O Espírito que formou a Palavra também nos ilumina na Palavra

O Deus da Verdade que nos capacita a entender salvadoramente a sua Palavra

As Sagradas Escrituras são as joias mais caras que Cristo nos deixou e que a igreja de Deus preservou como registros públicos do céu, de maneira que não foram perdidos. – Thomas Watson (c. 1620-1686).[1]

O registro e a preservação das Escrituras são obras sobrenaturais. Nenhum livro na história foi mais atacado, fragmentado, caluniado, devassado e dissecado do que a Bíblia. No entanto, ela permanece inalterável. Deus nos ensina sobre a sua Providência por meio das Escrituras e com a própria preservação da Escritura.

A Escritura sagrada é um manual da Providência de Deus. A existência desse manual é uma demonstração prática do que a Escritura nos ensina. A Palavra de Deus é indestrutível e eficaz.

Bavinck faz uma sensível analogia: “Cristo carregou a cruz, e o servo [Escritura] não é maior que seu mestre. A Escritura é a criada de Cristo. Ela partilha de sua difamação e enfrenta a hostilidade da humanidade pecadora”.[2]

Como o Autor da Escritura é o eterno e Trino Deus, os seus ensinamentos permanecem como verdade viva e eficaz a despeito das mudanças culturais e dos valores mutáveis da sociedade em cada época.[3]

Durante toda a história da humanidade pós-queda,[4] a Palavra de Deus foi alvo dos mais diversos ataques: entre eles, o mais comum é a suposição de sua falibilidade. No entanto, um ataque mais sutil que também permeou boa parte da História da Igreja, é a concepção ainda que muitas vezes velada, de que as Escrituras não são suficientes para nos dirigir e orientar.

Como temos enfatizado, a Reforma teve como uma de suas características principais, a ênfase na pregação da Palavra. “A Reforma foi antes de tudo uma proclamação positiva do evangelho Cristão”, resume Leith (1919-2002).[5]

Autoridade interna

Dentro dessa perspectiva, a autoridade  da Palavra não depende do testemunho de nenhum homem ou instituição, antes, baseia-se na autoridade divina do seu autor que nos fala por meio da Escritura: “a credibilidade da doutrina se não firma antes que se nos persuada além de toda dúvida de que seu autor é Deus. Destarte, a suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus nela falar”, enfatiza Calvino.[6]

Portanto, não é o testemunho interno do Espírito – sem dúvida fundamental para a compreensão das Escrituras –, que a tornam autoritativa; antes a sua autoridade é proveniente da inspiração divina que a produziu e a preservou pelo Espírito. Portanto, o Espírito e a Palavra são inseparáveis.[7]

Sem a inspiração do Espírito não haveria o registro da Palavra; sem a iluminação do Espírito jamais seríamos persuadidos de sua autenticidade e nunca poderíamos compreender salvadoramente a revelação de Deus. Na Palavra temos uma ação retroalimentadora: O Espírito nos conduz à Palavra; a Palavra nos instrui sobre o Espírito.

Sem o Espírito, argumentos não bastam

No entanto, não nos enganemos. Calvino não ignorava os argumentos em prol da autoridade bíblica; ele simplesmente entendia que sem a iluminação do Espírito estes argumentos, por mais razoáveis que fossem (e ele os considerava convincentes), não produziria um conhecimento salvador.

Em síntese: Sem a inspiração do Espírito não haveria o registro da Palavra; sem a iluminação do mesmo Espírito não haveria evidência objetiva que se tornasse persuasiva ao homem. A verdade objetiva só se torna verdade subjetiva para o homem quando o Espírito o persuade, fazendo-o enxergar as evidências. Portanto, sem o Espírito, jamais seríamos persuadidos de sua autenticidade e nunca poderíamos compreender salvadoramente a revelação de Deus.[8]

Calvino, o teólogo da Palavra e do Espírito, escreveu magistralmente sobre este ponto certificando que o testemunho do Espírito é superior a qualquer arrazoado humano porque, na realidade, é mais elevado do que a capacidade humana racional:

