Senhor criador e rei de toda terra

Sobre toda a terra o Criador e Rei reina soberana e sabiamente

O nosso Senhor e pastor é o Criador e único Rei de toda a terra. O reinado de Deus é uma declaração de fé que permeia todo o Antigo Testamento, especialmente nos Salmos.[1]

O seu trono não depende da vontade humana ou de aclamação popular ou de um “sufrágio universal”. Foi Ele mesmo quem o estabeleceu e sustenta (Sl 9.7).[2] Isso é motivo de admiração e temor.  Escreve o salmista: “Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra” (Sl 99.1).

Analisemos alguns aspectos do senhorio e reinado de Deus:

1) Poderoso e sábio Criador

A Criação de Deus é com frequência tomada como pressuposição do seu poder e realeza. O Senhor criou todas as coisas conforme sua deliberação e poder: Ele é absolutamente livre e onipotente.

A doutrina da Criação nos fala do poder todo suficiente de Deus e de nossa total dependência daquele que nos criou e preserva. Somente Deus, pelo seu poder, pode do nada tudo criar e, ao mesmo tempo, no exercício de seu poder, preservar todas as coisas, visíveis e invisíveis, conhecidas e ignoradas.

A criação é a expressão do Deus que pensa e cria, sem inspiração alguma fora de si mesmo. Na criação vemos delineados aspectos do ser de Deus, de sua sabedoria, bondade e poder.[3]

Bavinck enfatiza: “A doutrina da criação a partir do nada ensina a absoluta soberania de Deus e a absoluta dependência humana. Se uma partícula não tivesse sido criada do nada, Deus não seria Deus”.[4]

Não há um pedaço, um “cantinho” do universo que não tenha sido criado por Deus. Não há vida fora de Deus.

Portanto, um dos aspectos fundamentais da soberania de Deus repousa no fato dele ter criado livre e poderosamente todo o universo e a nós conforme sua deliberação e graça.

Vejamos a expressão dessa realidade em alguns salmos:

 

Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles. (Sl 33.6).

          Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou. (Sl 95.6).

Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio. (Sl 100.3).

Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. (Sl 104.24).

      O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra. (Sl 121.2).

 

A Bíblia atesta que Deus faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade (Ef 1.11), conforme o seu santo prazer e deliberação (Sl 115.3). Todos os seus atos, livres como são, constituem-se em manifestações do seu soberano poder e da sua infinita sabedoria (Pv 3.19; Rm 11.33).

O salmista diz que a inteligência do Senhor é incomensurável: Grande (gadol) é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento (tebunah) não se pode medir” (Sl 147.5).

E esta sabedoria se manifestou na criação: “Àquele que com entendimento (tebunah) fez os céus, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 136.5).

Jeremias escreve: “O Senhor fez a terra pelo seu poder; estabeleceu o mundo por sua sabedoria (chokmah), e com a sua inteligência (tabuwn) (judiciosamente,[5] entendimento[6]) estendeu os céus” (Jr 10.12).

No livro de Jó lemos: “Eis que Deus se mostra grande em seu poder!” (Jó 36.22).

A Criação é resultado da vontade e do poder criador de Deus, revelando aspectos da sua majestade e grandeza. (Gn 1.1,26,27; Sl. 148.5; Is 44.24; Jr 32.17; Rm 1.20; 4.17; 2Co 4.6; Hb 11.3; Ap 4.11). “Toda a criação nada mais é do que a cortina visível por detrás da qual irradia a operação excelsa desse pensamento divino”, interpreta Kuyper.[7]

Na criação em geral e na formação do homem em especial, encontramos a concretização precisa do decreto eterno de Deus. O homem é o produto da vontade de Deus: “Tudo quanto aprouve ao Senhor ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos” (Sl 135.6).

Assim, o homem não foi criado por um insensível acaso, por uma catástrofe cósmica ou por uma complicada mistura de gases e matérias. O homem foi formado por Deus de acordo com a sua sábia e soberana vontade (Gn 2.7; Rm 11.33-36).[8]

O salmista louva e convida os fiéis a louvarem a Deus considerando o seu poder na Criação: “Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e foram criados” (Sl 148.5).[9]

Na Criação nos deparamos já de início com o Deus que fala e age com poder. O seu poder “é a primeira coisa evidente na história da criação (Gn 1.1)”, destaca Charnock (1628-1680).[10] De fato, a criação do nada nos fala de seu infinito e incompreensível poder.[11]

Davi contemplando a majestosa criação de Deus, escreveu: “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente (yare’) maravilhoso (palah) me formaste; as suas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.14).[12]

2) Tudo pertence a Ele

As Escrituras também declaram que Deus como Criador tem o domínio sobre sua criação. Ele é o senhor e dono de toda a terra.

O salmista enfatizando a grandeza de Deus, registrou: “Derretem-se como cera os montes, na presença do SENHOR, na presença do Senhor de toda a terra” (Sl 97.5).[13]

No Salmo 2 vemos ilustrados aspectos do poder de Deus. Lemos o Pai falando ao Filho: 8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. 9 Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro” (Sl 2.8-9).

