O Senhor Santo, Santo, Santo

A suprema santidade do nosso Senhor

Creio que nenhum cristão tenha dúvida a respeito da santidade de Deus. Sabemos que Deus é absolutamente santo.

Porém, um problema que ocorre conosco é quando premissas teológicas verdadeiras terminam apenas em formulações teológicas as quais não se relacionam com a nossa vida. As mantemos distantes porque no fundo, as vemos apenas como abstrações.  Desse modo, a nossa fé não consegue ultrapassar essa parede de contenção criada entre uma fé abstrata e a fé concreta, que, por meio de um discernimento bíblico, orienta a nossa vida, nos fortalece em nossas fraquezas, consola em nossas aflições, anima em nosso desânimo e nos corrige em nossos pecados.

A fé cristã não se propõe apenas a conhecer aspectos do caráter de Deus conforme Ele graciosamente nos deu a conhecer, mas, a vivenciar essa realidade em todos os momentos de nossa vida. Uma fé que não se materialize na concretude da vida, não é a genuína fé cristã.

É preciso que reflitamos a respeito das implicações daquilo que cremos biblicamente. Quero destacar aqui a certeza de que o Deus a quem servimos e que nos chama à santidade, é absolutamente santo. Devemos ampliar biblicamente a nossa compreensão a respeito da santidade de Deus e destacar alguns aspectos dessa verdade relacionados à nossa vida aqui e agora.

Santidade de Deus e louvor

A santidade de Deus é um convite à adoração e louvor. O salmista cantando as maravilhas de Deus, conclama o povo a juntamente com ele, adorar a Deus considerando a santidade do Senhor: “Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é santo (qadosh)(Sl 99.5). Novamente:  “Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o seu santo monte, porque santo (qodesh) é o SENHOR, nosso Deus” (Sl 99.9).[1]

Santidade, majestade e glória

A palavra santo é de difícil interpretação. A sua origem está relacionada a cortar e separar. A ideia que talvez prevaleça é de algo acima. Deus como absolutamente santo está acima de todas as coisas. Por isso, Ele é santo em si mesmo pelo próprio fato de ser Deus. Dizer que Deus é santo é dizer que Deus é Deus.[2]

Não há relação que possamos fazer por nós mesmos para descrever, mensurar, ou mesmo, comparar à santidade de Deus. Podemos nos valer daquelas relações que Ele mesmo faz estabelecendo uma conexão a fim de que possamos entender, limitada, porém, genuinamente, aspectos de sua Glória.

Por isso, quando a Palavra se refere a Deus, relaciona-se com a sua Majestade. Ele não se confunde com a sua criação. Ele a transcende qualitativamente em todos os modos. Ele está acima de tudo o que existe. E tudo existe é sustentado por Deus.

“A santidade de Deus, dessa forma, se torna uma expressão da perfeição do seu ser, a qual transcende toda as criaturas”, comenta Naude.[3] Somente Ele é absolutamente santo; não há nem haverá outro.[4]

A glória de Deus é uma expressão de sua santidade. Deus é santo e a visibilidade de sua santidade é chamada de glória.

Piper, provavelmente inspirado em Motyer (1924-2016),[5] escreve:

A glória de Deus é a manifestação de sua santidade. A santidade de Deus é a perfeição incomparável de sua natureza divina. Sua glória é a exibição dessa santidade. (…) A santidade de Deus é sua glória oculta. A glória de Deus é a sua santidade revelada.[6]

Por não haver conexão entre a nossa mente  e a compreensão de santidade, jamais o homem poderia pensar em um Deus santo.

O conceito bíblico da santidade de Deus é único entre todos os povos. Essa é uma das peculiaridades maravilhosas de revelação de Deus preservada na religião judaico-cristã.

Os homens, das mais diversas culturas, jamais criaram, porque jamais pensaram no conceito de santidade divina. Por isso, não há “deuses” santos. Como escreveu Strauss (1899-1973): “Não há deus santo para Aristóteles nem para os gregos em geral”.[7]

Na Antiguidade, ainda que não isoladamente, encontramos um filósofo pagão que criticou com discernimento as práticas religiosas de seu tempo. Xenófanes (c. 570-c.460 a.C.), faz uma crítica mordaz a Homero e Hesíodo, dizendo:

Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo o que para os homens é opróbrio e vergonha: roubo, adultério e fraudes recíprocas.