O testemunho do Espírito é superior a todos os argumentos. Deus na Sua Palavra é a única testemunha adequada a respeito de Si mesmo, e, de maneira semelhante, Sua Palavra não será verdadeiramente crida nos corações dos homens até que tenha sido selada pelo testemunho do Seu Espírito. O mesmo Espírito que falou através dos profetas deve entrar em nosso coração para convencer-nos que eles entregaram fielmente a mensagem que Deus lhes deu. (…) Sendo iluminados pelo Seu poder, já não devemos ao nosso próprio juízo, nem ao de outros, o fato de crermos que as Escrituras vêm da parte de Deus; mas, por razões além do julgamento humano temos perfeita certeza, como se nelas contemplássemos a glória do próprio Deus, que elas foram transmitidas a nós da própria boca de Deus, pela instrumentalidade dos homens. Não procuramos argumentos ou probabilidades sobre os quais fundamentar nosso julgamento, mas sim sujeitamos nosso julgamento e nosso intelecto a elas como sendo algo acima e além de toda disputa. Nossa convicção, portanto, é tal que não requer argumentos; nosso conhecimento é tal que é consistente com o melhor dos argumentos; porque nelas a mente descansa com mais segurança e firmeza do que em quaisquer argumentos.[9]

Em outro lugar, Calvino escreveu:

Deus não deu a conhecer a Palavra aos homens com vistas a momentânea apresentação, assim que de pronto a abolisse com a vinda de Seu Espírito; pelo contrário, enviou o mesmo Espírito, pelo poder de Quem havia dispensado a Palavra, para que realizasse sua obra mediante a eficaz confirmação dessa mesma Palavra. Desta forma, Cristo abriu o entendimento aos dois discípulos de Emaús (Lc 24.27,45), não para que, postas de parte as Escrituras, se fizessem sábios de si mesmos, mas para que entendessem essas Escrituras.[10] De modo semelhante, Paulo, enquanto exorta aos tessalonicenses a que não extingam o Espírito, não os arrebata às alturas, a vãs especulações à parte da Palavra, mas imediatamente acrescenta que as profecias não deveriam ser desprezadas (1Ts 5.19,20). Com o que acena, longe de dubiamente, que a luz do Espírito é sufocada assim que em desprezo vêm as profecias.[11]

Comentando o Salmo 62:

Toda palavra que foi pronunciada por Deus deve ser recebida com autoridade implícita, e não a aprovação dada à abominável prática da recusa de receber uma doutrina, a menos que seja apoiada por dois ou três textos da Escritura.[12]

Em resposta ao Cardeal Sadoleto (1477-1547), Calvino diz:

Hás sido castigado pela injúria que fizeste ao Espírito Santo, separando-O e dividindo-O da Palavra. (…) Aprende, pois, por tua própria falta, que é tão insuportável vangloriar-se do Espírito sem a Palavra, como desagradável o preferir a Palavra sem o Espírito.[13]

Comentando 1Co 2.11, arremata: “Não há nada no próprio Deus que escape ao seu Espírito”.[14] E é o Espírito do Pai e do Filho o nosso orientador e guia pessoal que nos conduz por meio da Palavra em direção a Cristo. A Palavra é uma autoridade objetiva.

O Espírito, ao nos capacitar a compreendê-la, fornece a autoridade subjetiva. Ou, como escreveu Warfield (1851-1921) interpretando e aplicando o pensamento de Calvino:

A revelação especial ou a Escritura em sua forma documentada, fornece, como ponto de fato na visão de Calvino, somente o lado objetivo da cura que ele sabe ter sido providenciado por Deus. O lado subjetivo é efetuado pelo testimonium Spiritus Sancti. A Escritura providencia os óculos: somente o Espírito Santo no coração dos homens abre os olhos para que vejam através das lentes.[15]

Reconhecimento do Cânon

O Espírito não encerrou o seu Ministério Escriturístico na Inspiração e no registro da Bíblia. Cremos que Ele continuou guiando o seu povo à verdade (Jo 16.13), fazendo isto de forma evidente, no 3º Sínodo de Cartago (397), quando foi oficialmente reconhecido o Cânon[16] Bíblico, como temos hoje.

Algo mais deve ser dito a respeito desse ponto. Como o leitor poderá ter percebido, ao falarmos do Cânon bíblico usamos sempre o termo “reconhecimento”, não “estabelecimento”, isto porque o Cânon não foi estabelecido por um decreto, ou por vontade de um Concílio independentemente de uma visão histórica ou por uma alegada e infundada autoridade de uma igreja. O que de fato aconteceu foi o reconhecimento oficial do que era uma prática comum, a aceitação dos 27 livros do Novo Testamento como Palavra de Deus[17] – com algumas exceções, diga-se de passagem, e, mesmo assim, apenas em determinadas regiões.