Como tudo lhe pertence, Deus pode oferecer ao Filho todas as coisas. Na sua promessa, não há hipérbole ou exagero de um rei que se vê maior do que é. Tudo lhe pertence.

Todas as coisas existem nele, até mesmo seus opositores pertencem e são preservados por Deus: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1).

A lógica da Missão

Deste modo, o governo de Cristo é universal, envolvendo todas as nações.

Aliás, Deus seria o Senhor se o seu reinado não se estendesse a todas as coisas?[14] Não. Por isso, não há nenhum tipo de problema de esfera nem de jurisdição; tudo lhe pertence. O anúncio por parte da igreja do Senhorio de Cristo é um alerta para que todos percebam a realidade premente de sua mensagem. Não se trata de arrogância, presunção ou uma mensagem bombástica apenas para criar debate ou frisson, antes, é a verdade absoluta que pode mudar a nossa vida, conferindo sentido à história, à vida e à morte.

McGrath ilustra esse ponto: “A insistência evangélica na importância da evangelização é, portanto, uma consequência inteiramente apropriada e natural de sua cristologia; se Jesus Cristo é de fato Salvador e Senhor, ele precisa ser proclamado ao mundo como tal”.[15]

O Senhor governa sobre grandes e pequenos. Por isso a rebelião de todas as classes. Na ignorância espiritual de todos, devido ao pecado de toda a humanidade, há rebeldia contra Deus e o seu Ungido.

O pecado entre as suas artimanhas de sobrevivência e fortalecimento, se vale da concessão da falsa sensação de liberdade. Todos queremos ser livres.  O trágico é que justamente o pecado, o mais escravizador de todos os senhores (Jo 8.34), que nos conduz a todo tipo de amarras, nos levando a multifacetados vícios escravizantes, faz-nos pensar que a liberdade buscada, o sentido da vida perseguido, está justamente no vício. Que tragédia! O supremo encarcerador nos fascina com a promessa de total liberdade. É precisamente por isso que, dominados por esse engano, o governo de Cristo é considerado como “laços” e “algemas” (cordas, correntes) pelos incrédulos (Sl 2.3).

Harman comenta: “Os homens pecaminosos nunca se dispõem a andar dentro das fronteiras que Deus impõe às suas criaturas. Em sua arrogância, declaram sua suposta liberdade e reivindicam ser senhores de seus próprios destinos”.[16]

Spurgeon (1834-1892) descreve a união maligna e intensa desses homens contra o Messias: “Com malícia determinada se organizam em oposição a Deus. Não foi um alvoroço e fúria passageiros, mas um ódio profundo, porque resolveram de modo claro resistir ao Príncipe da Paz”.[17]

As “extremidades da terra” (Sl 2.8) são possessões do Senhor. Não há quem possa dizer-lhe: isto não lhe pertence. Não há um centímetro sequer de toda a criação que não seja abrangido pela totalidade do poder governativo de Deus.[18] Tudo pertence a Deus. Nenhum rei “governa senão pela vontade de Deus”.[19] Portanto, reivindicar qualquer autonomia ou qualquer forma de exclusão do poder de Deus, mantendo-o alheio, consiste em um atentado à sua soberania.[20]

Força do seu Reinado

A “vara de ferro” (Sl 2.9) tipifica apenas um aspecto de seu domínio: a sua força. A vara de ferro forjado é resistente para isso. Como o contexto do Salmo é de rebeldia, é natural que seja realçada a sua força contra os opositores. Na realidade, o Reinado de Cristo também é de paz e fraternidade.

Calvino comenta:

 

Todos quantos não se submetem à autoridade de Cristo fazem guerra contra Deus. Visto que a Deus apraz governar-nos pela mão de seu próprio Filho, aqueles que se recusam a obedecer ao próprio Cristo negam a autoridade de Deus, e lhes é debalde fazer uma profissão de fé diferente.[21]

 

Cristo é munido com poder pelo qual possa reinar mesmo sobre aqueles que se opõem à sua autoridade e recusam obedecê-lo.[22]

Reinado intelectual

Uma tentação comum a todos nós é criar um dualismo entre a fé e a nossa forma de ver e atuar no mundo. É como se nossos sentimentos fossem sinceramente entregues a Deus, mas, a nossa mente em toda a sua racionalidade supostamente autônoma, me pertencesse, excluindo Deus de cena. Assim, criamos em nossa vida privada um muro de contenção onde Deus não pode passar nem a sua Palavra ser ouvida. Por trás dessa bem elaborada dicotomia, há um tipo de fé que seu proponente nem desconfia. É impossível caminhar sem fé.[23]

O reinado de Cristo envolve toda a Criação, todos os poderes e todas as áreas de nossa existência. Deus é Deus, por isso, somente Ele tem todo o poder. Somente Ele é Deus! Ele reina sobre todas as coisas e sobre cada coisa em particular.

