Um blog do Ministério Fiel
O Deus da verdade que fala verdadeiramente a verdade
A Palavra de Deus é a verdadeira verdade!
A verdade de Deus é única. − João Calvino (1509-1564).[1]
A verdade é o que Deus pensa e diz. − Carl F.H. Henry (1913-2003).[2]
Ainda que o mundo inteiro fosse incrédulo, a verdade de Deus permaneceria inabalável e intocável − João Calvino.[3]
Ao que me lembre, a primeira vez que me deparei – ou pelo menos tive consciência − com um conceito de verdade foi quando estava no primeiro ano de Seminário. Em uma das matérias de Filosofia, o professor citou as palavras de Agostinho (354-430): “Verum est id quod est”. Não entendi bem mas, achei a definição interessante.
Décadas depois estudando o assunto, esbarrei com a fonte do dito que, em minha tradução está assim: “O verdadeiro é o que é em si (…) é o que é”.[4]
Agostinho estava certo. Se a verdade não fosse o que é, não teríamos parâmetros estáveis para avaliar coisa alguma. Onde não há verdade, não há mentira; não há certo nem errado, nem heresia.[5]
Desse modo, a verdade seria o que determino dentro de minha esfera de poder o que seja. Negar a verdade pressupõe a posse de algo que considere verdade que me fundamente a emitir tal juízo.[6]
Ainda segundo Agostinho, a verdade foi estabelecida por Deus e o seu fundamento está na própria coisa criada: “A verdade fundamenta-se de modo permanente na razão das coisas e foi estabelecida por Deus”.[7]
Sem dúvida, as Escrituras têm como certa de que Deus é a Verdade e que toda verdade procede dele.
O salmista canta com alegria a sua fé:
Os juízos (mishpat) do SENHOR são verdadeiros (‘emeth). (Sl 19.9).
As tuas palavras são em tudo verdade (‘emeth) desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre. (Sl 119.160).
Após a aliança de Deus com Davi, o salmista canta louvores ao Senhor, reconhecendo a fidelidade e veracidade Deus expressas em sua Palavra: “Agora, pois, ó SENHOR Deus, tu mesmo és Deus, e as tuas palavras são verdade (‘emeth), e tens prometido a teu servo este bem” (2Sm 7.28).
Deus inicia o diálogo conosco por meio do “logos” (Gn 1.1; Jo 1.1) que é a sua Palavra verdadeira. Sem uma revelação verdadeira da verdade (logos), não poderia haver um diálogo verdadeiro já o seu fundamento estaria amparado em uma mentira ou engano. No entanto, Deus é sempre leal, íntegro, santo e verdadeiro.
Nossa finitude e o conhecimento possível de Deus
Como é óbvio, a nossa mente finita não consegue compreender completamente as perfeições de Deus. Deus em sua “racionalidade absoluta” transcende a nossa capacidade racional. No entanto, como escreveu Hodge (1797-1878), “A razão é necessariamente pressuposta em toda a revelação. Revelação é a comunicação da verdade à mente. (…) A comunicação da verdade pressupõe a capacidade de recebê-la. Não se podem fazer revelações a brutos e irracionais”.[8]
Transcender a nossa racionalidade não é o mesmo que dizer que algo é “incrível” (Aliás, expressão muito usada por jovens nos anos de 1970-1980 para se referirem piedosamente a Deus). Deus não nos desafia a crer no incrível – impossível de ser crido –, mas, a crer no seu poder e promessas.[9]
Aliás, como mencionamos, um pressuposto fundamental de nossa epistemologia, é a capacidade de conhecer. O agnosticismo seria um suicídio intelectual com todas as suas ramificações na integridade espiritual, social e moral do ser humano.[10]
Não conhecemos a essência de Deus. Contudo, podemos conhecê-lo à medida que Ele se revela, visto que a sua revelação “desvela” facetas de sua natureza eterna, tais como, bondade, justiça, santidade, graça, amor, etc.[11]
O nosso Deus é grandioso e incomparável; seus pensamentos são inatingíveis e insondáveis;[12] é o Rei da glória.[13]
Um dos fundamentos da doutrina cristã é a certeza de que cremos em um Deus soberano,[14] e Todo-poderoso[15] que nos ama e se dá a conhecer pessoalmente a nós.