Como contavam dos deuses muitíssimas ações contrárias às leis: roubo, adultério, e fraudes recíprocas.

Mas os mortais imaginam que os deuses são engendrados, têm vestimentas, voz e forma semelhantes a eles.

Tivessem os bois, os cavalos e os leões mãos, e pudessem, com elas, pintar e produzir obras como os homens, os cavalos pintariam figuras de deuses semelhantes a cavalos, e os bois semelhantes a bois, cada (espécie animal) reproduzindo a sua própria forma

Os etíopes dizem que os seus deuses são negros e de nariz chato, os trácios dizem que têm olhos azuis e cabelos vermelhos.[8]

Essa sempre foi uma prática comum. O homem em sua pretensa autonomia jamais criará um Deus acima de seus projetos e ideais.

Santidade essencial e em tudo que realiza

Deus é intrinsicamente santo, do mesmo modo que é justo, bondoso e poderoso. A sua santidade é necessária e absoluta. A santidade, por sua vez, permeia com beleza de forma indissolúvel e essencial todos os atributos de Deus. A santidade não é mais um atributo, mas, aquilo que qualifica todo o ser de Deus.

Não há expressão em Deus que não seja santa. O seu amor é santo. A sua justiça é santa. A sua misericórdia é santa. Do mesmo modo, a sua ira é santa.

Assim, em todos os seus atributos vemos vislumbres da beleza de sua santidade. “A santidade é o padrão de todas as Suas ações”, resume Pink (1886-1952).[9]

A santidade de Deus consiste na harmonia perfeita e bela entre o ser de Deus e os seus atos. Deus sempre age em santidade.

Não há em Deus a perda de qualidade entre a sua natureza e seus atos. Deus age conforme Ele é; sempre em completa perfeita com a sua natureza santa.

Os homens são indesculpáveis

Evidências de sua gloriosa majestade estão espalhadas na Criação. Esses rastros fazem parte do testemunho voluntário de Deus a fim que o ser humano o conheça e o adore. Por isso os homens em sua rejeição contumaz, são indesculpáveis.

Preferem forjar seus deuses à sua imagem:

19Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. 20Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; 21porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.  22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos  23e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. (Rm 1.19-23).[10]

Os homens em rebelião contra Deus, preferem negá-lo. Como é impossível fazê-lo, criam seus deuses conforme os seus desejos, um simulacro, uma caricatura do Senhor. Essas criações refletem os sonhos humanos e desejos humanos.

Sproul comenta sobre a idolatria:

Essa é a essência da idolatria: substituir a realidade por uma imitação. Distorcemos a verdade do Senhor e reconfiguramos nosso entendimento acerca dele de acordo com nossas próprias preferências, ficando com um Deus que é tudo, exceto santo.[11]

A santidade de Deus é perfeitamente bela em sua expressão.[12] A Escritura nos mostra que Deus como autor de toda beleza, aprecia o belo. A beleza não tem existência própria e autônoma. Ela provém de Deus, portanto, o perigo de fazermos a separação entre beleza e Deus, correndo o risco de adorar a criação em lugar do Criador (Rm 1.25),[13] perdendo a dimensão que por trás da criação há o Criador, para onde todas as coisas criadas deveriam apontar. O Deus quem nos criou à sua imagem é o Artista original. O nosso senso estético procede também de Deus, como por uma imagem.[14]

Nós, como imagem, tentamos imitá-lo de forma subjetiva, visto que somente Deus possui de forma absoluta a objetividade do Belo em suas perfeições.[15]

O salmista convoca o povo à adoração considerando a beleza e esplendor da santidade de Deus:   “Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza (hadarah) (= esplendor)[16] da santidade (qodesh)(Sl 29.2). Outra vez: “Adorai o SENHOR na beleza (hadarah) (= esplendor) da sua santidade (qodesh); tremei diante dele, todas as terras” (Sl 96.9).