Conforme citamos em nota, Sproul, expõe bem esta questão:

Quando falamos de soberania divina, estamos falando sobre autoridade de Deus e sobre o poder de Deus. Como soberano, Deus é a suprema autoridade do céu e da terra. Toda outra autoridade é uma autoridade menor. Toda outra autoridade que existe no universo é derivada e dependente da autoridade de Deus. Todas as outras formas de autoridade existem ou pela ordem de Deus ou pela permissão de Deus.

A palavra autoridade contém em si a palavra autor. Deus é o autor de todas as coisas sobre as quais Ele tem autoridade. Ele criou o universo. Ele possui o universo. Sua propriedade lhe dá certos direitos. Ele pode fazer com seu universo o que for agradável à sua santa vontade.

Da mesma maneira, todo o poder no universo flui do poder de Deus. Todo o poder no universo é subordinado a Ele. Até mesmo Satanás não tem poder para agir sem a soberana permissão de Deus.

Cristianismo não é dualismo. Não cremos em dois poderes extremos iguais, trancados numa luta eterna pela supremacia. Se Satanás fosse igual a Deus, não teríamos nenhuma confiança, nenhuma esperança do bem triunfando sobre o mal. Estaríamos destinados a um impasse eterno entre duas forças iguais e opostas.[24]

Por isso mesmo, o seu reinando tem também um sentido intelectual: levar todo pensamento à obediência de Cristo, como escreve o apóstolo Paulo:

3Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. 4 Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas 5 e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo. (2Co 10.3-5).

Astúcia de satanás

Paulo sabendo da astúcia de satanás e da fragilidade espiritual dos coríntios, os instrui uma vez que eles davam crédito aos falsos apóstolos que, usados por satanás, os afastavam da simplicidade do evangelho:

Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia[25] (= “ardil”, “truque”, “maquinação”, “trapaça”), assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo. (2Co 11.3).

Esta é uma forma sistemática de satanás atuar, obscurecendo a mente dos homens.

Satanás pensou por Eva. Eva, como não se deteve na Palavra de Deus, posteriormente, pensou pensar por si. Mas, sem perceber, refletiu o pensamento de Satanás que pensa e age de modo contrário a Deus.

Paulo após falar dos desígnios[26] de Satanás (2Co 2.11) – indicando a ideia de que ele tem metas definidas, estratégias elaboradas, um programa de ação com variedades de técnicas e opções a serem aplicadas conforme as circunstâncias[27] – diz que “O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4.4).

Vivemos em uma atmosfera contrária à fé cristã, uma má vontade para com a verdade, uma estrutura de pensamento totalmente secularizada onde não há lugar para Deus, valores e conceitos transcendentes e objetivos. O pecado afeta a totalidade do homem, inclusive o seu intelecto.[28] Assim, criamos um universo de valor privado onde a verdade é de cada um dentro dos significados subjetivos circunstanciais.

Veith diz que, “normalmente, não são os argumentos específicos contra o Cristianismo que perturbam a fé de uma pessoa, mas toda a atmosfera do pensamento contemporâneo”.[29]

O clima intelectual de uma época é sempre fortemente influenciador de nossa estrutura de pensamento e, portanto, de nossas prioridades e valores. A força deste “clima” talvez repouse sobre a sua configuração óbvia e normativa com que ele se apresenta à nossa mente. É quase impossível ter a percepção de algo que nos conduz – como também a nossos parceiros de entendimento – de forma tão suave. Por isso, o simples – ainda que não seja tão simples assim – fato de podermos pensar com clareza, sem estes condicionantes, é uma bênção inestimável de Deus.[30] “O pecado é anti-intelectual”, conclui Veith, Jr.[31]

Ateísmo teórico e prático

Retomamos aqui a questão do ateísmo. Davi, escrevendo o Salmo 14  − que em última instância descreve a realidade potencial de todo o homem sem Deus -, fala de modo mais específico daquele que nega o transcendente, cometendo o grande ato de insensatez: “Diz o insensato (nabal) no seu coração (leb): Não há Deus (elohim). Corrompem-se (shahat) e praticam abominação (ta’ab)” (Sl 14.1). Devemos atentar para o fato de que a negação de algo essencial a Deus, não deixa de ser uma negação de Deus. Um Deus destituído de sua essência perfeita e eterna, não seria Deus.

O ateísmo do iníquo não é apenas teórico (especulativo), antes, é eminentemente prático,[32] se manifestando em seu comportamento. Diria mais: ele é mais prático e funcional do que teórico.[33] Este salmo (Sl 14) trata de ambos.[34] De certo modo, o ateísmo teórico e o prático se constituem em uma cosmovisão.[35] Enquanto o teórico trata da questão da existência de Deus, o prático reflete sobre a implicação da existência ou não de Deus na vida humana.[36]

Um ateísmo apenas teórico revelaria a consistência de sua inconsistência; em síntese, a sua nulidade como princípio intelectual e teórico. Terminaria apenas em uma abstração. Isso pode até parecer interessante, mas não é. Do mesmo modo, a incredulidade do crente pode revelar também a consistência de sua inconsistente fé. É preciso confiar no Senhor sem vacilar (Sl 26.1).[37] Para isso é necessário guardar a lei de Deus no coração. Ela firma os nossos passos (Sl 37.31).[38]

Por isso, uma fé apenas teórica é altamente reveladora. No caso do ateu revelaria a fé daquele que diz não crer. No caso do crente, revelaria a incredulidade de sua fé.

