Nós vamos trabalhar na eternidade?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

O Dia do Trabalho para muitos de nós, é um dia em que descansamos e pensamos em tudo menos no trabalho. A pergunta de hoje é recorrente e nossos ouvintes querem saber sobre se haveremos de trabalhar na eternidade. Veja:

“Pastor John, tenho uma pergunta sobre o trabalho no céu, trabalhar na eternidade – ou o trabalho na nova criação, para ser mais exato. Primeiro, trabalharemos na nova criação, haveremos de trabalhar na eternidade? Teremos vocações? A Bíblia nos dá alguma dica sobre isso? E se trabalharmos, você acha que essa vocação futura será relacionada a algum dom que sempre nos sentimos atraídos a expressar aqui na terra, quer pudéssemos ou não ganhar dinheiro fazendo isso aqui? Caso responda sim a tudo isso, o que acha que fará na eternidade pastor John?”

 

Vamos começar com o que sabemos com certeza sobre o futuro eterno que todos nós que estamos em Cristo certamente desfrutaremos.

Jesus disse que estaremos com ele. Veremos sua glória. Teremos a capacidade de amá-lo com o mesmo amor que o Pai tem por ele (João 17:24–26). O apóstolo João nos diz em 1 João 3:2 que “[…] haveremos de vê-lo como ele é.” e “ […] seremos semelhantes a ele” (1 João 3:2). Isso inclui tanto a pureza de coração sem pecado quanto a glória de nossos novos corpos ressurretos, de acordo com Filipenses 3:21. E então, em Apocalipse 21:4, João nos diz que Deus “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.”. E então o Salmo 16:11 distorce isso e o torna positivo: “na tua presença há plenitude de alegria” e “na tua destra, delícias perpetuamente”. Agora isso é certo.

Seis dicas sobre trabalhar na eternidade

Agora, a questão é: o trabalho fará parte da nossa experiência daquela alegria eterna na presença de Deus? Eu acho que a resposta é sim, que vamos trabalhar na eternidade. Mas digo isso não porque a Bíblia tenha declarações decisivas nesse sentido, mas porque há indicações significativas nessa direção. Portanto, eu não elevaria esta convicção que vou defender aqui a uma doutrina de alto nível, mas antes a chamaria de uma esperança razoável e provável. E se não for isso, então algo muito melhor. Quero dizer, se acontecer que não é o que você pensava, vai ser melhor, porque sabemos que não haverá tristeza, nem arrependimento, nem frustração, nem decepção com as decisões de Deus sobre como deveria ser a nossa felicidade. .

Então, aqui estão minhas seis dicas e terminarei com uma advertência. Estas são indicações de por que podemos estar relativamente confiantes de que haverá trabalho para fazermos na era vindoura, em nossa eternidade com Deus.

  1. Deus é um trabalhador.

O próprio Deus é um trabalhador, e seremos mais parecidos com ele então, e não menos do que somos agora. Gênesis 2:2: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.” E Jesus disse em João 5:17: “[…] Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.”. Então, Deus é um trabalhador.

  1. Deus nos criou para trabalhar.

Deus criou o homem para ser um trabalhador antes de cair no pecado. A maldição que caiu sobre o homem depois da queda não foi o trabalho, mas sim o trabalho fútil, o trabalho miserável, o trabalho suado que nos faz odiar, que nos faz querer brincar em vez de trabalhar. Mas Deus criou o homem desde o início para trabalhar o mundo, para moldar o mundo.

E Deus os abençoou. E Deus lhes disse em Gênesis 1:28: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.”. (Gênesis 1:28)

E então em Gênesis 2:15: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” (Gênesis 2:15).

  1. As parábolas apontam para responsabilidades futuras.

A parábola que descreve como Jesus acerta contas com seus servos na segunda vinda sugere que, agora que Jesus veio, eles terão trabalho para fazer. Em Lucas 19:17, o mestre diz: “Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades.”. Agora, quer isso seja parabólico ou metafórico, pode muito bem apontar para o facto de que nos será dada responsabilidade na era vindoura.

  1. Nascemos de novo para boas obras.

De acordo com Efésios 2:10: “Pois somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”. Quando Paulo identificou um propósito para a nova criatura em Cristo – nós – ele disse que o propósito era o trabalho, “boas obras”.

  1. As profecias da nova criação incluem trabalho.

Isaías 65.17–25 descreve os novos céus e a nova terra incluem o trabalho, vou ler para você Isaías 65.21–23:

Eles edificarão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque a longevidade do meu povo será como a da árvore, e os meus eleitos desfrutarão de todo as obras das suas próprias mãos. Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a calamidade, porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus filhos estarão com eles.”

