, mas que, tendo sofrido com Cristo, nele Cristo viva e reine.[3]

 

A Bíblia é um livro descritivo e extremamente prático. Ela não discute, por exemplo, sobre a existência de Deus ou faz abstrações de sua natureza e essência, antes, parte do pressuposto da existência do Deus Todo-Poderoso que se revela criando com determinação, sabedoria e poder todas as coisas. Portanto, mais do que uma teoria ou imaginação falaciosa, as Escrituras nos põem em contato com o Deus vivo e pessoal, que age e fala.[4] É o Deus que se relaciona e cuida de seu povo.

A história do povo de Israel é de certa forma a história da revelação concreta de Deus na história: no tempo e no espaço, conduzindo o seu povo em graça, bondade, misericórdia e justiça. “A Escritura, em sua totalidade, é o próprio livro da providência de Deus”, resume Bavinck (1854-1921).[5]

A história do Ocidente tem sido regida pela presença cristã, ora em suas acomodações pecaminosas, ora, positivamente em seu testemunho profético contextualizado.[6]

Schaeffer (1912-1984), argumentando em prol da genuinidade da revelação de Deus em forma de proposição e história, escreve:

 

Deus inseriu a revelação da Bíblia na História; Ele não a forneceu (como poderia ter feito) em forma de livro-texto teológico. Localizando a revelação na História, que sentido teria para Deus ter nos fornecido uma revelação cuja história fosse falsa? Também o homem foi inserido neste universo que, como as Escrituras mesmo dizem, fala de Deus. Que sentido, então, teria para Deus ter nos oferecido a sua revelação em um livro cheio de falsidades acerca do universo? A resposta para ambas as questões deve ser “nada disso faria qualquer sentido!”

Está claro, portanto, que, do ponto de vista das Escrituras em si, podemos observar uma unidade por todo o campo do conhecimento. Deus falou, numa forma linguística e proposicional, verdades sobre si mesmo e verdades sobre o homem, a sua história e o universo.[7]

O Deus dos Salmistas

Deus é o Senhor eterno antes e independentemente de sua Criação. “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”, escreveu Moisés (Sl 90.2).

Moisés, por revelação direta de Deus, registra de forma inspirada (2Pe 1.20-21), narrando os atos criadores de Deus, sem se preocupar em falar com mais detalhes a respeito daquele que, mediante a sua Palavra, faz com que do nada surja a vida. Cria o universo. Estabelece suas leis próprias e as preserva. Avalia a sua criação como muito boa.

Moisés apresenta o Deus Todo-Poderoso exercitando o seu poder de forma criadora, segundo o seu eterno propósito. Portanto, Deus existe. Este é o fato pressuposto em toda a narrativa da Criação. Deus cria segundo a sua Palavra e isto nos enche de admiração e reverente temor: a Palavra de Deus é o verbo criador que manifesta a determinação e o poder de Deus (Gn 1.1,26, 27; Sl 33.6,9; Jo 1.1-3; Hb 11.3),[8] que criou todas as coisas com sabedoria (Pv 3.19).[9]

O Deus que se revela

As Escrituras nunca tratam de Deus de forma impessoal ou abstrata, mas, como o Deus infinito-pessoal que se revela[10] e se relaciona misericordiosamente com os seus.

As Escrituras evidenciam o valor metafísico da realidade, contudo, não se limitam a isso, por mais importante que seja e, de fato é. Elas tratam dessa questão em termos ontológicos, normativos e existenciais. A metafísica está relacionada diretamente com a Lei absoluta de Deus e com os efeitos disso em nossa vida. Isso explica, por exemplo, porque grande parte das Escrituras consiste em narrativa histórica, onde esses aspectos são realçados na vida do povo de Deus, no lócus temporal, em sua obediência ou não, ao Deus soberano.