O ateu aqui descrito age a partir de seu pressuposto e, num processo natural, reforça o seu pressuposto em seus atos.

Rookmaaker (1922-1977) observa com perspicácia: “O mundo não se tornou ateu porque os ateus pregaram arduamente, mas porque trabalharam arduamente”.[39]

Como o ateu quer viver como se Deus não existisse, tende a racionalizar o seu comportamento alegando a inexistência de Deus e, por isso mesmo, a falta de sentido metafísico da existência. Embarca assim num círculo vicioso no qual sempre é reforçado pelos motivos que justificam a sua impiedade. Aqui temos a essência do agir e pensar néscio. O ateísmo teórico produz seus frutos na conduta de seu proponente.

Spurgeon interpreta:

Onde há inimizade contra Deus, há uma profunda depravação interior da mente. As palavras ser vertidas por eminentes críticos num sentido ativo: “eles agiram corruptamente”; isso pode servir para nos lembrar que o pecado não está só passivamente em nossa natureza como fonte do mal, mas nós mesmos abanamos ativamente a chama e nos corrompemos, tornando mais escuro ainda o que já era tão escuro como as próprias trevas. Nós rebitamos nossas correntes pelo hábito e continuidade.[40]

A negação de Deus traz sem seu bojo a diminuição de nossa própria humanidade. A grandeza do homem está em Deus que o criou à sua imagem. Na negação de Deus desfiguramos a nossa própria imagem; nos corrompemos e nos aproximamos muito, com inúmeros agravantes, dos animais, os quais, por sua vez, revelam em muitas ocasiões, mais discernimento do que o homem ímpio (Is 1.2-4; Jr 4.22; 8.7).[41] Não há grandeza no homem fora de Deus. A majestade de Deus enche toda a Terra. Sem Deus o homem fez-se nulo em todo o seu pensar, sentir e agir (Rm 1.18-27).

O insensato nega a realidade transcendente. Não existe Deus nem seres angelicais.[42] O seu mundo é puramente material. Ele solidifica isso em seu coração, não simplesmente, da boca para fora, daí dizer “no seu coração”, a sede de sua emoção, razão e vontade. Ele se alimenta em seu “eu essencial” da negação de Deus, ainda que cultive seus deuses dentro de uma falsidade ideológica adotada.[43]

A língua expressa o que o seu coração sente e, o coração é retroalimentado pelas palavras que dele procede.

Ainda que ele possa não ter a ousadia de negar verbalmente a existência de Deus, vive conforme as suas inclinações pecaminosas e interesses circunstanciais, sem nenhum temor de Deus. Ele expressa de forma prática o que crê e labora em seu coração.

A ideia do texto é que o ateísmo como não permanece apenas no campo teórico, faz com que nos desviemos totalmente dos preceitos de Deus. Há um extravio, por isso a corrupção intelectual[44] e moral. Limito-me à questão intelectual. O salmista diz que ele se corrompe (shahat).[45] A palavra tem também a ideia de ruína (2Cr 34.11; Pv 6.32); destruição (Sl 78.38,45; Is 37.12); danificar (Jr 49.9); poço (Sl 7.16); cova (Sl 9.16), lodo (Jó 9.31).

O insensato na afirmação de que não há Deus, perdendo a dimensão metafísica (ontológica) da existência, se arruína, se destrói intimamente, tem desestruturada toda a sua forma de pensar, perceber a realidade (epistemologia) e, consequentemente, de organizar o seu pensamento (lógica) a partir de fundamentos equivocados. Isto se manifesta inclusive em sua conduta religiosa e ética. Ele escorregou e caiu na cova de seu próprio pensamento. Na vida humana há uma tríade que se relaciona e mutualmente se influencia: A ontologia, a epistemologia e a ética. É impossível dissociá-las de forma coerente.[46]

Somente a mente regenerada pode ter uma visão abrangente e significativa da verdade, encontrando nas Escrituras um guia seguro para nos conduzir na avaliação do significado de todas as coisas e nos rumos a serem tomados.