O poder de Deus é santo (não é tirânico). A justiça de Deus é perfeita (Não é crueldade) a sua Misericórdia fundamenta-se em sua justiça (não é mero sentimento circunstancial).[17]

Repetição como ênfase: Santo, Santo, Santo!

A repetição e a recapitulação são reconhecidas como metodologias importantes de ensino.[18] Uma das grandes ênfases das Escrituras, diz respeito à educação do povo de Deus. O Senhor fala insistentemente com o povo para que preserve a sua Palavra, guardando-a (praticando) e ensinando aos seus descendentes.

Um dos recursos da literatura hebraica para enfatizar um conceito ou ensinamento, era a repetição de um ensinamento ou palavra. O método da “repetição” (Shãnâ) (Dt 6.6ss.) estabelecido por Deus perpassa a todos os outros.[19]

Desse modo, pronunciar uma palavra três vezes é conferir um grau superlativo e completo à mensagem: Quando nos deparamos com o livro de Isaias, durante a visão do profeta, encontramos no canto alegre e, talvez, antifônico, de adoração e louvor por parte dos Serafins, essa gloriosa ênfase:  “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).

Sproul (1939-2017) observa que nenhum dos atributos de Deus é assim dito três vezes; as Escrituras não dizem que Ele é amor, amor, amor ou, misericórdia, misericórdia, misericórdia ou justiça, justiça, justiça. Mas Deus é santo, santo, santo.[20]

Motyer (1924-2016) apresenta uma interpretação de Is 6.3: “A santidade é a verdade suprema em relação a Deus, e sua santidade está em si mesma muito acima do pensamento humano de maneira que é necessário inventar um “superlativo” para expressá-la”[21]

Desse modo, os serafins declaram em louvor que Deus é superlativamente santo; completamente santo.

Fora de Deus não existe santidade. Toda santidade é relacional e derivada de Deus.  Por isso, podemos dizer que toda santidade nas Escrituras é teorreferente. E mais: somente Deus pode santificar todas as coisas (Ex 31.13; Lv 20.8; 21.8; 15,23; 22.9,16,32; Ez 20.12; 37.28)

Como temos enfatizado, Deus é transcendente e pessoal. É o Deus santo, mas, que se relaciona conosco (Os 11.9).[22] Deus é santo em si e se relaciona de forma santa com o seu povo o santificando.

É por isso que podemos ter a certeza de que Ele cumprirá as suas promessas.  Essa é a certeza de Davi em grande desassossego: “Contudo, tu és santo (qadosh), entronizado entre os louvores de Israel.  4 Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste.  5 A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos” (Sl 22.3-5).

E o seu cântico em salmo de ação de graças:  20 Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo.  21 Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo (qadosh) nome” (Sl 33.20-21).

O que traz paz à nossa alma? O que nos conduz à alegria. O salmista se alegrava em poder confiar em Deus, o seu pastor que o guia em segurança.

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[1] O salmista exalta também a Deus considerando a sua salvação: “Vive o SENHOR, e bendita seja a minha rocha! Exaltado seja o Deus da minha salvação” (Sl 18.46/Sl 30.1/Sl 118.28). O salmista sabe que a nossa exaltação ao nome de Deus nada mais é do que o reconhecimento de que Ele é exaltado. Por isso a sua súplica:  “Exalta-te, SENHOR, na tua força! Nós cantaremos e louvaremos o teu poder” (Sl 21.13/ Sl 113.4)

[2] Cf. John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 60-61.

[3]Jackie A. Naude, Qds: In: Willem A., VanGemeren, org. Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 876.

[4] “Sua santidade é sua essência divina totalmente única, transcendente, pura, a qual, em sua singularidade, tem valor infinito. Ela determina tudo quanto ele é e faz e não é determinada por ninguém. A sua santidade é o que ele é como Deus, o que ninguém mais é nem nunca será” (John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 61).

[5] “A santidade é a glória escondida de Deus; a glória é a santidade onipresente de Deus” (Alec J. Motyer, O comentário de Isaías, São Paulo: Shedd, 2016, p. 101).

[6]John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 61,62.