 

Ateísmo crente e confessante

Obviamente, o Deus das Escrituras não é um deus criado pela imaginação do homem que projeta em sua criação seus desejos e vícios,[11] o que facilmente conduziria da idolatria ao ateísmo.[12] Aliás, o ateísmo não deixa de ser uma forma de idolatria, visto que o homem passa a adorar a criatura, no caso, a sua suposta poderosa mente, em lugar do Criador (Rm 1.25).[13] Substituir o Deus das Escrituras pela nossa imaginação é uma forma, por vezes, bem elaborada, de se constituir no centro de todas as coisas. O antropocentrismo em seus devaneios centrífugos e centrípetos, é idolatria, conduzindo em seu ventre o feto do ateísmo.

Frame comenta:

 

O argumento bíblico a ser mencionado aqui é que ninguém é realmente ateu, no sentido mais sério desse termo. Quando as pessoas se afastam da adoração ao Deus verdadeiro, elas não rejeitam o absoluto em geral. Antes, em vez do verdadeiro Deus, eles adoram ídolos, como Paulo ensina em Romanos 1:18–32. A grande divisão na humanidade não é que alguns adorem um deus e outros não. Pelo contrário, é entre aqueles que adoram o Deus verdadeiro e aqueles que adoram falsos deuses, ídolos. A adoração falsa pode não envolver ritos ou cerimônias, mas sempre envolve o reconhecimento da asseidade, honrando alguns que não dependem de mais nada.[14]

 

Deus não se deixa invadir pela razão humana, ou mesmo pela fé. Ele se dá a conhecer livre, fidedigna e explicitamente. Deus se revela a si mesmo como Senhor.[15] E “Senhorio significa liberdade”, pontua Barth (1886-1968).[16] Portanto, tentar “editar” Deus ao nosso gosto, aos “cânones” contemporâneos apelidados de “politicamente corretos” ou, ao que é entendido como “pensamento atual”, sempre redundará em idolatria, visto que o nosso ídolo se constituirá em medida e padrão avaliativo de Deus e de sua revelação. O naturalismo, deísmo ou panteísmo não deixa de ser uma declaração teológica. Portanto, a pertinente questão, é se a nossa teologia é verdadeira ou falsa.[17] O fato é que sem Deus – quer seja verdadeiro, quer falso -, a vida carece de sentido.

Recorro a Nash (1936-2006):

 

Os seres humanos nunca são neutros em relação a Deus. Ou adoramos a Deus como Criador e Senhor ou nos afastamos de Deus. Como o coração é direcionado ou para Deus ou contra ele, o pensamento teórico nunca é tão puro ou autônomo como muitos gostariam de pensar que fosse.[18]

 

Conhecer a Deus é um privilégio da graça que tem o seu início sempre no Deus Trino (Mt 11.27;1Co 12.3). Deus sabe tudo a nosso respeito, nos conhece mais do que nós mesmos. Nada que lhe digamos é inusitado. Nós só o conhecemos à medida em que se revela, fala de si mesmo (Sl 139.1-4; 33.13-15; Jo 1.47-48; 2.25).

“Quanto mais conhecemos Deus, mais compreendemos, e sentimos que seu mistério é inescrutável”, comenta Brunner (1889-1966).[19] A douta ignorância faz parte essencial da fé genuína e sincera.[20] O conhecimento de nossa limitação não é inato, antes é precedido pela revelação.  A consciência do mistério inescrutável de Deus a temos pela revelação.

 

Ateísmo como declaração da revelação

Sem o desvelar-se de Deus não há teísmo, ateísmo nem agnosticismo. É no encontro significativamente pessoal com Deus que tomamos conhecimento de nossas limitações.[21] Por isso, é que todo agnosticismo é uma forma de suicídio intelectual.[22] E, no campo teológico, o agnosticismo não difere essencialmente do ateísmo.[23]

Deste modo, o homem passaria toda a sua vida e estaria na eternidade sem o menor conhecimento de Deus por mais engenhosos que fossem os seus métodos, por mais sistemáticas que fossem as suas pesquisas, por mais que evoluísse a ciência…

O homem nunca conseguiria chegar a Deus, ou mesmo à sua ideia: ignoraria eternamente a própria ignorância! Entretanto, Deus continuaria sendo o que sempre foi: o Senhor![24] Todavia, graças a Deus, porque Ele soberanamente se revelou a si mesmo, para que possamos conhecê-lo e render-lhe toda a glória que somente a Ele é devida. Em Cristo, nós somos confrontados com o clímax e plenitude da revelação de Deus (Jo 14.9-11; 10.30; Cl 1.19; 2.9; Hb 1.1-4). “Tudo quanto diz respeito ao genuíno conhecimento de Deus constitui um dom do Espírito Santo”, declara Calvino.[25]

