Um blog do Ministério Fiel
O Senhor e a sua Palavra que permanece para sempre
O aspecto atemporal da Palavra de Deus
Embora o conceito remonte às décadas de 1920 e 1930, a primeira vez que tive contato com a expressão “obsolescência programada”, foi em 1980, quando li – praticamente dentro de ônibus[1] −, o livro do “futurólogo” Alvin Toffler (1928-2016), O Choque do Futuro, publicado originalmente em 1970.[2] Uma de suas frases bastante conhecidas e repetidas é: “A mudança não é simplesmente necessária para a vida – ela é a vida”.[3]
O conceito de obsolescência, bastante controverso, porém, em plena efervescência, consiste em produzir, desenvolver e vender produtos que se tornem obsoletos em determinados prazos, visando forçar o consumidor a adquirir um produto mais moderno, uma nova versão.
Dentro de uma visão descartável das coisas, não foi difícil chegar à banalização da vida e da moral. Assim, muitos de nossos conceitos são perfeitamente descartáveis, valem, quando muito, para agora e, mesmo assim, em determinadas circunstâncias (relativismo e subjetivismo).
Em outra ponta, devemos enfatizar que o homem, por sua vez, em sua efemeridade, tenta perpetuar conceitos seus, mas, que demonstram suas contradições e fraquezas.
Sociedade descartável
Vivemos em uma sociedade de valores descartáveis onde a obsolescência nem precisa ser programada. Ela ocorre com naturalidade. Nada é durável, exceto a sua transitoriedade.
Tudo à nossa volta se dissolve. O que tínhamos como porto seguro ontem, hoje já não é. E, o que é, já está passando por transformações. As informações são múltiplas e, por vezes, contraditórias. Por isso, em meio a tantas informações e transições, sentimo-nos no hiato do que foi e do que virá. Falta-nos sabedoria para lidar com tudo isso, para decodificar o que realmente faz sentido e como nos portar diante da realidade. Estamos em uma sociedade gasosa, onde a efervescência das informações tende a fazer nossos valores evaporarem.
O obsoleto se torna assim − por vezes, por puro capricho nosso, nada existindo em sua essência que o caracterize −, antiquado ou substituível. Da mesma forma, o antiquado de hoje pode, com frequência, tornar-se o ultramoderno de amanhã, apenas por uma nova vestimenta, modismos, publicidade bem-feita e jogo de marketing.
Como escreveu Nash (1906-2006):
Nada aconteceu com a verdade. Ela continua aí e ainda é a verdade. Mas muitas coisas aconteceram com os seres humanos que, em fins do século 20, ou perderam ou abandonaram suas faculdades críticas e se tornaram viciados nos padrões de pensamento que os move a dizerem coisas estultas sobre a verdade. A questão real é: o que aconteceu com a espécie humana no final do século 20.[4]
Confiar apenas em projetos dessa vida
Vemos também que os homens tendem a colocar toda a sua disposição e projetos nessa vida, tão mutável e imprevisível, alienando-se de Deus e de sua Palavra, perdendo a dimensão do que realmente importa, do que é eterno. Daí Paulo, argumentando sobre a veracidade e importância da ressurreição de Cristo, dizer: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19).
A Palavra de Deus nos fala que Deus nos instrui, educa e dirige dentro de valores eternos que emanam de sua própria natureza eterna e perfeita.
Assim, o contraste é estabelecido biblicamente:
O SENHOR frustra os desígnios (etsah) das nações e anula os intentos (machashabah) dos povos. O conselho (etsah) (caminho, concílio, desígnio) do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações. (Sl 33.10-11).
Muitos propósitos (machashabah) há no coração do homem, mas o desígnio (etsah) do SENHOR permanecerá. (Pv 19.21/Pv 16.1,9; Is 14.26-27).[5]
Relatividade dos conselhos
Nem todo conselho é bom em si mesmo. O conselho (etsah) do ímpio é oposto ao conselho de Deus (Sl 107.11/Pv 1.25,30).[6]
No Salmo 1, o salmista estabelece o princípio orientador da agenda do ímpio e da agenda do santo. O contraste é feito entre o “conselho dos ímpios” e a “Lei do Senhor” (Sl 1.1-2).