A verdade é sempre essencial
A verdade é sempre essencial. O Cristianismo não se sustenta amparado em aparências, circunstâncias e ambiguidades, antes, ele acredita que a sua fé é verdadeira, que proclama a verdade e se dispõe a ser examinado à luz da verdade.
Desse modo, a fé cristã se coloca necessariamente da condição de que ou a sua mensagem é verdadeira, ou não há mensagem relevante a ser proclamada. O Cristianismo não perde tempo com conversação vazia e sem sentido ou em jogo de cena para desviar a atenção ou maquiar seus sinais de caducidade resultante de suas teses desgastadas e senis.
Mohler resume:
Como sempre, verdade é a questão essencial. Onde uma noção clara da verdade está ausente, o cristianismo torna-se mais uma atitude do que um sistema de crenças. Contudo a crença sempre pressupõe uma verdade que pode e deve ser conhecida.[16]
Sem a historicidade dos fatos narrados nas Escrituras, não há verdade no Cristianismo.
A historicidade e veracidade do Cristianismo
A situação do homem alienado de Deus é de tão intensa gravidade que não comporta paliativos, abstrações e, muito menos, ficções. A Palavra de Deus é verdadeira em seu diagnóstico e tratamento.
O propósito eterno de Deus nos fala do amor concreto de Deus que se manifesta de forma contundente na morte e ressurreição de Cristo.
Sem a historicidade da morte e ressurreição não há o que fazer. Permaneceríamos em nossos pecados, fadados à condenação eterna pela qual, diga-se de passagem, trabalhamos arduamente (Rm 6.23). É por isso que a mensagem cristã é uma mensagem verdadeira e urgente.
O Cristianismo revela a sua coerência lógica e espiritual pelo seu comprometimento com a verdade. Não há relevância na mentira. A proclamação cristã insiste no fato de que Deus é verdadeiro e que Ele se revela, dando-se a conhecer. As Escrituras enfatizam esta realidade que confere sentido a toda a nossa existência, quer aqui, quer na eternidade. Deus é transcendente e pessoal. Ele se relaciona pessoalmente conosco.
A banalização da verdade
Bloom (1930-1998) em estudo que faz uma ressonância do ensino das Universidades americanas em meados dos anos de 1980, a certa altura, fala de forma irônica da certeza de que os professores universitários podem ter quanto aos seus alunos: “Quase todos os estudantes que entram na universidade acreditam, ou dizem acreditar, que a verdade é relativa”. Continua: “A verdade relativa não é uma concepção teórica, mas um postulado moral, uma condição para toda sociedade livre”.[17]
Dentro da perspectiva “pós-moderna” há uma crise epistemológica forjada – este forjar é resultante da verdadeira crise epistemológica ocorrida com a queda –[18] que gera a concepção de que a verdade, se existe, é inacessível. Por isso o abandono da procura pela verdade e, consequentemente, a carência de ensino sobre a importância da verdade e sobre valores considerados verdadeiros.
Assim, procurando evitar o perigo de um agnosticismo absoluto – que, como mencionamos, seria um suicídio intelectual e da própria tese – admite-se a verdade dentro do universo singular de cada indivíduo. Deste modo, a sua verdade é sua, e não tem nenhum valor objetivo, portanto, não há nada nela de universalizante. Dessa maneira, de posse de minha verdade procuro vivê-la dentro das dimensões de minha subjetividade e nada mais.
