Um blog do Ministério Fiel
O Senhor é o Eterno Justo Juiz de toda Terra
Suas leis são eternas e não falham
Juiz eterno
O direito de Deus agir como juiz é estabelecido por Ele mesmo; é decorrente de sua natureza e soberania. Foi Deus mesmo quem “erigiu” o seu trono para julgar. Ele mesmo preserva. O seu trono é um símbolo que expressa o seu autopoder.
O mesmo Deus que estabeleceu as estrelas nos céus (Sl 8.3);[1] os céus[2] e a Terra,[3] firmou o seu trono nos céus (Sl 103.9).[4]
O seu juízo permanece para sempre: “Mas o SENHOR permanece no seu trono eternamente (‘olam), trono que erigiu (kun) para julgar (mishpat)” (Sl 9.7).
Leis que “não pegam”
Em nosso país falamos com frequência de leis que “não pegam”. Ou seja: As leis existem, mas, não vigoram. Na realidade não há poder no Executivo de implementá-las, fiscalizá-las e de fazê-las cumprir. Deste modo, há leis que existem apenas no papel e, também, há outras que independentemente de sua prática ou não, são modificadas, substituídas ou abolidas.[5] Deste modo, o que era legal, agora, deixou de ser. Isso existe em vários campos de conhecimento e atuação.
- As mãos nas ruas e avenidas.
- As normas mecanográficas para a confecção de trabalhos acadêmicos.
- Normas ortográficas.
- A penalidade para determinados crimes.
- As leis de trânsito.
- As leis que regulam os horários de funcionamento de shoppings e comércio em geral. No período da pandemia, por exemplo, isso variou com certa frequência em cada região e de região para região dentro do mesmo Estado.
- Reforma tributária.
É verdade que podemos falar de leis que permanecem, tais como da termodinâmica, da gravidade, etc. No entanto, todas estas leis permanecem, não pela sua descoberta, antes, porque Deus as criou e as preserva. Elas já existiam, mesmo sem os status de “lei” e, Deus nos governava por meio delas e de inúmeras outras que nem sequer conhecemos.
A nossa percepção científica não serve de parâmetro para a realidade. As coisas não passam a existir simplesmente porque as descobrimos.
Juízos verdadeiros e eternos
Os juízos de Deus por serem verdadeiros, fundamentando-se na verdade que emana do próprio Deus, duram para sempre: “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos (tsedeq) juízos (mishpat) dura para sempre (‘olam)” (Sl 119.160).
Deste modo, o que quero destacar, é que o juízo de Deus, tanto no aspecto deliberativo como executivo, permanece para sempre. Ele faz cumprir o que deliberou. Ele tem total autonomia e poder para assim proceder. Não existe grau de recurso além dele mesmo.[6] Não há impedimento algum.
Barnes (1798-1870) comenta:
Deus é soberano. Seu trono é fixo e firme. Seu domínio não é vacilante nem mutável. Seu reinado não é como o reinado dos monarcas terrenos, que depende do capricho de uma vontade mutável, ou de paixão; não está sujeito a ser alterado pela morte, por revolução ou por nova dinastia. O trono de Deus é sempre o mesmo, e nada o pode abalar nem derrubar. (…) Ele reina sobre todo o universo – os céus e a terra; por isso pode executar todos os seus propósitos.[7]
Desta forma podemos descansar confiantes em seu cuidado e proteção. O salmista tem essa certeza: “Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente (‘ad)” (Sl 9.18).
Passando por tremenda crise, estando cercado pelos seus inimigos e diante de conselhos que lhes parecem contraditórios, Davi recorre à sua convicção a respeito de Deus. Deus é justo: “Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face” (Sl 11.7).
Se Deus é santo, soberano e justo, devo confiar inteiramente na vitória final da justiça de Deus. Davi está convencido da justiça e legitimidade de sua causa, por isso, invoca ao Deus justo.
De fato, quem melhor do que Deus para julgar a sua causa?
A justiça da Terra pode ser subvertida, manobras podem ser feitas, pessoas podem ser subornadas, outras podem fazer “vista grossa”, no entanto, a justiça eterna de Deus permanece; ela não foi nem será extirpada de seu trono no céu (Sl 11.4).[8]
Pode haver justiça sem santidade, porém, não pode haver santidade sem justiça. Contudo, a justiça pode ser apenas ideal, mas, não real pela impossibilidade de aplicá-la; por nos faltarem os meios.