Lewis (1898-1963) escreve de forma perspicaz:

 

O ateísmo (…) é uma coisa por demais simplista. Se todo o universo não tem sentido, nunca descobriríamos que ele não tem sentido, do mesmo modo que, se não houvesse luz no universo, nem, consequentemente, criaturas com olhos, nunca saberíamos que era escuro. A palavra escuro seria uma palavra sem sentido.[26]

 

Deus, Senhor do real que se revela fidedignamente

No entanto, Deus se revelou fidedigna e acessivelmente em sua revelação. “No Filho temos a revelação última de Deus. Da mesma forma como é verdade que quem viu o Filho viu o Pai, também é verdade que quem não viu o Filho, não viu o Pai”, escreve Hendriksen (1900-1982).[27] Jesus Cristo, a plenitude da graça encarnada, é a medida da revelação; o seu padrão e apelo final!

Bavinck (1854-1921) exulta:

 

A plenitude do ser de Deus é revelada nele. Ele não apenas nos apresenta o Pai e nos revela Seu nome, mas Ele nos mostra o Pai em Si mesmo e nos dá o Pai. Cristo é a expressão de Deus e a dádiva de Deus. Ele é Deus revelado a Si mesmo e Deus compartilhado a Si mesmo, e, portanto, Ele é cheio de verdade e também cheio de Graça.[28]

 

Deus também não é uma mera força impessoal sem nenhum sentido de racionalidade, antes, é o Deus transcendente e pessoal que se revela genuinamente, com quem podemos nos relacionar: ouvir, amar, temer, confiar e orar.[29]

A linguagem usada para Deus tem um caráter relacional, mostrando um Deus que se relaciona com o seu povo na história.[30] Aliás, é a partir do relacionamento de Deus com a Criação em geral e com o homem em especial, que torna possível a teologia.

A revelação é justamente isso, a passagem do Deus consigo para o Deus conosco. Do Deus absconditus  para o  Deus  revelatus. Aspectos do caráter de Deus se revelam em suas relações com suas criaturas.[31]

O nosso conhecimento pode ser real e genuíno, porém é fragmentado e limitado.[32] Contudo, devemos nos alegrar em poder conhecer. O Senhor não exigirá mais do que nos foi dado. Mas, o Senhor exige a nossa fidelidade no muito e no pouco.[33]

A despeito de nossas limitações, da loucura de nossa tentativa de pensar autonomamente, Deus, o Senhor glorioso e majestoso, torna-se conhecido por nós, paradoxalmente não pelos nossos esforços, mas, porque Ele graciosamente se dá a conhecer de forma acessível à nossa capacidade. As nossas especulações e induções são incapazes de nos conduzir ao conhecimento salvador de Deus.

Qualquer tentativa de analogia que pensemos em fazer para aplicar a Deus, é sempre tacanha, pobre e temerária. Por isso mesmo, a revelação de Deus sempre é uma autorrevelação consciente, majestosa e objetiva. Deus na expressão de sua natureza gloriosa, traz beleza variada e harmoniosa à Criação.

As Escrituras não tratam a Deus como um ser que se confunde com a matéria (panteísmo)[34] nem como uma divindade ausente e distante do mundo (deísmo),[35] como normalmente ocorre com o pensamento pagão ao longo da história. Antes, nos mostram tal qual Ele se revela.

O Deus nas Escrituras é o Deus em quem podemos confiar, orar e nos conduzir por sua Palavra. Ele é fiel.

 


[1] “A verdade das criaturas, por exemplo, seria sem sentido sem a verdade de Deus, mas a verdade de Deus não depende do mundo que ele criou. Ele conhece todas as coisas por si mesmo, conhecendo sua natureza e seu plano eterno, e cria a verdade sobre o mundo real por meio de suas obras de criação e providência. Nosso conhecimento depende do dele (Sl 36.9), mas o dele não depende de nada, a não ser dele mesmo” (John M. Frame,  A Doutrina de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 455).