O educador Spears observa que “o treinamento de alunos sobre como chegar à verdade pela razão é algo que já foi abandonado porque, a ideia de que alguém pode ter realmente acesso à verdade absoluta parece tolice”.[19]
Nesse universo de pensamento o Cristianismo soa como desrespeitoso e preconceituoso por afirmar conhecer e sustentar a verdade. Essa atitude parece bastante ofensiva àqueles que entendem (verdadeiramente) que ninguém pode conhecer a verdade. (Esta verdade é solidamente defendida). Talvez seja por isso que muitas igrejas optaram por ocultar as suas doutrinas e se camuflem em meio às experiências convalidadoras do que penso e desejo mas, nada provam nada de verdadeiro.[20] A Palavra, não a experiência, é o fundamento da verdade.
Retomando o pensamento “Pós-moderno”, observamos que quando a verdade é considerada, tem apenas um sentido local e circunstancial: “minha verdade”, “sua verdade”, “verdade de cada um”, “verdade para aquela época”, “verdade para aquele povo”, etc.
Já observaram como no campo das ciências sociais evita-se emitir juízo de valor? Fala-se de “fenômeno”; deste modo, foge-se da questão do certo e errado; verdade e mentira. Apenas descrevo o “fenômeno”, palavra mágica, que faz-me dizer o “fato” como se manifesta dentro de minha percepção – que como sabemos não é pura –, e mais nada. Atitude ingênua! Como se fosse possível ter percepção sem uma gama enorme de valores que a referenciam dentro de meu universo epistemológico.[21]
Partindo dessa perspectiva, a verdade passou a ser simplesmente construída. Deste modo, não há lugar para absolutos. “Os pós-modernistas rejeitam totalmente a verdade objetiva. A verdade não é uma descoberta feita a partir do mundo externo. Antes, a verdade é uma construção”, comenta Veith Jr.[22]
As Escrituras tratam de verdade absoluta
No entanto, as Escrituras nos falam de verdade absoluta, acessível verificável e vivenciável. A Palavra de Deus nos desafia a conhecer a verdade e a praticá-la como testemunho de fé, certos de que o propósito de Deus para o homem é sempre perfeito, a sua vontade é boa, perfeita e agradável, conforme escreve o Apóstolo: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Devemos estar profundamente comprometidos com a verdade. Ela deve ser defendida, e proclamada de forma amorosa e humilde,[23] quer pela palavra, quer, principalmente, pela nossa perspectiva do mundo que se materialize em nossas ações. (Jd 3,22,23).
Portanto, não podemos simplesmente ignorar as influências de nosso meio, como sabiamente nos alerta MacArthur:
A igreja jamais manifestará seu poder na sociedade, se não recuperar um amor ardente pela verdade e aversão à mentira. O verdadeiro crente não pode fechar os olhos ou negligenciar as influências anticristãs em seu meio, esperando desfrutar das bênçãos de Deus.[24]
O mundo de Platão
A Filosofia de Platão (427-347 a.C.) dizia que o nosso mundo é apenas de aparências, todavia, havia um modelo superior, imutável e eterno, do qual o nosso mundo é apenas uma cópia. Esta ideia permaneceu em Cícero (106-43 a.C.) e Fílon (c. 20 a.C. – c. 42 d.C.).[25]
Jesus, no entanto, nos diz que a Palavra de Deus é a verdade = realidade. (Jo 17.17). O curioso é que a palavra que os gregos usavam para se referirem ao mundo real, é da mesma raiz da palavra verdade.[26] No Novo Testamento Jesus Cristo se autodesigna de verdadeiro pão do céu (Jo 6.32), videira verdadeira (Jo 15.1); sendo enviado pelo Deus verdadeiro (Jo 7.28; 1Ts 1.9/1Jo 5.20), que deve ser conhecido (Jo 17.3).
