Um blog do Ministério Fiel
Mulheres podem pregar?
Critérios para a questão de mulheres poderem pregar e ensinar entre os cristãos
Onde e quando as Escrituras permitem que as mulheres ensinem homens e mulheres na vida de uma igreja?
Há alguns anos, uma ligação urgente de Carl me mostrou que a resposta para essa pergunta nem sempre é óbvia se você é complementarista. Carl, um líder estudantil no ministério universitário da igreja, aproveitava uma viagem de férias de primavera na Flórida com seus colegas de ministério. Durante o dia, o grupo evangelizava em uma praia. À noite, se reuniam para pregar e cantar. Uma ou duas vezes uma mulher pregou para todo o grupo. Carl se sentiu desconfiado sobre isso. Como eu era presbítero na nossa igreja, em Washington DC, ele me ligou e perguntou: “Isso está certo ou errado?”.
A Bíblia não aborda explicitamente uma variedade de circunstâncias em que podemos nos encontrar, como aconteceu com Carl e o grupo da faculdade. Em vez disso, nos fornece uma lista que vai do ilícito ao lícito. De um lado, Paulo ordena: “Não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio” (1Tm 2.12). Aparentemente, há algumas situações na vida de uma igreja em que mulheres ensinarem os homens é ilícito – proibido por Deus, sendo, portanto, um pecado.
Do outro lado da lista, ouvimos falar de Apolo pregando na sinagoga. Logo depois, Priscila e Áquila “tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (Atos 18:26). Em outras palavras, Priscila, junto com seu marido, diz ao poderoso pregador Apolo: “Você está entendendo o texto de forma errada, amigo!” Em certo sentido, ela o está ensinando em particular.
Onde está então a linha divisória entre esses dois exemplos? O que separa o ensino lícito do ilícito de uma mulher para um homem? Meu objetivo neste artigo não é defender o complementarismo. Em vez disso, escrevo como um complementarista convicto para complementaristas convictos que precisam de ajuda no entendimento e aplicação.
Vou responder à questão lícito versus ilícito com um princípio básico: é ilícito que as mulheres ensinem em ambientes mistos quando esse ensino é direcionado à igreja reunida.
Ao saírmos desse contexto, tal ensinamento pode ser formalmente lícito, mas a sabedoria é importante nesses casos. A seguir, apresentarei cinco considerações sobre se tal ensino é sábio ou imprudente.
O que o torna lícito ou ilícito?
1. Paulo restringe as mulheres de ensinarem na igreja.
Acho que a resposta simples e intuitiva que os cristãos têm obedecido há séculos, porque está claro nas páginas da Bíblia, é que Paulo proíbe as mulheres de ensinarem na igreja.
O contexto de sua ordem em 1 Timóteo 2 é a igreja reunida (veja 1Tm 3.15). Aqui está o versículo inteiro: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio”. Observe essa última frase. Paulo está instruindo as mulheres a permanecer em silêncio em todos os lugares – em casa, no campus da faculdade ou em um piquenique com amigos cristãos? Certamente que não. Paulo é mais explícito nessas instruções sobre o ambiente congregacional em 1 Coríntios 14. Atenção para as partes que destaco: “conservem-se as mulheres caladas nas igrejas… Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja” (1Co 14:34–35). Deixemos para outro dia o que significa “conservem-se caladas” na igreja. Oração? Profecia? Essa não é a minha preocupação. Meu ponto aqui é apenas este: quando Paulo proíbe as mulheres de ensinar ou exercer autoridade sobre um homem em 1 Timóteo 2.12, simplesmente está se referindo de maneira clara e transparente sobre ensinar na reunião semanal da igreja.
A explicação mais fácil pode nem sempre ser a melhor, mas normalmente é, e aqui está claro. As mulheres não devem ensinar ou exercer autoridade sobre um homem na igreja. Fazer isso é ilícito. É pecado.