Em Deus temos a harmonia perfeita entre santidade, poder e justiça. Deus é santo e tem todo o poder para agir conforme a sua justiça, sendo Deus mesmo justo, Aquele que ama a justiça, o padrão de toda justiça. Deus age sempre em retidão.
Jesus e a santidade do Pai
Na Oração Sacerdotal Jesus dirige-se a Deus como “Pai justo” (Jo 17.25). Na sua entrega em favor de seu povo, Jesus Cristo estava imbuído de profunda certeza e confiança da paternidade e da justiça de Deus. Na entrega do Filho, além da misericórdia e do amor, temos, também, a perfeita manifestação de sua justiça.
Diante das provações pelas quais passamos, aprendemos que muitas vezes, o mais importante do aprendizado não consistiu na concessão ou não do que pedimos em oração, mas, o que Deus nos ensinou neste processo de desafio à confiança, submissão, paciência e entrega.
Se ando em fidelidade, posso entender as aflições pelas quais passo, como uma provação de Deus, que é justo (Sl 11.5). Deste modo, sabemos que a provação de Deus visa sempre ao nosso aperfeiçoamento. Por vezes somos refinados por meio das provações. Portanto, devo perseverar firme, confiante no seu amparo e cuidado.
Como escreveu Calvino: “Se não podemos encontrar justiça em parte alguma do mundo, o único apoio de nossa paciência se encontra em Deus e em descansar felizes na equidade de seu juízo”.[9]
Justamente por este fato, devemos confiantemente nos aquietar e nos alegrar no conforto de suas promessas e louvá-lo. Afinal, o fundamento do seu trono permanece inabalável. “Reina o SENHOR. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas. Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça (tsedeq) e juízo são a base do seu trono” (Sl 97.1-2).
Juízo além de nossa compreensão
Davi escreve extasiado com as manifestações das perfeições de Deus: “A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo. Tu, SENHOR, preservas os homens e os animais” (Sl 36.6).
É necessário que não nos precipitemos. Os juízos de Deus ultrapassam em muito o nosso discernimento imediato. Ele, no entanto, que é Rei, julga para sempre, com justiça e sabedoria, tendo em vista a sua glória e a felicidade de seu povo.
Justo e compassivo
“Pois o SENHOR julga (din) (administra[10]) ao seu povo e se compadece (nacham) (consolar,[11] confortar,[12] ter compaixão[13]) dos seus servos” (Sl 135.14).
“O SENHOR é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (Sl 92.15), exulta o salmista.
No reto juízo de Deus haverá sempre misericórdia. Deus é justo e misericordioso. Não há incompatibilidade nos atributos de Deus. Eles são perfeitos porque Deus é prefeito. Somente na perfeição transcendente de Deus há verdadeira harmonia entre o que nos parece irreconciliável. Os nossos critérios de perfeição são sempre rotos visto que o imperfeito não pode criar e avaliar o perfeito e, mesmo que o tivesse diante de si, não teria parâmetros provenientes de si mesmo para identificá-lo com certeza.
Na justiça de Deus encontramos o amor provedor do Senhor. Portanto, não tentemos ser mais justos do que Deus. Ainda que tentemos ser “objetivos” em nossos juízos, sabemos que a nossa análise além de limitada, é envolta em passionalidade. Em síntese, somos pecadores e limitados; não nos esqueçamos disso.
Estejamos certos, portanto, de que Deus julga com retidão e justiça. Ele não tarda. Isso traz consolo e advertência.
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[1] “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste” (Sl 8.3).
[2]“O SENHOR com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus” (Pv 3.19).
[3]“A tua fidelidade estende-se de geração em geração; fundaste a terra, e ela permanece” (Sl 119.90).
[4]“Nos céus, estabeleceu o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103.19).
[5] Deve-se observar contudo, que há correntes no Brasil que entendem que seja saudável que todas as leis não sejam praticadas, porque seria impossível, considerando inclusive a quantidade de leis existentes e o número estrondoso de decretos, normas, resoluções, portarias que são criados diariamente.
[6] Figura análoga encontrei posteriormente em Piper. Veja-se: John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 58.
[7]Albert Barnes, Notes on the Old Testament: Explanatory and Practical, 10 ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1973, v. 3, (Sl 103.19), p. 79.
[8]Cf. A.F. Kirkpatrick, The Book of Psalms, Cambridge: University Press, © 1902, 1951, (Sl 11), p. 59.
[9] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 4.1), p. 92.
[10] Sl 9.9.
[11] Sl 23.4; 86.17.
[12] Sl 71.21.
[13] Sl 90.13.