Um blog do Ministério Fiel
O Senhor e a sua Palavra reta e completamente justa
A retidão e justiça da Palavra de Deus
“Os preceitos (piqqud) (= Estatutos)[1] do SENHOR são retos (yashar) (justos, íntegros, corretos) e alegram (samach) o coração” (Sl 19.8).
É Deus quem estabelece o padrão de “retidão”. A sua Palavra é reta em todos os sentidos: vertical e horizontal; é perfeitamente plana. Não há ondulações ou oscilações. Deus em sua soberania e santidade é o Senhor da verdade e de todo o padrão que determina a retidão.[2]
O salmista, tendo ampla experiência com Deus e com a sua Palavra, ora sinceramente ao Senhor: “Considera em como amo os teus preceitos (piqqud)” (Sl 119.159).
Os salmistas confiantes na Palavra de Deus que se concretiza na história dos povos, quer em sua obediência, sendo abençoados por Deus, quer em sua desobediência, colhendo os amargos frutos desse comportamento, escrevem: “…. os juízos (mishpat) do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente (yahad) (= completamente), justos (tsadaq)” (Sl 19.9).
Cantam também alegremente na certeza de que a Palavra de Deus é reta e justa:
Os preceitos (piqqud) (Estatutos do Senhor) são retos (yashar) (justos, íntegros, corretos). (Sl 19.8).
Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos (tsedeq). (Sl 119.75).
Tenho por em tudo retos (yashar) os teus preceitos (piqqud) todos. (Sl 119.128).
Justo és, Senhor, e retos (yashar) os teus juízos. (Sl 119.137).
Todos os teus mandamentos são justiça. (Sl 119.172).
Porque a palavra do SENHOR é reta (yashar), e todo o seu proceder é fiel. (Sl 33.4/Sl 92.15).
A palavra (piqqud) que só ocorre nos Salmos e sempre no plural, enfatiza as regras específicas dadas por Deus aplicadas aos pequenos detalhes da vida (Dt 22.1ss.) e à responsabilidade do povo de Deus em meditar e cumpri-las (Sl 103.18; 119.4,15, 27,45,56, etc.).
O Senhor é essencialmente justo: “Bom e reto (yashar) é o SENHOR….” (Sl 25.8). Ele estabelece caminhos retos para nós: “Os caminhos do SENHOR são retos (yashar), e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão” (Os 14.9).
Justamente por não desejarem caminhar de forma íntegra e reta que os ímpios caem diante do caminho do Senhor. Eles fizeram suas escolhas tortuosas (Pv 10.29).[3]
Caímos em um labirinto
Quando nos desviamos da Palavra terminamos por entrar em caminhos tortuosos, com sinalizações enganosas que reforçam os nossos desejos. Desse modo, caminhando com a segurança própria dos que ignoram o perigo, tendemos a cair num labirinto de enganos e mentiras que cada vez mais e, com mais frequência são utilizados para encobrir desvios anteriores. Para nos valer da luz que emana da Palavra de Cristo devemos persistir em segui-la em todo tempo.[4]
Contrariamente a essa prática tortuosa, a Palavra de Deus não tem casuísmos, Ela é sempre reta, justa, digna e fiel. Os seus preceitos não comportam atitudes dúbias, atalhos. Deus age sempre conforme a retidão dos seus preceitos, que são decorrentes do seu caráter.
Os critérios de Deus estão claramente registrados na sua Palavra. Não há ambiguidade ou injustiça: Deus apresenta-nos um caminho de justa retidão para que, caminhando por ele, jamais nos tornemos repreensíveis. A justiça que Deus exige de nós consiste numa absoluta conformidade com a sua santa Lei.
Os preceitos do Senhor além de nos guiar em retidão, corrigem o nosso caminhar – que a nossos olhos parecem retos (Pv 21.2)[5] – nos educando, instruindo e endireitando as nossas veredas. Isso que pode ser extremamente penoso, está associado à graça educadora de Deus.
No entanto, Deus nos garante, pela Palavra, o caminho da transformação e reabilitação. É o que nos instrui o salmista: “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará (yashar) as tuas veredas” (Pv 3.6).
Isso Ele faz, apontando e instruindo seus servos no caminho justo (Sl 25.8,12),[6] nos fazendo andar por ele: “No caminho da sabedoria, te ensinei e pelas veredas da retidão (yosher) te fiz andar” (Pv 4.11).