No Apocalipse Jesus Cristo é identificado como o verdadeiro (Ap 3.7,15, 6.10), e as suas palavras e juízos fiéis e verdadeiros (Ap 15.3; 16.7; 19.2; 21.5; 22.6). O termo contrasta aquilo que é verdadeiro, genuíno, com o que é terreno (Hb 8.2; 9.24). Deus procura os verdadeiros adoradores (Jo 4.23/Hb 10.22).
Assim, em sua oração, Jesus Cristo, em certo sentido, nos diz que a Palavra de Deus é real, não apenas aparentemente (Jo 17.17). Se me permitirem usar tal expressão, diria que a Palavra de Deus é a verdadeira verdade! De fato: Deus é o padrão absoluto e final para todas as afirmações que pretensamente se dizem verdadeiras.
A sua Palavra é o padrão objetivo de avaliação de todas as coisas.[27] “As Escrituras não são apenas a verdade inteira, elas são também o mais elevado padrão de toda verdade – a regra pela qual todas as alegações de verdade devem ser medidas”, enfatiza MacArthur.[28]
Ateísmo prático: Viver como se a Palavra fosse uma aparente verdade
Acontece que muitas vezes o crente vive como se a Palavra de Deus fosse apenas uma aparente verdade, ou uma verdade distante e sem sentido para homens e mulheres desse nossa época.
Quando Jesus diz que a Palavra é a verdade, Ele de fato afirma que ela é a verdade para todas as esferas de nossa vida: casamento, vida profissional, educacional, vocacional, lazer, ética, espiritualidade, etc.
Por vezes, afirmamos crer na Bíblia como verdade, mas a negamos com o nosso comportamento. Não aplicamos os seus ensinamentos ao nosso viver cotidiano. A Palavra é a verdade de Deus para a totalidade de nossa existência, quer aqui, quer na eternidade. “A verdadeira espiritualidade abrange toda a realidade”, conclui Schaeffer.[29]
Não há verdade fora de Deus
Demonstrando que toda a verdade está associada a Deus, Scott comenta: “Não há verdade no sentido bíblico do termo, isto é, verdade válida, fora de Deus. Toda verdade procede de Deus e é verdade porque está relacionada com Deus”.[30]
A sua palavra, portanto, como toda a sua comunicação conosco, fundamenta-se nesta realidade. O Deus da verdade se revela verdadeiramente tal como é em sua essência, se mostrando a nós, ainda que não exaustivamente, mas, proporcionalmente, como de fato é.
Por Deus ser perfeito, todos os seus atributos revelam aspectos de sua essência. O salmista refere-se a Deus como “Senhor, Deus da verdade (‘emeth)” (Sl 31.5/Is 65.16).
De modo semelhante, fala o profeta Jeremias: “Mas o SENHOR é verdadeiramente (‘emeth) Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eterno; do seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação” (Jr 10.10).
Partindo desta certeza o salmista pôde afirmar: “A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade (‘emeth)” (Sl 119.142). (Da mesma forma Sl 119.151,160).[31]
Novamente declara o salmista: “São verdadeiros (‘emunah) (= fiéis, dignos de crédito) todos os teus mandamentos (mitsvah). (Sl 119.86).
A palavra Mandamentos (mitsvah), com frequência é associada com à Torah e com o “temor do Senhor”. Por vezes é também empregada de modo intercambiável com a Torah (Gn 26.5; Ex 16.28; 24.12; Dt 30.10).
Referindo-se ao “corpo geral da Lei de Deus”,[32] enfatiza as exigências naturais da Aliança feita por Deus com o seu povo, e demonstra a sabedoria adquirida em observá-la, sem nada acrescentar ou omitir: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos (mitsvah); porque isto é o dever de todo homem” (Ec 12.13).
Em outro lugar, escreve o salmista: “Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade (‘emeth) para os que guardam a sua aliança e os seus testemunhos” (Sl 25.10).
Deste modo, a Palavra se constitui em base segura e confiável sobre a qual posso dirigir minha vida. Toda a Palavra do Senhor é igualmente verdadeira, não havendo contradição, sendo ela a própria verdade que permanece, não estando circunscrita a tempos e épocas.
