Deus nos ama apenas para sua glória?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

Nossa centralidade em Deus aqui no Desiring God levanta questões sobre a integridade da criação – questões sobre nós, humanos, em particular. Tenho 9 perguntas relacionadas para oferecer a você, pastor John – todas grandes, todas tocando em vários pontos da teologia, todas semelhantes, todas acumuladas ao longo dos anos com a ajuda dos nossos ouvintes. Acho que são os tipos de perguntas que todos nós enfrentaremos em algum momento, ao lermos nossas Bíblias e desenvolvermos uma visão apropriada do universo centrada em Deus. Colocarei todas as questões na mesa para você, resumidamente, aqui estão as questões:

  1. Seremos nós, como criaturas, simplesmente um meio para a auto glorificação de Deus? 
  2. Existimos para um propósito além da auto exaltação de Deus?
  3. Deus nos ama além de seu amor por si mesmo ou o primeiro está totalmente incluído no segundo?
  4. Nós, como portadores de Sua imagem, somos meros espelhos para que ele veja a si mesmo?
  5. Nós temos alguma importância? 
  6. Deus ama ou se deleita em suas criaturas pelo que elas são em si mesmas? 
  7. Falando de incrédulos, Deus se deleita em abençoar materialmente criaturas que não creem ou nunca crerão nele? 
  8. Mas falando dos crentes, será que Deus gosta de nos amar simplesmente porque isso nos abençoa? 
  9. Esse tipo de pensamento é razoável? Como você lidaria com questões como essas?

Pode ser útil esclarecer o que dá origem a esse tipo de pergunta, depois dar uma resposta muito breve, de uma frase, a cada uma dessas nove perguntas. Depois dar um passo para trás e olhar para a Bíblia e ver o que ela traz em Deus e seus caminhos, que tornam essas respostas muito breves, justificáveis e convincentes e, em seguida, explique por que essas respostas fazem sentido.

O que provoca as perguntas

Então, o que dá origem a estas questões é que eu, e muitos outros na história da igreja, enfatizamos o ensino bíblico de que Deus criou e redimiu o seu povo para a sua própria glória – ou seja, para causar a sua glória (a sua grandeza, a sua beleza, seu valor) para ser conhecido, valorizado e mostrado no universo. Isso é o que penso que “para sua própria glória” significa.

“Estrelas, pedras e montanhas são meios para a auto glorificação de Deus, mas não da mesma forma que os humanos.”

Isaías 43.6 –7 diz: “[…] meus filhos […] e minhas filhas, […] os que criei para minha glória, […]”. Fomos escolhidos, predestinados, adotados, redimidos através do sangue de Cristo para o louvor da glória da graça de Deus como em Efésios 1:4-7. E esse ensino – ou seja, que todas as coisas vêm dele, por meio dele e para ele, para sua glória – esse ensino faz com que todas essas questões sejam levantadas. Então, deixe-me responder a cada uma dessas nove perguntas com uma resposta muito curta e depois examinar o ponto principal nas Escrituras.

Nove breves respostas

Pergunta 1: Somos simplesmente um meio para a auto glorificação de Deus?

Não, não simplesmente, porque as estrelas, as pedras e as montanhas são meios para a auto glorificação de Deus, mas não da forma como os humanos o são. Não é tão simples assim.

Pergunta 2: Existimos para um propósito além da auto exaltação de Deus?

Não, não existe algo como “além da glória de Deus”.

Pergunta 3: Deus nos ama além de seu amor por si mesmo ou o primeiro está totalmente incluído no segundo?

Deus não tem amor maior do que o amor que tem por seu Filho Jesus, que é, como escrito em Hebreus 1.3 “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser”.  Esse amor por seu Filho é, portanto, um amor por seu próprio ser infinitamente glorioso. Amar-nos com esse mesmo amor não é algo que pode ser superado.

Pergunta 4: Nós, como portadores de sua imagem, somos meros espelhos para que ele veja a si mesmo?

Não, ele não precisava de nós simplesmente para se ver. Ele fez isso com alegria infinita na comunhão da Trindade desde toda a eternidade.

