Um blog do Ministério Fiel
Senhor supremamente grande
A certeza da grandeza de Deus deve alimentar e fortalecer a nossa fé
Mesmo Deus sendo incomparável, como vimos, com objetivos didáticos, encontramos costumeiramente nos Salmos termos comparativos para Deus a fim de realçar aspectos do seu caráter que são superlativamente incomparáveis.
Essa aparente contradição é compreensível se nos lembrarmos que a nossa forma de definição − ainda que Deus não possa ser definido com nossas categorias −, envolve comparações e, a nossa percepção avaliativa depende de referências a fim de que possamos entender relativamente a questão de tamanho, quantidade, qualidade, distância, etc.
Considerando, obviamente os nossos limites, essa – conforme já tratamos – é uma forma usada pelo próprio Deus para falar de si de modo que possamos entender.
Um dos termos, com as suas variações, empregados pelas Escrituras para realçar a soberania de Deus e a maravilha de suas obras, é a palavra grande.
Especialmente à luz dos Salmos, analisemos alguns aspectos da grandeza de Deus e como isso traz implicações para a nossa vida:
Porque o SENHOR é o Deus supremo (gadol) [1] e o grande (gadol) Rei acima de todos os deuses. (Sl 95.3/Sl 96.4).
O teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande (gadol) como o nosso Deus? (Sl 77.13).
O SENHOR é grande (gadol) em Sião e sobremodo elevado (rum) acima de todos os povos. (Sl 99.2).
Grande (gadol) é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento (tebunah) (= inteligência, aptidão, habilidade) não se pode medir. (Sl 147.5).
Esse é o Deus conhecido pelo seu povo: “Conhecido (yada’)[2] é Deus em Judá; grande (gadol), o seu nome em Israel” (Sl 76.1).[3]
Grandeza que nos conduz ao culto
Vemos aqui a importância de conhecer a Deus. Que experiência mais maravilhosa poderia existir nessa existência e na eternidade?
Dia após dia podemos conhecer mais a Deus de forma intelectual e experimental, aprendendo a constatar nas coisas aparentemente insignificantes de nossa existência − como naquelas que por serem tão assustadoras, nos parecerem impossíveis −, o poder, santidade, justiça e o amor de Deus cuidando de nós. De fato, grande é o Senhor!
A suprema grandeza do Senhor o dignifica como devendo ser louvado por nós e, demonstra também, que o nosso culto deve ser caracterizado pela consciência de que adoramos ao Senhor que é grande.
A sua natureza e os seus poderosos e misericordiosos feitos devem nos conduzir ao culto. É por isso que a nossa adoração deve ser precedida pela reflexão sobre Deus e a sua grandeza. A nossa adoração reflete como vemos a Deus e o quanto consideramos os seus feitos. A nossa doutrina é fundamental e determinante de nosso culto. Nós adoramos conforme cremos.
No culto público, como nos portamos? O que ocupa a nossa mente? O que governa o nosso coração? Como poderemos nos apresentar diante do grande rei de forma indiferente, dispersiva e fragmentada?
Confesso ter que pedir a Deus perdão por isso também. Nem sempre me apresento de forma integra diante do meu Senhor. Grande é o Senhor em sua misericórdia!
Essa compreensão é comum aos salmistas:
Grande (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus. (Sl 48.1).
Porque grande (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado, temível (yare) mais que todos os deuses. (Sl 96.4).
Grande (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza (gedullah) é insondável (ayin cheqer). (Sl 145.3).
O Senhor, somente, deve ser magnificado
O nosso culto, pelo seu motivo e conteúdo, deve ter uma conotação missionária visto que o grande Deus é o seu motivo e propósito. A adoração deve ser um testemunho para todos do quão grande é o nosso Senhor.
Os salmistas louvam a Deus reconhecendo a sua grandeza e convidando todos que quiserem, a assim fazê-lo:
Engrandecei (gadal) o SENHOR comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome. (Sl 34.3/Sl 40.6; 69.30; 70.4).
Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR, Deus meu, como tu és magnificente (gadal meod): sobrevestido de glória e majestade. (Sl 104.1).
Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza (gadal rob). (Sl 150.2).
O salmista compromete-se a anunciar os grandiosos feitos do Senhor: “Falar-se-á do poder dos teus feitos tremendos (yare), e contarei a tua grandeza (gedullah)” (Sl 145.6).
Grata memória
Em momentos de dúvidas, incertezas e abatimento, é oportuno considerar a nossa história de vida; trazer à memória os feitos de Deus e cultivar uma “grata memória”.