Aqui temos algo fundamental: o que molda o pensamento do homem condiciona a sua vida![7] O que cremos determina a nossa forma de ver e atuar na sociedade.[8]
Agimos conforme cremos e pensamos. Portanto, a batalha espiritual está na escolha que o homem deverá necessariamente fazer entre o “conselho dos ímpios” e a “Lei do Senhor”.
O conselho que permanece é o do Senhor. Por isso, é “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1.1).
Enquanto os incrédulos seguem o conselho dos ímpios, os fiéis se instruem na Lei do Senhor, aquele que é Autoexistente, Todo-Poderoso e Eterno. Por isso a exclamação do salmista: “Bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor” (Sl 144.15).
Instrução com valor permanente e o esquecimento
A instrução de Deus tem valor permanente. O problema nosso, por vezes, como o de Israel no deserto, é que com muita facilidade nos esquecemos da Palavra, do conselho de Deus. Ele tem valor eterno; não é efêmero ou circunstancial, porém, a nossa fé, tende a ser provisória e ingratamente passageira: Rápida e prontamente nos esquecemos de Deus.
O salmista retrata a trajetória do povo no deserto:
10 Salvou-os das mãos de quem os odiava e os remiu do poder do inimigo. 11 As águas cobriram os seus opressores; nem um deles escapou. 12 Então, creram nas suas palavras e lhe cantaram louvor. 13 Cedo, porém, se esqueceram das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios (etsah); 14 entregaram-se à cobiça, no deserto; e tentaram a Deus na solidão. 15 Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma. (Sl 106.10-15).
O povo não confiou a ponto de esperar o cumprimento da promessa de Deus. Conhecimento e convicção, nem sempre se materializam em confiança concreta.
O salmista exulta na perfeição dos mandamentos de Deus:
Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu mandamento é ilimitado. (Sl 119.96).
Quanto às tuas prescrições, há muito sei que as estabeleceste para sempre. (Sl 119.152).
As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre. (Sl 119.160).
Verdade que permanece
A Lei do Senhor é perfeita, completa, abarca todas as nossas necessidades físicas e espirituais. Na Lei de Deus temos os princípios fundamentais para todo o nosso viver, seja em que época for, em que cultura for. Ela é eficaz no seu propósito de nos regenerar e nos conduzir em nossa caminhada, em nossa santificação.
Nada lhe escapa, nada lhe é estranho. Ela tem princípios que sendo seguidos, instruem, previnem e corrigem os nossos caminhos.[9]
No caminho de Deus não há contradição. Por isso, as suas orientações são completas, sem mistura: “O caminho de Deus é perfeito (tamiym); a palavra do SENHOR é provada; ele é escudo para todos os que nele se refugiam” (Sl 18.30).
Quando assimilamos de coração a Palavra de Deus e a adotamos com integridade, independentemente das consequências e dos juízos dos outros, não teremos do que nos envergonhar.
O salmista almeja viver conforme a integridade da Palavra, orando neste sentido: “Seja o meu coração (leb) irrepreensível (tamiym) nos teus decretos, para que eu não seja envergonhado” (Sl 119.80).
Ainda que possamos, pela graça comum de Deus, encontrar aqui e ali entre os homens elementos de verdade que podem nos auxiliar a melhor compreender aspectos da realidade,[10] somente na integridade da Palavra temos o absoluto de Deus para todos os desafios próprios de nossa existência. Por isso, quem segue a Palavra de Deus buscando praticá-la com integridade de coração será irrepreensível em seu caminho, em todas as circunstâncias.
Este será bem-aventurado:
Bem-aventurados os irrepreensíveis (tamiym) no seu caminho, que andam (halak) na lei do SENHOR 2Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições (`edah) (= testemunhos) e o buscam (darash)[11] de todo o coração (leb); 3 não praticam iniquidade e andam (halak) nos seus caminhos. (Sl 119.1-3).