A Palavra de Deus não traz meias-verdades. Ela é a verdade absoluta de Deus para toda a realidade.[33] Só permanece na condição de verdadeiro o que é verdade. A verdade, por proceder de Deus, é eterna.
É por meio dela que conhecemos o caminho de Deus. O salmista, alegando a sua integridade, ora: “Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado na tua verdade (‘emeth)” (Sl 26.3).
Suplicar a direção de Deus
Devemos suplicar a Deus no sentido de que nos guie, nos concedendo discernimento no caminho da verdade. É neste sentido que o salmista ora:
Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade (‘emeth); dispõe-me o coração para só temer o teu nome. (Sl 86.11/Sl 26.3).
Guia-me na tua verdade (‘emeth) e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia. (Sl 25.5).
Instruído pelo Senhor, o salmista, por graça, escolheu o caminho proposto por Deus: “Escolhi o caminho da fidelidade (‘emunah) e decidi-me pelos teus juízos” (Sl 119.30).
Deus nos guarda misericordiosamente por meio da verdade. Nesse sentido, suplica o salmista: “Não retenhas de mim, SENHOR, as tuas misericórdias; guardem-me sempre a tua graça e a tua verdade (‘emeth)” (Sl 40.11).
A verdade de Deus é iluminadora, discernindo o caminho por onde devemos caminhar: “Envia a tua luz e a tua verdade (‘emeth), para que me guiem e me levem ao teu santo monte e aos teus tabernáculos” (Sl 43.3).
Deus tem prazer em nossa integridade
Deus que nos guia com a verdade, tem prazer em nossa integridade; coração sincero e verdadeiro: “Eis que te comprazes na verdade (‘emeth) no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria” (Sl 51.6).
Deus deseja que nos relacionemos com Ele com fidelidade do mesmo modo que Ele se relaciona conosco: A nossa resposta deve ser condizente com a santidade e integridade de Deus (Lv 19.2).
Esta é a palavra de Josué ao povo de Israel: “Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade e com fidelidade (‘emeth); deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR” (Js 24.14).
De modo semelhante Samuel instrui ao povo que o rejeitara: “Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente (‘emeth) de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez” (1Sm 12.24).
O Senhor em sua misericórdia, é sensível à oração dos fiéis: “Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade (‘emeth)” (Sl 145.18).
Oração e meditação amparadas na fidelidade de Deus
Deus nos concedeu o conhecimento de sua verdade para nossa instrução e vida. Não para uma mera apreensão intelectual, mas, para que possamos conduzir a nossa vida dentro de seus sábios, santos e abençoadores preceitos.[34]
A teologia fundamentada na Palavra é imprescindível nesse propósito, nos concedendo verdadeiro conhecimento, guiando a nossa vida em suas decisões e ações.[35]
A experiência de todo fiel, é que a nossa oração se ampara na fidelidade de Deus. Conhecemos o nosso Deus. Sabemos que Ele é verdadeiro em sua natureza e, por isso mesmo, em todos os seus atos e promessas. É nessa certeza que o salmista ora: “Quanto a mim, porém, SENHOR, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração. Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela tua fidelidade (‘emeth) em socorrer” (Sl 69.13).
Enquanto aguardamos com perseverante fé a resposta de Deus, devemos nos alimentar da verdade, proclamando-a em nosso testemunho, palavra e louvor a Deus:
Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade (‘emunah) (Sl 37.3).
Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a tua verdade (‘emeth) (Sl 40.10).
Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade (‘emeth), ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa, ó Santo de Israel (Sl 71.22).