Sabemos que, por vezes, o presente parece ser um ditador de nossa vida, impondo-nos a impressão megalomaníaca, de ser a única realidade, nada o tendo precedido. A nossa fé, quando é dominada pelo onipresente “agora” e assombrada pelo temido futuro, tende a passar por uma amnésia, fazendo-nos esquecer, como diz o poeta, que “no passado Deus guiou-te assim”.[4]
No entanto, a Palavra nos tira dessa ditadura pagã do unicamente aqui e agora, e nos mostra que podemos e devemos confiar e descansar no Senhor que é grande em sua fidelidade que é o Senhor do tempo e do espaço; que tem o controle de todas as dimensões conhecidas e ignoradas por nós.
O considerar os feitos de Deus é, com muita frequência, um estímulo a confiar e a continuar confiando. Deus nos chamou, nos guiou e preservou. Ele é o Deus grande que opera maravilhas em nossa vida e na de nossos irmãos. Devemos descansar em suas promessas.
Samuel quando abdicou o ofício de juiz de Israel, porque o povo desejava ter um rei, se despede. Recapitula brevemente a história de Israel e, no final, lhe diz: “Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez” (1Sm 12.24).
Esse sentimento é comum aos salmistas. Davi considerando os feitos de Deus e o fato de que Ele ouve as suas orações, escreve: “Pois tu és grande e operas maravilhas; só tu és Deus!” (Sl 86.10).
O salmista se dispõe a adorar a Deus em companhia dos fiéis tendo em vista as suas grandes obras: “1Aleluia! De todo o coração renderei graças ao SENHOR, na companhia dos justos e na assembleia. 2Grandes (gadol) são as obras do SENHOR, consideradas por todos os que nelas se comprazem” (Sl 111.1-2).
O escritor sagrado rende graças a Deus considerando as suas maravilhosas obras fruto de sua misericórdia: “Ao único que opera grandes (gadol) maravilhas (pala), porque a sua misericórdia (hesed) dura para sempre” (Sl 136.4).
Davi canta com alegria a magnificente misericórdia de Deus que se manifestou em seu livramento e alento de sua alma:
Render-te-ei graças, SENHOR, de todo o meu coração; na presença dos poderosos te cantarei louvores. 2 Prostrar-me-ei para o teu santo templo e louvarei o teu nome, por causa da tua misericórdia (hesed) e da tua verdade, pois magnificaste (gadal) acima de tudo o teu nome e a tua palavra. 3 No dia em que eu clamei, tu me acudiste e alentaste a força de minha alma. (Sl 138-1-3).
Quando o salmista recapitula a história do povo de Israel do deserto, marcada pelo cuidado e provisão de Deus bem como pela desobediência do povo, um aspecto destacado é o esquecimento dos grandiosos feitos de Deus: “Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas (gadol)” (Sl 106.21).
A certeza do cuidado de Deus fortalece a nossa fé
A certeza da grandeza de Deus deve alimentar e fortalecer a nossa fé: “Com efeito, eu sei (yada’) que o SENHOR é grande (gadol) e que o nosso Deus está acima de todos os deuses” (Sl 135.5).
Os feitos grandiosos de Deus, por vezes, são reconhecidos até mesmo pelos ímpios, conforme registra o salmista:
1Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. 2Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes (gadal) coisas o SENHOR tem feito por eles. (Sl 126.1-2).
Esse é o nosso Deus. É o nosso Pastor e Rei. Ele é grande e os seus atos de misericórdia são grandiosos. Confiemos nele. Cantemos louvores. Propaguemos sua majestade. Amém.
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[1] Para um estudo mais exaustivo do uso da palavra e de suas variantes, vejam-se: M.G. Abegg, Jr., Gdl: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 798-801; Jan Bergman, et. al., Gâdhal: In: G.J. Botterweck, Helmer Ringgren, eds., Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdamans, 1977 (Revised edition), v. 2, p. 390-416. (Para os nossos objetivos, especialmente, as páginas 406-412).
[2](yada’). Conforme já mencionamos, esse conhecimento envolve diversos aspectos de nossa capacidade experimental.
[3] Todo o Salmo 76 é uma demonstração da grandeza operante de Deus.
[4] 2ª estrofe do hino “Confiança em Deus”, nº 156 do Hinário Novo Cântico. Hino escrito em 1752 pela escritora alemã, de grande ênfase pietista, Kathrina A.D. Von Schegel (1697-1768). A nossa tradução é de Isaac N. Salum (1913-1993).