Por sua vez, isso pode sugerir que é formalmente lícito para uma mulher ensinar, instruir ou exortar um homem fora da igreja (deixemos questões sobre prudência e educação de lado por enquanto). Por que, então, era aceitável que Priscila se juntasse ao marido para ensinar Apolo? Vários fatores podem estar envolvidos, como a presença do marido ou a maneira como ela falava. Não tenho certeza. No entanto, fica claro que este “lhe expuseram o caminho de Deus” não ocorreu em uma reunião ou culto da igreja. Da mesma forma, se eu pessoalmente começasse a flertar com a infidelidade em minhas ações ou doutrina, dificilmente acharia que seria pecado para uma mulher (seja ela membro ou não) se aproximar de mim fora da congregação, abrir a sua Bíblia, apontar para um versículo e me desafiar: “Jonathan, o que você está fazendo?”
Agora, precisamos analisar se qualquer momento de instrução, ensino ou pregação da doutrina cristã fora do ambiente da igreja é uma atitude sábia ou não. Afinal, Paulo fundamenta sua proibição na igreja reunida no próprio projeto da criação (1Tm 2:13). Isso significa que, mesmo fora da igreja, uma mulher pregar para homens corre o risco de se chocar contra o padrão que Deus teceu em seu projeto de mundo. A lição aqui não é: “Mulheres ensinando a igreja é errado, mas absolutamente bom em qualquer outro lugar”. Isso faria com que a proibição de sua igreja parecesse um pouco arbitrária.
No entanto, observe que quando se trata do ensino fora da reunião da igreja, seus registros morais mudaram. Não falamos mais sobre pecado e justiça, mas se é sábio ou imprudente. Voltaremos a essa mudança de registros no momento certo.
2. Paulo não restringe as mulheres apenas de ensinar como presbíteras/pastoras.
Agora que temos a resposta certa para a questão de quando a proibição de Paulo se aplica às mulheres, permita-me voltar para a resposta errada, que por sua vez pode nos ajudar a entender melhor por que o simples “na igreja” é significativo.
Alguns autores traçam a linha divisória do que é lícito/ilícito entre dois tipos de ensino – o ensino de um presbítero e o ensino de um não presbítero. A ordenação funciona como a linha que produz esses dois tipos de ensino. Tim Keller, por exemplo, defende que a forma de “ensino dos presbíteros” que proclama a doutrina oficial da igreja difere de outras formas de ensino que homens e mulheres podem fazer. John Frame também distingue “entre o ofício de ensino especial, sob responsabilidade de presbíteros ordenados, e o ofício de ensino geral, que inclui todos os crentes”. Andrew Wilson refere-se a tudo isso como Big-T (grande-ensino) versus little-t (pequeno-ensino).
O maior problema dessa visão de ensino é que, quando uma pessoa sobe ao púlpito ou à classe da Escola Dominical e abre uma Bíblia, ensino é simplesmente ensino. Ele desperta a consciência porque a Bíblia a desperta, seja um presbítero ensinando ou não. As pessoas sentadas nos bancos não ouvem o ensino e pensam consigo mesmas: “Ok, já que este é um ensino oficial Big-T, então preciso realmente prestar atenção. Como na semana passada era um ensinamento little-t, então só tive que ouvir”. Em outras palavras, a estrutura de dois níveis superenfatiza o professor e subestima a Bíblia, bem como sua autoridade chave, o significado da igreja reunida como embaixada de Cristo na terra (ver Mt 18.20; 1Co 5.4).
Se uma pessoa abre a Bíblia para ensinar a igreja reunida, ela faz o que chamamos simplesmente de… ensino. Tom Schreiner escreve: “O ensino explica e transmite de maneira pública e oficial a tradição sobre Cristo e as Escrituras (1Co 12.28–29; Ef 4.11; 1Tm 2.7; 2Tm 3.16; Tg 3.1) … é o coração e a alma do ministério da igreja até a segunda vinda de Cristo”. Dividir as formas de ensino que recebemos ao nos reunirmos como igreja, que é estabelecer um tipo de primeiro e segundo nível de ensino naquele local, debilita qualquer ensino bíblico que não seja dado por um presbítero.[2]