[2]J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 20.

[3]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.17), p. 184 (Veja-se a nota 5 in loco). Hodge (1797-1878) faz eco a essa compreensão: “O cristão cônscio de sua imbecilidade como criatura, e de sua ignorância e cegueira como pecador, coloca-se diante de Deus, na postura de uma criança, e aceita como verdadeiro tudo o que um Deus de infinita inteligência e bondade declara ser digno de confiança. E ao assim submeter-se a ser instruído, ele age com base nos mais elevados princípios da razão” (Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 41).

[4] Veja-se: Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP, 2001, p. 175.

[5]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 607.

[6]A obra de Stark sem sustentar esta tese, a ilustra: Rodney Stark, A vitória da razão: como o cristianismo gerou a liberdade, os direitos do homem, o capitalismo e o milagre econômico do Ocidente, Lisboa: Tribuna da História, 2007.

[7] Francis A. Schaeffer, O Deus que intervém, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 146.

[8] “No princípio, criou Deus os céus e a terra. (…) 26 Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. 27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.1,26-27). 6 Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles. (…) 9 Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 36,6,9).

[9] “O Senhor com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus” (Pv 3.19).

[10] Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 113.

[11]Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Princípios bíblicos de adoração cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

[12] “A perda total de significado implícita no ateísmo é de mais para que muitos suportem. As pessoas precisam de alguns valores, alguns padrões, algumas maneiras para orientar suas vidas. Entre essas pessoas, aqueles que continuam a resistir à crença no verdadeiro Deus tornam-se inconsistentes quanto ao seu ateísmo, ou tornam-se idólatras. Se não querem o verdadeiro Deus, terão de procurar outro” (John Frame, Apologética para a Glória de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 150).

[13] “Qualquer que seja esse nosso objeto de preocupação fundamental, isso será o nosso deus. Por esta razão, não existem ateus genuínos. Encontramos, em vez disso, pessoas que veneram ou adoram coisas ou ideias em lugar do único Deus verdadeiro” (Ronald H.  Nash, Cosmovisões em Conflito: escolhendo o Cristianismo em um mundo de ideias,  Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 39).

[14]John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology, Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2015, p. 7.

[15]Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 181,186ss.

[16] K. Barth, Church Dogmatics, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 2010, I/1, p. 306.

[17]“Até mesmo a robusta rejeição que o ateu faz de Deus é uma declaração teológica. A pergunta é se a nossa teologia é verdadeira ou falsa” (Joel R. Beeke; Paul M. Smalley,  Teologia Sistemática Reformada,  São Paulo: Cultura Cristã, 2020, v. 1, p. 37).

[18]Ronald H. Nash, Cosmovisões em Conflito: escolhendo o Cristianismo em um mundo de ideias,  Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 35.

[19] Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 156. “O mistério é a força vital da dogmática” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 29).  “A teologia cristã sempre tem a ver com mistérios que ela conhece e com os quais fica maravilhada, mas não compreende, nem sonda” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 619).“Quanto mais compreendemos a verdade de Deus, mais somos chocados pelo mistério” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 32). Dentro de outro tema, escreveu Packer: “Seja como for, não devemos ficar surpresos ao encontrar mistérios dessa espécie na Palavra de Deus. Pois o Criador é incompreensível para as suas criaturas. Um Deus que pudesse ser exaustivamente compreendido por nós, cuja revelação sobre Si mesmo não nos apresentasse  qualquer mistério, seria um Deus segundo a imagem do homem e, portanto, um Deus imaginário, e nunca o Deus da Bíblia” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 20).

[20] Ver: João Calvino, As Institutas, III.21.2; III.23.8.   Na edição de 1541, escrevera: “E que não achemos ruim submeter neste ponto o nosso entendimento à sabedoria de Deus, aos cuidados da qual Ele deixa muitos segredos. Porque é douta ignorância ignorar as coisas que não é lícito nem possível saber; o desejo de sabê-las revela uma espécie de raiva canina” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3 (III.8), p. 53-54). Semelhantemente, François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 647-648.