Estive avaliando determinado produto comercializado na internet. Havia vários modelos. Li algumas opiniões. Deparei-me com uma opinião bem escrita e, pareceu-me bem fundamentada. A pessoa analisando uma nova versão do produto falava das inovações que o mesmo trazia em relação à versão do ano anterior e, ainda assim, mesmo tendo bons resultados com a versão mais moderna, aguardava um pouco mais para ver se a impressão que tivera se confirmaria com o tempo. Considerei tal posição sensata e útil. É necessário cautela, ainda mais na utilização de um produto que pode evidenciar diferenças visíveis em nosso corpo afetando nossa saúde.
Quando, porém, falamos das Escrituras, podemos ter a certeza de que a sua “versão” é divina, e por isso, perfeita. Ela é completa, suficiente para todas as nossas necessidades, em todos os tempos, em todos os momentos e ocasiões de nossa existência. A Palavra não precisa de complemento ou atualização. Ela é perfeita (Tg 1.25).[12] Ela permanece de forma completa e suficiente para todas as épocas.[13]
O salmista exulta na presença de Deus cantando aspectos da maravilhosa Palavra de seu Senhor: “O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre (’ad) (perpetuamente)” (Sl 19.9).
Verdade atemporal
Nas Escrituras aprendemos que a verdade de Deus é atemporal! Ela não está restrita a determinadas épocas, culturas, classes sociais, gostos ou ênfases de determinado grupo. Ela permanece como a verdadeira verdade que perdura no tempo e se perenizará na eternidade. Esta convicção está presente também nos salmos:
Para sempre (‘olam), ó SENHOR, está firmada a tua palavra no céu. (Sl 119.89).
As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos (tsedeq) juízos (mishpat) dura para sempre (‘olam). (Sl 119.160).
Aplicativos que falham
Para quem usa aplicativo de orientação no trânsito, uma experiência difícil, porém, não rara, ocorre quando ele deixa de funcionar, perde o sinal ou, fica lento justamente quando você está em uma bifurcação ou em lugar que você nada conhece e precisa tomar uma decisão imediata: direita, esquerda ou seguir em frente… Creio que muitos de nós já experimentamos isso. Esses dias passei um apuro porque o celular não carregava enquanto dirigia. Descarregou. Percorri uns 300 kms sem a sábia direção do “waze”. Foi muito incômodo, principalmente porque a estrada, em obras, estava com muitos desvios… No dia seguinte, depois de alguns testes, deduzi e confirmei que o problema era o fusível dos soquetes.
A Palavra de Deus com seus preceitos e promessas permanece para sempre nos conduzindo nessa vida e em segurança à eternidade. “O temor (yir’ah) do SENHOR é límpido e permanece para sempre (`ad) (perpetuamente)” (Sl 19.9). Não há desvios, atalhos ou necessidade de planos de atualização. Ela não nos deixa vagando ao leu sem direcionamento. Não há “ponto cego”. Não há falta de sinal.
A Palavra de Deus, aqui representada pelo seu conselho, nos guia em segurança e nos conduz à glória celestial: “Tu me guias com o teu conselho (etsah) e depois me recebes na glória” (Sl 73.24).
Diante das maravilhas da Palavra e da nossa costumeira obtusidade espiritual, o salmista ora ao Senhor da Palavra: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.8).
Maravilhado com a beleza, profundidade, veracidade e eficácia da Palavra, o salmista canta: “Admiráveis (pele)(= maravilhosos) são os teus testemunhos (‘eduth) (= estatutos, estipulações); por isso, a minha alma os observa (natsar) (= guarda, preserva)” (Sl 119.129).
Paulo, no final de sua vida, não deu um “salto no escuro”, antes, declarou a sua inabalável confiança no Deus que conhecia e a quem dedicou a sua vida:
Porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia. (2Tm 1.12).