Van Til (1895-1987), assim apresenta a questão:

 

Nossa consciência não cria objetividade e não se apresenta como um padrão de interpretação da objetividade; porém, só ela recebeu a garantia de validade e, portanto, só ela pode falar dessa validade perante o mundo. (… ) Nossas proposições metodológicas não nos prendem a uma análise subjetiva como tal. Ao contrário, nosso ponto de partida, imediatamente, aponta para uma revelação redentora especial. Devemos usar as Escrituras como nossa fonte de informação sobre a nossa consciência, bem como sobre os outros tipos [de consciência].  (…) Tudo o que queremos dizer é que, com a experiência da regeneração em nossos corações, imediatamente, nos voltamos para as Escrituras como nossa fonte de informação, porque a regeneração implica que deixamos Deus interpretar a experiência para nós.[47]

 

De forma antitética, verificamos a prática de abominações que consistem em atos totalmente contrários à Palavra de Deus, tais como a idolatria, o sacrifício humano (1Rs 21.26; Sl 106.40), atos sanguinários e fraudulentos. Deus abomina quem tais coisas praticam: “Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam (ta’ab) a iniquidade (‘aven) (Sl 5.6).

Contrariamente àqueles que resistem ao Senhor, temos aqui um convite a que sirvamos ao Senhor em adoração jubilosa, com temor, alegria e tremor. Nos versos 10 e 11 há um ultimato:[48] 10Agora, pois, ó reis, sede prudentes (sakal); deixai-vos advertir (yasar) (= instruir, ensinar), juízes da terra. 11Servi (abad) ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Sl 2.10-11).

Em outras palavras, há uma intimação para que os reis usem sua inteligência,[49] tenham bom senso para analisar a questão de forma genética e prática: todo o poder pertence a Deus, percebam então a loucura de rebelar-se contra Ele.[50] Sejam sensíveis à advertência, ensino e instrução (yasar) do Senhor, o qual é pródigo em ministrar instrução ao nosso coração (Sl 16.7). Retornem ao Senhor! Este retorno, resultante do aprender de Deus, deve se manifestar em obediência e serviço.

Há um destaque à majestade soberana de Deus e ao mesmo tempo à alegria de poder participar ativa e voluntariamente do seu reinado. Como é bom poder servir ao Senhor com os nossos talentos. Servir ao Reino deve ser o grande alvo de nossa existência!

A nossa razão deve ser serva da Escritura. É maravilhoso colocar a nossa inteligência, tempo, recursos e bens a serviço do Senhor. Exultar na condição de servos, não de senhores. Saber que não precisamos de cargos para poder fazer a obra de Deus com integridade. A alegria está no serviço de Deus – até mesmo por meio de cargos e funções -, em sabermos que somos admitidos graciosamente em suas fileiras. Não há nada mais gratificante nesta vida do que sermos alegres servos de Deus.

O erudito missionário Schalkwijk, escreveu com propriedade:

Que bênção: lavar louça ou fazer continhas, lavrar a terra ou servir como deputado, tudo para a glória de Deus! Foi a Reforma que colocou novamente todas as atividades humanas nesse plano elevado, redescobrindo esse ensino bíblico.[51]

Enquanto para os ímpios o governo de Cristo é juízo, para os fiéis é motivo de alegria e serviço ao Senhor (Sl 2.3,11).[52] Os súditos voluntários do Reino são felizes (Sl 2.12)[53] e, portanto, podem se alegrar em seu serviço (Sl 2.11).[54]

Domínio partilhado

Esse domínio de Deus é voluntariamente partilhado com o homem. Foi assim desde o início, conforme descreve o livro de Gênesis. Deus delega a Adão e a Eva poderes para cultivar (‘abad) (lavrar, servir, trabalhar o solo) e guardar (shãmar) (proteger, vigiar, manter as coisas)[55] o jardim do Éden (Gn 2.15/Gn 2.5; 3.23), validando a sua relação de domínio, não de exploração e destruição, antes, um cuidado consciente, responsável e preservador da natureza:[56]

6Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: 7 ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; 8 as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares. (Sl 8.6-8).

Aqui o primeiro casal, atendendo ao mandato cultural (civilizatório), em uma atividade familiar exclusivamente humana, pode desenvolver e aprimorar a sua capacidade e potencialidades, refletindo a sua condição de imagem e semelhança de Deus. “Cabe-lhe desenvolver não somente a agricultura, a horticultura e a criação de animais, mas também, a ciência, a tecnologia e a arte”, pontua Hoekema (1913-1988).[57]

Na sequência, continua Hoekema:

 

Mas o homem ‒ isto é nós mesmos ‒, deve dominar a natureza de tal modo que seja também seu servo. Devemos preservar os recursos naturais e fazer o melhor uso possível deles. Devemos evitar a erosão do solo, a destruição temerária das florestas, o uso irresponsável da energia, a poluição dos rios e dos lagos e a poluição do ar que respiramos. Devemos ser mordomos da terra e de tudo o que há nela e promover tudo o que venha a preservar a sua utilidade e beleza para a glória de Deus.[58]

 

Todavia, todas essas atividades envolvem o trabalho compartilhado por Deus com o ser humano. O nomear, procriar, dominar, guardar e cultivar refletem a graça providente e capacitante de Deus.[59]  É neste particular – domínio – que o homem foi bastante aproximado de Deus pelo poder que lhe foi outorgado.