Pergunta 5: Nós temos alguma importância?

Sim. Ele não precisava nos criar, mas também não nos criou à toa.

Pergunta 6: Deus ama ou deleita-se nas suas criaturas pelo que elas são em si mesmas?

Além de nossa confiança em Deus e alegria em Deus, o que os seres humanos são em si mesmos é para o que serve o inferno. Não é sensato querer ser amado da mesma forma que um ser humano no inferno pode ser amado.

Pergunta 7: Deus se deleita em abençoar materialmente criaturas que nunca acreditarão nele?

Sim, Deus se deleita com o excesso de misericórdia, mesmo quando ela é rejeitada.

Pergunta 8: Falando de crentes, Deus gosta de nos amar simplesmente porque isso nos abençoa?

A bênção de Deus nunca é simplesmente para nós sem também ser para ele, porque não há bênção eterna onde o nosso bem não inclua Deus.

Pergunta 9: Esse tipo de pensamento é ao menos razoável? Ou seja, a ideia de Deus nos amar simplesmente porque nos abençoa?

Não, é ateísmo pensar que seria bom que Deus nos abençoasse de uma forma que não glorificasse a sua graça pelo nosso desfrute dela.

Da repressão à alegria

Agora, deixe-me ver se consigo colocar alguma verdade bíblica por trás dessas respostas curtas.

Primeiro, precisamos levar muito a sério o fato de que existe uma poderosa tendência ateísta em cada coração humano. Isso é o que significa ser caído, depravado e pecador por natureza. Os humanos “detêm a verdade pela injustiça” (Romanos 1.18). Que verdade detemos? “Eles não aprovaram ter conhecimento de Deus” (Romanos 1:28, tradução minha). Eles “mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Romanos 1.23). “os que estão na carne não podem agradar a Deus.” (Romanos 8.7). Por outras palavras, a Bíblia ensina que os seres humanos, por natureza, serão poderosamente resistentes a qualquer doutrina que enfatize a supremacia absoluta de Deus em todas as coisas e que faça de Deus o bem último de tudo o que é bom.

“Nosso bem final sempre consiste em conhecer, valorizar e mostrar a glória de Deus.”

Então, a segunda coisa a notar na Bíblia é que, repetidamente, o próprio Deus e tudo o que ele é para nós em Jesus é mostrado como o bem final, a realização final, a felicidade, a satisfação e a alegria do coração humano redimido. Se você traçar o amor de Deus desde sua origem na graça eterna de Deus, através de sua obra redentora em Cristo, até o fim último e maior, mais belo e mais satisfatório, esse fim é sempre Deus – o próprio Deus desfrutado supremamente no coração do resgatado.

Jesus ora por nós para que vejamos sua glória, esse é o seu último desejo de amor por nós, e o encontramos em João 17.24 – que vejamos a sua glória e que sejamos capazes de amá-lo com o mesmo amor que o Pai tem por ele. Pedro, em 1 Pedro 3.18 diz que Cristo sofreu por nós “para conduzir-vos a Deus”, onde encontramos “na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.” conforme Salmos 16:11. Isso é o que Deus será para os redimidos.

Fora com o ateísmo

Agora, o que se resume a isso é o seguinte: nunca faz sentido falar de Deus se deleitando em nos fazer o bem e Deus se deleitando em sua própria glória como se nosso bem supremo pudesse ser distinto da glória de Deus. Não faz sentido falar assim; não pode ser, porque nosso bem supremo sempre consiste em conhecer, valorizar e mostrar a glória de Deus.

A resistência a essa maravilhosa verdade de que a glória de Deus brilha em mim por meio de minha exultação feliz nele, como se pudesse haver alguma felicidade maior se eu pudesse ser apenas eu – diferente de confiar em Deus, diferente de regozijar-se em Deus, diferente de glorificar a Deus – essa resistência é maligna. É um resquício da natureza ateísta com a qual nascemos, e precisamos pedir a Deus que a remova.

Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Does God Love Us Simply for His Glory? | Traduzido por DB Studios (Victor Varão). Revisão e Edição por Vinicius Lima.