6 Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. 7 Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. 8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. (2Tm 4.6-8).
Paulo não fala de hipóteses, teorias ou expectativas otimistas ou não.[14] Antes, afirma sim, a sua firme certeza na verdade de Deus. Ele sabia que tanto quanto ao tempo como quanto à eternidade, só permanece na condição de verdadeiro o que é verdade.
Como ovelhas do Bom Pastor, observemos com alegria os seus mandamentos. Confiemos em Deus e na sua Palavra. Permaneçamos firmes nas suas promessas. Em síntese, deixemo-nos conduzir alegremente pelo nosso Bom Pastor. Assim fazendo com integridade, nada nos faltará.
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[1] Localizei meu exemplar. Está anotado que terminei de ler no dia 11.11.80. “Ônibus Serra Capivari 44, às 15h25”.
[2] A edição brasileira que tenho, suponho ser a primeira: TOFFLER, Alvin. O Choque do Futuro. Rio de Janeiro: Artenova, 1972, 408p.
[3]https://exame.com/negocios/futurismo-as-ideias-de-alvin-toffler/ (Consulta feita em 06.01.2024, às 09h27).
[4] Ronald H. Nash, Questões Últimas da Vida: uma introdução à Filosofia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 273.
[5]“1O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR. (…) 9 O coração do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos” (Pv 16.1,9). “26 Este é o desígnio que se formou concernente a toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. 27 Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is 14.26-27).
[6]“25 antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão 30 não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão” (Pv 1.25,30).
[7]Cf. Derek Kidner, Salmos 1-72: introdução e comentário, São Paulo: Mundo Cristão; Vida Nova, 1980, v. 1, (Sl 1.2), p. 63.
[8] “As crenças (…) têm fundamental importância. Elas dão forma ao nosso universo mental e nos fornecem um mapa do mundo complexo e não raro desconcertante em que habitamos. As crenças dos cristãos lhes proporcionam uma estrutura basilar para a prática da fé. A convicção na esperança futura do céu, por exemplo, tem um impacto muito grande sobre sua atitude para com a vida e a morte. Além disso, faz uma diferença colossal na conduta e no modo de pensar deles” (Alister McGrath, Palavra do Editor: In: Alister E. McGrath; J.I. Packer, orgs., Fundamentos do Cristianismo: um manual da fé cristã, São Paulo: Vida Nova, 2018, p. 13).
[9]Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 19.7), p. 424.
[10]Calvino em passagem magistral, escreveu:
“Quantas vezes, pois, entramos em contato com escritores profanos, somos advertidos por essa luz da verdade que neles esplende admirável, de que a mente do homem, quanto possível decaída e pervertida de sua integridade, no entanto é ainda agora vestida e adornada de excelentes dons divinos. Se reputarmos ser o Espírito de Deus a fonte única da verdade, a própria verdade, onde quer que ela apareça, não a rejeitaremos, nem a desprezaremos, a menos que queiramos ser insultuosos para com o Espírito de Deus. Ora, nem se menosprezam os dons do Espírito sem desprezar-se e afrontar-se ao próprio Espírito.
“E então? Negaremos que a verdade se manifestou nos antigos jurisconsultos, os quais, com equidade tão eminente, plasmaram a ordem política e a instituição jurídica? Diremos que os filósofos foram cegos, tanto nesta apurada contemplação da natureza, quanto em sua engenhosa descrição? Diremos que careciam de inteligência esses que, estabelecida a arte de arrazoar, a nós nos ensinaram a falar com razoabilidade? Diremos que foram insanos esses que, forjando a medicina, nos dedicaram sua diligência? O que dizer de todas as ciências matemáticas? Porventura as julgaremos delírios de dementes? Pelo contrário, certamente não poderemos ler sem grande admiração os escritos dos antigos acerca dessas coisas. Mas os admiraremos porque seremos obrigados a reconhecer seu profundo preparo.