3. A autoridade do presbítero e a autoridade do ensino na igreja estão relacionadas.
Tendo dito tudo isso, não quero descartar a importância da autoridade do presbítero enquanto procuramos entender o que significa “ensinar”. O texto grego em 1 Timóteo 2.12 torna lexicalmente improvável que “ensinar ou ter autoridade” seja uma hendíade — duas palavras que comunicam uma ideia.[3] Digo isso porque essa sugestão parece estar se tornando cada vez mais popular. Mas as ideias de ensinar e ter autoridade certamente estão relacionadas. O presbítero “exorta e repreende também com toda a autoridade”, como diz Paulo em outro lugar (Tt 2.15). E embora eu não restrinja os não presbíteros de pregar ou ensinar na reunião principal da igreja, como fazem meus amigos presbiterianos, concordo que, normalmente, são os presbíteros que realizam o trabalho de pregar e ensinar nas reuniões da igreja. Outros podem intervir de vez em quando, como um jovem em treinamento. No entanto, este é o trabalho principal dos presbíteros.
Nesse sentido, acho que Andreas Köstenberger provavelmente está certo quando argumenta que a relação entre “ensino” e “autoridade” em 1 Timóteo 2:12 é a relação entre um exemplo específico dentro de uma categoria e depois a categoria geral. É semelhante ao relacionamento que migra do específico para o geral quando Paulo ensina que os gentios “não devem circuncidar os filhos [específico], nem andar segundo os costumes [judaicos] da lei [geral]” (At 21.21).
Não nos surpreende, portanto, o fato de que além de Paulo restringir as mulheres de ocupar o cargo de presbíteras na igreja, ele também as restrinja de ensinar na igreja. Também não nos surpreende que, se ele restringe as mulheres de ensinar na igreja, também as restrinja do cargo de presbíteras/pastoras. A atividade e o ofício, embora distintos, estão mutuamente envolvidos ou entrelaçados.
4. A teologia do encontro oferece um pano de fundo crucial para este debate
Quero fazer mais um comentário que não é absolutamente necessário para nossos propósitos atuais, mas que tem sido o motor teológico do zumbido silencioso no fundo de minha mente enquanto escrevo.
O motor teológico por trás dessa conversa, como eu disse, é o fato de que a igreja reunida possui as chaves do reino. Infelizmente, na época atual, as pessoas que são pragmáticas, individualistas, que se dividem em várias tarefas e obrigações locais, carecem de uma compreensão do significado do encontro (ou reunião).
Na melhor das hipóteses, o encontro, na mente da maioria dos cristãos, representa aquele lugar que vamos uma vez por semana tanto para usar nossos dons espirituais servindo aos outros quanto para receber encorajamento e sermos alimentados por eles. O que falta, entre outras coisas, é o reconhecimento de que o todo é mais do que apenas a soma das partes e que a própria reunião fala por si. E falar com as chaves do reino em mãos é ensinar com a autoridade dada por Deus.
Se fôssemos elaborar uma teologia do encontro, observaríamos que a igreja local reunida é onde o céu e a terra se sobrepõem (aqui também), como se sobrepõem no Jardim, no tabernáculo e no templo. O encontro é onde a nação santa e sem-terra adquire sua geografia, a igreja invisível se torna visível e o reino de Deus estabelece uma embaixada. O encontro ou reunião é onde dois ou três — ou duzentos ou trezentos — se reúnem em nome de Jesus para exercer as chaves do reino, e onde Cristo manifesta especialmente sua presença, de modo que fala exclusivamente para todos (Mt 18.20; 28.19-20).
Como tal – e isso é importante – você pode declarar as palavras do evangelho na terça-feira à noite na sala de estar do seu vizinho (“Jesus Cristo morreu e ressuscitou pelos pecadores”) e pode repetir exatamente essas mesmas palavras no domingo de manhã no púlpito (“Jesus Cristo morreu e ressuscitou pelos pecadores”), e em ambos os locais essas palavras possuem a autoridade das Escrituras. No entanto, elas possuem uma camada adicional de autoridade neste último local: elas também possuem autoridade eclesiástica (cf. 1Co 5.4).