No processo de nomeação, vemos o exercício da inteligência e não arbitrariedade do homem, conforme o Senhor lhe concedera.[60]  E, é digno de menção que neste pioneiro trabalho científico, havia, sem dúvida, limitações humanas, mas, não o pecado.

O homem percebia a essência da coisa, criando, assim, a linguagem. Ele tinha clareza, discernimento e unidade de pensamento incomparáveis. Sem dúvida, perdemos muito disso com a queda.[61]

O salmista escreve: “Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens” (Sl 115.16).

Glorificamos a Deus no uso adequado de nossos talentos

Quando usamos adequadamente dos recursos que Deus nos confiou para dominar a terra, estamos cumprindo o propósito da criação, glorificando a Deus. É necessário, portanto, que glorifiquemos a Deus em nosso trabalho pela forma legítima como o executamos. Devemos estar atentos ao fato de que o nosso domínio está sob o domínio de Deus. A Criação pertence a Deus por direito; a nós por delegação de Deus (Sl 24.1; 50.10-11; 115.16).[62] Ele mesmo compartilhou conosco este poder, contudo, não abdicou dele.[63] Teremos de prestar-lhe contas.

Nesse sentido, ainda que o nosso domínio seja validado, especialmente pelo avanço da ciência, novos desafios surgem. A plenitude desse domínio é encontrada em Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Algo admirável no salmo 8 é que o salmista em seu hino começa referindo-se a Deus, glorificando o nome de Jeová (hwhy), e conclui tornando a ele, testemunhando com júbilo a magnificência de seu nome em toda a terra: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade. (…) 9 Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! (Sl 8.1,9).

A Criação revela de forma majestosa o nome de Deus. No homem, de modo especial, tal majestade é vista de forma ainda mais eloquente.[64]

 


[1]Veja-se: Carl J. Bosma, Os Salmos: Porta de Entrada para as Nações. Aspectos da base teológica e prática missionária no Livro dos Salmos, São Paulo: Fôlego, 2009, p. 29ss.

[2]“Mas o SENHOR permanece no seu trono eternamente (olam), trono que erigiu (kun) para julgar (mishpat)(Sl 9.7).

[3]Veja-se: Abraham Kuyper,  Sabedoria & Prodígios: Graça comum na ciência e na arte,  Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 35-39.

[4]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 427.

[5] Sl 49.4.

[6] Sl 136.5; 147.5.

[7]Abraham Kuyper, Sabedoria & Prodígios: Graça comum na ciência e na arte,  Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 38.

[8]“A origem da humanidade não é, de acordo com o nosso texto [Gn 1.26], o resultado de acontecimentos fortuitos que ocorreram por meio de eras prolongadas de tempo” (Gerard van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 76).

[9]Como indicativo histórico extrabíblico do conceito judeu referente à criação do mundo como sendo proveniente do nada, citamos o livro apócrifo de Macabeus, que diz: “Suplico-te, meu filho, que olhes para o céu e para a terra e para todas as coisas que há neles, e que penses bem que Deus as criou do nada, assim como a todos os homens” (2Mac 7.28).

[10]Stephen Charnock, Discourses Upon The Existence and Attributes of God, 9. ed. Michigan: Baker Book House, 1989, v. 2, p. 36.

[11]Cf. Stephen Charnock, Discourses Upon The Existence and Attributes of God, v. 2, p. 38.

[12]“Ao único que opera grandes (gadol) maravilhas (pala), porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 136.4).

[13] Vejam-se também: Js 3.11,13; Mq 4.13; Zc 4.14; 6.5.

[14]Veja-se: William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 117.

[15]Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 42.

[16]Allan Harman, Comentário do Antigo Testamento ‒ Salmos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, (Sl 2), p. 79.

[17]C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: CLIE., (1989), v. 1, (Sl 2.2), p. 19)

[18]É bastante conhecida a declaração de Kuyper, quando, realizando um antigo sonho, falou na Aula Inaugural na Universidade Livre de Amsterdã em 20 de outubro de 1880, expressando a sua cosmovisão que caracterizaria aquela Instituição: Nenhuma única parte do nosso universo mental deve ser hermeticamente fechado do restante. (…) Não existe um centímetro quadrado no domínio inteiro de nossa existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano sobre tudo, não reivindique: ‘É meu!’” (Abraham Kuyper, Sphere Sovereignty: In: James D. Bratt, ed. Abraham Kuyper: A centennial reader, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1998, p. 488).

[19]João Calvino, O Profeta Daniel: Capítulos 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 2.36-39), p. 148.

[20] Veja-se: Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 13-14.

[21]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.1-2), p. 61.

[22]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 2.9), p. 71.

[23] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, A fé como boa obra e a boa obra da fé, Goiânia: Cruz, 2019, p. 13-18.

[24] R.C. Sproul, Eleitos de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 19-20.

[25] Ocorre 5 vezes no NT.: Lc 20.23; 1Co 3.19; 2Co 4.2; 11.3; Ef 4.14.