Devemos magnificar a Deus considerando, inclusive, a sua verdade. Davi o fez com inteireza de coração diante dos “deuses” da terra. A nossa obediência a Deus tomando como princípio diretor a sua Palavra é um indicativo significativo de a quem de fato servimos e honramos. Testemunha o salmista:
1Render-te-ei graças, SENHOR, de todo o meu coração; na presença dos poderosos te cantarei louvores. 2 Prostrar-me-ei para o teu santo templo e louvarei o teu nome, por causa da tua misericórdia e da tua verdade (‘emeth), pois magnificaste acima de tudo o teu nome e a tua palavra. (Sl 138.1-2).
Quando nos alimentamos da verdade, podemos caminhar em segurança, fortalecemos o nosso coração, nos enchendo de esperança proveniente da Palavra.
Assim procedendo, estamos declarando de forma prática e confiante que o Senhor é o nosso Pastor. Ele nos guia verdadeiramente, por meio da verdade, à Verdade.
Clique AQUI para ver os demais artigos da série!
Clique AQUI para conhecer os excelentes livros de Hermisten Maia pela Editora Fiel.
[1] João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos,1998, (1Tm 1.3), p. 28.
[2] Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 60.
[3] João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.2), p. 48-49.
[4] Agostinho, Solilóquios, São Paulo, Paulinas, 1993, II.5.8. p. 76-77.
[5] Veja-se: John Sittema, Coração de Pastor, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 76.
[6] “Por consequência, quem quer que duvide da existência da verdade, possui em si mesmo, algo verdadeiro, de onde tira todo fundamento para a sua dúvida. Ora todo verdadeiro, só é verdadeiro pela verdade. Não possui, pois, o direito de duvidar da existência da verdade aquele que de um modo ou outro chegou à dúvida (…) Não é o ato de reflexão que cria as verdades. Ele somente as constata. Portanto, antes de serem constatadas, elas permaneciam em si, e uma vez constatadas essas verdades nos renovam” (Sto. Agostinho, A Verdadeira Religião, São Paulo: Paulinas, 1987, XXXIX.73. p. 108).
[7] Sto. Agostinho, A Doutrina Cristã, São Paulo: Paulinas, 1991, II.33. p. 140-141.
[8]Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2001, p. 37.
[9] Veja-se: Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2001, p. 39.
[10] “Primária e fundamental, para a epistemologia revelacional, é a afirmação de que o homem pode ter um conhecimento verdadeiro da realidade. Nenhuma forma de agnosticismo é consistente com qualquer forma de cristianismo” (Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 7).
[11] Vejam-se: John M. Frame, A Doutrina de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 168, 175ss.; João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Edições Paracletos, 1997, (Rm 1.19), p. 64.
[12]“O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios (hb’v’x]m;) (machashabah) do seu coração, por todas as gerações” (Sl 33.11). “Quão grandes (ld;G”) (gadal), SENHOR, são as tuas obras! Os teus pensamentos (hb’v’x]m;) (machashabah) (desígnios, intentos) que profundos!” (Sl 92.5).
[13] “7Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. 8Quem é o Rei da Glória (dAbK’) (kabod)? O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas. 9Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória (dAbK’) (kabod). 10Quem é esse Rei da Glória (dAbK’) (kabod)? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória (dAbK’) (kabod)” (Sl 24.7-10).
[14] “33Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? 35 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? 36 Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36).
[15] “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Sl 115.3). “Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos” (Sl 135.6). “… O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35). “Nele (Jesus Cristo), digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
[16]Albert Mohler, O Desaparecimento de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 11-12.*
[17] Alan Bloom, O Declínio da Cultura Ocidental, 3. ed. São Paulo: Best Seller, 1989, p. 29.
[18]Veja-se o instrutivo texto de Mohler. R. Albert Mohler Jr., O modo como o mundo pensa: Um encontro com a mente natural no espelho e no mercado. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 44-61.
[19]Paul Spears, Introdução à Filosofia. In: Paul Spears, et. al. Fundamentos Bíblicos e Filosóficos da Educação, São Paulo: Associação Internacional de Escolas Cristãs-Brasil, 2004, p. 13.* “Ao criar uma crise epistemológica, os questionamentos pós-modernistas rejeitam até a possibilidade da verdade, histórica ou qualquer outra” (Clyde P. Greer, Jr., Refletindo honestamente sobre a história: In: John F. MacArthur, Jr. ed. ger. Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 411).