[21] Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157, 159ss.

[22]Cf. Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 7, E-book.  Posição 99 de 715.

[23] Cf. Gordon H. Clark, Em Defesa da Teologia, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 23.

[24]“Ainda que o mundo inteiro fosse incrédulo, a verdade de Deus permaneceria inabalável e intocável” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.2), p. 48-49).

[25]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 12.3), p. 373.

[26]C.S. Lewis, A essência do Cristianismo autêntico, São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, (1979), p. 21.

[27] William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, (Jo 14.9) p. 657.

[28]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 25-26. “Deus se revelou mais abundantemente no nome ‘Pai, Filho e Espírito Santo’. A plenitude que, desde o princípio, estava no nome Elohim, foi gradualmente desenvolvida e tornou-se mais plena e manifestamente expressa no nome trinitário de Deus” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 150).

[29] “A principal ênfase do cristianismo bíblico consiste na doutrina de que um Deus infinito e pessoal é a realidade final, o Criador de todas as outras coisas, e de que um indivíduo pode se aproximar do Deus santo com base na obra consumada de Cristo, e somente desse modo” (Francis A. Schaeffer, O Grande Desastre Evangélico. In: Francis A. Schaeffer, A Igreja no Século 21, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 272).

[30] Cf. Terence Fretheim, Javé: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 4, p. 740-741; Gottfried Quell, ku/rioj, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 3, p. 1062-1063.

[31]Cf. A.H. Strong, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003, v. 1, p. 21.

[32] Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 98, 110.

[33] Veja-se: Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 10.

[34]Panteísmo [“Pan” (pa=n = tudo, todas as coisas) & “Theós” (qeo/j = Deus)], é a doutrina que ensina que não há nenhuma realidade transcendente e que tudo é imanente; por isso, Deus e o mundo formam uma unidade essencial, sendo, portanto, a mesma coisa, constituindo um todo indivisível; por isso a negação da transcendência de Deus visto que Ele se confunde com a própria matéria, sendo esta a própria manifestação de Deus.

A Bíblia não confunde Deus com a matéria; antes, afirma que Deus criou a matéria (Gn 1.1) e a sustenta com o seu poder (Cl 1.17; Hb 1.3). Esta distinção entre o Deus Criador e a criação é um ensinamento fundamental das Escrituras.

[35]Deísmo é uma denominação genérica das doutrinas filosófico-religiosas que surgiram em meados do século XVII, as quais, contrapondo-se ao “ateísmo”, afirmavam a existência de Deus; entretanto, negavam a Revelação Especial, os milagres e a Providência. Esse Deus é concebido preliminarmente como a causa motora do universo. Uma das ideias predominantes, era a de que um Deus transcendente criou o mundo dotando-o de leis próprias e retirou-se para o seu ócio celestial, deixando o mundo trabalhar conforme as leis predeterminadas. Uma figura comum ao deísmo do século XVIII era a do relógio de precisão que seria o equivalente ao universo que trabalha sozinho depois de se lhe dar corda. Neste caso, Deus seria uma espécie de relojoeiro distante, apenas observando a sua criação sem “intervir” em suas questões cotidianas. A conclusão chegada pelos deístas é a que as leis que regem o universo são imutáveis. O deísmo consequentemente atribui à Criação a capacidade de se sustentar e se governar por si mesma. Temos aqui um naturalismo autônomo.

Desta forma, Deus é um proprietário ausente, que não age diretamente sobre a Criação; a única relação existente entre o Criador e a Criação, dá-se por meio de suas leis deixadas, as quais regem o universo de forma determinista. Deus seria regente do universo “apenas de nome”. O deísmo não deixa de ser um ateísmo prático visto que Deus não é considerado de forma concreta na vida de seus adeptos. Deus sai do cenário real e concreto, mas, o destino e o acaso terminam por ser entronizados. (Para maiores detalhes sobre o panteísmo e o deísmo, vejam-se: Hermisten M.P. Costa, O homem no teatro de Deus: providência, tempo, história e circunstância, Eusébio, CE.: Peregrino, 2019, p. 96-101).

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.