[26]A palavra traduzida por “desígnio” ocorre cinco vezes no NT., sendo utilizada apenas por Paulo: 2Co 2.11; 3.14; 4.4; 10.5; 11.3; Fp 4.7, tendo o sentido de “plano” (Platão, Político, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 3), 1972, 260d), “intenção maligna”, “intrigas”, “ardis”. Com exceção de Fp 4.7, a palavra sempre é usada negativamente no NT. Esta palavra é o resultado da atividade da mente. (J. Behm; E. Wurthwein, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 4, p. 960). “É a faculdade geral do juízo, que pode tomar decisões e pronunciar certos ou errados os vereditos, conforme as influências às quais têm sido expostas” (J. Goetzmann, Razão: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 4, p. 32).

[27] “Satanás não tem propósitos construtivos; suas táticas são simplesmente para contrariar a Deus e destruir os homens” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP. Fiel, 1994, p. 82-83).

[28]“O diabo de tal maneira enfeitiça as mentes dos homens que eles se apegam obstinadamente aos erros que em tempos passados assimilaram” (João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.2-7), p. 193). Calvino também observa que os “incrédulos se encontram tão intoxicados por Satanás, que, em seu estupor, não têm consciência de sua miséria” (J. Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 2.26), p. 247).

[29]Gene Edward Veith, Jr., De todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 49.

[30]Ver: John MacArthur Jr., Abaixo a ansiedade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 32.

[31]Gene Edward Veith, Jr., De todo o teu entendimento, p. 72.

[32] “O ateísmo pode ser prático ou teórico, ou ambos. O ateu teórico nega a Deus; o ateu prático simplesmente vive como se Deus não existisse” (John Frame, Apologética para a Glória de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 149). Do mesmo modo, vejam-se: Luís Alonso Schökel; Cecília Carniti, Salmos I: salmos 1-72, São Paulo: Paulus, 1996, p. 255; Giulio Girardi, Introduccion: In: Giulio Girardi, dir. El Ateísmo Contemporáneo, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1971, v. 1, p. 56-61. Para um estudo bíblico detalhado sobre o ateísmo prático, veja-se: Stephen Charnock, The Existence and Attributes of God, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Two volumes in one), 1996 (Reprinted), v. 1, p. 89-175.

[33]“O ateísmo em questão é mais prático que teórico, não tento negar a existência de Deus, mas sim sua relevância” (J.A. Motyer, Os Salmos: In: D.A. Carson, et. al., eds. Comentário Bíblico: Vida Nova, São Paulo: Vida Nova, 2009, (Sl 14), p. 748). Do mesmo modo: Walter Brueggemann, The Message of the Psalms: a theological commentary, Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1984, (Sl 14), p. 44.

[34]Veja-se: James M. Boice, Psalms: an expositional commentary, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1994, v. 1, (Sl 14), p. 114. Contrariamente, Harman entende que “O Salmo 14 não se preocupa com o ateísmo intelectual. Seu enfoque é antes a pessoa que é ateia prática, visto que ela renunciou sua aliança, e daí o Deus da aliança” (Allan Harman, Comentário do Antigo Testamento ‒ Salmos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, (Sl 14), p. 105).

[35]Vejam-se: R. Albert Mohler Jr., Ateísmo Remix: um confronto cristão aos novos ateístas, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2009, p. 15-17; Battista Mondin, Quem é Deus?: Elementos da Teologia Filosófica, São Paulo: Paulus, 1997, p. 130.

[36] Cf. Giulio Girardi, Introduccion: In: Giulio Girardi, dir. El Ateísmo Contemporáneo, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1971, v. 1, p. 60-61. De forma mais ampla, veja-se: Robert O. Johann, El Ateísmo de los “crentes”: In: Giulio Girardi, dir., El Ateísmo Contemporáneo, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1971, v. 1, p. 365ss. Não discuto aqui a distinção entre o ateísmo (acredita que não se pode provar a existência de Deus) e o antiteísmo (que afirma dogmaticamente a não existência de Deus). (Veja-se  a distinção em: Atheism: In: William Fleming, The Vocabulary of Philosophy, Mental, Moral, and Metaphysical, 2. ed. New York: Sheldon & Company, 1869, p. 54-55).

[37]Faze-me justiça, SENHOR, pois tenho andado na minha integridade e confio no SENHOR, sem vacilar” (Sl 26.1).

[38]“No coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão” (Sl 37.31).

[39]H.R. Rookmaaker, A Arte não Precisa de Justificativa, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, p. 35.

[40] C.H. Spurgeon, The Treasury of David, London: Marshall Brothers, Ltd., (c. 1870), v. 1, p. 161.

[41]“Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim. 3 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. 4 Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás” (Is 1.2-4). “Deveras, o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes; são sábios para o mal e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22). “Até a cegonha no céu conhece as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do SENHOR” (Jr 8.7).

[42]Keil e Delitzsch vão além, entendendo que a negação é da existência de um Deus pessoal (C.F. Keil; F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand Rapids, MI: Eerdmans, (1871), v. 5, (I/III), (Sl 14.1), p. 203-204).