Por quê? Porque quando essas palavras são proferidas no púlpito da igreja, o poder não reside apenas da Bíblia, mas em toda a congregação por meio das chaves do reino. A igreja inteira, em virtude de aceitar essas palavras do evangelho, faz uma declaração pública que a estabelece e define: “Sim, nós acreditamos nestas palavras. Elas nos definem. E para ser um de nós, você também deve acreditar nelas”. Então, proferidas a partir do púlpito, elas unem toda a igreja e a tornam uma realidade pública e visível na terra.
Agora, para combinar os pontos três e quatro, os presbíteros devem liderar todo esse processo. A autoridade deles trabalha dentro e por meio dessa ideia mais ampla de autoridade eclesiástica. Eles lideram a igreja no uso congregacional da autoridade eclesiástica (consulte “Don’t Fire Your Church Members” [Não demita os membros da sua igreja], sem tradução para o português, e “Entendendo a Autoridade da Congregação”). No entanto, espero que este quarto ponto lhe dê uma noção melhor de por que o local – o encontro – é tão significativo. Como a embaixada dos Estados Unidos em Bruxelas, na Bélgica, o próprio encontro físico e visível representa uma embaixada do reino dos céus na terra.
5. Se a linha entre o ensino ilícito e lícito é locacional, é útil pensarmos em círculos concêntricos
Então, como juntamos tudo isso para aplicar os princípios do complementarismo em diferentes contextos?
Acredito que é útil pensarmos em termos de círculos concêntricos. No centro do círculo – o alvo – estão todas as reuniões da igreja supervisionadas pelos presbíteros. O ensino neste ambiente acontece trazendo a autoridade de toda a igreja, bem como a autoridade dos presbíteros.
Como tal, o momento mais claro em que podemos aplicar 1 Timóteo 2.12 é o encontro semanal e principal da igreja. Caso haja um segundo encontro, como um culto de domingo à noite ou um estudo bíblico na quarta-feira, eu diria que basicamente se aplica também a essas reuniões. Por quê? Porque o ensino que ocorre nesses locais representa o ensinamento da igreja que une a todos. Nesses ambientes, eu diria que é ilícito – pecado – que as mulheres ensinem.
Agora avancemos do local de culto para a sala de aula da Escola Dominical. A igreja inteira não está presente, e chamo isso de meio passo para fora. Ainda assim, a proximidade da sala da Escola Dominical com o culto principal, bem como o fato de que essas aulas são frequentemente ministradas por presbíteros, significa que é considerada um ministério da igreja e dos presbíteros. As pessoas normalmente consideram o que é ensinado na Escola Dominical como obrigatório para toda a igreja. (Isso é especialmente verdadeiro se essas lições fizerem parte de um currículo básico ou estiverem disponíveis no site da igreja). Por essa razão, eu diria que, com toda a probabilidade, continua sendo ilícito para as mulheres ensinarem aqui. Fazer isso seria muito imprudente.[4]
Questões de sabedoria, por sua vez, permanecem relevantes tanto por causa da conexão do pequeno grupo com a igreja quanto pelo fato do projeto da criação continuar sendo um fator. Por exemplo, suponha que um marido entregue a liderança do grupo para sua esposa. A liderança dele no lar e a dela no pequeno grupo avançariam em direções opostas. Se, no entanto, queremos edificar a igreja (a casa de Deus) de uma forma coerente com a ordem criada, então não queremos que essas duas formas de liderança trabalhem uma contra a outra, onde o marido lidera a família de uma forma geral e sua esposa lidera seu pequeno grupo em particular durante duas horas por semana. Se a igreja é o lugar onde a nova criação é revelada, vivenciada, modelada e proclamada, o lar e a igreja, na medida em que ambos estejam representados no estudo bíblico domiciliar, devem trabalhar juntos.