[7]Leo Strauss, Nicolás Maquiavelo: In: Leo Strauss y Joseph Cropsey, compiladores. Historia de la Filosofia Política, México: Fondo de Cultura Económica, © 1993, 1996 (reimpresión), p. 286.

[8]Xenófanes, Fragmentos, 11-16. In: Gerd A. Bornheim, org. Os Filósofos Pré-Socráticos, 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1977, p. 32. Mais tarde, um escritor cristão do segundo século, fazendo uma apologia do Cristianismo – que estava sendo severamente perseguido durante o reinado de Adriano (117-138 AD), a quem destina o seu escrito –, critica o politeísmo grego: “Os gregos, que dizem ser sábios, mostraram-se mais ignorantes do que os caldeus, introduzindo uma multidão de deuses que nasceram, uns varões, outros fêmeas, escravos de todas as paixões e realizadores de toda espécie de iniquidades. Eles mesmos contaram que seus deuses foram adúlteros e assassinos, coléricos, invejosos e rancorosos, parricidas e fratricidas, ladrões e roubadores, coxos e corcundas, feiticeiros e loucos. (…) Daí vemos, ó rei, como são ridículas, insensatas e ímpias as palavras que os gregos introduziram, dando nome de deuses a esses seres que não são tais. Fizeram isso, seguindo seus maus desejos, a fim de que, tendo deuses por advogados de sua maldade, pudessem entregar-se ao adultério, ao roubo, ao assassínio e a todo tipo de vícios. Com efeito, se os deuses fizeram tudo isso, como não o fariam também os homens que lhes prestam culto? (…) Os homens imitaram tudo isso e se tornaram adúlteros e pervertidos e, imitando seu deus, cometeram todo tipo de vícios. Ora, como se pode conceber que deus seja adúltero, pervertido e parricida?” (Aristides de Atenas, Apologia, I.8-9. In: Padres Apologistas, São Paulo: Paulus, 1995, p. 43-45). Para mais detalhes sobre esse assunto, veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e desencontros, Goiânia, GO.: Cruz, 2022.

[9]A.W. Pink, Os atributos de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 42.

[10]Sproul comentando aspectos de parte dessa passagem, diz: “Deus não plantou indicativos esotéricos ao redor do mundo para que o homem precise de um guru para explicar que Deus existe; em vez disso, a revelação que Deus nos dá a respeito de si mesmo é manifestum – é clara. (…) Vemos claramente, mas não diretamente. (…) O caráter invisível de Deus é revelado por meio das coisas que podem ser vistas. (…) A Bíblia é clara em dizer que a revelação que Deus faz de si mesmo na natureza nos proporciona um verdadeiro conhecimento de seu caráter” (R.C. Sproul, Somos todos teólogos: uma introdução à Teologia Sistemática, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2017, p. 36-37) (Veja-se também: R.C. Sproul, Estudos bíblicos expositivos em Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 36-40).

[11]R.C. Sproul, A Santidade de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 205. Em outro lugar: “A idolatria representa o insulto máximo a Deus. Reduzir Deus ao nível da criatura é despojá-lo de Sua divindade. Isto Lhe é particularmente odioso em face do fato de todos os homens terem recebido suficiente revelação sobre Ele para saber que não é uma criatura” (R.C. Sproul, Razão para crer, São Paulo: Mundo Cristão, 1986, p. 39).