Assim, considero Cartago como a oficialização – indiscutivelmente relevante – da prática eclesiástica, não como um marco iniciador de um processo surgido na mente de alguns homens. O cânon eclesiástico jamais poderia ser imposto. Ele dependeria, no mínimo, da aceitação majoritária da Igreja para que pudesse prevalecer, como de fato prevaleceu.

Nesse sentido, escreve Bruce (1910-1990):

Uma coisa precisa ser afirmada com toda ênfase: Os livros do Novo Testamento não se fizeram possuídos de autoridade para a Igreja pelo fato de virem a ser formalmente incluídos em uma lista canônica; pelo contrário, a Igreja incluiu-os no cânon porque já os havia por divinamente inspirados, reconhecendo-lhes o valor inato e a autoridade apostólica, direta ou indireta. Os primeiros concílios eclesiásticos a classificar os livros canônicos se realizaram ambos na África do Norte – em Hipona Régia, em 393, e em Cartago, em 397 – mas a ação desses concílios de modo algum representa a imposição de algo de novo às existentes comunidades cristãs, pelo contrário, simples codificação do que já era prática geral, corrente nessas comunidades.[18]

Tenney (1904-1985) acrescenta:

Os concílios que discutiram o cânon só tiveram lugar no quarto século, e nessa altura o Novo Testamento já se tornara as Escrituras da Igreja.

O cânon, portanto, não é produto do critério arbitrário de qualquer pessoa, nem foi determinado por voto conciliar. Resultou do emprego dos vários escritos que provavam o seu mérito e a sua unidade pelo seu dinamismo interno. Alguns foram reconhecidos mais lentamente do que outros devido ao seu pouco tamanho, ou devido ao caráter remoto ou particular do seu destino ou à anonimidade de autoria, ou devido ainda à aparente falta de aplicabilidade a necessidades eclesiásticas imediatas. Nenhum destes fatores milita contra a inspiração de qualquer destes livros ou contra o seu direito de ter um lugar na palavra autorizada de Deus.[19]

De fato, a Igreja não criou os livros do cânon nem os conferiu autoridade; apenas deu testemunho de uma verdade há muito amplamente partilhada pelos cristãos.[20] Nesse sentido, o Espírito conduziu o seu povo à verdade![21]

Aliás, qual o valor e importância de Deus providencialmente ter assistido os escritores bíblicos no fiel registro de sua Palavra, preservado milhares de manuscritos e fragmentos para depois, deixar isso totalmente entregue ao arbítrio do homem ao longo da história? Seria uma perda de tempo enorme. Se assim ocorresse nós hoje já não mais teríamos a Escritura infalível como temos. Mas, o fato bíblico é que Deus em sua maravilhosa Providência conservou a sua Palavra e a conduz dentro de seu propósito eterno.

A Bíblia foi-nos confiada a fim de que, mediante a iluminação do Espírito Santo, sejamos conduzidos a Jesus Cristo (Jo 5.39/Lc 24.27,44), sendo Ele mesmo quem nos leva ao Pai (Jo 14.6-15; 1Tm 2.5; 1Pe 3.18) e nos dá vida abundante (Jo 10.10; Cl 3.4). Por isso, “ao estudarmos Deus, devemos procurar ser conduzidos a Ele. A revelação nos foi dada com esse propósito e devemos usá-la com essa finalidade”, orienta-nos Packer (1926-2020).[22]

O Espírito continua hoje aplicando a verdade bíblica aos nossos corações. O conhecimento de Deus e da sua Palavra não visa satisfazer a nosso desejo descompromissado por informações, mas, sim, conduzir-nos a Ele em adoração e louvor: A Escritura é perfeita em seu propósito!

Hodge (1797-1878) interpreta:

Espírito O especialmente ilumina a mente dos filhos de Deus para que conheçam as coisas graciosamente concedidas (reveladas) por Deus. O homem natural não as recebe, nem pode conhecê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Todos os crentes são, portanto, descritos (pneumatikoi) como espirituais, porquanto são dessa forma iluminados e guiados pelo Espírito.[23]

As palavras de Kuyper (1837-1920) sintetizam bem que vimos até agora: “Aquele que fez com que as Escrituras Sagradas fossem escritas é o mesmo que nos ensina a lê-la. Sem ele, esse produto de arte divina não pode nos afetar”.[24]

A pura e atual Palavra de Deus

Por isso, para nós, somente a Palavra de Deus é a fonte conservada pura, inerrante e infalível de todo o pensar e proceder cristão.[25] Ela é pura, não sofreu influência dos desvios históricos no campo ético, filosófico, comportamental. A Bíblia, e somente ela, é a Palavra pura de Deus para todos os homens.