Poderíamos avançar ainda mais na direção do estudo bíblico evangelístico da igreja, ou da conferência cristã, ou da sala de aula do seminário. A cada passo do caminho, me convenço menos de que a conversa sobre o que é lícito/ilícito é a correta, e que a conversa sobre sabedoria/tolice é a certa. Em cada etapa, porém, o projeto da criação continua sendo um fator, assim como a conexão do que foi instituído com a igreja. E podemos concluir que, embora não seja pecado uma mulher ensinar, fazê-lo pode ser tão imprudente quanto inútil.
Por exemplo, não entendo por que alguns ministérios paraeclesiásticos adotam práticas diretamente contrárias ao que Paulo ordena para a igreja, como pedir para mulheres conduzirem estudos bíblicos em ambientes mistos. As pessoas podem alegar: “Não somos a igreja!”, o que é verdade. No entanto, elas não percebem que esses estudos visam treinar homens e mulheres a voltar para as igrejas e começar a questionar suas atitudes, bem como os ensinamentos de Paulo?
Com tudo isso em mente, pense na minha conversa que tive com Carl quando ele me ligou da Flórida e perguntou sobre mulheres ensinando nas reuniões noturnas do grupo da faculdade durante a semana. O que eu respondi? Disse que acreditava que tal ensino era formalmente lícito. Eu não estava convencido de que as mulheres pecavam ensinando, ou que ele estava pecando ao ouvi-las. Afinal, não se tratava do encontro da igreja toda, onde os membros se reúnem semanalmente para a pregação da Palavra e a celebração dos sacramentos. Portanto, ele poderia concluir a semana sem se sentir culpado. Eu também disse que achava isso imprudente e que falaria com o líder do ministério e o encorajaria a mudar suas táticas.
O que torna as ocasiões sábias ou imprudentes?
Eis a pergunta inevitável: o que torna tais ocasiões de ensino sábias ou imprudentes? Presumo que foi sensato Priscila juntar-se ao marido para instruir Apolo. Ao mesmo tempo, considero imprudente as mulheres ensinarem na viagem da universidade para a Flórida. Como então poderemos distinguir entre o que é sábio ou imprudente quando as mulheres ensinam os homens fora da reunião da igreja?
Permita-me fazer essas cinco perguntas rápidas:
1. Os ouvintes serão tentados a tratar isso como o ensino oficial da igreja ou reconhecerão que o ensino representa meramente a opinião de uma pessoa?
Se houver alguma chance de que tal ensino seja interpretado como o ensino da igreja e de seus presbíteros, provavelmente não é sábio.
Por exemplo, presumo que a maioria dos membros dos pequenos grupos da minha igreja considera o ensino realizado ali como “apoiado pela igreja e pelo pastor”. Portanto, se um de meus colegas presbíteros propusesse que pedíssemos a uma mulher que ensinasse um pequeno grupo misto, eu argumentaria dizendo que isso seria muito imprudente. No entanto, suponha que eu esteja ensinando a um grupo tão pequeno e uma mulher levante a mão e acrescente alguma coisa ao significado do texto. Eu diria que ela tem liberdade para fazer isso, porque ninguém no grupo ficará tentado a confundir o que ela está dizendo com o ensino dos presbíteros e da igreja. Eles reconheceriam que esta é sua opinião pessoal.
2. Você pode estar ensinando lições que criarão problemas futuros para os pastores?
Carl me lembrou recentemente de algo que eu disse naquele telefonema há alguns anos. Aparentemente, eu disse a ele para considerar se o ministério da universidade estava preparando suas colegas universitárias para voltarem e serem membros infelizes de suas igrejas locais, especialmente se não tiverem permissão para ensinar a grupos mistos de adultos em suas igrejas. Em outras palavras, que tipo de precedente estava pedindo às mulheres que ensinassem desta forma? Mais uma vez, me refiro à questão da sabedoria, e não sobre pecado/retidão. Você pode discordar de mim. Ainda assim, defendo esse conselho. Sempre precisamos considerar quais precedentes estamos estabelecendo na mente das pessoas. Seria tolice não os levar em conta.