E é desse modo que o salmista, ávido por vivenciar de forma intensa os juízos de Deus, se compromete a cultuar a Deus: “Render-te-ei graças com integridade (yosher) (= retidão) de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos” (Sl 119.7).
O salmista diz mais: “Os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente (yahad) (= completamente), justos (tsadaq)” (Sl 19.9)
Não há injustiça nos mandamentos de Deus: “A minha língua celebre a tua lei, pois todos os teus mandamentos são justiça (tsedeq)” (Sl 119.172).
Os mandamentos de Deus não são apenas para determinados grupos, privilegiando castas ou nichos sociais, antes, permanecem com justiça para todos.
Deus nos instrui por meio de caminhos justos. Os caminhos de Deus são coerentes com a sua natureza justa, correta. Os seus atos são sempre retos.
A loucura da transgressão
O caminho da transgressão é uma loucura que nos faz sofrer: “Os estultos, por causa do seu caminho de transgressão (pesha’) e por causa das suas iniquidades, (‘avon)[7] serão afligidos” (Sl 107.17).[8]
Justamente por não andarem no caminho do Senhor é que os transgressores ultrapassam os limites, tentado fazer as suas sínteses pecaminosas. Nesses caminhos, “cairão” (= tropeçarão)(Os 14.9).
Pode parecer demorado, contudo, o caminho da transgressão é autodestruidor: “Quanto aos transgressores (pesha’), serão, à uma, destruídos; a descendência dos ímpios será exterminada” (Sl 37.38).
Na velhice Davi – conforme já nos referimos −, consciente de seus pecados, clama pela misericórdia de Deus: “Não te lembres dos meus pecados (hatã’â) da mocidade, nem das minhas transgressões (pesha’). Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia (hesed), por causa da tua bondade, ó SENHOR” (Sl 25.7).
Conscientes e arrependidos de nossos pecados, precisamos reconsiderar o nosso caminho, confessar o nosso pecado e suplicar pelo perdão de Deus. A retidão de Deus não invalida a sua misericórdia.
O perigo das concessões
Ainda que muitas vezes sejam feitas com propósitos nobres de apaziguar ânimos e buscar a paz, as concessões em detrimento da retidão da Palavra, tornam-se com demasiada frequência em prática que nos conduz a um verdadeiro emaranhado de situações constrangedoras, pecaminosas e, que, em geral, geram mais concessões.
O nosso desafio é aplicar o evangelho fielmente à nossa cultura, não cedendo, muitas vezes sem perceber, às “concessões infiéis” do paganismo reinante e que de alguma forma nos fascina.[9]
A Palavra de Deus é reta. No entanto, quando a flexibilizamos em nosso interesse tendemos a criar situações tortuosas.
- Pequenas mentiras
- Acordos silenciosos
- Toleramos atos discriminatórios
- Plágios acadêmicos
- Exploração do trabalho alheio
- Receber por um trabalho mal feito
- Desleixo, falta de pontualidade.
Assim, jovens crentes casam-se com incrédulos em geral fazendo concessões à sua fé. Pode parecer algo natural, porém, ao nos colocarmos voluntariamente nessa situação de julgo desigual, o jugo tenderá a cair de forma mais intensa sobre o crente quando se tratar, por exemplo, de participar mais intensamente dos trabalhos da igreja, educação dos filhos, valores familiares, etc. Esse é apenas um exemplo.
O que tenho observado é que uma concessão feita depois de muitos anos de atitude coerente biblicamente, ainda que diversas vezes mal compreendida pelos outros, nos conduzirá à tristeza e, por vezes, a um caminho muito doloroso devido aos frutos amargos dela. Em geral quando nos deparamos com isso é porque antes alguma concessão já foi feita.
Por incrível que possa parecer, o melhor é dizer “não”, quando biblicamente correto, por mais tormentoso que inicialmente seja devido às pressões às quais estaremos sujeitos, do que um fácil “sim”, que trará em seu rastro mais e mais concessões, e de teor mais grave. É preciso pedir discernimento a Deus.
Isso não significa que tenhamos clareza quanto a todas as questões à luz das Escrituras. É necessário que cultivemos uma humildade hermenêutica que nos permita saber ouvir, aprender, reavaliar nossas posições e confessar nossos equívocos quando for o caso. Deus é misericordioso. Ele conhece as nossas fragilidades; por isso, nos disciplina, educa, perdoa, santifica e consola.
