Um blog do Ministério Fiel
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O que significa servir a Deus? A pergunta vem de uma ouvinte: “Pastor John, outro dia eu estava discutindo a frase “servir ao Senhor” com um irmão cristão e queria saber se você poderia esclarecer algo para nós. Em todas as Escrituras, somos instruídos a ‘servir ao Senhor’. No Salmo 100.2, diz “Servi ao Senhor com alegria”. Deuteronômio 10.12 diz: “e o ames, e sirvas ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma.” Josué 24.15 diz: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. E Paulo em Romanos 12.11 também nos diz para estarmos “servindo ao Senhor;”. Mas então, em Marcos 10.45, Jesus diz: ‘Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Os cristãos usam a frase ‘servir ao Senhor’ com tanta frequência, mas não tenho certeza se sei o que isso realmente significa. Você pode esclarecer isso para mim?
Penso que esta é uma das perguntas mais importantes que um cristão pode fazer sobre viver a vida cristã de uma forma que glorifique a Deus e faça o bem a outras pessoas. Chega à questão absolutamente crucial de uma forma correta de servir a Deus que o honra e abençoa as pessoas, e uma forma errada de servir a Deus que o desonra e não ajuda as pessoas. Esta não é uma questão menor, periférica. Estamos falando sobre o que significa ser cristão momento a momento na vida real.
Vamos deixar bem claro que nossa ouvinte está certa ao dizer que a Bíblia ensina em quase todos os lugares que os seres humanos devem servir a Deus e que quando o Filho de Deus vier ao mundo, devemos servi-lo. No Antigo Testamento, Josué diz em Josué 24.15: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.”. E então Paulo, em 1 Tessalonicenses 1.9, celebra os convertidos tessalonicenses porque “deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro.”.
Repetidamente, Paulo chama a si mesmo e chama os cristãos de “servos” – literalmente, “escravos” – de Cristo e de Deus (Romanos 1.1; Efésios 6.6). Pedro faz o mesmo em 1 Pedro 2.16 e 2 Pedro 1.1. É inconfundível. Uma maneira bíblica de falar corretamente sobre o relacionamento que temos com Deus é nos chamarmos de servos ou escravos de Deus e de Cristo. Isso mesmo. Ela está chamando a atenção para isso, e deveria.
Luzes de aviso
Agora, assim que dizemos isso, devemos perguntar de forma realmente incisiva o que está envolvido em servir a Deus e o que não está envolvido em servir a Deus. Se começarmos a servir a Deus como se pudéssemos ganhar dele um salário, ou como se pudéssemos satisfazer as suas necessidades, ou como se pudéssemos colocá-lo em dívida e torná-lo nosso beneficiário, as luzes bíblicas vermelhas começarão a piscar intensamente. Por exemplo, em João 15.15, Jesus diz aos seus discípulos: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.”. E ainda assim, em João 15.14, versículo anterior, ele diz: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.”. Que tipo de amigo é esse?
Assim, o significado de “escravo” ou “servo” é qualificado. E o significado de “amigo” é qualificado. Não podemos simplesmente presumir que o que entendemos por servo ou amigo é o que Jesus entende por servo ou amigo. Temos que ouvir.
Ou aqui está outra luz vermelha brilhante e piscante: “[Deus não é] servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (Atos 17.25). Então, sim, sirva-o, mas não dessa maneira – não como se ele precisasse do seu serviço.
Ou aqui está outra luz vermelha piscando. Deus diz: “Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se contém… [Você]invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” (Salmos 50.12, 15). Esse foi um dos versos favoritos de Spurgeon. Ele o chamou de texto de Robinson Crusoé, porque é isso que ele cita no livro. Sim, sirva a Deus, mas não presumindo satisfazer a sua necessidade. Ele é dono de tudo. Ele não precisa do seu suprimento. Nós o invocamos quando necessitamos, e não o contrário.
Aqui está outra luz vermelha piscando. Nossa ouvinte citou. “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido” – este é um aviso bastante claro – “mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Marcos 10.45). Ele nos salva; nós não o salvamos. Ele atende às nossas necessidades; não atendemos a sua necessidade.