3. Você está encorajando as mulheres no chamado de Deus para suas vidas?
Esta é outra versão da pergunta anterior. Deus não chama mulheres para ensinar ou pregar na reunião principal da igreja. Ele tem outras boas vocações e oportunidades. Quais são elas? Em vez de incentivá-las em algo que não foram chamadas para fazer na igreja, devemos sempre procurar oportunidades para equipá-las e empregá-las naquilo que Deus as chama para fazer, inclusive ensinar outras mulheres. Quando você estiver analisando uma oportunidade específica para uma mulher ensinar, faça a si mesmo a seguinte pergunta: essa oportunidade fortalecerá a habilidade dela de fazer o que Deus a chamou para fazer na igreja?
4. Da mesma forma, dar esta oportunidade particular de ensino a uma mulher corre o risco de desencorajar um jovem de ensinar?
Parte do discipulado de jovens cristãos é ensiná-los a ter a iniciativa de conduzir outros à uma vida piedosa. Todo jovem que deseja se casar e ter filhos ou que aspira ser um presbítero da igreja, o que é um bom desejo, deve aprender esta lição. Nesse sentido, portanto, acredito que as igrejas devem se esforçar para criar culturas onde os jovens carreguem o fardo de ensinar a Palavra de Deus.
Por exemplo, acabei de assistir a um filme sobre a Primeira Guerra Mundial. Se a história do filme estiver correta, os jovens sentiram um fardo e uma preocupação especial em proteger seus países na primeira metade do século XX. Esse é um fardo bom e que, ouso dizer, se dissipou. Quer você concorde comigo ou não sobre o quão bom é esse fardo particularmente, acho que os homens cristãos devem sentir algum fardo para ensinar. Portanto, não quero estabelecer nenhuma estrutura ou prática que os desencorajem. Em vez disso, quero participar do cultivo de uma cultura na igreja em que os jovens fiquem entusiasmados com a oportunidade de ensinar em ambientes de adolescentes e universitários. Homens que se preocupam em ensinar a Palavra de Deus servem igualmente a homens e mulheres.
5. Você ama e confia nos planos de Deus para o ensino da igreja, conforme descrito em 1 Timóteo 2:12, ou fica tentado a se desculpar por isso e chegar o mais perto possível do limite?
Crescendo na igreja, me lembro de colegas que eram alunos do ensino médio e que perguntavam “até onde” podemos avançar fisicamente com pessoas do sexo oposto. Nossos líderes de jovens da igreja responderam dizendo que, se estamos nos perguntando o quão perto podemos chegar da “linha” sem cruzá-la, estamos tendo a conversa errada. Em vez disso, devemos treinar nosso coração para amar a lei de Deus, confiar que ela é boa e buscar viver de acordo com ela.
Às vezes, sinto que as conversas sobre complementarismo são assim. No fundo, não gostamos das restrições de 1 Timóteo 2.12. Não confiamos totalmente nisso. Mergulhados no estranho novo mundo do individualismo expressivo, pensamos no limite como um fardo, não como uma bênção.[5] Assumimos instintivamente que isso atrapalha a vida e rouba oportunidades.
Na medida em que for esse o caso, lutaremos constantemente contra isso. Nós iremos questionar, procurar explicar e, se necessário, trabalharemos continuamente para reduzir o círculo de sua aplicação. Será então mais difícil julgar se aplicar isso na “zona lícita” é algo sensato ou imprudente. Afinal, corremos o risco de deixar um fardo ideológico nos guiar em vez de confiar na boa lei e na Palavra de Deus.
Viu Deus que era muito bom
No final das contas, os desígnios e leis da criação de Deus são bons, até mesmo muito bons! Eles dão vida e abençoam. O amor por sua Palavra e lei, portanto, no estilo do Salmo 19, que toma emprestado a linguagem de Gênesis 1–3, deve preceder todas as nossas conversas sobre homens, mulheres e sobre como podemos ensinar. A esse respeito, não há diferença entre líderes e seguidores, professores e ouvintes. Todos devemos nos submeter a eles, como o Rei Jesus encarnado nos mostrou o caminho.