Não há segundas intenções, misturas, enganos. A Lei do Senhor estabelece com clareza o que Deus requer de nós, alertando-nos inclusive quanto aos riscos de nossa desobediência.

Paulo, por exemplo, no NT, escreveu com amplo conhecimento de causa: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12).

Embasado nessas e em outras excelências da Palavra de Deus  é que o salmista declara: “Admiráveis (pele) (= maravilhosos) são os teus testemunhos (`eduth) (= estatutos, estipulações);[26] por isso, a minha alma os observa (natsar) (= guarda, preserva)” (Sl 119.129).

Este reconhecimento manifesta-se no seu respeito para com a Palavra: “Meditarei nos teus preceitos (piqqud) (= Estatutos), e às tuas veredas, terei respeito” (Sl 119.15).

O salmista também encontra na retidão dos juízos de Deus motivo para ação de graças: “Levanto-me à meia-noite para te dar graças, por causa dos teus retos juízos” (Sl 119.62).

Muitas vezes nos acostumamos tanto com o fato de que possuímos a Bíblia, a Palavra de Deus, que não lhe tributamos o valor devido. O convívio pode gerar em nós um senso de proximidade reverente; o que é altamente desejável. Mas, de forma desviante, pode produzir uma banalização do que é próximo, perdendo, assim, a dimensão de sua grandeza e, nesse caso, majestade;

De que forma nos aproximamos das Escrituras? Como a lemos? Como uma bem obra de literatura mas, sendo o produto da genialidade  humana? Ou como a Palavra de Deus dirigida pessoalmente a mim?

A Palavra pura de Deus é conservada assim. É perfeitamente confiável em todos os aspectos.[27]

Portanto, não podemos lê-la como um livro qualquer. Ela é Palavra verdadeira e pura, sem contaminação, de Deus para nós.

É preciso ler e meditar nas Escrituras. Nem sempre a nossa compreensão, como em tantas outras coisas é alcançada de modo imediato. É preciso leitura, meditação e oração.

Poythress instrui-nos:

Não há atalho para crescer no entendimento da Escritura e no entendimento de Deus que fala na Escritura. Cada aspecto do entendimento ajuda outro aspecto. É importante crescer, porque um entendimento profundo da Escritura é vital à medida que nos esforçamos para servir a Cristo criativamente em situações que a Bíblia não aborda diretamente. A Bíblia como a Palavra de Deus aborda todas as coisas, quer diretamente, quer na forma de implicação. Ele fala para toda a vida. Mas para ver como isso se dá, pode ser necessário reflexão e meditação.[28]

Por isso mesmo, valho-me das observações de Piper, “a Bíblia exige uma leitura sobrenatural, porque ver a glória divina em palavras humanas não é a maneira comum de lermos um livro”.[29]

Deus age por meio de sua Palavra. Ela é a verbalização da excelência de Deus. Consideremos esse ponto e louvemos a Deus por sua Palavra que tem preservado, e peçamos que Ele mesmo, o Autor da Palavra nos dê o discernimento necessário para compreendê-la e praticá-la conforme a sua vontade.

O nosso Senhor, que fez escrever a sua Palavra, a preservou com integridade e pureza, nos dá o seu Espírito para que nos ensine a lê-la com discernimento e fé.

Esse Senhor é o nosso Pastor. Sob a sua segura e amorosa direção, de fato, nada nos faltará.

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[1] Thomas Watson, A Fé Cristã: estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster,  São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 44.

[2]Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 439.

[3]Veja-se: John MacArthur, Por que ainda prego a Bíblia após quarenta anos de ministério: In: Mark Dever, ed., A Pregação da Cruz, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 135.

[4] “Os ataques contra a Palavra de Deus são tão antigos  como a história do homem decaído”  (Iain Murray, Como a Escócia perdeu sua firmeza na Palavra: In: John F. MacArthur, org.,  A Palavra Inerrante, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, [p. 149-171], p. 149).