[12]Quando historiadores da arte tratam da arte produzida pelos judeus, é comum a identificação da proibição divina quanto à idolatria (Êx 20.4-6) com uma suposta proibição divina à arte (Como por exemplo, Gombrich: “Na realidade, a Lei judaica proibiu a realização de imagens por temor à idolatria” (E.H. Gombrich, A História da Arte, 16. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1999, p. 127). É possível que a falta de uma maior clareza de interpretação bíblica tenha contribuído para o não desenvolvimento de determinada manifestação artística entre os judeus. Dentro de uma perspectiva mais ampla, devemos entender que a arte na Escritura é proibida apenas como instrumento de idolatria, não como meio de glorificar a Deus por meio do belo: “O fato de que querubins foram bordados no véu interno do Tabernáculo (Êx 26.31), de que as paredes do Templo de Salomão foram esculpidas com figuras de querubins e palmeiras (1Rs 6.29), e de que Tabernáculo e Templo tinham figuras de querubins no propiciatório, dentro do Santos dos Santos, indica que o segundo mandamento não impediu a produção de trabalhos artísticos” (H.G. Stigers, Arte, Artes: In: Merrill C. Tenney, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 1, p. 513). Na mesma linha escreveu Schaeffer: “A Bíblia não proíbe a confecção de arte figurativa e sim sua adoração. Só Deus deve ser adorado. Portanto, o mandamento não é contra a arte, mas contra a adoração a qualquer coisa além de Deus e, especificamente, contra a adoração à arte. Adorar a arte é um erro; produzi-la, não” (Francis A. Schaeffer, A Arte e a Bíblia, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 20). À frente: “Não é a existência da arte figurativa que é errada, mas o seu uso incorreto” (p. 30).

No Antigo Testamento, encontramos com frequência a ação do Espírito associada à vida intelectual de diversos homens (Vejam-se: Jó 32.8; 35.10,11/Gn 2.7; Êx 31.2-6; 35.31-35; Nm 11.17,25-29; 27.18-21/Dt 34.9). O Espírito é o autor de toda vida intelectual e artística. Nele temos o sentido do belo e sublime como expressão da santa harmonia procedente do Deus Triúno que é perfeitamente Belo em sua Santidade e Majestade. (Vejam-se: Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 26; C.G. Seerveld, Arte Cristã: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1988-1990, v. 1, p. 121).

[13]Veja-se: Henry R. Van Til, O Conceito Calvinista de Cultura, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 127-129.

[14]Veja-se: Abraham Kuyper, Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 139.

[15] “…. A beleza não é produto de nossa própria fantasia, nem de nossa percepção subjetiva, mas tem uma existência objetiva, sendo ela mesma a expressão de uma perfeição Divina” (Abraham Kuyper, Calvinismo, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 164). Vejam também: A. Kuyper, Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 121ss.; 137ss.; Gene Veith, Jr.,  State of the arts: From Bezalel to Mapplethorpe, Wheaton, Illinois: Crossway Books, 1991, p. 145-161. É sugestivo o tratamento dado à questão da imitação em Aristóteles, conforme pontua Gilson (E. Gilson, Introdução às artes do Belo – O que é filosofar sobre a arte? São Paulo: É Realizações, 2010, p. 85ss).

[16] Vejam-se as discussões quanto à origem e melhor tradução da palavra em: C. John Collins, hdr: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 987-990; Victor P. Hamilton, hadar: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 340-342; Derek Kidner, Salmos 1-72: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1980, (Sl 29.2), p. 145.

[17] Veja-se: Joel R. Beeke; Mark Jones, Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 125. “A santidade é, sem dúvida, o mais importante de todos os atributos de Deus” (John MacArthur, Deus: Face a face com sua majestade, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 47).

[18] Veja-se entre outros: John Milton Gregory, As sete leis do ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1977, p. 65-72.

[19]Não deixa de ser elucidativo, que o Shemá (“ouve”) (É a primeira palavra que aparece em Dt 6.4, derivada do verbo (Shãma’), “ouvir”, envolvendo normalmente a ideia de ouvir com afeição, entender, obedecer), o “credo judeu” – que consistia na leitura de Dt 6.4-9; 11.13-21 e Nm 15.37-41) –, fosse repetido três vezes ao dia. Lloyd-Jones entende corretamente a importância da repetição, quando diz: “A quintessência do bom ensinar é a repetição” (D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 25).  A Lei de Deus envolvia toda a vida do educando; todas as suas necessidades e para sempre; desde a juventude até a velhice: “do berço à sepultura”. Toda a educação cristã começa pela unicidade e essencialidade de Deus. Há somente um Deus; este fato deve ser repetido e assimilado pelos educandos.

[20] R.C. Sproul, A santidade de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 35-36.

[21]Alec J. Motyer, O comentário de Isaías, São Paulo: Shedd, 2016, p. 100.

[22] “Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo (vAdq’) (qadosh) no meio de ti; não voltarei em ira” (Os 11.9).

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.