Notas do editor:
1. Este mês, a Christ Over All identificou mulheres que pregam sob a autoridade dos presbíteros como “igualitarismo funcional”, mesmo que aqueles que ocupam essa posição evitem o rótulo “igualitário”.
2. Além disso, esta abordagem trata o ensino de um presbítero como fundamentalmente distinto do ensino de qualquer outra pessoa na igreja. Presbíteros, a partir dessa perspectiva de “governo de presbítero”, definem e defendem a doutrina de uma maneira única. Em tal estrutura, seja presbiteriana, anglicana ou independente, os presbíteros possuem efetivamente as chaves do reino. Eles definem a doutrina básica da igreja, como o que aparece em uma declaração de fé, e distinguem isso do ensino mais cotidiano. Podemos fazer uma analogia da distinção aqui com a autoridade para redigir a constituição de uma nação versus a autoridade para redigir jurisprudências. Ensinar o Big-T é como redigir a constituição de um país. O ensino little-t está mais próximo de escrever jurisprudências cotidianas, que mudarão com mais frequência. Nem todos os proponentes das obrigações dos presbíteros seguirão esse caminho, mas prevejo que esse será um caminho cada vez mais popular em uma época que clama para permitir que as mulheres ensinem. Criar esses dois níveis de ensino e vinculá-los à autoridade do presbítero – os presbíteros escrevem as constituições; qualquer outra pessoa pode aprovar a jurisprudência – faz com que uma igreja afirme 1 Timóteo 2:12 e, ao mesmo tempo, deixe as mulheres ensinarem. Embora eu concorde que os presbíteros possuem autoridade em seu ensino, as Escrituras nunca dizem que somente eles podem ensinar. Nenhuma passagem mostra que os presbíteros defendem e definem a doutrina de uma maneira que o resto da igreja não faz. Na verdade, como congregacionalista convicto (liderado por presbíteros), acredito que o sacerdócio de todos os crentes e o Novo Testamento ensinam que toda a congregação possui essa responsabilidade. Por exemplo, por que outra razão Paulo alertaria não apenas os presbíteros, mas também as “igrejas da Galácia” por desvios do evangelho? Se ele diz a essas congregações que considerem anátema tanto um anjo ou apóstolo que apareça com outro evangelho, quanto menos um presbítero (Gl 1:2, 6–9).
3. Às vezes, as pessoas argumentam que “ensinar ou ter autoridade” é uma hendíade – duas palavras que comunicam uma coisa, como quando os autores do NT se referem a “carne e sangue” (por exemplo, Ef 6:12; Hb. 2:14). Andreas Köstenberger (pp. 145-152) argumenta persuasivamente que, no entanto, (i) as hendiádes, na literatura antiga e bíblica, ocorrem tipicamente com “e”, e não com “ou”; (ii) são clichês bem conhecidos (como “carne e sangue”), enquanto “ensinar ou ter autoridade” não é; e (iii) as duas palavras em uma hendíade são normalmente separadas apenas pela conjunção “e”, não por uma frase inteira, como é o caso aqui (o texto grego literalmente diz “Ensinar para uma mulher eu não permito ou ter autoridade”). Olhando para o grego, em outras palavras, é muito, mas muito difícil assumir que Paulo está proibindo apenas uma dessas coisas, e não as duas.
4. Uma possível exceção pode incluir um painel de discussão ou um casal dando uma aula sobre casamento ou paternidade. Mas observe a diferença no formato. Enquanto a pregação envolve a proclamação autorizada da Palavra, a aula da Escola Dominical pode incluir um formato de diálogo que é fundamentalmente diferente do evento de pregação na reunião da assembleia.
5. Carl R. Trueman, Strange New World: How Thinkers and Activists Redefined Identity and Sparked the Sexual Revolution (Wheaton, IL: Crossway, 2022).