[5] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 36.

[6]João Calvino, As Institutas, I.7.4.

[7]Cf. João Calvino, As Institutas, I.9.3. Veja-se B.B. Warfield, Calvin and Augustine, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 2000 (Reprinted), v. 5, p. 79ss. Do mesmo modo Ware: “O Espírito e a Palavra são inseparáveis na economia de Deus, e Jesus dá um testemunho glorioso desta verdade. Devemos aprender de Jesus que sujeição ao Espírito e devoção à Palavra são companheiros indispensáveis” (Bruce Ware, Cristo Jesus homem: Reflexões teológicas sobre a humanidade de Jesus Cristo, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 84).

[8]Kuyper faz uma importante distinção: “‘Iluminação’ é o aclaramento da consciência espiritual que, no tempo por Ele escolhido, o Espírito Santo dá, segundo lhe apraz, a cada filho de Deus. ‘Revelação’ é uma comunicação dos pensamentos de Deus dada de maneira extraordinária, por um milagre, aos profetas e apóstolos. Mas a ‘inspiração’, totalmente distinta dessas duas, é aquela operação  pela qual Ele dirigiu a mente dos escritores das Escrituras no ato de escrever” (Abraham Kuyper, A obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 111).

[9]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984 (Resumo feito por J.P. Wiles), I.7. p. 40. (Vejam-se, João Calvino, As Institutas, I.7.4-5). Hesselink (1928-2018) diz que “a contribuição mais original e duradoura de Calvino para uma compreensão evangélica da natureza e da autoridade da Escritura foi sua doutrina do testemunho interno do Espírito Santo” (I. John Hesselink, O Movimento Carismático e a Tradição Reformada. In: Donald K. McKim, ed. Grandes Temas da Tradição Reformada, p. 339). Pannier (1869-1945), do mesmo modo, escreve: “Esta doutrina especificamente calvinista, baseada na Escritura Sagrada, é o fio condutor que permite seguir de um extremo ao outro o plano geral e os diversos capítulos do livro”  (Jacques Pannier, Introduction à Institution de la Religion Chrestienne, Paris: Société Les Belles Lettres, 1936, v. 1, p. XXVI).

[10]Sproul (1939-2017) comenta: “Aqui a Palavra de Deus encarnada explica a Palavra de Deus escrita” (R.C. Sproul, A Alma em Busca de Deus, São Paulo: Eclésia, 1998, p. 71).

[11]J. Calvino, As Institutas, I.9.3.

[12] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 62.11), p. 582.

[13]Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4. ed. Países Bajos: Felire, 1990, p. 30. (Veja-se: também, a p. 29).

[14] João Calvino Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.11), p. 88.

[15] B.B. Warfield, Calvin and Augustine, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 2000 (Reprinted), v. 5, p. 69-70.

[16] A palavra “cânon” é derivada de uma raiz semítica (Assírio: Qanû, Ugarítico: Qn, Hebraico: hunfQ (Qâneh). “Qâneh” ocorre 61vezes no Antigo Testamento e, é sempre empregada no sentido literal (Vejam-se: 1Rs 14.15; Jó 40.21; Is 36.6; 42.3: Ez 40.3,5,6,7), significando “cana” (planta que era usada para medir e pautar), “balança” (Is 46.6) e, também “a cana para trançar os cestos, ou o bastão reto”.A palavra grega (kanõn) é derivada da raiz hebraica “Qâneh”; e, a portuguesa “cânon”, é proveniente do grego, passando pelo latim “canon”.

[17] Ver: J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: origem e desenvolvimento, São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 44ss. Ainda que nebuloso neste ponto, McGrath reconhece a importância do termo “reconhecimento” (Veja-se: Alister E. McGrath, A Revolução Protestante, Brasília, DF.: Editora Palavra, 2012, p. 207-208).