Aqui está mais uma luz vermelha piscando de advertência sobre servir a Deus de qualquer maneira que achamos que possa ser correta. Em Romanos 4.4-5 – não há nada mais básico do que isso – Paulo descreve como a vida cristã começa. Somos justificados e acertados diante de Deus trabalhando para Deus – ganhando um salário – ou confiando nele para trabalhar para nós em nosso total desamparo? Aqui está a citação: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida . Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” Não nos acertamos com Deus no início de nossa vida cristã, servindo-o por um salário de salvação. Ele trabalhou para nós, serviu-nos, não nós a ele. Ele fez o humanamente impossível na cruz.
Então, com todas aquelas luzes vermelhas de alerta piscando na nossa cara, é melhor não servirmos a Deus dessa maneira – como se pudéssemos ganhar salários, como se pudéssemos atender às suas necessidades, como se pudéssemos colocá-lo em dívida ou torná-lo nosso beneficiário.
Aqui está o que precisamos perguntar. Bem, como devemos servi-lo? Qual é o serviço certo?
Cada passo um presente de graça
Talvez a resposta mais profunda e clara seja 1 Pedro 4.11. Isto foi orado por mim toda vez que preguei em Bethlehem. Durante anos e anos, este foi o nosso versículo preferido antes de subirmos para pregar.“ se alguém serve, faça-o na força que Deus supre – para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!”.
Portanto, todo esforço despendido no serviço de Deus é um esforço dado por Deus. Essa pode ser a frase mais importante. Deixe-me repetir: todo esforço despendido no serviço de Deus, o serviço correto a Deus, é um esforço dado por Deus. Isso é o que deve absolutamente penetrar em nossas almas. Caso contrário, sempre pensaremos que estamos trazendo a Deus coisas que ele não tem, como se pudéssemos atender às suas necessidades, quando ele não tem nenhuma. Ele não é servido como se precisasse de alguma coisa.
A concepção de serviço que desonra a Deus e não ajuda as pessoas – porque as afasta da graça todo-supridora de Deus em direção aos nossos supostos esforços morais auto-produzidos – é servir sem depender dele para nos servir no nosso serviço. Todo serviço que agrada a Deus é feito com confiança, momento a momento, no poder capacitador de serviço de Deus. Ou, dito de outra forma, o único serviço de Deus que agrada a Deus é feito através da aceitação alegre do seu serviço imerecido para conosco e em nós. Vemos isso em 1 Coríntios 15.10: “ Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã. Antes, trabalhei…” – você poderia dizer: “Eu servi” – “muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo. ”.
Então sim, nós trabalhamos; sim, nós atendemos. Temos um mestre; nós obedecemos. Mas cada pequeno passo que damos em obediência ao nosso Mestre é um presente da graça dele para nós.
Portanto, nunca devemos pensar no nosso serviço a Deus como uma forma de retribuir-lhe em gratidão pela sua bondade para conosco, porque cada passo que damos nessa chamada retribuição é mais uma dádiva dele, e leva-nos ainda mais a uma dívida para com sua graça, que é um lugar glorioso para estar para todo o sempre. Nunca deixaremos de ser devedores da graça de Deus. Por toda a eternidade, com cada ato de alegre obediência, nos endividamos cada vez mais e mais felizmente para o louvor da glória de sua graça.
A vida sob a cachoeira
Aqui está uma última ilustração desse tipo peculiar de serviço a Deus. Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Mateus 6.24). Então, a questão é: como você serve o dinheiro? Isso seria uma pista. Servir ao dinheiro não significa fazer coisas para satisfazer as necessidades do dinheiro. Você serve ao dinheiro calculando todos os seus planos, seus esforços, para se beneficiar daquilo que o dinheiro lhe promete. Você calcula toda a sua vida para se beneficiar daquilo que o dinheiro lhe promete. Sua vida gira em torno de tentar se colocar na posição de maior benefício com o dinheiro.
Isso também significa servir a Deus. Você serve a Deus calculando todos os seus planos e todos os seus esforços para se beneficiar de tudo o que Deus promete ser para você. Sua vida gira em torno de tentar colocar-se sob a cascata da maior bênção de Deus, posicionando-se para o maior benefício que Deus tem para dar – ou seja, a si mesmo.
Então, concluo que sim, Deus nos alista em seu serviço, o que significa que ele nos chama para participar do cumprimento de seus propósitos, e não para atender às suas necessidades. E ele cumpre seus propósitos precisamente fornecendo a graça para realizarmos nosso trabalho, porque quem dá recebe a glória; o servo fica com a alegria. Esse é o propósito de Deus para o seu mundo: a sua glória e a alegria do seu povo nele.
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