Agora, a razão pela qual digo que isto é apenas um indicador, não uma afirmação decisiva – mesmo que possa parecer assim – sobre o trabalho no estado final, é que há um sério desacordo sobre se esta passagem em Isaías 65 é uma descrição do nosso estado final, porque fala de ter filhos, e Jesus disse que no estado final não haveria casamento e, presumivelmente, não haveria filhos (Mateus 22.30). E na era que está por vir, não experimentaremos a morte. E ainda assim Isaías 65.20 diz: “porque morrer aos cem anos é morrer ainda jovem” na nova criação.

Sabemos que não haverá morte na era por vir. Portanto, a divergência é se este tipo de declarações aqui em Isaías 65 são de alguma forma metafóricas para a vida eterna na era vindoura — nunca fui capaz de entender como a morte é um símbolo para a vida — ou se esta é uma descrição de uma geração milenar, um período após a segunda vinda, que é muito maior em suas bênçãos do que agora, mas ainda não é o estágio final dos novos céus e da nova terra. E essa seria a minha opinião.

Mas em ambos os casos – se essas são afirmações metafóricas e se vamos trabalhar na eternidade, ou se esse é o próximo estágio da história redentora no qual, sim, haverá trabalho, e talvez apontando para o fato de que haverá trabalho no estado final – parece-me que não podemos resolver isso com certeza suficiente para persuadir todos os evangélicos que amam a Bíblia. Quero dizer, tenho muitos bons amigos que discordam de mim nesse ponto. Portanto, não considero esses versículos de Isaías 65 uma declaração decisiva e precisa de que haverá trabalho no estado final, mas me parece que eles apontam nessa direção.

  1. Toda a futilidade desaparecerá.

Quando você tira o pecado do coração e do mundo, o que acontecerá na era vindoura, a linha entre trabalho e lazer se torna quase invisível. O que é brincar quando todo o nosso trabalho será totalmente agradável? Quero dizer totalmente. Não há trabalho agora que seja totalmente agradável. Todo trabalho tem algum elemento que consideramos frustrante, decepcionante, fútil ou desanimador.

Talvez (isto é especulação) haverá um doce cansaço da mente e do corpo, o novo corpo ficando cansado na era que está por vir, a ponto de precisar de algo diferente de sua ocupação habitual – a saber, descansar e me divertir. Não sei, porque o trabalho em si será tão profundamente satisfatório, doce e agradável que ninguém dirá: “Preciso de um fim de semana. Preciso de um tempo para me divertir”, porque tudo será tão feliz e satisfatório quanto se divertir. Mas pode haver uma diferença.

Futuro além da decepção

E essa palavra talvez — quero dizer, tenho usado a palavra talvez o tempo todo — me leva a encerrar com uma cautela sobre fazer declarações mais precisas sobre a era vindoura do que a Bíblia nos dá garantia de fazer. Há advertências na Bíblia que nos lembram que as glórias da era vindoura estarão além da nossa compreensão e imaginação atuais.

Em 2 Coríntios 12.4, Paulo disse que viu coisas no céu que nenhum homem pode expressar. Em 1 Coríntios 2.9, Paulo diz que “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” ou seja, estão além da imaginação humana. Eles nunca entraram no coração do homem. Ele nos diz que nossos corpos ressurretos serão corpos espirituais (1 Coríntios 15.42–49). Bem, quem pode dizer tudo o que está envolvido num corpo espiritual?

João fala em Apocalipse 21.23 de um mundo em que “A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada.” Bem, quem pode imaginar um mundo sem fontes de luz criada, mas apenas a luz de Deus? Em Apocalipse 21.18, João diz sobre a cidade Nova Jerusalém que “A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido.”. O que é isso – ouro transparente como vidro? Jonathan Edwards escreveu um sermão inteiro sobre esse texto, Apocalipse 21.18, e aqui está o título: “Nada na Terra pode representar as glórias do Céu” – porque não existe na terra ouro que seja transparente como vidro, e isso é do jeito que vai ser.

Então, sim, acho que vamos trabalhar na eternidade, na era final que está por vir. Se faremos aquilo para que fomos dotados aqui, ou se teremos dons totalmente novos, mil vezes maiores, ou que tipo de trabalho John Piper estará fazendo, deixo nas mãos de Deus, que planejou o universo para o felicidade do seu povo em si mesmo. Mas uma coisa é certa – não iremos ser decepcionados!

 


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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Will We Work in Eternity? | Traduzido por DB Studios (Victor Varão). Revisão e Edição por Vinicius Lima.