[18] F. F. Bruce, Merece Confiança o Novo Testamento?, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1965, p. 36. (Ver também: F. F. Bruce, The New Testament Documents, London: The Inter-Varsity Fellowship, 1966, p. 27). De modo semelhante diz Hale (1928-2019): “Jamais se convocou um concílio geral para definir o cânon do Novo Testamento. Contudo, os concílios subsequentes, até Atanásio, confirmaram o que pareceu ter sido aceito” (B.D. Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP., 1983, p. 34). Harrison: “Às vezes tem-se dito que o cânon deriva tanto sua forma como sua autoridade dos concílios eclesiásticos, como se a igreja não houvesse reconhecido a Escritura antes da ação destes. Não é assim. O que os concílios fizeram foi certificar o cânon que era amplamente reconhecido na igreja. A ação conciliar não redigiu pela primeira vez uma regra de fé e prática, senão que deu um testemunho público e unido daquilo que a Igreja, desde muito tempo, havia reconhecido, usado e entesourado como seu guia autorizado. Isto se faz mui evidente a partir dos testemunhos patrísticos. (…) Só nos casos de livros em disputa poderia considerar-se como legislativa a ação conciliar, em tais casos só como porta-voz da maioria que havia aceitado estes livros como Escritura” (E. F. Harrison,  Introducción al Nuevo Testamento, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana, 1980, p. 104). (Ver também, Ibidem., p. 108; B. M. Metzger, The New Testament: its Background, Growth, and Content, 2. ed. (enlarged), Nashiville, Abingdon Press, 1992, p. 276; Oscar Cullmann,  A Formação do Novo Testamento, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1979, p. 115; John R. W Stott,  Eu Creio na Pregação, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 105).

[19] M. C. Tenney, O Novo Testamento: Sua Origem e Análise, 2. ed.  São Paulo: Vida Nova, 1972,  p. 438 e 440. “No processo de finalizar o cânon da Escritura, a igreja usou uma palavra latina, recipemus, que significa “nós recebemos”. Isto indica que a igreja não foi tão arrogante ao ponto de afirmar que estava criando o cânon ou que o cânon recebia sua autoridade da igreja. Em vez disso, a igreja reconheceu que os livros do cânon tinham autoridade normativa sobre todos. Se Deus aparecesse para mim hoje e eu lhe pedisse que comprovasse sua identidade como Deus; e se ele fizesse isso de um modo que só me restaria curvar-me diante de sua autoridade, a minha aquiescência à sua autoridade não lhe daria qualquer autoridade que ele ainda não tivesse. Eu apenas reconheceria a autoridade que Deus já possuía antes mesmo de eu me curvar. Isso foi exatamente o que a igreja fez nos primeiros séculos, quando esteve envolvida no processo de reconhecer formalmente o cânon da Escritura” (R.C. Sproul, Somos todos teólogos: uma introdução à teologia, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2017, p. 72-73).

[20] “A igreja, porém, não fez com que o cânon ou mesmo um só livro fosse inspirado, mas apenas reconheceu e confessou aquilo que, há muito tempo, tinha sido estabelecido e tinha autoridade como um escrito canônico na igreja” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 428).

[21] Bruce (1910-1990) acentuou corretamente que: “A posição cristã histórica é que o Espírito Santo, que presidiu à formação de cada um dos livros, também lhes dirigiu a seleção e incorporação, continuando assim a dar cumprimento à promessa do Senhor de que ele guiaria os discípulos a toda verdade.” (F. F. Bruce, Merece Confiança o Novo Testamento?, p. 29). O autor demonstra que a aceitação deste princípio, que se discerne através da “percepção espiritual”, não exclui a pesquisa histórica, com o que eu concordo inteiramente.

[22]J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 15.

[23] Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 396. Veja-se: Sinclair Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 92-93.

[24]Abraham Kuyper,  A Obra do Espírito Santo,  São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 113.

[25]“A Bíblia é a Palavra de Deus através das palavras dos homens, falada por meio da boca humana e escrita por meio de mãos humanas” (John Stott, Eu Creio na Pregação, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 103).

[26] De modo pactual confirma e adverte quanto à natureza de Deus, à veracidade e seriedade das exigências da Lei de Deus enfatizando a Aliança. Deus dá testemunho de si mesmo (Ex 25.16-22). A lei de Deus é seu testemunho porque ela é a própria afirmação divina acerca de sua própria pessoa e de seu propósito” (Carl Schultz, Ud: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1085). Os estatutos de Deus, em forma de advertência, apontam para a responsabilidade de obediência devida por parte do povo de Deus.

[27] Kevin DeYoung,  Levando Deus a sério, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2014,  p. 18.

[28]Vern S. Poythress, O senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 174.

[29]John Piper, Lendo a Bíblia de modo sobrenatural, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2018, p. 45.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.