Contudo, conscientes da retidão da Palavra, temos que assumir os riscos daquilo que cremos.
Sacrifício de princípios
Sem dúvida, uma tentação para todos nós é sacrificar princípios que consideramos absolutos, relativizando-os a fim de sermos aceitos pelos nossos pares, ou, nos considerar atualizados, estando na moda, professando que é considerado “politicamente correto”. A segregação imposta de ideias pode ser muito dolorosa para aqueles que ficam sem voz ou querem manter-se íntegros não se valendo de métodos escusos, tão familiares a seus detratores.
Os viúvos intelectuais de hoje, foram, em geral, casados com a moda tortuosa e efêmera de ontem. O consórcio intelectual motivado por desejos estranhos à busca da verdade e instrução a fim de uma vida digna, em geral é decepcionante e o seu fim pode ser trágico.[10] A mudança inconsistente de referência é, em geral deprimente, revelando a fraqueza moral de seus praticantes.
É extremamente fácil e perigoso nos deixarmos seduzir pelos nossos próprios pensamentos a respeito do pensamento vigente e aparentemente definitivo.
O nosso amanhã poderá refletir tragicamente o nosso consórcio intelectual e moral de hoje.[11]
Somos chamados a vivenciar a nossa fé em todos os desafios que se apresentam em nossa cultura. Portanto, não estamos propondo uma alienação da cultura, nem, simplesmente, uma identificação cultural irresponsável, imaginando que a força da igreja esteja em sua semelhança e não na sua diferença genética e, portanto, naturalmente sobrenatural.
Fomos gerados de novo para uma nova vida caracterizada por uma nova esperança, fundamentada na historicidade da ressurreição de Cristo, que perpassa e confere sentido à nossa existência hoje (1Pe 1.3,13,21; 3.15/1Tm 4.10).[12]
Portanto, devemos nos guiar pela Palavra do Senhor que é reta. A sua verdade prevalecerá sempre.
Clique AQUI para ver os demais artigos da série!
Clique AQUI para conhecer os excelentes livros de Hermisten Maia pela Editora Fiel.
[1] Esta palavra é sempre usada no plural. Enfatiza as regras específicas dadas por Deus aplicadas aos pequenos detalhes da vida (Dt 22.1ss.) e à responsabilidade do povo de Deus em meditar e cumpri-las (Sl 103.18; 119.4,15, 27,45,56, etc.).
[2] Veja-se: Bruce K. Waltke, James M. Houston e Erika Moore, Os Salmos como adoração cristã: um comentário histórico, São Paulo: Shedd Publicações, 2015, p. 387-388.
[3]“O caminho do SENHOR é fortaleza para os íntegros, mas ruína aos que praticam a iniquidade” (Pv 10.29).
[4] Veja-se: João Calvino, Epístolas Gerais, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2015 (2Pe 1.19), p. 311-313 (Em especial).
[5]“Todo caminho do homem é reto (yashar) aos seus próprios olhos, mas o SENHOR sonda os corações” (Pv 21.2).
[6] “Bom e reto (yashar) é o SENHOR, por isso, aponta o caminho aos pecadores” (Sl 25.8). Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher” (Sl 25.12).
[7]Como temos visto, o sentido da palavra é de perverter, distorcer, envergar algo que é reto, encurvar, torto. A principal ideia está associada ao ato consciente, frequente e intencional de fazer o que é errado. Quando se aplica à lei significa “cometer uma perversão”, “infringir”. Distorcer o caminho certo.
[8] Para uma abordagem mais completa, ver o estudo do Salmo 32.
[9] Veja-se: Michael W. Goheen; Craig G. Bartholomew, Introdução à Cosmovisão cristã, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 122.
[10] “Os filósofos cristãos não deveriam ser tão rápidos na adoção de ideias e modas filosóficas históricas ou contemporâneas a não ser que elas se ajustem bem aos nossos compromissos cristãos” (David K. Naugle, Filosofia: um guia para estudantes, Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 140).
[11] Vejam-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 59; W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 31.
[12]“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3). “Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.13). “Que, por meio dele (Jesus Cristo), tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus” (1Pe 1.21). “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15). “Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (1Tm 4.10).