“Todavia, consideraremos algo digno de louvor ou mui excelente que não reconheçamos provir de Deus? Envergonhemo-nos de tão grande ingratidão, na qual nem mesmo os poetas pagãos incidiram, os quais têm professado que a filosofia é invento dos deuses, bem como as leis e todas as boas artes. Portanto, se esses homens, a quem a Escritura chama [psychikoús – naturais, 1Co 2.14], que não tinham outra ajuda além da luz da natureza, foram tão engenhosos na inteligência das coisas deste mundo, tais exemplos devem ensinar-nos quantos são os dons e graças que o Senhor tem deixado à natureza humana, mesmo depois de ser despojada do verdadeiro e sumo bem” (João Calvino, As Institutas (2006), II.2.15). Em outro lugar: “Reconheço que alguns grãos de piedade sempre foram espalhados por todo o mundo, e que não pode haver dúvida – se nos permitir a expressão – Deus semeou, pelas mãos de filósofos e escritores profanos, os excelentes sentimentos que serão encontrados em seus escritos” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2015, v. 1, (Jo 4.36), p. 186). Veja um testemunho interessante: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 39; Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 64. Kuyper a definiu da seguinte forma: É a ação “pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição que repousa sobre ele, suspende seu processo de corrupção, e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador” (A. Kuyper, Calvinismo, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 38-39).
[11] Retomo aqui de forma mais completa a aplicação da palavra. Como vimos, a ideia básica do termo (vrD) (darash) é buscar com diligência. “Moisés diligentemente buscou (vrd) (darash) o bode da oferta pelo pecado….” (Lv 10.16). (Vejam-se mais detalhes em: Leonard J. Coppes, Dãrash: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 328-329).
A palavra buscar além deste sentido (Lv 10.16; Sl 22.26; 24.6 [duas vezes]; Sl 53.3), pode ser traduzida por: Requerer (Dt 23.22; Sl 9.12); cuidar (Dt 11.12); investigar (Sl 10.4); se importar (Sl 10.13); esquadrinhar (Sl 10.15/Ec 1.12); procurar (Sl 77.2); considerar (Sl 111.2); empenhar-se (Sl 119.45); interessar-se (Sl 142.4).
O ímpio por se considerar autossuficiente, não se importa com Deus. Parte do pressuposto de sua não existência, por isso mesmo, ele não examina a questão, não se empenha nem se interessa; esta é uma questão decidida: Não há Deus!
“O perverso ([v’r’) (rãshã’), na sua soberba, não investiga (vrD) (darash); que não há Deus são todas as suas cogitações” (Sl 10.4).
O não investigar (vr;D’) (dârash) significa não se importar, não buscar a Deus. O ímpio acredita não ter elementos suficientes para crer em Deus, contudo, paradoxalmente, sustenta ter razões suficientes para negá-lo. Deste modo, o ímpio está satisfeito com a sua conclusão gratuita e, arrogantemente propala isso com palavras e atitudes, sendo a sua ideologia reforçada pela sua evidente prosperidade e impunidade que enchem os olhos dos menos avisados e também precipitados em suas conclusões: “São prósperos os seus caminhos em todo tempo; muito acima e longe dele estão os teus juízos; quanto aos seus adversários, ele a todos ridiculiza” (Sl 10.5).
[12]“Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (Tg 1.25).
[13]Cf. F.A. Schaeffer, O Deus que intervém, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 251.
[14]No início dos anos de 1970, o antropólogo cultural Ernest Becker (1924-1974) publicou um importante livro – com ampla pesquisa, adotando firmemente como referencial teórico, a filosofia de Kierkegaard, a psicanálise Freudiana, com destaque para Otto Rank, a quem começa o livro citando, e Darwin −, cuja tese principal era demonstrar que “A ideia da morte, o temor a ela, persegue o animal humano como nenhuma outra coisa; ela é um dos maiores incentivos da atividade humana – atividade em grande parte destinada a evitar a fatalidade da morte, a vencê-la negando de algum modo ser ela o destino final do homem” (Ernest Backer, Negação da morte, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976, p. 9).