[43] “Qualquer que seja esse nosso objeto de preocupação fundamental, isso será o nosso deus. Por esta razão, não existem ateus genuínos. Encontramos, em vez disso, pessoas que veneram ou adoram coisas ou ideias em lugar do único Deus verdadeiro” (Ronald H.  Nash, Cosmovisões em Conflito: escolhendo o Cristianismo em um mundo de ideias,  Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 39). Do mesmo modo, Frame: “O argumento bíblico a ser mencionado aqui é que ninguém é realmente ateu, no sentido mais sério desse termo. Quando as pessoas se afastam da adoração ao Deus verdadeiro, elas não rejeitam o absoluto em geral. Antes, em vez do verdadeiro Deus, eles adoram ídolos, como Paulo ensina em Romanos 1:18–32. A grande divisão na humanidade não é que alguns adorem um deus e outros não. Pelo contrário, é entre aqueles que adoram o Deus verdadeiro e aqueles que adoram falsos deuses, ídolos. A adoração falsa pode não envolver ritos ou cerimônias, mas sempre envolve o reconhecimento da asseidade, honrando alguns que não dependem de mais nada” (John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology, Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2015, p. 7).

[44]“A insensibilidade para com Deus bem como a insensibilidade moral fecham a mente para a razão” (Louis Goldberg, Nabal: In: R. Laird Harris, et. al., eds., Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 910). Do mesmo modo, Derek Kidner, Provérbios: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1980, p. 40.

[45]Sl 9.16; 35.7; 78.45; 106.23; Sf 3.7.

[46] Veja-se: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 13-21.

[47]Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 34, E-book.  Posição 504 de 715.

[48] Veja-se: Frans Van Deursen, Los Salmos, Países Bajos: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1996, v. 1, p. 159.

[49] No entanto, o ímpio rejeita a instrução e o discernimento: “As palavras de sua boca são malícia e dolo; abjurou o discernimento (sakal) e a prática do bem” (Sl 36.3).

[50]“Que espantosa é a loucura daqueles que seguem sendo seus inimigos” (C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: Libros CLIE., 1989, v. 1, (Sl 2.10), p. 22).

[51]Francisco L. Schalkwijk, Meditações de um peregrino, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 166. “Quer você esteja fazendo a exegese do Salmo 110, quer esteja examinando as penas de um pica-pau, você deve oferecer a obra a Deus e ver esse esforço intelectual, essa erudição, como parte da adoração” (D.A. Carson: In: John Piper; D.A Carson, O Pastor Mestre e O Mestre Pastor, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 87).

[52]3Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. (…) 11 Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Sl 2.3,11).

[53]“Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (Sl 2.12).

[54] “A verdadeira alegria da vida cristã também depende de um correto entendimento da doutrina” (D. Martyn Lloyd-Jones, A vida de paz, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2008, p. 26).

[55] Vejam-se: Gn 3.24; 30.31; 2Sm 15.16; Sl 12.7; Is 21.11-12.

[56]Vejam-se: Francis A. Schaeffer, Poluição e a Morte do Homem, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 48-50; Gerard van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 90.

[57]Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 95.

[58] Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, p. 96.

[59] Ver: Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1995, p. 97.

[60] É muito interessante a abordagem deste exercício de Adão analisado pelo campo da semiótica. Veja-se: Umberto Eco, A Busca da Língua Perfeita na Cultura Europeia, 2. ed. Bauru, SP.: EDUSC, 2002, p. 25ss.

[61] Cf.  Abraham Kuyper,  Sabedoria & Prodígios: Graça comum na ciência e na arte,  Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 47-62.

[62]Veja-se: John W. R. Stott, O Discípulo Radical, Viçosa, MG.: Ultimato, 2011, p. 45.

[63] Veja-se: Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 86-87, especialmente a nota 47.

[64]“O homem, por haver sido criado à imagem de Deus, nos revela muito sobre o ser do Criador” (H.H. Meeter, La Iglesia y Estado, 3. ed. Grand Rapids, Michigan: TELL., [s.d.], p. 26). . Calvino comentou: “Por esta causa, alguns dos filósofos antigos chamaram, não sem razão, ao homem, microcosmos, que quer dizer mundo em miniatura; porque ele é uma rara e admirável amostra do grande poder, bondade e sabedoria de Deus, e contém em si milagres suficientes para ocupar nosso entendimento se não desdenharmos considerá-los” (J. Calvino, As Institutas, I.5.3). Comentando Gênesis 5.1, Calvino diz que Moisés repetiu o que ele havia dito antes, porque “a excelência e dignidade deste favor não podiam ser suficientemente celebradas. Já era uma grande coisa que se desse ao homem um lugar primordial entre as criaturas; mas é uma nobreza muito mais exaltada que ele portasse semelhança com seu Criador, como um filho com seu pai” (John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (Reprinted), v. 1, p. 227. (Veja-se também:  J. Calvino, As Institutas, II.1.1).

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.