[20]Quanto a isso, veja o inquietante livro: David F. Wells, Coragem para ser Protestante, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. “Hoje vivemos numa igreja que se incomoda menos com a verdade que com qualquer artigo. O amor à verdade não é nem mesmo uma virtude: é um defeito, porque a verdade divide as pessoas. A verdade causa controvérsia. A verdade causa debate. A verdade causa transtorno aos relacionamentos. A verdade crucifica pessoas. Jesus afirmou: ‘Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz’ (Jo 18.37)” (R.C. Sproul, Oh! Como amo a tua lei. In: Don Kistler, org. Crer e Observar: o cristão e a obediência, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 19).
[21]Ver: Hermisten M.P. Costa, Raízes da teologia contemporânea, São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
[22]Gene Edward Veith, Jr., De todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 55-56. “Esta é a verdade que, brutal e insistentemente, é-nos lançada em rosto: “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb.4.12). Poderia alguém argumentar realmente que essa verdade pode ser mantida longe de nós só porque somos pós-modernos?” (David F. Wells, Coragem para ser Protestante, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 81).
[23]Veja-se: Joshua Harris, Ortodoxia humilde: defendendo verdades bíblicas sem ferir as pessoas, São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 21.
[24]John F. MacArthur Jr. Introdução do Editor: In: John F. MacArthur Jr. ed. Ouro de Tolo? Discernindo a Verdade em uma Época de Erro, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2006, p. 11.
[25] Veja-se: Platão, A República, 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1993), 382e; 499c; 522a; Platão, Timeu, São Paulo: Hemus, [s.d.], 22d.
[26] Veja-se: A.C. Thiselton, Verdade: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1983, v. 4, p. 708-711.
[27] “O relativismo é uma revolta contra a realidade objetiva de Deus. A existência de Deus cria a possibilidade da verdade. Deus é o padrão essencial e final para todas as afirmações da verdade. Quem Ele é, o que Ele quer, o que Ele diz é o padrão externo e objetivo para medirmos todas as coisas. Quando o relativismo diz que não há qualquer padrão de verdade válido universalmente, fala como um ateísta” (John Piper, Pense – A Vida da Mente e o Amor de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 150).
[28]John F. MacArthur, Jr., Princípios para uma Cosmovisão Bíblica: uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 49.
[29]Francis A. Schaeffer, Um manifesto cristão. In: Francis A. Schaeffer, A igreja no século 21, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 166. Em outro lugar: “A Verdadeira espiritualidade significa o senhorio de Cristo sobre o homem todo” (Francis A. Schaeffer, A Arte e a Bíblia, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 17).
[30]Jack B. Scott, Aman: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 87.
[31]“Tu estás perto, SENHOR, e todos os teus mandamentos são verdade (tm,a/) (‘emeth)” (Sl 119.151). “As tuas palavras são em tudo verdade (tm,a/) (‘emeth) desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre” (Sl 119.160).
[32] E. Calvín Beísner, Psalms of Promise: Celebrating the Majesty and Faithfulness of God, 2. ed. Phillipsburg, NJ.: P. & R. Publishing, 1994, p. 35.
[33] “A verdade é o que corresponde à maneira em que as coisas realmente são” (Verdade, natureza da: Norman Geisler, Enciclopédia de Apologética: respostas aos críticos da fé cristã, São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 863).
[34]“O fim para o qual Deus deu a sua verdade não foi somente para a instrução de nossas mentes, mas muito mais para a transformação de nossas vidas” (Albert N. Martin, As Implicações Práticas do Calvinismo, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 9-10).
[35] Veja-se: Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã, Eusébio, CE.: Peregrino, 2020, p. 24.